O castelo de Faria já não existe, como Herculano informa no texto. Castelo de Montalegre, um castelo medieval, da época do de Faria
O CASTELO DE FARIA (1373)
Do livro de Alexandre Herculano "Lendas e Narrativas"
O castelo de Faria, com suas torres e ameias, com a sua barbacã e fosso,
com seus postigos e alçapões ferrados, campeou aí como dominador dos
vales vizinhos. Castelo real da Idade Média, a sua origem some-se nas
trevas dos tempos que já lá vão há muito: mas a febre lenta que costuma
devorar os gigantes de mármore e de granito, o tempo, coou-lhe pelos
membros, e o antigo alcácer das eras dos reis de Leão desmoronou-se e
caiu.
Ainda no século dezassete parte da sua ossada estava dispersa por
aquelas encostas: no século seguinte já nenhuns vestígios dele restavam,
segundo o testemunho de um historiador nosso. Um eremitério, fundado
pelo célebre Egas Moniz, era o único eco do passado que aí restava.
Na ermida servia de altar uma pedra trazida de Ceuta pelo primeiro Duque
de Bragança, D. Afonso. Era esta lájea a mesa em que costumava comer
Salat-ibn-Salat, último senhor de Ceuta. D. Afonso, que seguira seu pai
D. João I na conquista daquela cidade, trouxe esta pedra entre os
despojos que lhe pertenceram, levando-a consigo para a vila de Barcelos,
cujo conde era.
De mesa de banquetes mouriscos converteu-se essa pedra em ara do
cristianismo. Se ainda existe, quem sabe qual será o seu futuro destino?
Serviram os fragmentos do castelo de Faria para se construir o convento
edificado ao sopé do monte. Assim se converteram em dormitórios as salas
de armas, as ameias das torres em bordas de sepulturas, os umbrais das
balhesteiras e postigos em janelas claustrais. O ruído dos combates
calou no alto do monte, e nas faldas dele alevantaram-se a harmonia dos
salmos e o sussurro das orações.
Este antigo castelo tinha recordações de glória. Os nossos maiores,
porém, curavam mais de praticar façanhas do que de conservar os
monumentos delas. Deixaram, por isso, sem remorsos, sumir nas paredes de
um claustro pedras que foram testemunhas de um dos mais heróicos feitos
de corações portugueses.
Reinava entre nós D. Fernando. Este príncipe, que tanto degenerava de
seus antepassados em valor e prudência, fora obrigado a fazer paz com os
castelhanos, depois de uma guerra infeliz, intentada sem justificados
motivos, e em que se esgotaram inteiramente os tesouros do Estado.
A condição principal, com que se pôs termo a esta luta desastrosa, foi
que D. Fernando casasse com a filha del-rei de Castela: mas, brevemente,
a guerra se acendeu de novo; porque D. Fernando, namorado de D. Leonor
Teles, sem lhe importar o contrato de que dependia o repouso dos seus
vassalos, a recebeu por mulher, com afronta da princesa castelhana.
Resolveu-se o pai a tomar vingança da injúria, ao que o aconselhavam
ainda outros motivos.
Entrou em Portugal com um exército e, recusando D. Fernando aceitar-lhe
batalha, veio sobre Lisboa e cercou-a. Não sendo o nosso propósito
narrar os sucessos deste sítio, volveremos o fio do discurso para o que
sucedeu no Minho.
O Adiantado de Galiza, Pedro Rodriguez Sarmento, entrou pela província
de Entre-Douro-e- Minho com um grosso corpo de gente de pé e de cavalo,
enquanto a maior parte do pequeno exército português trabalhava
inutilmente ou por defender ou por descercar Lisboa.
Prendendo, matando e saqueando, veio o Adiantado até as imediações de
Barcelos, sem achar quem lhe atalhasse o passo; aqui, porém, saiu-lhe ao
encontro D. Henrique Manuel, conde de Ceia e tio del-rei D. Fernando,
com a gente que pôde ajuntar.
Foi terrível o conflito; mas, por fim, foram desbaratados os portugueses, caindo alguns nas mãos dos adversários.
Entre os prisioneiros contava-se o alcaide-mor do castelo de Faria, Nuno
Gonçalves. Saíra este com alguns soldados para socorrer o conde de
Ceia, vindo, assim, a ser companheiro na comum desgraça. Cativo, o
valoroso alcaide pensava em como salvaria o castelo del-rei seu senhor
das mãos dos inimigos.
Governava-o em sua ausência, um seu filho, e era de crer que, vendo o
pai em ferros, de bom grado desse a fortaleza para o libertar, muito
mais quando os meios de defensão escasseavam.
Estas considerações sugeriram um ardil a Nuno Gonçalves. Pediu ao
Adiantado que o mandasse conduzir ao pé dos muros do castelo, porque
ele, com as suas exortações, faria com que o filho o entregasse, sem
derramamento de sangue.
Um troço de besteiros e de homens d'armas subiu a encosta do monte da
Franqueira, levando no meio de si o bom alcaide Nuno Gonçalves. O
Adiantado de Galiza seguia atrás com o grosso da hoste, e a costaneira
ou ala direita, capitaneada por João Rodrigues de Viedma, estendia-se,
rodeando os muros pelo outro lado.
O exército vitorioso ia tomar posse do castelo de Faria, que lhe prometera dar nas mãos o seu cativo alcaide.
De roda da barbacã alvejavam as casinhas da pequena povoação de Faria:
mas silenciosas e ermas. Os seus habitantes, apenas enxergaram ao longe
as bandeiras castelhanas, que esvoaçavam soltas ao vento, e viram o
refulgir cintilante das armas inimigas, abandonando os seus lares, foram
acolher-se no terreiro que se estendia entre os muros negros do castelo
e a cerca exterior ou barbacã.
Nas torres, os atalaias vigiavam atentamente a campanha, e os almocadens
corriam com a rolda 1 pelas quadrelas do muro e subiam aos cubelos
colocados nos ângulos das muralhas.
O terreiro onde se haviam acolhido os habitantes da povoação estava
coberto de choupanas colmadas, nas quais se abrigava a turba dos velhos,
das mulheres e das crianças, que ali se julgavam seguros da violência
de inimigos desapiedados.
Quando o troço dos homens d'armas que levavam preso Nuno Gonçalves vinha
já a pouca distância da barbacã, os besteiros que coroavam as ameias
encurvaram as bestas, e os homens dos engenhos prepararam-se para
arrojar sobre os contrários as suas quadrelas e virotões, enquanto o
clamor e o choro se alevantavam no terreiro, onde o povo inerme estava
apinhado.
Um arauto saiu do meio da gente da vanguarda inimiga e caminhou para a
barbacã, todas as bestas se inclinaram para o chão, e o ranger das
máquinas converteu-se num silêncio profundo.
- "Moço alcaide, moço alcaide! - bradou o arauto - teu pai, cativo do
mui nobre Pedro Rodriguez Sarmento, Adiantado de Galiza pelo mui
excelente e temido D. Henrique de Castela, deseja falar contigo, de fora
do teu castelo."
Gonçalo Nunes, o filho do velho alcaide, atravessou então o terreiro e,
chegando à barbacã, disse ao arauto - "A Virgem proteja meu pai:
dizei-lhe que eu o espero."
O arauto voltou ao grosso de soldados que rodeavam Nuno Gonçalves, e
depois de breve demora, o tropel aproximou-se da barbacã. Chegados ao pé
dela, o velho guerreiro saiu dentre os seus guardadores, e falou com o
filho:
"Sabes tu, Gonçalo Nunes, de quem é esse castelo, que, segundo o
regimento de guerra, entreguei à tua guarda quando vim em socorro e
ajuda do esforçado conde de Ceia?"
- "É - respondeu Gonçalo Nunes - de nosso rei e senhor D. Fernando de Portugal, a quem por ele fizeste preito e menagem."
- "Sabes tu, Gonçalo Nunes, que o dever de um alcaide é de nunca
entregar, por nenhum caso, o seu castelo a inimigos, embora fique
enterrado debaixo das ruínas dele?"
- "Sei, oh meu pai! - prosseguiu Gonçalo Nunes em voz baixa, para não
ser ouvido dos castelhanos, que começavam a murmurar. - Mas não vês que a
tua morte é certa, se os inimigos percebem que me aconselhaste a
resistência?"
Nuno Gonçalves, como se não tivera ouvido as reflexões do filho, clamou
então: - "Pois se o sabes, cumpre o teu dever, alcaide do castelo de
Faria! Maldito por mim, sepultado sejas tu no inferno, como Judas o
traidor, na hora em que os que me cercam entrarem nesse castelo, sem
tropeçarem no teu cadáver."
- "Morra! - gritou o almocadem castelhano - morra o que nos atraiçoou." -
E Nuno Gonçalves caiu no chão atravessado de muitas espadas e lanças.
- "Defende-te, alcaide!" - foram as últimas palavras que ele murmurou.
Gonçalo Nunes corria como louco ao redor da barbacã, clamando vingança.
Uma nuvem de frechas partiu do alto dos muros; grande porção dos
assassinos de Nuno Gonçalves misturaram o próprio sangue com o sangue do
homem leal ao seu juramento.
Os castelhanos acometeram o castelo; no primeiro dia de combate o
terreiro da barbacã ficou alastrado de cadáveres tisnados e de colmos e
ramos reduzidos a cinzas.
Um soldado de Pedro Rodriguez Sarmento tinha sacudido com a ponta da sua
longa chuça um colmeiro incendiado para dentro da cerca; o vento suão
soprava nesse dia com violência, e em breve os habitantes da povoação,
que haviam buscado o amparo do castelo, pereceram juntamente com as suas
frágeis moradas.
Mas Gonçalo Nunes lembrava-se da maldição de seu pai: lembrava-se de que
o vira moribundo no meio dos seus matadores, e ouvia a todos os
momentos o último grito do bom Nuno Gonçalves - "Defende-te, alcaide!"
O orgulhoso Sarmento viu a sua soberba abatida diante dos torvos muros
do castelo de Faria. O moço alcaide defendia-se como um leão, e o
exército castelhano foi constrangido a levantar o cerco.
Gonçalo Nunes, acabada a guerra, era altamente louvado pelo seu brioso
procedimento e pelas façanhas que obrara na defensão da fortaleza cuja
guarda lhe fora encomendada por seu pai no último trance da vida.
Mas a lembrança do horrível sucesso estava sempre presente no espírito
do moço alcaide. Pedindo a el-rei o desonerasse do cargo que tão bem
desempenhara, foi depor ao pé dos altares a cervilheira e o saio de
cavaleiro, para se cobrir com as vestes pacificas do sacerdócio.
Ministro do santuário, era com lágrimas e preces que ele podia pagar a
seu pai o ter coberto de perpétua glória o nome dos alcaides de Faria.
Mas esta glória, não há hoje ai uma única pedra que a ateste. As relações dos historiadores foram mais duradouras que o mármore.
O Império de Portugal A INDIA PORTUGUESA - DAMÃO Revelo um pouco desse Portugal Imperial que se foi perdendo pouco a pouco. Uma viagem até Damão, uma cidade Estado que foi Portuguesa, junto a Diu e Goa. Fica situada a norte de Goa e aqui fica um pouco da sua/nossa história. Também pode ver a palestra dada pelo prof. Abreu Freire, sobre Damão e que foi dada no 2º dia da celebração do "Dia de Damão". Um evento que é realizado todos os anos e que contém conferências e várias actividades, alusivas a Damão e ao legado Português lá deixado.
Texto: Português Áudio: Português Fontes: Monarquia TV - YouTube - Alma de Viajante
Damão, caravela de pedra
(Ana Isabel Mineiro)
O menos falado pedaço da “Índia portuguesa” é, sem dúvida, Damão.
Da sua antiga glória restam dois fortes, impressionantes no tamanho e
na preservação, e uma pequena comunidade que mantém algo da cultura portuguesa.
Chegada a Damão
Não me consola muito saber que os portugueses de quinhentos sofreram ainda mais que eu para chegar a Damão. As viagens para a Índia podiam demorar muitos meses, e Damão fica a Norte de Goa e de Mumbai (antiga Bombaim),
pelo que teria de se adicionar mais algum tempo de viagem para lá
chegar, fosse por mar ou por terra. Mas ainda hoje é complicado.
Fachada de um forte português em Damão, Índia
As adoráveis contradições indianas, que incluem passar de cidades
onde qualquer mendigo fala inglês, como Mumbai, para outras onde só
sabem a língua local - para além do hindi oficial, creio eu -, fazem com
que coisas aparentemente simples, como descobrir de onde partem os
transportes, seja um verdadeiro trauma.
E depois é preciso conseguir apanhar o autocarro certo. Já para
não falar da vocação suicida dos condutores, ou do estado dos veículos,
verdadeiras sucatas sobre rodas onde se pode escrever o nome no pó dos
assentos, e onde a única maneira de marcar lugar é fazer como os locais,
e atirar uma criança lá para dentro pela janela quando o autocarro
ainda está a entrar no terminal. E depois há a questão de valer a pena
ou não.
Não vim negociar em especiarias nem espalhar a fé
cristã, o meu interesse vagueia entre uma espécie de curiosidade
histórica, de ver em que se transformou este importante entreposto
comercial português do século XVI, e conhecer as particularidades dos pequenos territórios da União Indiana.
À primeira vista, Damão não é propriamente um
lugar bonito. Até chegarmos aos dois fortes: o pequeno, com o cemitério
cristão, uma igreja e um campo relvado de futebol para os miúdos; e o
grande, junto às muralhas do qual os pescadores trabalham, no meio dos
barcos embandeirados.
A herança portuguesa em Damão
Que estamos na Índia ninguém o pode ignorar. O
trânsito ruidoso, abundante e caótico, os cheiros apetitosos da comida e
de incenso, o chinfrim de buzinas misturado com música e a confusão de
gente nas ruas, não nos deixam imaginar qualquer outro lugar. Muitos
homens usam o trajo branco típico do estado do Guzerate, cujo chapelinho lembra os vendedores de gelados de antigamente.
Pescador numa praia de Damão
O território de Damão é um enclave territorial com apenas
trezentos e oitenta quilómetros quadrados e a forma de uma pequena
escama, quase imperceptível no imenso mapa da Índia. Mas tem a sua
própria assembleia, desde 1987, e as suas leis muito próprias. Uma
delas, comum aos outros ex-territórios portugueses, é a permissividade
em relação ao álcool.
Quem chega por terra vindo de algures no Guzerate, estado onde o
hinduísmo tem muito peso e onde impera a lei seca, fica logo
surpreendido com a abundância de bares. E caso se fique durante um
fim-de-semana ou feriado, chega a ser difícil encontrar alojamento na
cidade, com centenas de indianos a chegarem de lugares onde as bebidas
alcoólicas são proibidas, para passarem uns dias em cheio.
O rio Daman Ganga divide a cidade em duas: a
Norte, Nani Daman, o Pequeno Damão, e do lado oposto, fica o Grande,
Moti Daman. Nascida na foz, com vista para o rio e o mar, a cidade tem
fartura de água e de pescadores, e o cheiro a peixe sobrepõe-se a todos
os outros. Os barcos engalanados com bandeirinhas coloridas, suspensas
de uma teia confusa de mastros finos, alinham-se ao longo da tira de
areia escura da praia.
Interior de igreja em Damão, Índia
Alguns pescadores remendam redes, enquanto outros espalham peixes
minúsculos numa rampa junto ao areal, para secarem. Algumas estatuetas
de deuses, pequenas e tão negras como a areia, jazem por ali, talvez
para dar sorte e protecção. Mas o que atrai a atenção de quem chega à
costa são os dois fortes portugueses, à sombra dos quais se desenrola a vida quotidiana desta cidade piscatória: frente a frente, de um lado e do outro do rio, o pequeno forte de Nani e o grande de Moti parecem dois gigantescos barcos de pedra, atracados à espera da maré.
A cidade estende-se do lado do forte mais pequeno, e muitos
prédios já o ultrapassam em altura. A cruz e a imagem de S. Jerónimo,
que lhe dá o nome, continuam por cima do arco da entrada; lá dentro
resta uma igreja - agora usada como escola - e um cemitério cristão.
A avaliar pelos polícias, em cujos crachás se lêem nomes como Silva e Pereira,
e também pelas meninas que passam de saia e blusa, em vez do sari ou da
túnica, mais comuns nas hindus, parte da população parece ter mantido o
cristianismo.
Alguns ainda dizem mesmo algumas palavras em português, mas não
encontrei ninguém que passasse para além dos cumprimentos e de algum
vocabulário solto; no entanto, de regresso a Portugal, soube que o português ainda se estuda e que a cidade de Damão celebrou um acordo de geminação com Coimbra.
Arco de entrada do forte em Grande Damão
A vista sobre Moti Daman e a imensa linha escura
do forte, com a sua parede escura coberta de musgo, é impressionante. No
arco da entrada, uma velha placa diz-nos que estamos na Rua Martim Afonso, e uma das primeiras casas está assinalada como sendo aquela onde viveu Bocage, tenente da Marinha antes de desertar.
A atmosfera torna-se mais arcaica à medida que percorremos a rua
central, bem sombreada, onde vamos encontrando edifícios antigos bem
portugueses, como o Palácio do Governador ou a igreja do Bom Jesus.
Do lado de fora, alguns pescadores limpam os seus barquinhos de aspecto
frágil, enquanto outros acartam enormes blocos de gelo pendurados em
paus, para conservar o pescado.
E tendo como cenário os imponentes fortes portugueses, as
actividades habituais do cais parecem fazer parte de um qualquer filme
antigo.
Pérolas e tâmaras
Desde 1531 que esta área do Golfo de Cambaia, na foz do rio Daman Ganga, funcionava como entreposto comercial. Os fortes portugueses
foram construídos em meados no século XVI, e a presença lusa já estava
literalmente de pedra e cal em 1559 - mas uma placa na entrada do forte
Grande lembra que, antes da conquista portuguesa, existia aqui uma
fortificação muçulmana.
Praia em Damão, Índia
As fortificações serviam, sobretudo, para defender as mercadorias
que por aqui passavam em trânsito, entre o Golfo Pérsico e a costa
africana, nomeadamente Mombaça e Mogadíscio. Os ataques tanto podiam vir
de terra como do mar, protagonizados pelo sultão de Cambaia, por
piratas ou mesmo por “concorrentes”, como os ingleses e os holandeses.
O principal comércio era constituído por cavalos persas, aljôfar
(pérolas pequenas e irregulares) e tâmaras; o tabaco do Brasil também
veio a tornar-se um dos mais importantes bens transaccionados.
Durante a colonização inglesa, Damão continuou a
fazer parte de Portugal quase de forma simbólica, com alguma presença
militar a marcar a posse de um território que já não tinha a função e
utilidade que teve nos séculos XVI e XVII.
Em 1961, catorze anos após a independência, a União Indiana invadiu os três territórios que constituíam a Índia Portuguesa (Goa, Damão e Diu), incorporando-os politicamente no território a que sempre pertenceram.
Guia de viagens a Damão
Este é um guia prático para viagens a Damão, na Índia, com
informações sobre a melhor época para visitar, como chegar, pontos
turísticos, os melhores hotéis e sugestões de actividades na região.
Quando ir
Durante o Outono ou o Inverno, para fugir à monção de Verão e ao calor extremo que a antecede.
Como chegar a Damão
Voar para Bombaim é a maneira mais
directa. Daí ou da cidade de Surat, mais próxima, é possível apanhar
autocarros para Nani Daman. Os comboios param em Vapi, a 13 quilómetros,
onde é possível apanhar um autocarro ou um táxi até Damão.
Onde ficar
A escolha de hotéis na cidade não é grande coisa. Pode tentar o Hotel Sovereign, na Sea Face Road, em Nani Daman, que também tem um bom restaurante.
A comida indiana é o que se sabe:
deliciosa, picante, variada, a melhor do mundo. Em Damão, como em todo o
país, não faltam restaurantes populares onde é possível provar os
pitéus locais, embora o conceito de higiene não coincida com o europeu.
Informações úteis
É necessário pedir um visto na
Embaixada da Índia, em Lisboa. Não é fácil usar o cartão VISA, o melhor é
levar Euros, sempre passíveis de troca. Um Euro vale pouco mais de 55 rupias indianas e o nível de vida é muitíssimo barato, a menos que procure cadeias internacionais de hotéis de luxo.
Seguro de viagem
O seguro de viagem da World Nomads
oferece uma das mais completa e confiáveis apólices de seguro do
mercado. São os seguros recomendados por entidades prestigiadas como a Lonely Planet, Footprint, Hostelworld e National Geographic.
* INTERVENÇÃO DO PROF. ABREU FREIRE- DIA DE DAMÃO :
Um Planeta Insólito AS ALDEIAS NOS MORROS DA COTE D'AZUR (The Perched Villages of Cote d'Azur) Uma das atrações mais cativantes da Côte d'Azur, também conhecido
como a Riviera Francesa, na costa mediterrânea do canto sudeste da
França, são suas encantadoras aldeias morro. Empoleirado como chapéus em
cima de colinas verdejantes, estas aldeias combinam o encanto da
arquitetura medieval, com vista panorâmica da costa Riviera e montanhas.
A maioria das aldeias surgiram durante os séculos 12 e 13,
quando os camponeses que vivem nas cidades costeiras fugiram para o
interior das colinas onde eles poderiam se proteger dos piratas e
exércitos de saqueadores. Depois de um período pós-guerra de
negligência, as aldeias empoleiradas ganhou nova vida quando os
moradores renovado as casas da cidade em ruínas para servir como
segundas residências. Artistas e artesãos morar e criar boutiques e
galerias para mostrar os seus produtos. Agora, a maioria das aldeias têm
uma restauração vida comercial próspera para os turistas, aposentados e
residentes a tempo parcial. Muitas aldeias ainda têm minado muralhas
medievais e suas tortas, ruas de paralelepípedos são agradáveis para
passear.
One of the most endearing attractions of Côte d'Azur, also
known as the French Riviera, in the Mediterranean coastline of the
southeast corner of France, are its charming hilltop villages. Perched
like hats on top of verdant hills, these villages combine the allure of
medieval architecture with birds-eye views of the Riviera coast and
mountains.
Most villages emerged during the 12th and 13th
centuries when peasants living in the coastal towns fled inland to the
hilltops where they could protect themselves from pirates and marauding
armies. After a postwar period of neglect, the perched villages gained
new life when the residents renovated the crumbling town houses to serve
as second residences. Artists and artisans moved in and set up
boutiques and galleries to show their wares. Now, most villages have a
thriving commercial life catering to tourists, retirees, and part-time
residents. Many villages still have buckled medieval walls and their
crooked, cobbled streets are pleasant to stroll.
There
are more than 120 perched villages scattered over the territory of Côte
d'Azur. They each have a singular charm to be discovered in their
little streets or in the craftsmen's workshops.
Peillon
Peillon
is a very picturesque, perched fortified village 20 km north of Nice.
The village is perched on top of a high narrow rocky peak, with the
compact collection of stone houses, narrow streets, vaulted passages,
and sometimes steep stairs. The area has been inhabited since the Iron
Age age and the first fortified town was built on the site near the end
of the 10th Century. Most of the current buildings date from the 19th
Century, but a few date from the 17th Century.
Unlike many other
medieval towns in the area, Peillon is an authentic town which is not
oriented towards tourists. There are not souvenir shops or other
tourist-oriented facilities. The only amenities are one restaurant
inside the town and two more in the auberges just outside the town.
Saorge
is in a very pretty location on the steep wooded side of a mountain. In
olden times, the stronghold of Saorge was defended by three castles,
and was reputed to be impregnable. The tall solid stone houses date from
the 15th-17th centuries and line the narrow steep cobbled street that
climbs up through the village. It also has a full range of churches
including an 11th century gothic church, and a still operating 17th
century monastery.
The
village of Eze is located between Nice and Monaco, at an altitude of
427m. The medieval walls that once encircled the village are long gone
but the stony streets of the Old Town still wind precipitously uphill
affording occasional glimpses of the sea far below. At the top of the
walled village is an Exotic Gardin (Jardin Exotique) with drop-dead
views of the coast.The curious name, Eze, derives from the Egyptian
goddess, Isis. The ancient Phoenicians who once occupied this spot,
dedicated a temple to her.
Perched
at the end of a ridge overlooking the vallée du Loup, Gourdon has an
exceptional view of more than 80 kilometers of coastline between Théoule
sur mer and Nice. Built in the 12th century and restored in the 17th,
the impressive chateau was constructed to repel the Saracens before
becoming a residence for Raymond Berenger, the Count of Provence.
Sainte
Agnes is a lovely, but touristy, little village perched on the flank of
a mountain, high above the Mediterranean. The one thing that saves
Sainte Agnes from being overrun is that it's not easy to get to - only 4
km from the coast as the crow flies, but it's about 12 km of narrow and
twisty mountain roads by car. Sainte-Agnès village has narrow
stone-paved streets and many arched passages. Many of the village houses
are from 15th to 18th century.
Tourrettes
sur Loup is a charming medieval village, 14 km from the coast, between
Nice and Cannes, and perched on a rocky outcrop surrounded by superb
landscapes where prickly pears grow naturally. The village is named for
the three towers (tours) that punctuate the maze of little stone
streets. Although its marvelous defensive position encouraged habitation
as far back as the Neanderthal period, most of the buildings date from
the 15th century. The village is known as the "Violets Town" because
this pretty violet flower has been grown there for a century, and
violet-growing is still one of the main activities of the village. From
October to March, the violet flowers are cultivated, culminating in a
violet festival in the beginning of March.
Cinema HOMELESS TO HARVARD - THE LIZ MURRAY STORY (Da Rua para Harvard - A História de Liz Murray)
Homeless to Harvard é um filme de TV baseado numa história verídica. Liz Murray é uma menina que é cuidada pelos seus pais, que apesar de a amarem, são consumidores e dependentes profundos de drogas duras e ainda bastante doentes. Assim, depois de inúmeras e terríveis dificuldades traumáticas, Liz transforma-se numa "sem abrigo", com a idade de 15 anos, e tem de enfrentar o mundo sozinha. No entanto Liz sempre possuiu uma grande inteligência, e apesar de não frequentar a escola, sempre foi passando de ano, comparecendo apenas no dia dos exames finais e tirando grandes notas. O facto chama a atenção dos professores e Liza confessa que em casa lê muito e estuda por uma enciclopédia que uma vizinha encontrou no lixo. Assim os anos vão passando, até que Liz enfrenta a dura decisão da sua vida, de cortar com o passado e dedicar-se a estudar, com tantos anos de atraso. Para isso Liz tem de procurar apoio e ganhar alguma bolsa de estudo, para conseguir entrar e frequentar uma Universidade, pois não tem casa, rendimentos, tutor que se responsabilize por ela, ou sequer um número de telefone para ser contactada. Coisas aparentemente banais, que qualquer outro adolescente tem, para Liz constituem duras barreiras a ultrapassar. Aqui fica esta história real, que Liz Murray decidiu revelar, para exemplo de coragem e esforço pessoal e para demonstrar que nunca é tarde e que por vezes, mesmo que não tenhamos bens materiais e a vida à nossa volta seja dura, a nossa inteligência pode ser a chave e a arma mais poderosa, para entender-mos a importancia de tomar-mos a decisão correcta e a manter-mos, para vencer na vida. O filme foi nomeado para 3 Emmys e ganhou mesmo um prémio. Ao final do blog, tem toda a informação sobre o filme e um artigo com imagens, da verdadeira Liz Murray.
Género: Drama - História real Realizador: Peter Levin Actores: Thora Birch e Michael Riley Ano: 2003 Origem: USA Áudio: Castelhano Fonte: YouTube - Wikipédia - The Guardian
Homeless to Harvard: The Liz Murray Story is an American TV film directed by Peter Levin. It was first released on April 7, 2003 in the United States. This movie is adapted from Liz Murray's autobiography, Breaking Night.
Synopsis
Thora Birch
stars as Liz Murray, one of two daughters of an extremely dysfunctional
Bronx family. As a young girl, Murray lives with her sister, their
drug-addicted, schizophrenic mother and their father, also a drug addict who is intelligent, but has AIDS,
lacks social skills, and is not conscientious. She is removed from the
home and put into the care system as her father cannot take care of her.
At 15 she moves in with her mother, sister and Grandfather who sexually
abused her mother. After a run-in with her Grandfather she runs away
with a girl from school who is being abused at home. After her mother
Jean Murray (1954-1996) dies of AIDS, which she got from sharing needles
during her drug abuse, she gets a 'slap in the face' by her mother's
death and begins her work to finish high school, which she amazingly
completed in two years, rather than the usual four. She becomes a star
student and earns a scholarship to Harvard University through an essay contest sponsored by The New York Times.
Gnosticismo A PORTA DO MISTÉRIO: OS TEMPLÁRIOS Os mistérios e segredos dos Cavaleiros do templo são aqui revelados, através da análise de antigos documentos e pistas. Conheça a sua história e as lendas a eles associadas,como a do seu tesouro, ou a Ordem de Sião e o Priorado, ou a existencia da Geração Merovíngia. Uma viagem pela Alquimia, os Grãos Mestres da Ordem, os mistérios de Renes le Chateau, a simbologia deixada em obras de artee os Rosacrucianos.
Documentários A CIVILIZAÇÃO PERDIDA Terão existido as cidades e civilizações extraordinárias de que falam as Sagradas escrituras e outros documentos ? O que terá provocado o seu desaparecimento ? Quais os resultados para a terra e para a nossa civilização, do impacto de grandes asteroides ? Este documentário revelanos uma investigação em busca de algumas das cidades e civilizações desaparecidas, bem como o que pode ter provocado a sua desaparição. Também se aborda, o que pode ameaçar a nossa actual civilização.
Documentários DEEP PURPLE - REFLECTIONS Um documentário que nos revela os momentos cruciais desta banda pioneira do heavy-metal As diversas formações e a forma como a entrada e saída de membros afectaram a música da banda.A história dos Deep Purple, dos diversos albuns, dos concertos chave e a sua auto-critica, feita em primeira mão, pelos própios elementos da banda.
Deep Purple é uma bandabritânica de rock formada em Hertford, Hertfordshire, em 1968.1 Juntamente com as bandas Black Sabbath e Led Zeppelin, o Deep Purple é considerado um dos pioneiros do heavy metal e do hard rock2 moderno, embora alguns de seus integrantes tenham tentado não se categorizar como apenas um destes gêneros.3 A banda também incorporou elementos de música clássica, blues-rock e rock progressivo.4 Foram listados pelo Livro Guiness dos Recordes "como a banda com o som mais alto ao vivo no mundo",456 e venderam mais de 100 milhões de álbuns ao redor do mundo.78910
A banda passou por diversas mudanças de formação, além de um hiato de
oito anos (1976-84). As formações do período 1968-76 foram comumente
chamadas de fases I, II, III e IV.1112 Sua segunda formação, a mais bem-sucedida comercialmente, contou com Ian Gillan (vocal), Ritchie Blackmore (guitarra), Jon Lord (teclado), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria).6
Esta formação esteve em atividade de 1969 a 1973, e foi reunida de 1984
a 1989 e, brevemente, em 1993, antes que os atritos entre o guitarrista
Ritchie Blackmore e os outros membros da banda se tornassem
intransponíveis.
A formação atual inclui o guitarrista Steve Morse (ex-Kansas, ex-Dixie Dregs),
que entrou para banda em 1994. Com o afastamento de Jon Lord, em 2002, o
Deep Purple conta apenas com o baterista Ian Paice como integrante
original.
A marca da banda sempre foi a mistura de guitarra e teclado, com riffs simples e fortes e solos vigorosos. Sua canção mais conhecida é "Smoke on the Water", gravada em dezembro de 1971.
História
O início (1967-1968)
Em 1967, Chris Curtis, ex-baterista do The Searchers,
conectou o empresário de Londres Tony Edwards, na esperança de que ele
conseguiria um novo grupo que estava montando, para se chamar Roundabout. Eles se revezariam em torno do baterista, como num carrossel. Depois de a ideia ter sido comprada pelo produtor Tony Edwards, o primeiro músico a descobri-la foi o tecladista Jon Lord, colega de Curtis nos The Flowerpot Men, onde também tocava o baixista Nick Simper.
Era o final dos anos 60, e Curtis estava metido até o pescoço no
espírito da época. Certa vez, Lord entrou no apartamento e encontrou as
paredes cobertas de papel-alumínio.
Seu colega havia redecorado a casa para mudar o astral. Liga, desliga,
cai na estrada: Curtis desapareceu. O grupo achou um guitarrista - Ritchie Blackmore, conhecia um baterista - Ian Paice - que trouxe um colega da The Maze - o vocalista Rod Evans.
Com a saída de Curtis, acabou a ideia do rodízio e a banda precisava
trocar de nome. Em fevereiro de 1968, depois de queimar pestana em uma
lista de nomes que incluía o pomposo Orpheus, acabou vencendo o título da música favorita da avó de Blackmore: Deep Purple.
O primeiro disco, Shades of Deep Purple,
foi lançado em setembro de 1968. Recheado de regravações (incluindo
versões progressivas de "Help!", dos Beatles, e "Hey Joe", de Jimi
Hendrix), o disco estourou nas paradas de sucesso dos Estados Unidos com
uma música de Joe South: "Hush", o primeiro single da banda. Em dezembro daquele ano, quando o segundo disco (The Book of Taliesyn)
já havia sido lançado, eles fizeram sua primeira turnê na América,
acompanhando o Cream. Nessa turnê, além de visitar a mansão de Hugh Hefner, criador da revista Playboy,
o grupo também descobriu que outro motivo de seu sucesso no Novo Mundo
vinha do nome da banda - o mesmo de uma droga então muito popular na
Califórnia. O segundo disco também trazia regravações, como "River Deep,
Mountain High" (sucesso na voz de Tina Turner), "We Can Work it Out" (Beatles) e "Kentucky Woman" (Neil Diamond).
A composição "Wring That Neck" (chamada de "Hard Road" nos Estados
Unidos, pela violência do nome) sobreviveu, no setlist do grupo, à
extinção da primeira formação no ano seguinte. Foi o veículo de algumas
das mais inspiradas trocas de solos entre Blackmore e Lord.
Em 1969, Blackmore e Lord estavam descontentes com a sonoridade do
grupo. Ambos queriam experimentar mais com volume e eletricidade, mas
consideravam que a voz de Evans não acompanharia as mudanças. O terceiro
disco do grupo, chamado Deep Purple,
reflete a tensão de uma banda que tinha os pés no rock inglês dos anos
60 e a cabeça em algo que ainda estava por ser criado. Sob convite do
baterista Mick Underwood, em 24 de junho, Blackmore e Lord foram
conferir uma apresentação do grupo Episode Six, de cujo vocalista (Ian Gillan)
o ex-colega de Blackmore havia falado muito bem. Os dois membros do
Deep Purple chegaram a subir ao palco para uma jam. Começou aí o mês
mais tenso e criativamente decisivo em toda a carreira do Deep Purple.
Blackmore, Lord e Paice combinaram um teste com Ian Gillan. Ele levou
seu amigo Roger Glover, baixista também do Episode Six. Juntos, os
cinco gravaram o single "Hallellujah", no dia 7 de junho. Aprovados os
dois, o Deep Purple passou a ter vida dupla. Durante o dia, a segunda
formação ensaiava no Hanwell Community Centre; à noite, a primeira
formação continuava se apresentando como se nada estivesse ocorrendo.
Evans e Simper não sabiam o que estava por acontecer até a véspera da
estreia da fase II nos palcos, em 10 de julho. A situação era tão maluca
que, em 10 de junho de 1969, Episode Six e Deep Purple se apresentaram
em bailes de Cambridge. O Deep Purple fez onze apresentações entre a
escolha dos novos membros e a estreia da nova fase; o Episode Six, oito.
Mas Gillan e Glover ainda fizeram outros quatro shows para cumprir
contrato com o E6 até o dia 26 de julho, intercalando com os três
primeiros shows da fase II.
Os projetos que já vinham ocorrendo, porém, continuaram. O terceiro
disco tinha acabado de ser lançado na Inglaterra quando a nova formação,
com sua proposta sonora mais ousada, estreou. Jon Lord também estava
finalizando seu Concerto for Group & Orchestra,
que seria apresentado no Royal Albert Hall, com a Royal Philharmonic
Orchestra, no dia 24 de setembro. Nesse dia, além de mostrarem o novo
tipo de composição idealizado por Lord (unindo as linguagens da música
erudita e do rock), os ingleses de todas as classes sociais conheceram
"Child in Time", composta ainda em Hanwell. A composição mostra tudo o
que a nova formação trazia de novo em relação à anterior: mudanças de
ritmo, solos poderosos, gritos de banshee. O novo Deep Purple era
elétrico e explosivo, e isso ficaria muito claro no primeiro disco da
nova formação - In Rock,
lançado em abril de 1970. Os ingleses puderam conhecer faixa por faixa
do novo disco via BBC durante os vários meses que levaram ao lançamento.
Conheceram inclusive faixas inéditas, como "Jam Stew", e uma versão
primitiva de "Speed King" chamada "Kneel and Pray", com uma letra
completamente diferente e muito mais maliciosa do que a conhecida e
cantada até hoje.
O segundo disco da fase II foi Fireball,
que mantém a eletricidade mas envereda por um caminho mais
experimental. Até um country ("Anyone's Daughter") o disco inclui, ao
lado de longos instrumentais como os de "Fools" e canções mais próximas
das que havia no disco anterior, como "Strange Kind of Woman". Os shows
da turnê de 1971, disponíveis apenas em gravações piratas, mostram uma
banda mais madura e mais ousada. É nessa turnê que Ian Gillan começa a
fazer duelos de sua voz com a guitarra de Blackmore, por exemplo.
Conquistando o mundo
O passo seguinte na experimentação do Deep Purple seria gravar um
disco de estúdio feito nas mesmas condições de uma apresentação ao vivo.
Todos juntos, num mesmo ambiente, criando e gravando juntos como nas
longas jams instrumentais que eles faziam no palco. Eles já tinham
algumas músicas quase prontas: "Highway Star" começou a ser criada
dentro de um ônibus, quando um jornalista perguntou como eles criavam
suas músicas. Blackmore disse: "assim", e começou a tocar um riff
agitado. Gillan entrou na farra e começou a improvisar uma letra: "We're
on the road, we're on the road, we're a rock'n'roll ba-and!". Em
setembro, a primeira versão do que seria "Highway Star" já estava
começando a ser experimentada no palco e no programa de TV alemão Beat
Club. É dessa apresentação que vem o clipe de "Highway Star" em que
Blackmore usa um chapéu de bruxo e Gillan balbucia palavras sobre Mickey
Mouse e Steve McQuinn. "Lazy" é outra canção que começou a ser testada
no palco antes de ir ao estúdio.
Em dezembro de 1971, eles haviam achado o local certo para criar e
gravar esse disco: Montreux, na Suíça, onde até hoje ocorre um famoso
festival de jazz. O melhor lugar para gravar seria o grande cassino da
cidade, onde tradicionalmente havia apresentações musicais. O cassino
ainda não estava liberado para o Deep Purple quando eles chegaram -
faltava uma última apresentação, de Frank Zappa,
para encerrar a temporada. O grupo, então, foi assistir ao show. Zappa
sempre foi um inovador do rock, e naquela apresentação em especial ele
usava um sintetizador de última geração. No meio do show, alguém põe
fogo no cassino. A música pára. Zappa grita: "FOGO! Arthur Brown,
em pessoa!" e orienta os presentes a deixar o cassino calmamente. Em
entrevistas, Roger Glover conta que todos realmente estavam calmos - o
suficiente para que ele próprio ainda pudesse dar uma olhada no
sintetizador antes de sair do prédio. Enquanto isso, Claude Nobs,
que até hoje organiza o Festival de Jazz de Montreux, corria de um lado
para o outro para tirar alguns espectadores de dentro do cassino.
O grupo foi transferido para o Grande Hotel de Montreux. No inverno,
ele estava vazio, era frio e todos os móveis estavam guardados. Eles
estacionaram do lado de fora a unidade móvel de gravação dos Rolling
Stones, puxaram alguns fios, instalaram confortavelmente seus
instrumentos nos corredores do hotel e começaram a ensaiar. O resultado é
que até hoje todos os shows do Deep Purple contêm ao menos quatro das
sete músicas do disco Machine Head, lançado em 1972.
A história inteira da gravação é contada em poucas palavras na música
"Smoke on the Water", a última a ser gravada no disco. Blackmore havia
criado um riff que não fora usado, apelidado então de "durrh-durrh". Não
havia letra. Então veio a ideia de escrever sobre o que acontecera na
gravação do disco. Gillan afirma que eles estavam num bar quando Roger
Glover escreveu num guardanapo o título da música (que significava
"fumaça sobre a água", uma boa descrição da fotografia que um jornal
publicou no dia seguinte ao incêndio). Glover diz que a expressão lhe
surgiu em um sonho e que Gillan lhe respondeu: "não vai rolar; parece
nome de música sobre drogas, mas nós somos uma banda que bebe". Nenhum
deles apostava que passaria mais de trinta anos tocando "durrh-durrh"
toda noite, tamanho o sucesso que a música alcançou. Apesar de ter sido
gravada em dezembro, ela só entrou no setlist em 9 de março, num show na
BBC. Essa primeira apresentação consta de In Concert 1970-1972.
O ano de 1972 é movimentadíssimo, e nele o Deep Purple chegou pela primeira vez ao Japão, onde foi gravado seu mais famoso disco ao vivo, Made in Japan. Na Itália, o grupo também preparava a gravação de Who Do We Think We Are. O ritmo de trabalho da banda, porém, custou caro a eles. Por diversas vezes, membros do grupo ficaram doentes. O guitarrista Randy California
chegou a substituir Blackmore em um show, e Roger Glover substituiu
Gillan em outro. Os relacionamentos entre os membros - e especialmente
entre Gillan e Blackmore - também não iam bem. Em dezembro, Gillan
entregou seu pedido de demissão, avisando que deixaria o grupo no final
de junho de 1973, dando aos empresários e aos colegas seis meses para
decidir o que fazer do grupo.
Tempo de mudanças
Em 29 de junho de 1973, na segunda viagem do grupo ao Japão e após um
show impecável, em que Jon Lord incluiu o "Parabéns a Você" para Paice
em seu solo de teclado (era o aniversário do baterista), Ian Gillan
volta ao palco e avisa que seria o último show do Deep Purple com aquela
formação. Durante o show, não havia nenhum outro sinal de desgaste. Em
retrospecto, o silêncio de Gillan na hora de cantar o verso "no matter what we get out of this"
("não importa o que possamos tirar disso") em "Smoke on the Water"
podia indicar que tudo o que ele poderia tirar daquilo já havia acabado.
Glover também deixou o grupo, passando a se dedicar à produção, no
departamento artístico da Purple Records - a gravadora do grupo.
O primeiro novo integrante recrutado para o Deep Purple, logo após o fim da fase II, foi o baixista Glenn Hughes, que cantava e tocava baixo no grupo Trapeze.
A dupla habilidade empolgou Blackmore e Lord, mas ele não seria deixado
sozinho nos vocais. O plano do Deep Purple era buscar a voz de Paul Rodgers (ex-Free, ex-Bad Company).
Após um primeiro contato, ele pediu um tempo para pensar e decidiu
continuar com sua banda na época, o então Free. Enquanto seguia a busca
pelo novo vocalista, Blackmore e Hughes iam se conhecendo e tocando
juntos. O que se tornaria o blues "Mistreated", sem a letra, foi
composto nessa época.
A hipótese de tocar o grupo com apenas quatro membros foi cogitada,
mas a ideia de ter dois vocalistas falou mais alto. Com essa ideia nas
ruas, os empresários do Deep Purple não paravam de receber fitas de
novos artistas. Uma delas fora enviada por um rapaz de vinte e um anos ,
que cantava desde os quinze anos : David Coverdale.
Sua banda e o Deep Purple já haviam cruzado caminhos em novembro de
1969, num show na Universidade de Bradford, quando Gillan e Glover
haviam acabado de entrar para o Deep Purple. O teste de Coverdale
ocorreu em agosto de 1973. Durante seis horas, eles tocaram material do
Deep Purple e canções mais conhecidas, como "Long Tall Sally"
e "Yesterday". Quando Coverdale foi para casa, o restante do Deep
Purple saiu para beber e decidiu: era o gordinho mesmo (nos meses
seguintes, os empresários da banda lhe dariam alguns remédios para
afinar a aparência).
Em 9 de setembro, o novo grupo se trancou por duas semanas no Castelo
de Clearwell para compôr. Empolgadíssimo, Coverdale - cuja experiência
de palco era apenas com a gravação de demos - escreveu quatro letras
diferentes para a música que seria "Burn". Uma delas se chamava "The
Road". No dia 23, um dia depois de Coverdale completar vinte e dois
anos, a fase III foi apresentada à imprensa inglesa. Em novembro, foi
gravado o disco Burn, novamente em Montreux, com a mesma unidade móvel dos Rolling Stones com que foi gravado Machine Head.
A nova equipe estrearia no palco em 8 de dezembro, na Dinamarca. Era a
estreia da fase III do Deep Purple. O disco só sairia em 1974.
O som da nova formação era marcado pela maior velocidade e técnica de
Blackmore na guitarra e pela tensão entre os dois cantores. No estúdio,
os duetos eram perfeitos. No palco, Hughes punha a trabalhar toda a
potência de seus pulmões sempre que podia, muitas vezes chegando a
intimidar Coverdale. O baixista e cantor também acrescentou à receita do
Deep Purple uma boa pitada de tempero funky
- que Blackmore aceitou inicialmente a contragosto, por entender que
apesar de este estilo estar nas paradas de sucesso da época, não fazia
parte, até então, dos elementos constitutivos do som do Deep Purple.
Em 6 de abril de 1974, o grupo se apresentou na Califórnia, Estados Unidos, para uma plateia de duzentos mil pessoas - era o festival California Jam,
que duraria doze horas e seria liderado pelo Deep Purple. O show, e
particularmente o mau humor de Blackmore com o fato de ter de começar a
tocar antes do anoitecer com câmeras em cima do palco, ficou famoso por
ser explosivo: o guitarrista destruiu uma câmera em funcionamento com
sua guitarra e, não contente, explodiu um amplificador. A silhueta do
guitarrista em frente às chamas do amplificador é uma das cenas mais
poderosas de toda a iconografia do rock. Trinta anos depois, Josh White,
diretor de filmagens do evento, lembrou de como ele pode tê-lo induzido
a isso:
Deep Purple em San Franscico, Califórnia, em janeiro de 1985.
"Eu falei com ele na noite anterior. O Deep Purple fez um ensaio
técnico, e eu perguntei se ele ia quebrar a guitarra dele. E Richie
disse: 'sim, talvez. Sei lá, que merda'. Ele estava meio puto com várias
coisas que não tinham nada a ver comigo. E eu disse: 'Veja, se você for
quebrar a guitarra, privilegie a câmera. Vou fazer uma bela filmagem e
vai ficar genial'. E ele privilegiou bem a câmera, gerando US$ 8 mil de prejuízo."
A terceira formação do Deep Purple acabaria um ano depois de
California Jam, em 7 de abril de 1975, uma semana antes de Blackmore
completar trinta anos de idade. Era a turnê de lançamento do disco Stormbringer
na Europa. Com ainda mais balanço funk, o disco desagradou bastante a
Blackmore. Ele já tinha algumas ideias na cabeça, e ao sair já tinha uma
nova banda formada: o Rainbow.
Restava ao grupo o dilema entre continuar sem Blackmore - o criador de
todos os riffs que tornaram o Deep Purple famoso - ou partir para outra,
aproveitando que o grupo era um dos mais lucrativos de toda a história
do rock.
Decidiram continuar, convidando o guitarrista Tommy Bolin, o primeiro norte-americano a fazer parte do grupo. Com essa formação (fase IV), gravam o disco Come Taste the Band,
ainda mais suingado. A turnê é complicada, um tanto devido aos
problemas de Bolin e Hughes com drogas. Em vários shows, como o
registrado em Last Concert in Japan, Bolin não conseguia tocar
porque seu braço estava anestesiado de drogas. Garotos talentosos, de
vinte e poucos anos, ao entrar em uma máquina de fazer dinheiro na
indústria do entretenimento, correm o sério risco de perderem o senso de
proporção. Foi o que ocorreu na época.
Bolin tinha dois agravantes: insegurança e baixa auto-estima. Tudo
isso apesar de ter gravado belíssimos discos solo, ser considerado um
gênio da guitarra e ter tocado com magos do jazz como o bateristaBilly Cobham.
Bolin não suportava ser comparado pelos fãs aos carismáticos
antecessores que teve em grandes grupos de rock. O Deep Purple era a
segunda vez em que ele substituía um grande guitarrista - anteriormente,
havia tocado na James Gang. No Deep Purple, ele chegou a discutir com a plateia por algumas vezes, durante apresentações.
O fim
Ao final do show de 15 de março de 1976, em Liverpool, David
Coverdale desabafa com Lord: não havia mais clima para continuar com o
Deep Purple. Lord desabafa de volta: não havia mais um Deep Purple para
continuar. Acabou assim, em clima de confidência, a banda criada oito
anos antes e que chegou a figurar no Guinness dos recordes como a mais
barulhenta do mundo. Oito meses depois, Bolin morreria de overdose no
Resort Hotel de Miami, após uma apresentação. E durante oito anos o Deep
Purple permaneceria fora do ar.
Nesse período, os membros da banda fariam suas próprias carreiras e
plantariam as bases para os futuros desenvolvimentos do Deep Purple. Por
ordem de saída:
Ian Gillan - Depois de um breve período de reclusão em que vendeu
motos e tentou ter um hotel, foi resgatado para os palcos por Roger
Glover e sentiu-se animado o suficiente para criar sua própria banda, a
Ian Gillan Band. Numa espécie de jazz-rock, seguiu até o início dos anos
80. Em 1982, dissolveu a banda, para no ano seguinte gravar um disco
com o Black Sabbath: Born Again.
Roger Glover - Inicialmente, permaneceu próximo à Purple Records e
foi quem mais teve contato com todos os galhos da gigantesca árvore
genealógica do Deep Purple. Dois anos depois, conseguiu juntar no mesmo
palco os melhores músicos da Inglaterra (muitos deles membros ou
ex-membros do Deep Purple, ou seus colegas em outras bandas), no musical
Butterfly Ball. Foi a primeira aparição pública de Ian Gillan após o fim do Deep Purple, substituindo Ronnie James Dio
(que cantava no Rainbow de Blackmore e passaria depois pelo Black
Sabbath). Produziu outras bandas, gravou dois discos solo e voltou a
tocar baixo no Rainbow de Blackmore.
Ritchie Blackmore - Com o Rainbow, teve uma das bandas de hard rock
de maior sucesso do final dos anos 70 e início dos anos 80, apontando o
holofote para músicos como Joe Lynn Turner e Don Airey, que anos mais tarde participariam do Deep Purple. Roger Glover chegou a tocar com ele.
David Coverdale - Após dois discos solo, formou o Whitesnake
e invadiu as paradas de FM dos anos 80. Na banda, tocou com Jon Lord e
Ian Paice. De quando em quando, reúne o Whitesnake para turnês.
Jon Lord - Teve uma carreira solo interessante, misturando suas
várias influências musicais (clássico, rock e jazz). Compôs trilhas
sonoras de filmes com Tony Ashton
e os dois se juntaram a Paice para o projeto Paice, Ashton e Lord. Mais
tarde, uniu-se a Coverdale no Whitesnake. Depois de lutar contra um
câncer, Lord veio a falecer em 16 de julho de 2012.13
Ian Paice - Tocou com diversos músicos, inclusive com Gary Moore, além de Paice, Ashton e Lord e Whitesnake.
Glenn Hughes - Reuniu o Trapeze, gravou vários discos solo, tocou
com Gary Moore e Pat Thrall, lutou consigo mesmo para se livrar das
drogas, cantou no Black Sabbath e mais recentemente gravou dois discos
com o também ex-Deep Purple Joe Lynn Turner: o Hughes-Turner Project
(HTP).
Em 1984, é anunciada a volta do Deep Purple com a sua formação de
maior sucesso (fase II), com Gillan, Blackmore, Paice, Glover e Lord. É
lançado o primeiro disco de inéditas desde 1975, chamado Perfect Strangers, que foi seguido por The House of Blue Light, de 1987. Das turnês destes dois discos, sai o ao vivo Nobody's Perfect, lançado em 1988. Em 1989, Gillan decide sair novamente da banda, e em seu lugar entra o vocalista Joe Lynn Turner, (ex-Rainbow).
Com esta nova formação, a banda saiu em uma bem-sucedida turnê que foi
muito bem elogiada pelos fãs. Embora o novo álbum com Turner, Slaves and Masters,
tenha sido comercialmente fraco, a sua turnê não foi. Os shows foram
marcados por performances impecavéis da banda e pela excelente presença
de palco do vocalista Joe Lynn Turner. Vale lembrar que nessa turnê, o
Deep Purple veio ao Brasil pela primeira vez. O set-list continha
clássicos da época de Coverdale, e muitos que a banda não tocava há algum tempo.
A banda termina a turnê no fim de 1991, e em abril de 1992, começa a gravar o que se tornaria o álbum The Battle Rages On....
Este álbum foi inicialmente gravado e escrito com Joe Lynn Turner ainda
na banda, mas no meio de setembro de 1992, Joe é despedido do grupo e
em seu lugar entra novamente Ian Gillan, que termina o que restou do The Battle Rages On..., regravando-o com sua voz. O álbum foi lançado em 1993.
Em dezembro de 1993, após a saída de Ritchie Blackmore devido a conflitos constantes sobre o estilo musical a ser seguido, o guitar-heroJoe Satriani
foi convidado a integrar a banda e juntou-se ao Purple para participar
da turnê internacional pelo Japão. Com o sucesso dos shows, Satriani foi
convidado pelos demais integrantes para permanecer como membro efetivo
dela, mas declinou, mais preocupado com sua carreira solo e com o
contrato para um álbum assinado com a Sony.
Antes disso, entretanto, ainda chegou a participar da turnê europeia
como guitarrista da banda em 1994, fazendo seu último show com a banda
em julho, na Áustria. Após este concerto, Satriani deixou o Purple e cedeu o lugar para o guitarrista Steve Morse, que já havia integrado as bandas Dixie Dregs e Kansas. Steve Morse é o guitarrista do Deep Purple até os dias de hoje.14
A banda se revitaliza e volta com o Purpendicular,
de 1996, trazendo novos elementos, porém valorizando os desafios entre
guitarras e órgão que fizeram a base musical do estilo do Deep Purple.
Segue o razoável Abandon em 1998. Em 2002, o tecladista Jon Lord decide abandonar a estrada, e em seu lugar entra Don Airey, um tecladista que passou por diversas bandas de hard rock, entre elas, o Rainbow, de Ritchie Blackmore e o Whitesnake, de David Coverdale, além de Ozzy Osbourne. Com Airey, Gillan, Morse, Glover e Paice são lançados os discos Bananas, em 2003, e Rapture of the Deep, em 2005.
Em 2012, o Deep Purple anunciou que vai entrar em processo de produção de um novo disco de estúdio, o primeiro desde 2005.15
Em 16 de julho de 2012, o tecladista Jon Lord
falece. Ele lutava há quase um ano contra um cãncer no pâncreas. Vários
músicos de renome expressaram sua tristeza acerca do ocorrido, tais
como Geezer Butler, David Coverdale, Lars Ulrich, Tony Iommi, Mike Portnoy, Axl Rose, Slash, Bill Ward, Jordan Rudes, além de sua antiga banda, o próprio Deep Purple.