sexta-feira, 5 de setembro de 2014

HISTÓRIA DE PORTUGAL - VOLUME III : DA EXPANSÃO À RESTAURAÇÃO

História de Portugal
HISTÓRIA DE PORTUGAL - VOLUME III : DA EXPANSÃO À RESTAURAÇÃO (1415/1640)
O Século XV é marcado em Portugal pela expansão atlântica, com a descoberta de toda a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança e pela tentativa da formação de um império norte-africano, e fundação de cidades-fortalezas no litoral do Magrebe.
Portugal intervém na política ibérica a propósito da sucessão do trono espanhol. O Rei D. João II define uma enérgica política de autoridade monárquica e concebe o plano de uma ligação marítima directa entre Lisboa e os portos asiáticos produtores de especiarias. A viagem de Vasco da Gama inicia o ciclo do Império Oriental, mas a tragédia de Alcácer Quibir e a morte de D. Sebastião afundam o país numa crise que conduz à perda da independência. 
Prepare-se para ver revelados todos os princípais acontecimentos desse período histórico, num programa apresentado pelo prof. Hermano Saraiva e depois, lendo um texto sobre essa época da história nacional.

Áudio: Português
Fonte: RTP - YouTube - Wikipédia







Consolidação e expansão (1385–1580)

Crise de 1383–1385 e dinastia de Avis


A Batalha de Aljubarrota que assegurou a independência face a Castela, a nova dinastia de Avis e a aliança luso-britânica. Pintura do século XV de Jean d'Wavrin,British Library
Desde 1369, no início do seu reinado, D. Fernando I travou as guerras fernandinas contra forças castelhanas, ao reclamar-se herdeiro do trono de Castela. Mais tarde, no contexto da guerra dos cem anos que dividia a Europa, apoiou a pretensão de João de Gant, duque de Lancaster, ao mesmo trono. 43 Contudo pouco antes de morrer viu a sua impopular mulher Leonor Teles de Menezes negociar o casamento da filha Beatriz de Portugal com Juan I de Castela, planeando entregar-lhe o trono de Portugal.43
Desde as guerras fernandinas a nobreza portuguesa dividira-se em duas facções, pro-castelhanas e pro-inglesas. Após a morte de D. Fernando I sem herdeiros masculinos, a regência de Leonor Teles lançou o reino num período de guerra civil e anarquia, com uma parte significativa da população revoltada face à possibilidade da perda de independência. 44 Durante a crise de 1383-1385, a rainha partilhava o governo com o nobre galego João Fernandes Andeiro. A facção pela independência que se lhe opunha era liderada pelo meio-irmão de D. Fernando, D. João, Mestre de Avis. Em Dezembro de 1383 D. João liderou uma revolta contra a rainha que matou o Andeiro. Após a morte do conde, o povo de Lisboa aclamou-o Regedor e Defensor do Reino. De imediato as forças de Juan I de Castela entraram em Portugal e cercaram Lisboa. Em Abril de 1384 Nuno Álvares Pereira, nomeado fronteiro do Alentejo, vence uma força castelhana em número superior à sua na batalha dos Atoleiros.
Em 1385 os castelhanos avançaram para tomar o trono de Portugal.45 Convocaram-se então as cortes de Coimbra de 1385. Aí, um grupo de nobres e mercadores que incluía Nuno Álvares, opôs-se ao Partido Legitimista leal a D. Leonor. Procurando garantir a independência do reino, nomearam então como rei de Portugal D. João, Mestre de Avis, filho ilegítimo de Pedro I.46 . Assim terminava a dinastia de Borgonha e iniciava-se uma segunda dinastia portuguesa, a dinastia de Avis.
Com aliados ingleses, D. João I liderou uma vitória determinante na batalha de Aljubarrota, que aniquilou definitivamente o exército castelhano e assegurou a independência do reino. Os exércitos portugueses foram comandados por Nuno Álvares Pereira, nomeado Condestável do Reino. Meses depois, o condestável invadiu Castela e infligiu nova derrota na batalha de Valverde. O casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, princesa inglesa filha de João de Gant, e a assinatura do Tratado de Windsor (1386) selaram a aliança luso-britânica.

Descobrimentos e formação do império português


Descobrimentos portugueses de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios portugueses no reinado de D. João III (verde).
Em 1415 forças de D. João I conquistaram a cidade de Ceuta, no norte de África, movidas pelo espírito de continuação da reconquista e pelo interesse comercial. Foi o início do expansionismo português.47
À medida que os muçulmanos retaliavam e desviavam as rotas comerciais, decidiu-se investir na exploração por mar ao longo da costa africana. Para dirigir a exploração foi nomeado o Infante D. Henrique.48 A partir de 1419, com o incentivo do infante, navegadores experientes e os mais avançados desenvolvimentos náuticos e cartográficos da época, exploraram a costa ocidental de África sistematicamente, cada vez mais para sul. Em 1418/19 chegaram ao arquipélago da Madeira e em 1427 aos Açores onde estabeleceram capitanias que prosperaram da agricultura e de uma florescente indústria de açúcar.49
Gil Eanes transpôs o difícil Cabo Bojador em 1434.50 Após aperfeiçoar a caravela em meados do século, em 1479 passaram o Equador. Em 1471 no Golfo da Guiné foi estabelecida a feitoria de São Jorge da Mina para apoiar um florescente comércio de ouro de aluvião. Partindo da Mina Diogo Cão fez o primeiro contacto com o Reino do Congo.51 Intensificam então a busca de um caminho marítimo para as "Índias", alternativo ao Mediterrâneo - dominado pelas repúblicas marítimas italianas, pelos otomanos, pelos mouros e por piratas- no lucrativo comércio de especiarias. Após sucessivas viagens exploratórias, em 1488 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, entrando pela primeira vez no Oceano Índico a partir do Atlântico.52
A chegada de Cristóvão Colombo à América em 1492 precipitou uma negociação entre D. João II e os Reis Católicos de Castela e Aragão. Como resultado foi assinado em 1494 o Tratado de Tordesilhas, dividindo o mundo em duas áreas de exploração demarcadas por um meridiano situado entre as ilhas de Cabo Verde (a 370 léguas a oeste deste arquipélago) e as recém descobertas Caraíbas: cabiam a Portugal as terras "descobertas e por descobrir" situadas a leste deste meridiano, e à Espanha as terras a oeste dessa linha.53 Em 1498, Vasco da Gama chegou à Índia, estabelecendo o primeiro contacto direto da Europa com a Ásia e inaugurando a importante rota do cabo.54 Em 1500, na segunda viagem para a Índia, Pedro Álvares Cabral desviou-se da costa Africana e aportou no Brasil.55 Em Lisboa foi então estabelecida a Casa da Índia para administrar todos os aspetos do comércio e da navegação além-mar e foi nomeado o primeiro vice-rei da Índia sediado em Cochim.56
A vitória na Batalha de Diu afastou mamelucos e árabes, facilitando o domínio português do Índico. Em 1510 sob o governo de Afonso de Albuquerque foi constituído o Estado Português da Índia com capital em Goa, primeira conquista territorial. Albuquerque conquistou Malaca em 1511, alcançando as ambicionadas "ilhas das especiarias" (ilhas Molucas) em 1512, e aportando na China um ano depois. Enquanto isso outros navegadores exploravam o Oceano Pacífico ao serviço do Império Espanhol, como Fernão de Magalhães. Na sequência da sua viagem de circum-navegação, quando as explorações portuguesas e espanholas convergem nas ilhas Molucas foi firmado em 1529 o Tratado de Saragoça que demarcou as explorações no oriente: as Molucas foram atribuídas a Portugal e as Filipinas a Espanha.57


Rotas comerciais portuguesas de Lisboa a Nagasaki entre 1580-1640 (azul); rotas rivais espanholas (branco) com o chamado galeão de Manila estabelecido em 1565
De 1415 até 1534, quando se iniciou colonização do interior nas capitanias do Brasil por D. João III, o império português foi uma talassocracia,58 abrangendo os oceanos Atlântico e Índico. Uma cadeia de fortificações costeiras protegia uma rede de feitorias, com o comércio reforçado por licenças de navegação, os cartazes, com o apoio de numerosas relações alianças diplomáticas com o Reino do Sião, Safávidas da Pérsia, Reino de Bisnaga, Etiópia, entre outras. Era completado pela acção de missionários ao abrigo do Padroado português, um acordo da coroa portuguesa com a Santa Sé.
Em 1542 ou 43 comerciantes portugueses aportam no Japão,59 onde mais tarde ajudam a fundar Nagasaki. Em 1557 as autoridades chinesas autorizaram os portugueses a estabelecerem-se em Macau, que se tornou a base de um próspero comércio triangular entre a China, o Japão e a Europa, via Malaca e Goa.60 Em 1571 uma cadeia de entrepostos ligava Lisboa a Nagasaki: nascera o primeiro império global da história,61 trazendo enormes riquezas para Portugal. Em 1572 Luís Vaz de Camões publicou "Os Lusíadas", três anos após regressar do Oriente, cuja acção central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.62

União Ibérica (1580–1640)

Dinastia filipina


Império português (verde) com as zonas disputadas entre 1588-1654 pelos holandeses das companhias da República das Sete Províncias Unidas (laranja)
Em 1580, após a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir sem descendentes, Portugal enfrentou uma grave crise dinástica.63 . Três netos de D. Manuel I de Portugal reclamavam o trono: Catarina, duquesa de Bragança, António, Prior do Crato e Filipe II de Espanha.64 . Em Julho D. António foi aclamado rei pelo povo de Santarém, mas um mês depois Filipe II, apoiado pelo Conselho de Governadores e parte da aristocracia portuguesa, entrou no país e derrotou-o na batalha de Alcântara. 65 .
Em 1581, Filipe II convocou as Cortes de Tomar. Aí, após se comprometer a manter a língua, leis e cargos na mão de portugueses foi coroado rei de Portugal sob a forma de monarquia dual - dois reinos, um rei - iniciando a união ibérica sob a a dinastia Filipina, apesar da oposição dos partidários de D. António nos Açores.66 A Guerra da Sucessão Portuguesa prolongou-se por dois anos até ao Desembarque da Baía das Mós. A governação ibérica - dos dois reinos e seus imensos impérios - era assegurada por Conselhos (Consejos) com sede em Madrid.67 . Em Lisboa, um vice-rei nomeado pelo rei chefiava o governo.
Durante a união o império português sofreu grandes reveses, ao ser envolvido nos conflitos dos Habsburgos com a Inglaterra, a França e a Holanda. Entre 1595 e 1663 foi travada a Guerra Luso-Holandesa com as Companhias Holandesas das Índias Ocidentais e Ocidentais, que tentavam tomar as redes de comércio portuguesas de especiarias asiáticas, escravos da África ocidental e açúcar do Brasil.68 . Os holandeses apoderaram-se sucessivamente de Ternate e Amboina na Indonésia, da Capitania de Pernambuco no Brasil, de São Jorge da Mina, Arguim, Axim, tomando o lugar dos portugueses no Japão em 1639 e cercando Macau. Ao passo que os ingleses tomaram Ormuz em 1622.

Restauração e invasões (1640–1820)


Aclamação de D. João IV como rei de Portugal, pintado por Veloso Salgado, Museu Militar de Lisboa
No reinado de Filipe III (IV de Espanha) (1621-1640) vários problemas minaram o apoio português à união: o aumento de impostos sobre comerciantes portugueses, a perda de importância da nobreza nas cortes espanholas, os cargos de governação ocupados pelos espanhóis e a pressão para partilhar o fardo financeiro e militar das guerras de Espanha. Os portugueses estavam pouco inclinados a ajudar, uma vez que a Espanha não conseguira evitar a ocupação holandesa das suas possessões coloniais. Isto apesar do facto de tanto portugueses como holandeses estarem nominalmente sob a sua coroa.69
A situação culminou numa revolução feita pela nobreza e alta burguesia em 1 de dezembro de 1640. A revolução, embora previsível, foi despoletada quando o João, 8.º duque de Bragança foi convocado para organizar tropas e lutar contra revoltosos na Catalunha. A trama foi planeada pelos chamados "Quarenta Conjurados, que aproveitaram o fato de as tropas castelhanas estarem ocupadas no outro lado da península. O apoio do povo foi imediato, e logo o duque de Bragança foi aclamado rei de Portugal em todo o país iniciando a dinastia de Bragança como João IV de Portugal.
Na subsequente Guerra da Restauração contra Filipe IV da Espanha os portugueses venceram várias batalhas. Em 1641, para proteger os territórios ultramarinos, foi celebrada uma trégua com os holandeses. Sem efeito, pois estes ocuparam São Tomé, Luanda, Ceilão e Malaca. Entre 1645 e 1654, recifenses comandados por Salvador Correia de Sá recuperaram o Recife e conseguiram reconquistar Angola e São Tomé. Em 1661 foi selada a segunda Paz de Haia. Portugal aceitou as perdas na Ásia e os holandeses a soberania portuguesa do Nordeste brasileiro, mediante o pagamento equivalente a 63 toneladas de ouro.70 Nesse ano, para obter uma aliança com os ingleses, D.João IV negociou o casamento da sua filha Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, cedendo como dote Tânger e Bombaim.
A paz definitiva com os holandeses foi conseguida após estes tomarem Cochim e a costa de Malabar. A paz com Espanha foi conseguida finalmente em 1668, após a vitória portuguesa na Batalha de Montes Claros, e uma vez falecido o renitente Filipe IV da Espanha. Foi selada pelo Tratado de Lisboa (1668) entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, pondo fim a quase 30 anos de guerra. Espanha reconheceu a independência de Portugal e devolvem-se prisioneiros e conquistas, excepto a cidade de Ceuta, que ficou na posse de Espanha.

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