O SANTO GRAAL - O FIM DA BUSCA
Um excelente documentário acerca do estudo e investigação arqueológica e histórica, feito ao Santo Cálice que se encontra na Catedral de Valencia - Espanha, e que poucos conhecem. Apesar deste desconhecimento, a investigação feita pelos melhores peritos, parece provar que este se trata efectivamente do Cálice usado por Jesus na última ceia.
Aqui fica revelado este estudo e a história do Santo Graalda Catedral de Valencia.
Texto: Português
Áudio: Castelhano
Fonte: YouTube - Joias e Símbolos Medievais - Brasil-Europa
DOCUMENTÁRIO: O SANTO GRAAL - O FIM DA BUSCA
O SANTO CÁLICE DA CATEDRAL GÓTICA DE VALENCIA
Entre
os ciclos de estudos euro-brasileiros realizados em diversos países
europeus em 2012, também o de Valencia foi dedicado aos estudos de
fundamentos de complexos culturais sob o aspecto da necessidade da
perspectiva científica nos estudos culturais em época marcada por
tendências obscurantistas de fundamentação religiosa.
Valencia
oferece condições particularmente favoráveis para o tratamento desse
tema sob vários aspectos, um deles - talvez o mais significativo - por
guardar uma relíquia que desempenhou através dos séculos papel de
extraordinário relevo não só na vida religiosa como também em narrativas
e expressões culturais populares: a do Santo Cálice.
Essa
relíquia, conservado na antiga Sala do Capítulo da catedral, atualmente
Capela do Santo Cálice, é o mais precioso objeto do patrimônio sacro da
Sé valenciana, alvo de intensa veneração popular e de peregrinações. É
levado em solenes procissões na Quinta Feira Santa e na Festa do Santo
Cálice, em outubro, e custodiado por confraria dedicada a seu culto: a
dos Caballeros del Santo Caliz.
No dia 14 de julho de 2006, festejou-se os 500 anos da presença do cálice como propriedade da Sé de Valencia.
A narrativa da vinda do Santo Cálice à Espanha
Segundo
a tradição, trata-se nada menos do que o cálice que teria sido
utilizado por Jesus na última ceia! O cálice teria sido trazido pelo
Apóstolo Pedro para Roma, ficando ali sob a custódia dos pontífices até
meados do século III. S. Lourenço, de origem espanhola, teria então
levado o cálice para Huesca, salvando-o durante o período de
perseguições de cristãos sob o imperador Valeriano (ca. 200- ca.260).
Durante
o domínio islâmico da Península Ibérica, o cálice foi, segundo a
tradição, ocultado no convento San Juan de la Peña, nos Pireneus.
Retornando a Huesca, foi entregue ao rei de Aragão em 1399, sendo
conservado em Saragossa, Barcelona e, por fim, em Valencia, ali já se
encontrando mencionado em documentos em 1437.
Em
épocas de perigo, por exemplo durante a invasão napoleônica e na guerra
civil nos anos 30 do século XX, o cálice foi novamente ocultado,
retornando posteriormente à catedral.
Ainda
que não documentada historicamente, podendo ser considerada como
narrativa resultante de tradições orais, essa estória justifica o
extraordinário significado do cálice. Sendo aceita como verídica pelos
fiéis, que nessa crença são incentivados pelo clero e pelas autoridades
eclesiásticas - o cálice foi utilizado pelo Papa João Paulo II e Pelo
Papa Bento XVI em celebrações -, a tradição narrada revela complexas
interações de imagens e fatos históricos.
Segundo
a pesquisa histórico-artística do cálice trata-se, de fato, de um
antigo objeto, de inestimável valor. Levanta-se a questão, naturalmente,
como é que um cálice de tal valor, de pedra semi-preciosa translúcida,
ornamentado com pérolas, rubins e esmeraldas, com base de onix e com a
parte central de ouro lavrado pudesse ter sido usado na última ceia de
Jesus com os Apóstolos, celebrada em circunstâncias que dificilmente se
coadunam com o uso de um objeto de tal preciosidade.
Segundo
narrativas abalizadas pela autoridade de teólogos medievais, sobretudo
de Amalarius de Metz (+ca. 850), esse cálice teria sido também aquele
com o qual José de Arimatéia teria tomado sangue de Jesus à cruz. Também
aqui o observador tem dificuldade em crer que cálice tão valioso
tivesse sido usado sob tais circunstâncias.
O
pesquisador cultural tem a sua atenção ainda mais aguçada ao constatar
que o Santo Cálice de Valencia se relaciona, segundo outras narrativas,
com a estória do Santo Gral, sendo a confraria correspondente também
conhecida como a dos Cavaleiros do Gral.
Com
esse elo, a pesquisa dirige-se a um complexo temático de extraordinário
significado para a literatura e para a cultura de vários países da
Europa e que, transmitidos através da colonização, mantém-se vivo em
expressões tradicionais de países latino-americanos, também no Brasil: o
da gesta do Rei Artur e dos cavaleiros da mesa redonda.
Problemas da interpretação da narrativa do Santo Gral na gesta medieval
Muito
se tem discutido a respeito da origem da tradição do Santo Gral.
Supõe-se tratar-se de resultado de amálgamas, harmonizações ou
interações de lendas orientais, cristãs e célticas que teriam ocorrido
sobretudo no Norte da França, dando origem à gesta.
Segundo narrativas, o gral
encontra-se em local alto, de difícil acesso, em geral apresentado como
um burgo em montanha, onde se encontra também uma lança ensanguentada.
Esse local se situa em comunidade que sofre com dificuldades de toda a
ordem, onde o rei e os cavaleiros vivem atribulados. Essa comunidade é
redimida por Parzival (Perceval, Perlesvaus, Peredur), Gawain, Galahad ou Bors,
uma personagem ao mesmo tempo ousada e pura, de tal ingenuidade e
distante do mundo real que também surgia como bôbo. Foi sagrado
cavaleiro na corte do rei Artus e admitido no círculo dos 12.
A
procura do gral é tratada de forma diversa nas diferentes versões,
podendo ser acompanhada por feitos de superação de riscos, de consecução
de proezas e solução de enigmas. Em algumas versões surge a figura do
mágico Merlin. Por fim, o herói alcança o seu objetivo e a comunidade e o
seu rei se recuperam e florescem, continuando o seu caminho com
sucesso. O gral surge, assim, como receptáculo portador de forças vitais
eternas, propiciadores de sucesso no caminho da comunidade.
Terminologia e fundamentos em antigas imagens: o vaso de mistura (krater)
O
próprio termo gral, ainda que não suficientemente explicado, chama a
atenção para o significado da imagem sob a perspectiva dos estudos
culturais de interações mediterrâneo-atlânticas. O termo gral era
conhecido no português antigo como designação de vaso de bebida em forma
de morsa ou pilão. Supõe-se uma derivação etimológica do ocitano grazal, correspondente ao francês antigo graal, com o sentido de receptáculo ou vaso, remontando ao latim cratalisi gradalis e este ao grego krater, no sentido de vaso de mistura.
A origem etimológica do conceito de krater
dirige a atenção aos fundamentos helênicos de processos culturais
mediterrâneo-atlânticos que podem contribuir ao esclarecimento do
edifício de imagens.
O
papel do cálice ou do vaso de mistura no contexto do edifício de
imagens da antiga cultura grega pode ser considerado a partir do fato de
surgir no complexo das constelações celestiais. Trata-se de um grupo de
seis estrêlas situado sobre o corpo da Hydra, grande serpente que se
enrola no mastro da nave Argos, sob o signo zodiacal da Virgem. É visto,
no Hemisfério Norte, no céu da parte do ano correspondente à passagem
do inverno à primavera.
Situando-se
na parte inferior da ordenação das constelações, abaixo do zodíaco, tem
como correspondência, na parte superior dos céus na grande constelação
representada pela Ursa maior e Ursa minor ou Grande Veículo e Pequeno
Veículo.
O
conjunto das imagens indica assim um receptáculo no alto do mastro da
grande nave nos céus, ela própria um grande vaso naval. Representa,
assim um pequeno veículo, uma navícula nos altos, como os bojos ou
cestos nos mastros de naves e aos quais os gajeiros subiam para
descortinar o horizonte e poder anunciar perigos ou terra à vista. Como
navícula, é um repositório ou veículo estreitamente ligado à nave com a
comunidade dos marinheiros e seu capitão. A imagem é, assim
estreitamente vinculada à navegação, no caso da viagem dos Argonautas.
Trata-se
de um conjunto de imagens de remotas origens, pré-gregas, uma vez que a
constelação já era conhecida na Suméria como o "Cálice da cobra",
também ali associado com a morte e vinho.
Segundo
Erathostenes, a constelação indicava o cálice de mistura de vinho e
água inventado por Oinopion, filho de Dionysos e de Ariadne. Para evitar
a embriaguez que era associada a seu pai Dionysos, Oinopion misturou
água no vinho.
Já
na cultura helênica existia, assim, a imagem do cálice de vinho e água
integrada em amplo complexo de concepções, sendo a mistura de água e
vinho ato que, pelo seu significado, foi colocado como sinal nos céus.
Na sua Poetica Astronomica, Hyginus, testemunha que essa imagem foi alvo de uma referenciação histórica por parte de Philarchos (272-220 A.C.).
Segundo
este historiador, Demophon, para salvar de uma epidemia de peste a
cidade de Elaios, próxima a Troia, após ter consultado um oráculo,
passou a sacrificar anualmente uma jovem nobre escolhida em sorteio. Um
dos nobres, porém, exigiu que também as filhas do rei fossem
consideradas no sorteio. Encolerizado, Demophon entregou, sem sorteio,
uma das filhas do nobre para ser sacrificada. Após algum tempo, este faz
vingança, matando filhas do rei durante uma festa sacrificial,
colocando o seu sangue num cálice de vinho e dando-o a beber a Demophon
quando este chegou. Este mandou que o nobre e o cálice fossem atirados
ao mar. Os eruditos, porém, colocaram o cálice como constelação nos céus
para lembrar ao homem que os atos demoníacos são castigados. É tambémum
sinal de memória de morte injusta e que sempre deve ser relembrada.
Nessa
narrativa constata-se a situação atribulada de uma comunidade e do seu
rei, Demophon, compreendida como resultado de ação demoníaca à qual
seria necessário fazer sacrifícios. Esse procedimento, porém, repercutiu
sobre o próprio rei, que perdeu filhas e bebeu do cálice de vinho que,
na verdade, era o sangue de inocentes. Este cálice, colocado como sinal
nos céus, indicava assim que não sacrifícios a forças demoníacas podem
resolver as dificuldades na vida de uma comunidade ou no seu caminho.
Essas narrativas referenciados ao tipo representado pela nave e a constelação krater
apenas podem ser entendidas se consideradas juntamente com o anti-tipo
no alto dos céus, ou seja o Grande Veículo ou o Pequeno Veículo. É este
último que contém a estrêla do norte próxima ao polo dos céus,
possibilidora de orientação em viagens.
Essas duas elucidações - a de Erathostenes e Hyginus surgem como diferentes narrativas do mesmo conteúdo imagológico.
Na
resignificação da linguagem visual das constelações através de sua
referenciação bíblica, o motivo da embriaguez de Dionysos pelo vinho ou
álcool - agua-ardente, "água do espírito" -, surge primeiramente na
narrativa da embriguez de Noé após o dilúvio. Correspondentemente, a
constelação do navio Argo passou a ser interpretada como imagem da Arca
de Noé. O período de atribulações no interior da Arca durante o dilúvio,
sem que se pudesse ver terra sêca, corresponde àquela das comunidades
em dificuldades em narrativas não-bíblicas.
A
imagem do calíce é relacionada com outra fase da narrativa bíblica,
aquela da caminhada de Israel levando a Arca da Aliança, esta também um
receptáculo ou veículo.
Essas
relações indicam os estreitos elos entre as imagens do cálice e da nave
relativamente aos tipos, tanto do Velho Testamento como na Antiguidade
grega. O cálice pertence ao complexo da nave e, esta imagem, à tipologia
da Igreja e de Maria.
O Graal em romances na tradição portuguesa e brasileira
A
imagem correspondente ao Cálice ou ao Graal foi considerada nos estudos
culturais em língua portuguesa sobretudo relativamente às tradições
populares narradas dos romances. Teófilo Braga, no seu Romanceiro Português, distingue um "ciclo arthuriano".
"O
lyrismo trobadoresco ou ocitanico e os Cantos epicos dos troveiros,
decahiram nas côrtes medievaes preferindo ás vagas emoções do amor e aos
valorosos feitos de armas, os Lais bretãos tornando a forma narrativa e
ampliando-os até às grandes Novellas das mais intensas paixões
realistas, como os poemas de Lancelot, de Tristão e Yseult, de Flores e
Brancaflor. Estes poemas foram conhecidos pelo rei Dom Diniz, e
encantaram os seus trovadores, que foram abandonando o gosto limosino.
E
foram taes os enthuziasmos pelos personagens d'esses poemas, que no
onomastico civil, encontram-se os nomes de Tristão, de Lancelote, de
Parcival, de Ysêa e Ausenda, de Viviana, de Briolanja usados por
cavalleiros e damas nos Nobiliarios. Entre o povo estes cantos apenas
foram conhecidos na forma breve dos Lais, identificados com os Romances
peninsulares; e é notavel o encontrar-se todas as situações do Poema de
Tristão dispersas pelos nossos romances tradicionaes, synretisando-se
com as Cantilenas do Cyclo de Carlos Magno." (Teófilo Braga, Romanceiro Portuguez III, Cyclo Arthuriano (Materia da Bretanha, Lisboa: J.A.Rodrigues, 2a. ed. ampl., 1909, ed. facsimilada: Vega, 406 ss.)),
Também
no Brasil os romances relacionados com o ciclo arturiano foram objetos
de estudos e também aqui pode-se constatar interferências ou relações
com aqueles que se caracterizam pelo vulto de Carlos Magno.
Entretanto,
o caminho mais adequado para a leitura de sentidos mais profundos de
tradições narradas é aquele das representações encenadas em tradições
populares. Entre estas se encontram aquelas marcadas pela imagem da
barca em Cheganças da época do Advento e do Natal, na qual se
representam as dificuldades da viagem, calmarias no mar, subida de
gajeiro ao mastro, do qual, do seu cesto procura avistar ou não terra, o
estourar do demônio e o prosseguimento da viagem, ou seja, momentos
conhecidos de imagens de remotas proveniências. Sendo representações
lúdicas - não de culto - baseiam-se na imagem de conotações negativas do
tipo, ou seja, do krater,
indicando, porém, o anti-tipo, o da criação angelical voltada ao Logos e
representada pela orientação possibilitada pela estrêla do norte.
O Cálice da Última Ceia, ou Santo Cálice de Valência
Cálice da Última Ceia, Valencia, Espanha |
Mas é na Catedral gótica de Valência, na Espanha, que está esse Santo Cálice.
Nos arquivos da Catedral, se conservam os documentos que atestam sua autenticidade.
Eis a história:
Depois da assunção de Nossa Senhora, São Pedro levou o Cálice à Roma.
Lá, os Papas o utilizavam na celebração da Missa, até a perseguição aos cristãos da época de Valério.
São Lourenço, o diácono, pouco antes do seu martírio, enviou-o, para estar bem guardado, à Huesca, sua cidade natal, com uma carta escrita de seu próprio punho.
Em Huesca se conservou até 713, sendo depois resgatado dos invasores sarracenos e entregue ao Rei Mártir de Aragão.
De Zaragoza foi levado à Valência pelo Rei Alfonso V.
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