quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O SANTO GRAAL - O FIM DA BUSCA

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O SANTO GRAAL - O FIM DA BUSCA
Um excelente documentário acerca do estudo e investigação arqueológica e histórica, feito ao Santo Cálice que se encontra na Catedral de Valencia - Espanha, e que poucos conhecem. Apesar deste desconhecimento, a investigação feita pelos melhores peritos, parece provar que este se trata efectivamente do Cálice usado por Jesus na última ceia.
Aqui fica revelado este estudo e a história do Santo Graalda Catedral de Valencia.

Texto: Português
Áudio: Castelhano
Fonte: YouTube - Joias e Símbolos Medievais - Brasil-Europa


                                DOCUMENTÁRIO: O SANTO GRAAL - O FIM DA BUSCA






O SANTO CÁLICE DA CATEDRAL GÓTICA DE VALENCIA

Catedral de Valencia.Foto A.A.Bispo©

Entre os ciclos de estudos euro-brasileiros realizados em diversos países europeus em 2012, também o de Valencia foi dedicado aos estudos de fundamentos de complexos culturais sob o aspecto da necessidade da perspectiva científica nos estudos culturais em época marcada por tendências obscurantistas de fundamentação religiosa.

Valencia oferece condições particularmente favoráveis para o tratamento desse tema sob vários aspectos, um deles - talvez o mais significativo - por guardar uma relíquia que desempenhou através dos séculos papel de extraordinário relevo não só na vida religiosa como também em narrativas e expressões culturais populares: a do Santo Cálice.

Essa relíquia, conservado na antiga Sala do Capítulo da catedral, atualmente Capela do Santo Cálice, é o mais precioso objeto do patrimônio sacro da Sé valenciana, alvo de intensa veneração popular e de peregrinações. É levado em solenes procissões na Quinta Feira Santa e na Festa do Santo Cálice, em  outubro, e custodiado por confraria  dedicada a seu culto: a dos Caballeros del Santo Caliz.

No dia 14 de julho de 2006, festejou-se os 500 anos da presença do cálice como propriedade da Sé de Valencia.

Catedral de Valencia.Foto A.A.Bispo©

A narrativa da vinda do Santo Cálice à Espanha

Segundo a tradição, trata-se nada menos do que o cálice que teria sido utilizado por Jesus na última ceia! O cálice teria sido trazido pelo Apóstolo Pedro para Roma, ficando ali sob a custódia dos pontífices até meados do século III. S. Lourenço, de origem espanhola, teria então levado o cálice para Huesca, salvando-o durante o período de perseguições de cristãos sob o imperador Valeriano (ca. 200- ca.260).

Durante o domínio islâmico da Península Ibérica, o cálice foi, segundo a tradição, ocultado no convento San Juan de la Peña, nos Pireneus. Retornando a Huesca, foi entregue ao rei de Aragão em 1399, sendo conservado em Saragossa, Barcelona e, por fim, em Valencia, ali já se encontrando mencionado em documentos em 1437.

Em épocas de perigo, por exemplo durante a invasão napoleônica e na guerra civil nos anos 30 do século XX, o cálice foi novamente ocultado, retornando posteriormente à catedral.

Ainda que não documentada historicamente, podendo ser considerada como narrativa resultante de tradições orais, essa estória justifica o extraordinário significado do cálice. Sendo aceita como verídica pelos fiéis, que nessa crença são incentivados pelo clero e pelas autoridades eclesiásticas - o cálice foi utilizado pelo Papa João Paulo II e Pelo Papa Bento XVI em celebrações -, a tradição narrada revela complexas interações de imagens e fatos históricos.

Segundo a pesquisa histórico-artística do cálice trata-se, de fato, de um antigo objeto, de inestimável valor. Levanta-se a questão, naturalmente, como é que um cálice de tal valor, de pedra semi-preciosa translúcida, ornamentado com pérolas, rubins e esmeraldas, com base de onix e com a parte central de ouro lavrado pudesse ter sido usado na última ceia de Jesus com os Apóstolos, celebrada em circunstâncias que dificilmente se coadunam com o uso de um objeto de tal preciosidade.

Segundo narrativas abalizadas pela autoridade de teólogos medievais, sobretudo de Amalarius de Metz (+ca. 850), esse cálice teria sido também aquele com o qual José de Arimatéia teria tomado sangue de Jesus à cruz. Também aqui o observador tem dificuldade em crer que cálice tão valioso tivesse sido usado sob tais circunstâncias.

O pesquisador cultural tem a sua atenção ainda mais aguçada ao constatar que o Santo Cálice de Valencia se relaciona, segundo outras narrativas, com a estória do Santo Gral, sendo a confraria correspondente também conhecida como a dos Cavaleiros do Gral.

Com esse elo, a pesquisa dirige-se a um complexo temático de extraordinário significado para a literatura e para a cultura de vários países da Europa e que, transmitidos através da colonização, mantém-se vivo em expressões tradicionais de países latino-americanos, também no Brasil: o da gesta do Rei Artur e dos cavaleiros da mesa redonda.

Problemas da interpretação da narrativa do Santo Gral na gesta medieval

Muito se tem discutido a respeito da origem da tradição do Santo Gral. Supõe-se tratar-se de resultado de amálgamas, harmonizações ou interações de lendas orientais, cristãs e célticas que teriam ocorrido sobretudo no Norte da França, dando origem à gesta.

Segundo narrativas, o gral encontra-se em local alto, de difícil acesso, em geral apresentado como um burgo em montanha, onde se encontra também uma lança ensanguentada. Esse local se situa em comunidade que sofre com dificuldades de toda a ordem, onde o rei e os cavaleiros vivem atribulados. Essa comunidade é redimida por Parzival (Perceval, Perlesvaus, Peredur), Gawain, Galahad ou Bors, uma personagem ao mesmo tempo ousada e pura, de tal ingenuidade e distante do mundo real que também surgia como bôbo. Foi sagrado cavaleiro na corte do rei Artus e admitido no círculo dos 12.

A procura do gral é tratada de forma diversa nas diferentes versões, podendo ser acompanhada por feitos de superação de riscos, de consecução de proezas e solução de enigmas. Em algumas versões surge a figura do mágico Merlin. Por fim, o herói alcança o seu objetivo e a comunidade e o seu rei se recuperam e florescem, continuando o seu caminho com sucesso. O gral surge, assim, como receptáculo portador de forças vitais eternas, propiciadores de sucesso no caminho da comunidade.

Terminologia e fundamentos em antigas imagens: o vaso de mistura (krater)

O próprio termo gral, ainda que não suficientemente explicado, chama a atenção para o significado da imagem sob a perspectiva dos estudos culturais de interações mediterrâneo-atlânticas. O termo gral era conhecido no português antigo como designação de vaso de bebida em forma de morsa ou pilão. Supõe-se uma derivação etimológica do ocitano grazal, correspondente ao francês antigo graal, com o sentido de receptáculo ou vaso, remontando ao latim cratalisi gradalis e este ao grego krater, no sentido de vaso de mistura.

A origem etimológica do conceito de krater dirige a atenção aos fundamentos helênicos de processos culturais mediterrâneo-atlânticos que podem contribuir ao esclarecimento do edifício de imagens.

O papel do cálice ou do vaso de mistura no contexto do edifício de imagens da antiga cultura grega pode ser considerado a partir do fato de surgir no complexo das constelações celestiais. Trata-se de um grupo de seis estrêlas situado sobre o corpo da Hydra, grande serpente que se enrola no mastro da nave Argos, sob o signo zodiacal da Virgem. É visto, no Hemisfério Norte, no céu da parte do ano correspondente à passagem do inverno à primavera. 

Situando-se na parte inferior da ordenação das constelações, abaixo do zodíaco, tem como correspondência, na parte superior dos céus na grande constelação representada pela Ursa maior e Ursa minor ou Grande Veículo e Pequeno Veículo.

O conjunto das imagens indica assim um receptáculo no alto do mastro da grande nave nos céus, ela própria um grande vaso naval. Representa, assim um pequeno veículo, uma navícula nos altos, como os bojos ou cestos nos mastros de naves e aos quais os gajeiros subiam para descortinar o horizonte e poder anunciar perigos ou terra à vista. Como navícula, é um repositório ou veículo estreitamente ligado à nave com a comunidade dos marinheiros e seu capitão. A imagem é, assim estreitamente vinculada à navegação, no caso da viagem dos Argonautas.

Trata-se de um conjunto de imagens de remotas origens, pré-gregas, uma vez que a constelação já era conhecida na Suméria como o "Cálice da cobra", também ali associado com a morte e vinho.

Segundo Erathostenes, a constelação indicava o cálice de mistura de vinho e água inventado por Oinopion, filho de Dionysos e de Ariadne. Para evitar a embriaguez que era associada a seu pai Dionysos, Oinopion misturou água no vinho.

Já na cultura helênica existia, assim, a imagem do cálice de vinho e água integrada em amplo complexo de concepções, sendo a mistura de água e vinho ato que, pelo seu significado, foi colocado como sinal nos céus.

Na sua Poetica Astronomica, Hyginus, testemunha que essa imagem foi alvo de uma referenciação histórica por parte de Philarchos (272-220 A.C.).

Segundo este historiador, Demophon, para salvar de uma epidemia de peste a cidade de Elaios, próxima a Troia, após ter consultado um oráculo, passou a sacrificar anualmente uma jovem nobre escolhida em sorteio. Um dos nobres, porém, exigiu que também as filhas do rei fossem consideradas no sorteio. Encolerizado, Demophon entregou, sem sorteio, uma das filhas do nobre para ser sacrificada. Após algum tempo, este faz vingança, matando filhas do rei durante uma festa sacrificial, colocando o seu sangue num cálice de vinho e dando-o a beber a Demophon quando este chegou. Este mandou que o nobre e o cálice fossem atirados ao mar. Os eruditos, porém, colocaram o cálice como constelação nos céus para lembrar ao homem que os atos demoníacos são castigados. É tambémum sinal de memória de morte injusta e que sempre deve ser relembrada.

Nessa narrativa constata-se a situação atribulada de uma comunidade e do seu rei, Demophon, compreendida como resultado de ação demoníaca à qual seria necessário fazer sacrifícios. Esse procedimento, porém, repercutiu sobre o próprio rei, que perdeu filhas e bebeu do cálice de vinho que, na verdade, era o sangue de inocentes. Este cálice, colocado como sinal nos céus, indicava assim que não sacrifícios a forças demoníacas podem resolver as dificuldades na vida de uma comunidade ou no seu caminho.

Essas narrativas referenciados ao tipo representado pela nave e a constelação krater apenas podem ser entendidas se consideradas juntamente com o anti-tipo no alto dos céus, ou seja o Grande Veículo ou o Pequeno Veículo. É este último que contém a estrêla do norte próxima ao polo dos céus, possibilidora de orientação em viagens.

Essas duas elucidações - a de Erathostenes e Hyginus surgem como diferentes narrativas do mesmo conteúdo imagológico.

Na resignificação da linguagem visual das constelações através de sua referenciação bíblica, o motivo da embriaguez de Dionysos pelo vinho ou álcool - agua-ardente, "água do espírito" -, surge primeiramente na narrativa da embriguez de Noé após o dilúvio. Correspondentemente, a constelação do navio Argo passou a ser interpretada como imagem da Arca de Noé. O período de atribulações no interior da Arca durante o dilúvio, sem que se pudesse ver terra sêca, corresponde àquela das comunidades em dificuldades em narrativas não-bíblicas.

A imagem do calíce é relacionada com outra fase da narrativa bíblica, aquela da caminhada de Israel levando a Arca da Aliança, esta também um receptáculo ou veículo.

Essas relações indicam os estreitos elos entre as imagens do cálice e da nave relativamente aos tipos, tanto do Velho Testamento como na Antiguidade grega. O cálice pertence ao complexo da nave e, esta imagem, à tipologia da Igreja e de Maria.

O Graal em romances na tradição portuguesa e brasileira

A imagem correspondente ao Cálice ou ao Graal foi considerada nos estudos culturais em língua portuguesa sobretudo relativamente às tradições populares narradas dos romances. Teófilo Braga, no seu Romanceiro Português, distingue um "ciclo arthuriano".

"O lyrismo trobadoresco ou ocitanico e os Cantos epicos dos troveiros, decahiram nas côrtes medievaes preferindo ás vagas emoções do amor e aos valorosos feitos de armas, os Lais bretãos tornando a forma narrativa e ampliando-os até às grandes Novellas das mais intensas paixões realistas, como os poemas de Lancelot, de Tristão e Yseult, de Flores e Brancaflor. Estes poemas foram conhecidos pelo rei Dom Diniz, e encantaram os seus trovadores, que foram abandonando o gosto limosino.
E foram taes os enthuziasmos pelos personagens d'esses poemas, que no onomastico civil, encontram-se os nomes de Tristão, de Lancelote, de Parcival, de Ysêa e Ausenda, de Viviana, de Briolanja usados por cavalleiros e damas nos Nobiliarios. Entre o povo estes cantos apenas foram conhecidos na forma breve dos Lais, identificados com os Romances peninsulares; e é notavel o encontrar-se todas as situações do Poema de Tristão dispersas pelos nossos romances tradicionaes, synretisando-se com as Cantilenas do Cyclo de Carlos Magno." (Teófilo Braga, Romanceiro Portuguez III, Cyclo Arthuriano (Materia da Bretanha, Lisboa: J.A.Rodrigues, 2a. ed. ampl., 1909, ed. facsimilada: Vega, 406 ss.)),

Também no Brasil os romances relacionados com o ciclo arturiano foram objetos de estudos e também aqui pode-se constatar interferências ou relações com aqueles que se caracterizam pelo vulto de Carlos Magno.

Entretanto, o caminho mais adequado para a leitura de sentidos mais profundos de tradições narradas é aquele das representações encenadas em tradições populares. Entre estas se encontram aquelas marcadas pela imagem da barca em Cheganças da época do Advento e do Natal, na qual se representam as dificuldades da viagem, calmarias no mar, subida de gajeiro ao mastro, do qual, do seu cesto procura avistar ou não terra, o estourar do demônio e o prosseguimento da viagem, ou seja, momentos conhecidos de imagens de remotas proveniências. Sendo representações lúdicas - não de culto - baseiam-se na imagem de conotações negativas do tipo, ou seja, do krater, indicando, porém, o anti-tipo, o da criação angelical voltada ao Logos e representada pela orientação possibilitada pela estrêla do norte.

Das demais expressões, não só aquelas explicitamente relacionadas com Carlos Magno e com os 12 Paladinos da França merecem ser consideradas, mas também várias outras que incluem a superação de dificuldades de toda a ordem para o alcance de prêmios colocados ao alto, como em algumas cavalhadas, sobretudo aqueles folguedos que se caracterizam por um mastro, pela subida ao mastro, por vezes ensebado e que contém, nos seus altos, um cesto com flores, doces ou outras surprêsas agradáveis.

O Cálice da Última Ceia, ou Santo Cálice de Valência

Cálice da Última Ceia, Valencia, Espanha
Há muitas lendas acerca da história do Cálice utilizado na última Ceia.

Mas é na Catedral gótica de Valência, na Espanha, que está esse Santo Cálice.

Nos arquivos da Catedral, se conservam os documentos que atestam sua autenticidade.

Eis a história:

Depois da assunção de Nossa Senhora, São Pedro levou o Cálice à Roma.

Lá, os Papas o utilizavam na celebração da Missa, até a perseguição aos cristãos da época de Valério.

São Lourenço, o diácono, pouco antes do seu martírio, enviou-o, para estar bem guardado, à Huesca, sua cidade natal, com uma carta escrita de seu próprio punho.

Em Huesca se conservou até 713, sendo depois resgatado dos invasores sarracenos e entregue ao Rei Mártir de Aragão.

De Zaragoza foi levado à Valência pelo Rei Alfonso V.

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