A GRANDE EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS DE 1940
Uma rara cópia de um magnífico documentário realizado por António Lopes Ribeiro sobre a Exposição do Mundo Português que decorreu em Lisboa, na zona de Belém, de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940. O objectivo deste evento foi de comemorar a Fundação do Estado Português (1140) e, em simultâneo, a Restauração da Independência (1640). Infelizmente, e para que houvesse espaço para a exposição, no final dos anos 30 toda a área foi alvo de uma profunda intervenção . Ocorreram grandes demolições no centro histórico de Belém; desapareceram quarteirões inteiros, largos, feiras, jardins, fábricas, lojas de pequeno comércio, assim como o Mercado de Belém.
Da exposição em si pouco chegou até aos nossos dias, uma vez que a maioria das construções foi feita utilizando propositadamente materiais frágeis, nomeadamente gesso, com o intuito de serem demolidas após o término do evento. Inclusivé o Padrão dos Descobrimentos que hoje existe é uma reconstrução que data de 1960 (o original, que surge nestas imagens, foi construído com base numa frágil estrutura de aço).
Tenha-se ou não simpatia pelo regime da época, são memórias que interessa preservar. E é bom sentir um pouco de orgulho em ser Português, um país tão desmoralizado e sem rumo nos dias de hoje...!!!
Poderá ainda consultar a informação escrita, com pormenores acerca da exposição e visitar a galeria de fotografias da Exposição, efectuadas na época e que nos revelam a grande beleza e interesse do evento.
Áudio: Português
Fontes: YouTube - Wikipédia - Biblioteca da Arte da Fundação Calouste Gulbenkian
Exposição do Mundo Português
Historicamente coincidente com o primeiro ano da Segunda Guerra Mundial, teve o propósito de comemorar a data da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640), mas, também (e esse seria o objetivo primordial), de celebrar o Estado Novo, então em fase de consolidação. Foi a maior exposição do seu género realizada no país até à Expo 98 (1998).
História
Génese
A mostra teve lugar num período de consolidação do Estado Novo, assumindo então, no que respeita aos recursos materiais e humanos, uma dimensão inédita, tornando-se no acontecimento político-cultural mais marcante do Regime. "O empenho político nas comemorações resulta da compreensão do que estava em jogo: passar ao ato (em forma de comemoração) a consagração pública de uma legitimidade representativa própria, desta feita, eminentemente ideológica e histórica. [...] Esforçou-se o Estado Novo por associar os traços mais marcantes do seu nacionalismo – autoritarismo, elitismo, paternalismo, conservadorismo – a um passado mítico legitimador do presente. [...] Corolário de uma «política de espírito», lançada na década anterior pelo audacioso diretor do Secretariado de Propaganda Nacional, António Ferro, assiste-se à mais conseguida conciliação da arte com a política no Estado Novo"2 . A opção estética adotada nas comemorações provocou críticas violentas por parte dos artistas académicos, liderados pelo Coronel Arnaldo Ressano Garcia (presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes), e que ficariam maioritariamente à margem do evento3 .
A comissão nacional foi presidida por Alberto de Oliveira, secretariada por António Ferro, integrando um vasto número de personalidades da vida pública nacional. A comissão executiva foi presidida por Júlio Dantas, tendo como secretário-geral António Ferro. A comissão especial foi dirigida por Augusto de Castro (Comissário-Geral), secundado por Sá e Melo (Comissário-Geral-Adjunto)4 , tendo Cottinelli Telmo como Arquiteto-Chefe. Gustavo de Matos Sequeira encarregou-se da coordenação histórica, José Leitão de Barros dos serviços externos e Gomes de Amorim do ajardinamento dos espaços. Acontecimento nacional, prolongado em congressos, cerimónias e espetáculos vários, a exposição incluiu pavilhões temáticos relacionados com a história de Portugal, suas atividades económicas, cultura, regiões e territórios ultramarinos, e o pavilhão do Brasil (o único país estrangeiro presente). 1
A exposição
A entrada principal localizava-se na Praça Afonso de Albuquerque, junto ao Mosteiro dos Jerónimos; outras duas entradas, de ambos os lados da linha de caminho de ferro, faziam-se por portas agenciadas entre quatro construções quadrangulares tendo, nas faces principais, baixos relevos representando guerreiros medievais com grandes escudos1 5 . Atravessando a linha férrea através da passarela monumental encontrava-se a Secção Histórica, (Pavilhão da Formação e Conquista; Pavilhão da Independência; Pavilhão dos Descobrimentos; Esfera dos Descobrimentos). Do outro lado, situava-se o Pav. da Fundação, o Pav. do Brasil (país convidado para tal efeito), e o Pav. da Colonização. Atravessando o Bairro Comercial e Industrial, chegava-se perto do Mosteiro dos Jerónimos, à entrada da Secção Colonial. No canto precisamente oposto, um Parque de Atrações fazia a delícia dos mais novos. Descendo em direção ao rio Tejo, e para além do Pavilhão dos Portugueses no Mundo, a Secção de Etnografia Metropolitana, com o seu Centro Regional, contendo representações das Aldeias Portuguesas e os Pavilhões de Arte Popular. Por trás deste último pavilhão, encontrava-se o Jardim dos Poetas e o Parque Infantil. Frente ao rio Tejo, com as suas docas, um Espelho de Água com um restaurante abria o caminho para o Padrão dos Descobrimentos e para a Nau Portugal.
O Padrão dos Descobrimentos, da autoria de Cottinelli e Leopoldo de Almeida, pretendia ilustrar a importância histórica dos descobrimentos. A estrutura do monumento representava, de modo esquemático, uma embarcação com três velas. Sobre um plano inclinado, ladeando o velame estilizado, duas sequências de figuras, lideradas, à proa, pelo timoneiro de todo o projeto expansionista português: o Infante D. Henrique. O padrão original foi construído em materiais perecíveis; viria a ser reconstruído em betão e cantaria de pedra, em 1960, por ocasião da comemoração dos 500 anos da morte do Infante. 1 6
A ideia da Nau Portugal partiu de Leitão de Barros e mostrou ser uma assinalável reconstituição do passado. Embora apelidada de nau, esta embarcação era na realidade a réplica de um galeão da carreira da Índia do século XVII. Foi construída nos estaleiros de Aveiro e saiu a primeira vez com destino a Lisboa em Julho, tombando minutos após a partida; com grandes esforços foi devolvida à posição vertical, acabando mais tarde por ser pilotada até Lisboa por marinheiros ingleses, sob a direção do comandante Spencer.7
Grande documentário da civilização cristã, exposição histórica e de afirmação do regime do Estado Novo, "ato de espírito e de arte notavelmente sustentado por uma plêiade de arquitetos, escultores, pintores e decoradores", a Exposição do Mundo Português culminou meia dúzia de anos de afirmação e estratégia política. Com ela se encerrou, de modo sistematizado, o primeiro modernismo nacional, que emergira por volta de 1915, arrastando-se ao longo de uns anos 20 provincianos, um modernismo que seria em parte afirmado, em parte negado, no período áureo da «Política do Espírito» de António Ferro e das suas Exposições de Arte Moderna do S.P.N.. O necessário «equilíbrio estético» defendido por Ferro devia materializar-se numa "nova fase de maturidade orientada para valores nacionalistas e folclóricos, com a recuperação ideológica, estilizada ou modernizada, de formas do passado nacional", princípios que marcaram grande parte da produção artística desse período, em particular a estatuária pública e a arquitetura (na arquitetura essa involução viria a gerar o estilo comumente apelidado Português Suave8 ).9
A exposição foi inaugurada a 23 de Junho de 1940 – já em plena Segunda Guerra Mundial –, pelo Chefe de Estado, Marechal Carmona, pelo Presidente do Conselho, Oliveira Salazar e pelo Ministro das Obras Públicas, Duarte Pacheco. O encerramento ocorreu a 2 de Dezembro desse mesmo ano. A exposição recebeu cerca de três milhões de visitantes, constituindo a mais importante iniciativa cultural do regime (regime este que enfrentaria a sua primeira crise política cinco anos mais tarde, com o fim da guerra e derrota dos regimes totalitários de Hitler e Mussolini). A maioria das edificações da exposição foi demolida ao seu término, restando apenas algumas, entre as quais o Monumento aos Descobrimentos e o edifício que hoje acolhe o Museu de Arte Popular.
Pavilhões / Iniciativas
A estrutura da exposição foi assegurada por um grupo de arquitetos, quase todos de passado modernista, dirigido por Cottinelli Telmo (direção e planificação global; autor do Padrão dos Descobrimentos de parceria com Leopoldo de Almeida e do Pavilhão dos Portugueses no Mundo). Entre os 17 arquitetos que trabalharam no conjunto destaque-se ainda Cristino da Silva, autor do Pavilhão de Honra e de Lisboa, segundo José-Augusto França, "o melhor edifício da exposição – e talvez a melhor obra da maturidade de Cristino da Silva".5
Assinalem-se ainda: Porfírio Pardal Monteiro (Pavilhão dos Descobrimentos); Carlos Ramos (Pavilhão da Colonização); Veloso Reis (Pavilhão da Vida Popular); Jorge Segurado (núcleos das Aldeias Portuguesas); Raul Lino (Pavilhão do Brasil); Rodrigues Lima (3 pavilhões históricos: Pavilhão da Fundação, Pavilhão da Formação e Conquista, Pavilhão da Independência); etc.1
Pintura e Escultura:
Ao todo participaram 43 pintores, entre os quais os membros da equipa encarregue dos Pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Paris (1937), Nova Iorque e S. Francisco (1939): Fred Kradolfer, Bernardo Marques, Thomaz de Mello, Carlos Botelho, José Rocha, Emmerico Nunes, Paulo Ferreira. E também: Almada Negreiros, Jorge Barradas, Lino António, Martins Barata, Manuel Lapa, Sarah Afonso, Estrela Faria, Clementina Carneiro de Moura, Mily Possoz, etc.
Participaram 24 escultores de onde podem destacar-se Canto da Maia (grupo D. Manuel, Gama e Cabral; baixo-relevo na fachada do Pavilhão de Honra e de Lisboa) e Leopoldo de Almeida (estátua da Soberania; estatuária do Padrão dos Descobrimentos). E também: António da Costa, Barata Feyo, Ruy Gameiro, António Duarte, Martins Correia, João Fragoso, Raul Xavier, etc.1
E ainda:
- Nau Portugal (reconstituição por Leitão de Barros, Martins Barata e Quirino da Fonseca).
- De 31 de Janeiro de 1939 a Dezembro de 1940 foi publicada a Revista dos Centenários, que acompanhou a exposição e os acontecimentos com ela articulados ocorridos em todo o país (urbanizações, construção de estradas e pontes, restauros de monumentos, inaugurações de edifícios e estátuas, exposições de arte, congressos, publicações, cortejos, festas diversas).1
FOTOGRAFIAS DA EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS:
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