quinta-feira, 17 de julho de 2014

CÁTAROS - ALGUNS CONCEITOS E RITUAIS - I

Gnosticismo
CÁTAROS - ALGUNS CONCEITOS E RITUAIS
Texto: Português
Fonte: ATI







compilação de textos baseados na obra de Hermínio C Miranda

Os Cátaros I

A partir do mais autêntico perfil do cristianismo, aquele que predominou nos primeiros tempos, ainda pulsante da vida que Jesus injetara nas suas artérias, o catarismo, como no Evangelho de João, fala o Cristo vivo e presente, ainda que, paradoxalmente, póstumo. Não o crucificado que teria surgido de volta aos céus no seu corpo ressuscitado. Para os cátaros, Jesus não havia tido, sequer, corpo físico; era um cristianismo sem a cruz e sem a missa.
Embora os sacramentos tenham sido considerados pela Igreja católica como instituídos pelo Cristo, a doutrina cátara mudou praticamente tudo, uma vez que nada encontrou nos textos primitivos que os justificasse. Até mesmo o conceito de salvação foi substancialmente reformulado.
A releitura ideológica contestou, rejeitou ou modificou -os, desde o batismo até o da extrema-unção. Mais do que isso, mudou radicalmente a filosofia das práticas religiosas: ninguém era obrigado a frequentar o único sacramento, os cultos e a missa, que não celebravam.
Pela convenenza, por exemplo - termo occitano que significava acordo, pacto - o crente pactuava com a Igreja catara o direito de receber o consolamentum na hora da morte, ainda que inconsciente e incapaz de recitar em voz alta o Pai Nosso - a prece maior dos cátaros. Esse ritual começou a ser praticado nos meados do século 13, durante a luta armada e a perseguição inquisitorial, quando era maior o risco de vida a que todos se expunham.
O melhoramento - amelioration, na língua occitana - constituía a única obrigação ritualística dos crentes. Resumia-se em simples, mas formal e solene saudação dirigida aos perfeitos, sempre que se encontravam com eles. Consistia em três reverências ou genuflexões e um pedido de bênção. No primeiro melhoramento que praticasse, o crente pedia que fosse assistido pelo resto da vida, supondo-se que a convenenza estivesse implícita no ato, ou que fosse feita logo a seguir.
Esse singelo rito caracteriza com clareza a posição do crente, que não está ainda em condições de viver uma vida de santidade, mas revela-se disposto a trabalhar pela sua libertação espiritual. Trabalho pessoal, aliás, de renovação moral, não tarefa a ser feita por intermediação de quem quer que fosse ou por meio de rituais e sacramentos salvadores. Com o melhoramento e a convenenza, o crente dava testemunho de seu firme propósito de progredir moralmente para se tornar merecedor de ser "amado por Deus".
A doutrina catara não reconhece o livre-arbítrio. E, neste caso, o rito combinado - melhoramento/convenenza - seria, talvez, interpretado como declarada predisposição do crente, uma formalização de seu propósito de se colocar à disposição da misericórdia e do amor divinos para dar início ao seu processo evolutivo rumo à perfeição.
A endura - termo occitano para privação, jejum - constitui prática sobre a qual pairam ainda controvérsias e desentendimentos entre os especialistas. Nelli informa em Les cathares (p. 148), que se tratava de uma "espécie de suicídio místico, nada condenável". O objetivo era o mesmo que, segundo o autor, sempre foi, da parte dos seres mais espiritualizados de todas as religiões, o de abreviar a vida terrena em troca da que - presumivelmente melhor, sem dores, doença? ou velhice - aguarda o ser na dimensão espiritual.
A endura seria usualmente praticada depois que o moribundo recebia o consolamentum, que, por sua vez, lhe proporcionava a esperança - não a certeza -de que ele estaria salvo, por terem sido perdoados os seus pecados. De alguma forma, pois, o conceito da salvação da alma, prevalecia no catarismo. Ora, os cátaros rejeitavam a ideia do inferno, embora aceitassem a existência do demônio.
Anne Brenon utiliza, neste passo, a expressão "inferno transitório".
Os cátaros sabem que o estado de espírito em que se vive atormentado por suplícios que parecem não ter fim, chega, um dia, ao seu termo, dado que nenhum ser humano foi criado para sofrer por toda a eternidade, como também sabiam os cátaros, todos se salvam, entendendo-se a salvação como elevação aos patamares superiores da paz, da harmonia, da felicidade, nos estágios mais altos da perfeição possível à condição humana.
Depois de consolados os crentes não morriam, ficavam obrigados às severas regras de seu novo estado, ou seja, tinham de recitar o Pai Nosso antes de cada refeição, vivendo sob o temor de recair em pecado, com a perda consequente "da santificação relativa e provisória que havia recebido, sem grandes méritos, de Deus e das circunstâncias", uma vez que não eram parfaits ou parfaites, mas simples croyants beneficiados por uma espécie de extrema-unção cátara.
Em muitos casos, pessoas nessas condições preferiam a morte provocada pela fome ou, mais raramente, pelo frio. Prática, aliás, que os parfaits jamais encorajavam e, menos ainda, recomendavam ou impunham.
A endura tornou-se mais difundida aí pelo fim do século 13, sobretudo no condado de Foix, sob a influência de Pierre Authier, o mais influente parfait do renascimento cátaro. Os tempos eram ásperos dado que "a Inquisição se incumbia de tornar impossível a vida dos crentes".
Os suicídios estoicos nalguns casos isolados de perseguição pela Inquisição foram muito raros. 






* Cátaros II

Paulo e alguns autores cristãos surpreenderam-se com a identificação dada à ceia eucarística com rituais dos mistérios primitivos."
No cristianismo nascente, a partilha do pão nada tinha de tais conotações litúrgicas ou metafísicas. Tratava-se de simples refeição em comum, na qual se falava de Jesus e de seus ensinamentos, relembrando-o com saudade e reverência.
Não acreditavam os cátaros, portanto, pela atenta leitura do texto evangélico, que Jesus houvesse realmente instituído o sacramento da eucaristia tal como o considera a Igreja católica, até hoje.
O consolament (em occitano, latinizado para consolamentum] é o "Batismo espiritual, oposto ao de água de João e ministrado por imposição de mãos conforme ritos que lembram os da Igreja primitiva (sem os elementos materiais como a água e o óleo)." Tal "cerimônia, essencial ao catarismo, conferia a 'consolação' do Paracleto segundo a tradição apostólica". É único sacramento reconhecido pela Igreja catara e o culminar- Clef de voûte- da sua mensagem de Revelação e Salvação, totalmente fundamentado nas Escrituras..."
Os católicos - acrescenta Brenon - utilizam-no na "ordenação31 dos bispos", ao passo que o valdismo considerava-o um segundo batismo, semelhante, talvez, à confirmação ou ao crisma dos católicos.
Clef de voûte, literalmente, chave ou fecho de abóbada, é uma antiga expressão para indicar a importância de um conceito, idéia ou procedimento. Na arquitetura medieval, notadamente ainda muito dependente da pedra, foi relevante o papel dessa peça no acabamento de abóbadas, arcos e portais. Pedras e tijolos são dispostos de maneira a suportar não apenas seu próprio peso, mas o daquilo que se assentar na arcada, cabendo à chave ou fecho o papel estabilizado" do sistema.
Para os cátaros, o batismo da imposição de mãos era o único verdadeiro, Brenon transcreve expressivo trecho do depoimento de um croyant por nome Guillaume Escaunier, de Ax, perante o inquisidor Jacques Fournier: "O herético disse ele, referindo-se à pessoa que estava sendo investigada - disse que o batismo nada vale se não for recebido voluntária e espontaneamente; ele me disse que o Batismo na água de nada vale. Ele dizia que no sacramento do altar (eucaristia) não estava (presente) o corpo do Senhor..."
O Ritual cátaro de Dublin - também transcrito em parte por Anne Brennon, é suficientemente explícito ao citar os pontos evangélicos nos quais se apoia para evidenciar sua autenticidade. O que valia para "esta Igreja" - a dos cátaros, naturalmente - era o batismo espiritual, pela imposição de mãos, pelo qual era referido o Santo Espírito". Realmente, João Batista explica (Mateus 3,11) que batizava "com a água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo".
Dentro da mais sólida lógica, o texto do Ritual prosseguia com um comentário irretorquível:"... Se pudéssemos ser salvos pelo batismo pela água temporal ou seja, material, o Cristo teria vindo morrer por nada, dado que já tínhamos o batismo da água..."

Curiosamente, a Bíblia de Jerusalém oferece sobre esta passagem, em nota no rodapé, um comentário que os cátaros certamente subscreveriam, ao dizer que "O fogo, instrumento de purificação menos material e mais eficaz do que a água, simboliza já no AT (Antigo Testamento) (...) a intervenção soberana de Deus e do seu espírito, que purifica as consciências."
Os bons chrétiens - lê-se mais adiante - praticam esse batismo santo tal como o receberam eles próprios da santa Igreja (primitiva): dado que a Igreja o manteve sem interrupção e o manterá até o fim, como o Cristo lhe disse: "Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Santo-Espírito, ensinando-as (a todas as nações) a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!".
Estavam, pois, os cátaros, rigorosamente dentro da melhor tradição cristã dos tempos primitivos, ligados em linha direta com as práticas, as ordenações os ensinamentos do Cristo, tal como documentados nos textos evangélicos.
A Igreja catara era, no sentido paleocristão (antigo, primitivo), a comunidade de cristãos, dos batizados, mas dos batizados pelo Espírito Santo, dos ‘revestidos do Espírito'. Os que haviam recebido esse batismo, homens ou mulheres tinham o direito e o dever, por sua vez, de o transmitir. Desse modo, pouco a pouco, o sacramento salvador de Deus se propagaria através do tempo a todas as almas aprisionadas neste mundo.
Somente uma pureza real e uma perfeição definitiva deveriam assegurar a salvação dos croyants; eles deviam, portanto, renascer para reparar suas faltas e seguir o caminho cristão dos bonshommes. A doutrina das reencarnações proporcionava-lhes a explicação da evolução da individualidade humana e, ao mesmo tempo, a da necessidade das famílias de que as almas pudessem retomar corpos [físicos] sobre a terra.
Roche, aliás, identificava no consolamentum ministrado pela imposição das mãos aos moribundos conteúdo ainda mais sutil. Para ele, "esse rito era o sinal da reunião da Alma com seu Espírito ao deixar o corpo físico", ele expõe em seu livro o conceito de que alma e espírito não são sinônimos, mas diferentes no psiquismo humano.
O consolamento no seu tríplice papel é o sacramento da liberação do mal, ou seja, batismo espiritual de Jesus Cristo
Na Igreja cátara, portanto, o consolamentum era batismo, naturalmente, mas também ordenação e extrema-unção, como vimos há pouco, muito embora cátaro não deva ser confundido com o católico.
Pelo texto evangélico, concluíram os formuladores da doutrina cátara que o Batismo recebido pelo Cristo provém diretamente de Deus, ainda que ministrado por João Batista. Jesus era já adulto ao recebê-lo e o teria conferido aos apóstolos adultos, não a infantes ainda incapazes de manifestar sua vontade e ter plena consciência do verdadeiro sentido e conteúdo da cerimônia.
Jean Maury, um croyant de Montaillou, declarou o seguinte a Jacques Fournier, bispo inquisidor de Pamiers: "Não creio que as crianças tenham pecado a remir pelo batismo; não creio, além disso, que ele tenha sido ministrado aos adultos pela remissão de seus pecados, mas que o batismo era somente ministrado para que as pessoas se tornassem cristãs..."
Era, portanto, um mero ritual de admissão do neófito à comunidade cristã. O consolamento era o verdadeiro batismo, tornava as pessoas adultas cristãs conscientes, em contraste com o batismo ministrado a crianças que não têm, ainda, consciência do bem e do mal. Os que recebiam o consolamentos conhecidos como 'amigos de Deus', 'bons homens', 'boas damas', 'bons pos', 'boas cristãs' ou, simplesmente, 'cristãos' e 'cristãs'.
De qualquer modo, conhecidas ou não como parfaits e parjaites, as pessoas distinguidas com o aspecto 'ordenador' do consolamento - no sentido da ordenação sacerdotal do catolicismo - passavam por profundas modificações de status e procedimento.







* Os Cátaros III
(...)

Segundo a doutrina cátara, bem como a gnóstica, as almas são criadas por as suas "túnicas de pele" - o corpo físico - constituem prisões nas quais elas adormecem, esquecidas de suas origens e de seus compromissos com o produtivo pessoal.
É assim que cada alma, adormecida na matéria que a retém cativa, esquece-se de sua origem celestial. E para fazê-las lembrarem-se e como que para despertá-las que Deus enviou Jesus Cristo, portador da mensagem reveladora indicada para arrancar as almas de suas prisões terrenas...
A imposição de mãos seria o instrumento utilizado para essa finalidade por tradição que remonta aos apóstolos, mas que, obviamente, perdera pelos caminhos sua verdadeira razão de ser e sentido.
Na concepção cátara, o procedimento, recuperado das suas realidades primitivas, suscitava a "infusão do Espírito Santo consolador - daí o termo occitan consolament" - esclarece Roquebert.
Aquele que for consolado no momento da morte deixará o corpo físico em melhores condições não propriamente de ganhar o paraíso, mas com maior perfeição espiritual na próxima reencarnação. Para os católicos, incumbe à alma ganhar o paraíso, ao passo que para os cátaros, ela retorna ao 'local' de onde veio.
O paraíso, que, tanto quanto o inferno, são estados de espírito, como ficou dito há pouco, e não locais onde se vive a eterna ociosidade do repouso ou o sofrimento igualmente sem fim.
E' preciso reconhecer que tais conceitos se arraigaram de tal forma no imaginário humano que passaram para a linguagem corrente. Ao dirigir-se à sua falecida amada, escreve Camões:
Alma minha gentil que te partiste, Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na Terra sempre triste.
O segundo aspecto é o do Espírito Santo consolador e isto precisa de um pouco mais de espaço.
A expressão Espírito Santo está habitualmente sob forte suspeita de ter sido influenciada pelo dogma da Trindade Divina, que não havia sido formulada quando os textos evangélicos foram escritos originariamente. A ideia primitiva portanto, é a de que a imposição de mãos conferia ao discípulo os dons do espírito - pura e simplesmente - não os do Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, como temos visto reiteradamente, neste livro.
Em várias passagens, especialmente em Atos, às vezes, a expressão deixou receber a devida 'correção' - para conformar-se com dogma da Trindade - e ficara simplesmente como espírito. "... o espírito me disse que os acompanhasse.." (Atos 11,12); "... o anjo (angellos [grego] = mensageiro espiritual) tocou o lado de Pedro..." (Atos 12:7); "... e os espíritos maus se retiraram... (atos 19,12). Em Atos 16,9, Paulo tem a visão de uma entidade que provavelmente se identificou como macedônio a pedir-lhe que fosse à sua terra; em Atos 19,12, o texto é explícito sobre a manifestação do próprio Cristo póstumo, ao dizer: "... mas o espírito de Jesus não lho permitiu..."
O que dizem, portanto, esses exemplos e certamente outros nos quais o texto foi 'adaptado' para acomodar o dogma da Trindade é que os espíritos participavam ativamente do movimento cristão nascente, desde o episódio do Pentecostes, aliás, a mais importante comemoração dos cátaros.
A infusão do Espírito Santo era o despertar da alma nos que se submetiam ao consolamento cátaro por imposição de mãos de companheiros mais experimentados.
E' o que atestam os textos evangélicos. Os conselhos que Paulo transmite a Timóteo nas duas epístolas são os que um bispo cátaro daria ao seu discípulo já consolado'. Trata-se, ali, de uma austera programação de vida com suas renúncias às coisas do mundo, pureza, devotamento e paciência ante o sofrimento e a incompreensão.
0 Apóstolo refere-se a instruções de origem mediúnica dirigidas a Timóteo tão caracterizadas como 'profecias', enquanto o ato mesmo de transmiti-las era conhecido como o de 'profetizar' - e lembra a solene cerimônia quando passou a seu discípulo "o dom de Deus que há em ti pela imposição de minhas mãos. (II Tim. 1,6)
Lê-se na tradução que Déodat Roché fez do Ritual cátaro (L'église romai--s cathares albigeois, p. 175 e seg.), módulo sobre o "Batismo espiritual ou ação", uma referência ao curioso diálogo de Paulo com alguns joanitas (discípulo de João) em Corinto, ao tempo em que lá estava Apolo.
A cena está narrada em Atos 19,1 -7. Paulo perguntou-lhes se haviam recebido o Espirito Santo ao abraçarem a fé. Mas eles revelaram desconhecer completamente essa modalidade de batismo do Espírito. Haviam recebido - disseram -batismo de João. E Paulo, sempre enfático, declarou que esse era o batismo da penitência, ministrado por João, mas que, após ele, viria outro, isto é, Jesus.
Os joanitas concordaram, pois, em receber o batismo do espírito e "quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo veio sobre eles (manifestou-se). Eles se puseram a falar em línguas e a profetizar".
Para os cátaros é o dom do Espírito Santo consolador que revela 'o sentido profundo e a verdadeira dignidade das Escrituras.
Vamos considerar, porém, a prática específica da imposição de mãos, que em diferentes passagens dos evangelhos figura como procedimento de cura, tanto quanto está ligada ao que Paulo caracterizou, em sua carta a Timóteo, como "dom de Deus".
Lemos em Johannes Weiss (Earliest christíanity, p. 251), na sua longa dissertação sobre a relevante tarefa de Paulo no cristianismo nascente, a importância do que hoje se caracteriza como vocação para a vida religiosa, no sentido chamamento (vocare, latim para chamar [com a voz], cali, idem, no inglês), mais do que mero convite formal. Com o correr do tempo, Paulo teria chegado à conclusão de que a adesão correspondia a uma completa conversão e que não era mais os apóstolos, mas o próprio Deus que 'chamava' ou convocava (outro termo em que aparece o mesmo radical ligado ao conceito de voz), os cristãos.
(...)







 Os Cátaros IV 
(...)
O aspecto marcante desse chamamento, no entanto [prossegue Weiss], era não a confissão de uma nova fé, mas a posse do espírito. De qualquer modo, Paulo entendia que a conversão somente estaria completa quando as operações do Espírito ocorressem entre os novos convertidos; isso pode ter sido aquela generalizada e difícil de definir "alegria no Espírito Santo", (I Tess. 1,6), ou, os fenômenos perfeitamente definidos e distintos como a extática exclamação 'Abba, Pai' durante a prece. (Gal. 4,6; Rom. 8,15).

Goguel - outro autor particularmente interessado na questão da imposição de mãos - refere-se, em The birth of christianity (pp. 179-180), à visita de Pedro e João à Samaria como delegados da Igreja-máter de Jerusalém, após o trabalho de conversão ali realizado por Filipe. "Os dois apóstolos - prossegue Goguel - promoveram o que seria verdadeira jornada de confirmação junto aos samaritanos que Filipe havia convertido e batizado e que só receberam o espírito santo - esta palavra em minúscula no original da tradução inglesa - quando os dois apóstolos impuseram-lhes as mãos".
Ou seja, "a posse do Espírito", só se manifestou nos convertidos já batizados por Filipe depois que os apóstolos lhes impuseram as mãos.
Goguel chama a atenção em nota de rodapé para o fato de que o autor do texto dos Atos (Lucas, como se sabe) acreditava que "o privilégio de conferir o Espírito Santo pela imposição de mãos era privativo dos apóstolos". E isso, no dizer de Goguel, fica confirmado pelo fato de Simão, o Mago, haver proposto a Pedro propiciar-lhe os mesmos poderes - os dons do espírito, por imposição de mãos - a troco de dinheiro.
Anda mais explícito e até em mais nítida conexão com a visão cátara do rolamento, Goguel chama a atenção para o fato de Lucas, sem dúvida por causa de sua estreita ligação com a tradição de Paulo, destacar muito mais as manifestações do espírito" do que Mateus e Marcos.
E acrescenta esta relevante informação: "Não há dúvida de que devemos acordar com Harnack em que (atenção!) o texto original de Lucas para a Prece Senhor (o Pai Nosso) não era "Venha a nós o vosso Reino", mas "Possa o Espírito Santo vir a nós e nos purificar.” O termo "santo" levanta suspeitas de manipulação posterior para introduzir nos textos evangélicos ' apoios' - mesmo que falsos - para a doutrina da trindade divina.
Carlos Torres Pastorino - professor de grego, linguista emérito, um dos mais eruditos estudiosos desses textos e autor de uma tradução dos evangelhos " diretamente do grego - insiste [Sabedoria do Evangelho) em que os originais falam de um "espírito santificado", ou seja, de elevada condição evolutiva - melhor ainda um espírito, pura e simplesmente - e não "Espírito Santo", terceira pessoa da Trindade.
Os cátaros, sempre muito atentos às minúcias textuais e interessados em resgatar práticas e conteúdos doutrinários dos antigos escritos, podem ter-se inspirado em passagens como essa para adotar o conceito de que a mais importante cerimônia religiosa do culto que professavam seria mesmo a do consolamento. Era por meio desse ritual, ministrado pela imposição de mãos, que se tornavam dotados de sensibilidades especiais à perceção das realidades espirituais, os carismas a que se refere Paulo.
A presença de entidades de elevado porte evolutivo junto ao psiquismo dos 'consolados' cátaros, tanto quanto junto dos antigos cristãos da primeira hora, ambos 'despertados' pela imposição de mãos, suscitava na intimidade da pessoa intenso desejo de pureza e uma ânsia maior pela perfeição. Por outro lado, a reverência do melhoramento que os simples croyants faziam não se dirigia à figura humana dos parfaits e das parfaites, mas às entidades espirituais que os assistiam. Eles (os cátaros) haviam, em suma, conservado os ritos dos primeiros cristãos. Consideravam-nos como símbolos de realidades espirituais; respondiam assim, àqueles que lhes perguntavam porque empregavam o rito exterior da imposição de mãos para ministrar a consolação, a tradição que vinha dos apóstolos. Viam nisso, um conteúdo esotérico que era para eles o símbolo da ajuda do Mestre espiritual com o qual se punham em contato graças ao estado de pureza, às meditações e às preces. Esse Mestre guiava-os do próprio interior de suas almas, ajudava-os a retomar a consciência do Espírito do qual eles recebiam as mais seguras consolações e ao qual chamavam, por causa disso, pelo nome de Espírito consolador, ou Paracleto. O essencial para eles era, portanto, a pureza, a meditação e a prece, particularmente a do Pater [Pai Nosso],mantinham as práticas dos apóstolos, mas explicavam a imposição de mãos pela ação de um mestre invisível perfeitamente puro que os ajudava a tomar consciência de seus Espíritos e, por isso, não tinham necessidade de suntuosos edifícios, é e corpo humano purificado que devia ser o templo de Deus.
Pela mesma razão, não aceitavam o pão da eucaristia senão como rememoração da cena descrita nos evangelhos e símbolo da união espiritual com o Cristo, sem notação sacramental. Quanto à missa, os primeiros cristãos nem a conheceram dado que foi estabelecida pelo papa Silvestre, no quarto século.
Reiterando, ainda mais adiante a convicção dos cátaros a respeito do espírito Consolador e o importante papel que desempenhava na vida deles o do consolamento pela imposição de mãos, Roche (pai) menciona aspectos esotéricos do catarismo que os inquisidores colheram nos depoimentos dos crentes, que de outra forma, não teriam chegado ao nosso conhecimento…
Para o Apóstolo dos gentios (Paulo), a alma - ou melhor, espírito sobrevivente - precisa, evidentemente, de um corpo através do qual agir, pensar, manifestar-se, mas não o físico e sim o espiritual. Fazer o que com o corpo material na dimensão póstuma? Como fazê-lo imortal? O que diz Paulo nessa mesma epístola, capítulo 15, é que o corpo físico vai para a sepultura e lá se transforma [decompõe], como a semente, precisamente para que o corpo espiritual possa desprender-se, desligar-se dele e dar continuidade à vida, em outra dimensão da realidade. Estava, pois, de pleno acordo com a opinião atribuía aos coríntios e não em oposição a eles.
(...)

Foto: Os Cátaros IV
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O aspecto marcante desse chamamento, no entanto [prossegue Weiss], era não a confissão de uma nova fé, mas a posse do espírito. De qualquer modo, Paulo entendia que a conversão somente estaria completa quando as operações do Espírito ocorressem entre os novos convertidos; isso pode ter sido aquela generalizada e difícil de definir "alegria no Espírito Santo", (I Tess. 1,6), ou, os fenômenos perfeitamente definidos e distintos como a extática exclamação 'Abba, Pai' durante a prece. (Gal. 4,6; Rom. 8,15).

Goguel - outro autor particularmente interessado na questão da imposição de mãos - refere-se, em The birth of christianity (pp. 179-180), à visita de Pedro e João à Samaria como delegados da Igreja-máter de Jerusalém, após o trabalho de conversão ali realizado por Filipe. "Os dois apóstolos - prossegue Goguel - promoveram o que seria verdadeira jornada de confirmação junto aos samaritanos que Filipe havia convertido e batizado e que só receberam o espírito santo - esta palavra em minúscula no original da tradução inglesa - quando os dois apóstolos impuseram-lhes as mãos".
Ou seja, "a posse do Espírito", só se manifestou nos convertidos já batizados por Filipe depois que os apóstolos lhes impuseram as mãos.
Goguel chama a atenção em nota de rodapé para o fato de que o autor do texto dos Atos (Lucas, como se sabe) acreditava que "o privilégio de conferir o Espírito Santo pela imposição de mãos era privativo dos apóstolos". E isso, no dizer de Goguel, fica confirmado pelo fato de Simão, o Mago, haver proposto a Pedro propiciar-lhe os mesmos poderes - os dons do espírito, por imposição de mãos - a troco de dinheiro.
Anda mais explícito e até em mais nítida conexão com a visão cátara do rolamento, Goguel chama a atenção para o fato de Lucas, sem dúvida por causa de sua estreita ligação com a tradição de Paulo, destacar muito mais as manifestações do espírito" do que Mateus e Marcos.
E acrescenta esta relevante informação: "Não há dúvida de que devemos acordar com Harnack em que (atenção!) o texto original de Lucas para a Prece Senhor (o Pai Nosso) não era "Venha a nós o vosso Reino", mas "Possa o Espírito Santo vir a nós e nos purificar.” O termo "santo" levanta suspeitas de manipulação posterior para introduzir nos textos evangélicos ' apoios' - mesmo que falsos - para a doutrina da trindade divina.
Carlos Torres Pastorino - professor de grego, linguista emérito, um dos mais eruditos estudiosos desses textos e autor de uma tradução dos evangelhos " diretamente do grego - insiste [Sabedoria do Evangelho) em que os originais falam de um "espírito santificado", ou seja, de elevada condição evolutiva - melhor ainda um espírito, pura e simplesmente - e não "Espírito Santo", terceira pessoa da Trindade.
Os cátaros, sempre muito atentos às minúcias textuais e interessados em resgatar práticas e conteúdos doutrinários dos antigos escritos, podem ter-se inspirado em passagens como essa para adotar o conceito de que a mais importante cerimônia religiosa do culto que professavam seria mesmo a do consolamento. Era por meio desse ritual, ministrado pela imposição de mãos, que se tornavam dotados de sensibilidades especiais à perceção das realidades espirituais, os carismas a que se refere Paulo. 
A presença de entidades de elevado porte evolutivo junto ao psiquismo dos 'consolados' cátaros, tanto quanto junto dos antigos cristãos da primeira hora, ambos 'despertados' pela imposição de mãos, suscitava na intimidade da pessoa intenso desejo de pureza e uma ânsia maior pela perfeição. Por outro lado, a reverência do melhoramento que os simples croyants faziam não se dirigia à figura humana dos parfaits e das parfaites, mas às entidades espirituais que os assistiam. Eles (os cátaros) haviam, em suma, conservado os ritos dos primeiros cristãos. Consideravam-nos como símbolos de realidades espirituais; respondiam assim, àqueles que lhes perguntavam porque empregavam o rito exterior da imposição de mãos para ministrar a consolação, a tradição que vinha dos apóstolos. Viam nisso, um conteúdo esotérico que era para eles o símbolo da ajuda do Mestre espiritual com o qual se punham em contato graças ao estado de pureza, às meditações e às preces. Esse Mestre guiava-os do próprio interior de suas almas, ajudava-os a retomar a consciência do Espírito do qual eles recebiam as mais seguras consolações e ao qual chamavam, por causa disso, pelo nome de Espírito consolador, ou Paracleto. O essencial para eles era, portanto, a pureza, a meditação e a prece, particularmente a do Pater [Pai Nosso],mantinham as práticas dos apóstolos, mas explicavam a imposição de mãos pela ação de um mestre invisível perfeitamente puro que os ajudava a tomar consciência de seus Espíritos e, por isso, não tinham necessidade de suntuosos edifícios, é e corpo humano purificado que devia ser o templo de Deus.
Pela mesma razão, não aceitavam o pão da eucaristia senão como rememoração da cena descrita nos evangelhos e símbolo da união espiritual com o Cristo, sem notação sacramental. Quanto à missa, os primeiros cristãos nem a conheceram dado que foi estabelecida pelo papa Silvestre, no quarto século.
Reiterando, ainda mais adiante a convicção dos cátaros a respeito do espírito Consolador e o importante papel que desempenhava na vida deles o do consolamento pela imposição de mãos, Roche (pai) menciona aspectos esotéricos do catarismo que os inquisidores colheram nos depoimentos dos crentes, que de outra forma, não teriam chegado ao nosso conhecimento…
Para o Apóstolo dos gentios (Paulo), a alma - ou melhor, espírito sobrevivente - precisa, evidentemente, de um corpo através do qual agir, pensar, manifestar-se, mas não o físico e sim o espiritual. Fazer o que com o corpo material na dimensão póstuma? Como fazê-lo imortal? O que diz Paulo nessa mesma epístola, capítulo 15, é que o corpo físico vai para a sepultura e lá se transforma [decompõe], como a semente, precisamente para que o corpo espiritual possa desprender-se, desligar-se dele e dar continuidade à vida, em outra dimensão da realidade. Estava, pois, de pleno acordo com a opinião atribuía aos coríntios e não em oposição a eles.
(...)






Cátaros V

(...)

Pela meticulosa atenção que os estudiosos cátaros dedicaram aos textos primitivos, escritos quando o cristianismo vivia toda a pureza infantil e a inocência de seus primeiros passos, não lhes poderia ter escapado o relevante papel da realidade espiritual.
São inúmeras, convincentes e legítimas as evidências de ativo intercâmbio entre 'vivos' e 'mortos', no crítico período da implantação da doutrina do Cristo. Estabeleceu-se vivo diálogo entre os que ficaram na terra depôs que ele partiu e os que, da dimensão póstuma invisível, aconselhavam, protegiam, instruíam e dirigiam os passos dos trabalhadores incumbidos de dar prosseguimento à tarefa iniciada pelo Cristo, Paulo principalmente. Não raras vezes, • próprio Cristo póstumo se manifesta para orientar, aconselhar e consolar. E' o que se vê, especialmente em Atos e nas Epístolas de Paulo, mas também nas demais, bem como no Evangelho de João.
... as primeiras comunidades [escreve Guignebert, in Jesus] vivem na familiaridade do espírito santo [santificado, segundo Pastorino]; é quem as guia, esclarece e complementa a fé, por uma influência constante. Esse pneumatismo prático irá prolongar-se, tanto que não será possível constituir-se um clero com atribuições bem determinadas e hostil às fantasias dos inspirados. Como recusar autoridade às revelações que favoreciam os santos, e que vêm da mesma fonte das comunicações autênticas do Cristo aos seus discípulos durante a vida terrestre?
Mais adiante, nesse mesmo livro, Guignebert caracteriza como "lenda apostólica" a notícia de que a comunidade cristã primitiva fora governada desde princípio pelo Colégio dos Doze, sob a presidência de Pedro. Não foi nada disso. O que regula a vida cristã primitiva é aquilo a que o autor francês chama de inspiração.
Déodat Roché fala da presença de um "mestre invisível" em cada um de nós, o que seria, pelo que depreendo, algo parecido com o "daimon" de Sócrates ou o eu superior.
Não teriam igualmente escapado aos cátaros o tom e o conteúdo esotérico do Evangelho de João, o da preferência dos formuladores da doutrina cátara e de importantes aspectos do movimento correspondente, ou seja, as práticas ritualísticas - aliás reduzidas a um mínimo possível - e o comportamento primeiramente cristão, no seu melhor sentido, de todos os participantes da singela hierarquia 'sacerdotal' do catarismo.

De acordo com Belibaste, tido como o último parfait cátaro, "o casamento (sacramental) era preferível ao desregramento moral, mas superado pela renúncia e pela união da alma ao seu Espírito". Com isto, destacava-se essa verdade espiritual ao ritualismo limitado. E conclui: "A alma pura que tivesse o mérito de receber a consolação, mas não pudesse recebê-la de um ministro cátaro, a receberia de um mestre espiritual e de um anjo (mensageiro divino, espírito) no momento da morte. Portanto, o grande mérito e objetivo maior do consolamento estava em promover a união da alma com o Espírito.
Na verdade o problema fundamental do ser encarnado é a gestão adequada da sua múltipla e complexa interação com o dia-a-dia da existência terrena, as exigências e solicitações da matéria e a conciliação dos interesses maiores e permanentes do espírito individualidade = eu superior) em sua ligação com o cosmos e os apelos, as pressões e ilusões que a alma personalidade) experimenta adormecida na carne, sufocada e esquecida de suas origens e de seus compromissos espirituais na transitoriedade da imersão na matéria densa.
Sabe-se o quanto os cátaros se preocupavam em não se deixar dominar pela matéria, em prejuízo de suas mais elevadas aspirações evolutivas. Deviam entender, contudo, que o mal não estava na matéria em si, mas em como cada um de nós lida com suas pressões e chamamentos e o quanto depende o nosso futuro espiritual da maneira pela qual administramos nosso envolvimento - e aprendizado! - com ela. Mesmo porque na inevitável equação - dualista, aliás - espírito/matéria figuram atrativos e mordomias de difícil rejeição como poder, glória, riqueza, beleza, posição social e coisas desse tipo, que pouco ou nada valem na contexto da eternidade, mas se nos afiguram de vital importância enquanto estamos por aqui.

Os termos consolador ou consolamento, portanto, seriam possivelmente indicativos de uma presença espiritual invisível - do próprio eu superior e/ou are entidades altamente qualificadas - que consolava o ser encarnado por estar aparentemente em desvio, entregando-se a renúncias, sacrifícios, austeridades, ascetismos em busca de um futuro de felicidade e paz.
Experimentemos, em primeiro lugar, uma leitura mais atenta do Evangelho a de João, de onde provêm as referências originárias, surgidas, aliás, no contexto da última ceia, ou seja, na reunião de despedida do Cristo, de vez que se aproximava a hora de seus tormentos finais.
O momento é dramático e melancólico. Após anunciar sua partida dentro em breve para lugar ignorado e inacessível aos apóstolos - "... por pouco tempo ainda estou convosco..." e ".. para onde vou vós não podeis ir..." -, Jesus percebeu inquietação dos seus amigos. Pedro quer saber que lugar é esse, aonde ninguém poderá segui-lo.

Já a partir da interpelação de Pedro, Jesus inicia o discurso da consolação. Que acreditassem em Deus e nele o próprio, Jesus. Havia por lá lugar para todos, pois são muitas as moradas do Pai e ele iria à frente. Assegurou que voltaria para levá-los consigo para que ficassem com ele e, acrescentou, enigmático: "E para onde vou, conheceis o caminho."
Tomé, que tudo queria explicado e entendido, retrucou, com toda lógica, aliás, como iriam conhecer o caminho se não sabiam para onde ele ia?
Filipe, ainda mais objetivo e prático, ponderou que bastava mostrar logo o mais nada seria necessário.
A conversa ocorre, pois, em clima metafórico; é um jogo de imagens e símbolos com os quais Jesus fala de coisas que, como de outras vezes, os apóstolos demonstram não entender. Sua expectativa, no entanto, era a de que eles já estivem em condições de compreender tais aspectos, porque comenta o pedido de Filipe com uma pergunta algo desalentada: "Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces, Filipe?"
E' certo, porém, que o consolo constitui a tônica da conversa, que prossegue, quando ele anuncia que vai, mas recomenda a prática do amor fraterno e observância de seus ensinamentos. "Se me amais - continua -, observareis os meus mandamentos e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê e não o conhece. Vós o conheceis porque permanece convosco."
E continua o tom consolador: "Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós."
(...)

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