sexta-feira, 14 de agosto de 2015

FERNÃO LOPES - CRONISTA / HISTORIADOR SEM "MUNDANALL AFEIÇOM"

Grandes Portugueses
FERNÃO LOPES - CRONISTA / HISTORIADOR SEM "MUNDANALL AFEIÇOM"
Aqui tem revelada a história de mais um dos grandes Portugueses da nossa história. Muito lhe devemos para a compreensão da corte e dos usos e costumes do nosso povo, durante o século XIV. De facto Fernão Lopes desempenhou vários cargos de importância na Corte e viveu numa época repleta de acontecimentos importantes. Muitos deles que terá presenciado e vivido, e outros terá testemunhado por escrito, através das notícias que como homem e cronista da corte, em lugar priveligiado, recebia.
Neste Blog, poderá ler vária informação escrita e audio-visual, acerca desta personagem histórica de grande relevância para a nossa história.

Texto: Português
Áudio: Português
Fontes: RTP - YouTube - Wikipédia - Ensina RTP


DOCUMENTÁRIO
A ALMA E A GENTE - FERNÃO LOPES, SIMPLESMENTE A VERDADE:






Fernão Lopes

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Fernão Lopes
Possível retrato de Fernão Lopes, nos Painéis de São Vicente de Fora de Nuno Gonçalves
NascimentoEntre 1380 e 1390
Lisboa, Portugal
Morteca. 1460 (80 anos)
Lisboa, Portugal
OcupaçãoGuarda-mor da Torre do Tombo
Principais trabalhosCrónica de el-rei D. Pedro
Crónica de el-rei D. Fernando
Crónica de el-rei D. João I
Assinatura
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Fernão Lopes (Lisboa, entre 1380 e 1390 − Lisboa, cerca de 1460) foi guarda-mor da Torre do Tombo, tabelião geral do reino e cronista de todo o reino de Portugal, e até antes de Portugal ser reino, no entanto, desde o tempo do borgonhês Conde D. Henrique até Pedro I de Portugal, as suas Crónicas levaram sumiço (ou desapareceram, no tempo do rei D. Afonso V), restando apenas o que ficou: de D. Pedro I de Portugal a D. João I de Portugal.[1] [2]


Biografia

A respeito da vida de Fernão Lopes carecem os dados biográficos conclusivos.[3]
A hipótese é de que o cronista-historiador teria nascido na cidade de Lisboa entre os anos de 1380 e 1390, e frequentado o Estudo Geral, apesar de uma provável origem familiar mesteiral.
O registo mais antigo sobre sua vida é um documento datado de 1418 que informa ser Fernão Lopes guarda-mor da Torre do Tombo, cargo de alta confiança em que era encarregado de guardar e conservar os arquivos do Estado.
Regista-se também que ele ocupou a função de “escrivão dos livros” de D. João passando, em 1419, a escrivão de D. João I. Neste momento teria começado a escrever a Crónica dos Sete Primeiros Reis de Portugal.
Em 1422 ocupa a função de escrivão de puridade do Infante D. Fernando.
Algum tempo depois, em 1434, sob o reinado (1433-1438) de D. João inicia, “sob a incumbência oficial de colocar os feitos dos reis portugueses na forma de crónica”[4] , a escrita da Crónica de D. João I. Seria substituído como cronista no ano de 1451, por Gomes Eanes de Zurara.
Deixa de ser, em 1454, guarda-mor da Torre do Tombo, em virtude da avançada idade. A última informação dá conta de que Fernão Lopes ainda vivia em 1459, sendo incerta a data de sua morte.[5] Segundo informações no prefácio da Chronica de El-Rei D. Pedro I, escrito por Luciano Cordeiro, após deixar a função de guarda-mor, Fernão Lopes teria ainda vivido por mais 5 anos, falecendo próximo aos 80 anos de idade.[6]
Fernão Lopes forma-se num contexto próximo a acontecimentos que se faziam recentes na memória dos portugueses, a saber, os mais significativos: Crise de 1383-1385 e a Batalha de Aljubarrota (1385). O primeiro acontecimento foi um golpe sucessório “auxiliado pela população camponesa, comerciantes, alguns membros da nobreza e ordens religiosas, principalmente franciscanos”[7] , que assegurou a ascensão do Mestre de Avis, D. João I, ao trono português. D. João I sairia fortalecido como rei de Portugal com o reconhecimento da legitimidade da dinastia avisina através da assinatura do Tratado de Windsor (1386), entre Portugal e Inglaterra e do seu casamento com D. Filipa de Lencastre.
Ao rei eleito e popular, D. João I, sucedeu um rei mais aliado a aristocracia, D. João. Cresceu o poder feudal dos filhos de D. João I, e com ele o predomínio da nobreza, que saíra gravemente abalada da crise da independência. Assistiu-se à guerra civil subsequente à morte de D. João, à insurreição de Lisboa contra a rainha viúva D. Leonor, e à eleição do infante D. Pedro por esta cidade, e em seguida pelas cortes, para o cargo de Defensor e Regedor do Reino, em circunstâncias muito parecidas com as que tinham levado o Mestre de Avis ao mesmo cargo e seguidamente ao trono em 1383-1385.
Sendo assim, Fernão Lopes entrara, certamente, em contato com testemunhos dos acontecimentos, sendo estes eventos relatados na sua obra de 1443, Crónica de D. João I. Pode, dessa forma, consultar os protagonistas envolvidos na resistência contra Castela e na paz firmada no ano de 1411 com o mesmo reino, através do Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.



Fernão Lopes no "Painel do Arcebispo", pertencente aos "Painéis de São Vicente de Fora", atribuídos a Nuno Gonçalves (séc. XV).
Diante desta conjuntura política e social conturbada Fernão Lopes foi designado, por D. João, a croniciar as façanhas da dinastia de Avis. No entanto, mesmo designado oficialmente para compor uma história portuguesa, sua historiografia não é regiocêntrica. O autor, mesmo que utilize o rei como centro da história, demonstra na sua narrativa grande interesse pelo povo e pelas influências destes nas conformações sociais de Portugal. Das crónicas que Fernão Lopes escreveu, restam-nos apenas três:

Cronista-historiador

Fernão Lopes é considerado um cronista-historiador. Ele redimensiona o gênero cronístico ao limitar as narrativas tradicionais panegíricas[11] , abrindo espaço de autonomia da narrativa histórica através de uma metodologia em que pudesse chegar a uma “verdade nua”. Nessa metodologia Fernão Lopes ordena as “estórias” cronologicamente, buscando uma hierarquia explicativa para os acontecimentos. Enquanto cronista assumia uma posição de autoridade, de distanciamento e isenção, atributos capazes de detectar e controlar os subjetivismos dos discursos (mundanal afeiçom) e, assim, chegar à “verdade nua”.

O estilo e a metodologia

Do ponto de vista da forma, o seu estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das palavras, mas a nudez da verdade. Era um autodidacta. Foi um dos legítimos representantes do saber popular, mas já no seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: de cunho erudito-acadêmico, humanista, classicizante.
Para uma metodologia da escrita da história comprometida com a “verdade nua” a partir da Crónica de D. João I: a mundanall afeiçom, ordenação das “estórias”, autoridade e concepção temporal.

Mundanall afeiçom

Fernão Lopes entende que a afeição é inerente à condição humana, que escapa ao controle racional. Assim, considera que as paixões e certas influências modificam a narrativa, o que implicaria em uma dificuldade de se apreender a verdade. Daí, a necessidade de o cronista-historiador em controlar a mundanall afeiçom, a fim de garantir o espaço de autonomia do discurso histórico, separando os desejos e interesses. Desta forma, compreende que os atributos do cronista devem ser a isenção e a autoridade.

As variações da mundanall afeiçom: a artificial e a natural

Mesmo inferindo que a mundanall afeiçom afeta a todos os homens, Fernão Lopes entende que esta muda de acordo com os grupos sociais em diferentes níveis de subjetividade. Assim, analisa a mundanall afeiçom em dois grupos: os da ordem senhorial, mais próximos ao rei; e os mais distantes da ordem senhorial e do rei. No primeiro grupo, ela se caracterizaria pelos valores tradicionais presos ao servilismo ao rei e ao modelo panegírico, conferindo uma parcialidade e um artificialismo que poderia trazer um falseamento da realidade. Já, os indivíduos do segundo grupo (os mais afastados do rei), seriam os portadores da “nua verdade”, pois a mundanall afeiçom destes, corresponderia aos laços de afeição e paixões naturais do homem, portanto, desligada do artificialismo e cerimónias do servilismo. Contudo, Fernão Lopes compreende que o discurso precisaria de um tratamento adequado à verdade textual conferida pelo cronista devido sua posição de autoridade, distanciamento e isenção. Assim, podemos dizer que Fernão Lopes enquanto cronista tinha uma preocupação de uma construção textual comprometida com a “verdade nua”. Para isso, estabeleceu uma metodologia para a escrita da história em que controlava a subjetividade da mundanall afeiçom – através de sua autoridade, distanciamento e isenção – cerceando a retórica tradicional formulada no modelo encomiástico (discursos de enaltecimento do monarca) para então ordenar as “estórias” conservando o espaço de autonomia do discurso histórico. Desta forma, Fernão Lopes, não só ordenava as “estórias” cronologicamente, mas também produzia uma hierarquia explicativa para os acontecimentos.
Podemos entender que Fernão Lopes buscava certo equilíbrio entre o discurso propriamente histórico e o discurso panegírico (escrita elogiosa). Assim, mesmo quando o cronista precisava se utilizar do discurso panegírico, ele o fazia apenas para cumprir uma necessidade formal (decoro), mas optando por um panegírico fraco e breve para não comprometer seu compromisso em mostrar a “verdade nua”. Através disso, podemos compreender que a concepção de tempo para o cronista se dá de forma bipartida, à medida que ele faz a distinção da forma panegírica e do discurso propriamente histórico, abrindo um espaço de autonomia para a narrativa histórica, que possibilite a produção de uma “verdade nua”.

Bibliografia

  • ARAÚJO, Valdei Lopes de; GIANEZ, Bruno. A emergência do discurso histórico na crônica de Fernão Lopes. Revista de História e Estudos Culturais, vol. 3, ano III, n.º 2, abril/maio/junho de 2006
  • CINTRA, Luís Filipe Lindley. «Prefácio» in LOPES, Fernão. Cronica del rei Dom Joham I – de boa memoria e dos reis de Portugal o décimo. Lisboa: Imprensa Nacional–Casa da Moeda, 1997, v. I. p. 15-16
  • GIANEZ, Bruno. Fernão Lopes (c.1389/90-1459): Crônica e História em Portugal (Séc. XIV e XV). Dissertação de Mestrado, UFF, 2009
  • MOISES, Massaud (org.). A literatura portuguesa através dos textos. 25.ª ed. São Paulo: Cultrix, 1997
  • SARAIVA, António José. Iniciação à literatura portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1999
  • SARAIVA, António José. O crepúsculo da Idade Média em Portugal. Lisboa: Gradiva, 1988. p. 161-177


AS CRÓNICAS DE FERNÃO LOPES

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