domingo, 8 de março de 2015

INÊS NEGRA vs ARRENEGADA - A RECONQUISTA DE MELGAÇO POR D.JOÃO I

Lendas da nossa História
INÊS NEGRA vs ARRENEGADA - A RECONQUISTA DE MELGAÇO POR D. JOÃO I
Aqui tem mais uma belíssima lenda da nossa história que nos revela como uma luta entre 2 mulheres, uma do castelo, outra do arraial, diante dos exércitos de Portugal de D. João I e de Castela, anima as hostes Potuguesas para reconquistar a Vila de Melgaço que se tinha passado para a causa de Castela.
Um exemplo da nossa riquíssima história.

Texto: Português
Fonte: Portugal Glorioso - Wikipédia - Lendarium



Lendas de Portugal - A Inês Negra de Melgaço
 
Estátua de Inês Negra em Melgaço do escultor José Rodrigues.

Esta história teve lugar em 1388, no início do reinado de D. João I, em que se travou uma guerra contra Castela pela independência de Portugal. Uma contenda onde sobressaíram os feitos do Condestável Nuno Álvares Pereira e de muitos nobres portugueses, dividindo a aristocracia e o povo português, tomando muitas terras o partido de Castela.

Foi durante esta guerra civil que a Inês Negra, uma mulher do povo fiel à causa portuguesa, abandonou Melgaço quando esta cidade se pôs ao lado do rei de Castela. Quando D. João I decidiu reconquistar Melgaço, Inês Negra juntou-se ao seu exército, mas as duas facções nunca chegaram a defrontar-se. A batalha travou-se entre Inês Negra e uma sua inimiga de longa data, a "Arrenegada", que tinha optado por apoiar os castelhanos.

Diz a lenda que a "Arrenegada" desafiou Inês Negra do alto das muralhas, propondo que a contenda fosse resolvida entre ambas com o acordo do exército castelhano. D. João I assistiu espantado à resposta de Inês Negra que dizia aceitar o desafio.

Ambos os exércitos concordaram com este duelo e a Inês Negra, de espada na mão, defrontou a sua inimiga apoiada pelos gritos de incitamento dos homens de D. João I.
O silêncio instalou-se quando a "Arrenegada" fez saltar com um golpe a espada das mãos de Inês, mas esta tirou uma forquilha da mão de um camponês e fez-se à luta, procurando atingir a "Arrenegada" nas pernas.
Sentindo-se em desvantagem, esta atirou fora a espada e pegou num varapau que quebrou com fúria nas costas de Inês. Louca de fúria e de dor, Inês Negra largou a forquilha e atirou-se com unhas e dentes à sua oponente, rolando ambas no chão empoeirado.

Um grito de dor gelou a assistência, que não conseguia perceber qual das duas vencera. Foi então que a "Arrenegada" se levantou e fugiu para o castelo, tapando as nódoas e o sangue do rosto com as mãos.
Os castelhanos abandonaram Melgaço no dia seguinte e D. João I quis recompensar a heroína, mas esta respondeu que estava plenamente recompensada pela sova que tinha dado à sua inimiga.
 
LENDA DA INÊS NEGRA:

Quando, no início de 1387, o castelo de Melgaço (Portugal) era governado por um alcaide castelhano, sofreu o assédio das forças portuguesas sob o comando de D. João I, a campanha caracterizou-se por uma série de assaltos e escaramuças, onde se defrontaram a nobreza, encastelada nos muros da vila, e as classes populares, baseadas fora de muros, no chamado arraial.
Um episódio, símbolo desse confronto, chamou a atenção do cronista que registrou que certo dia, escaramuçaram duas mulheres bravas, uma da vila e outra do arraial, e andaram ambas aos cabelos e venceu a do arraial (Fernão Lopes, Crónica de D. João I).
Posteriormente, outro cronista coloriu esta história com detalhes literários na sua pena, afirmando que a mulher do arraial, que combateu por Portugal, era conhecida como a Inês Negra (Duarte Nunes de Leão).




HISTÓRIA DA RECONQUISTA DO CASTELO DE MELGAÇO AOS CASTELHANOS: 

Inês Negra

Acabados os ecos da retumbante batalha de Aljubarrota, urgia consolidar a independência da Portugal, reconquistando terras e praças fortes ainda na posse dos castelhanos, que recusavam a autoridade do rei D. João I.
 O Mestre de Aviz empenhou-se pessoalmente na tarefa de levar para a bandeira portuguesa as praças fortes do extremo norte do reino, local onde pouco antes estivera, aquando dos esponsais com a bela Filipa de Lencastre na Ponte de Mouro. Para cumprir este ensejo, veio para Melgaço corria o mês de Janeiro de 1388. Aqui chegado com sua comitiva, fez recolher a Rainha, D. Filipa, e suas damas, ao Convento de Fiães, para testemunharem deslumbradas a bravura das hostes portuguesas, que o rei se prontificou evidenciar, planeando o assalto às muralhas com que D. Dinis envolvera a torre afonsina. Dentro das muralhas, a guarnição de trezentos homens, comandada por D. Alvaro Pais de Souto Maior, estava disposta a defender-se das pretensões do Mestre de Aviz e impunha aos pacíficos moradores o domínio castelhano. Entre as famílias que aí habitavam havia a de uma portuguesa que era toda de paixões pelas hostes castelhanas, vindo a ter, por isso, a alcunha de «arrenegada», nome pelo qual ficou depois a ser conhecida toda a família.
 Refilona de trato, fervia-lhe o sangue ao ver, do alto das muralhas, os preparativos dos seus compatriotas lá para as bandas da Senhora da Orada. Ali instalados, os soldados portugueses armaram um engenho que permitia lançar projécteis para a vila sitiada, e iniciaram a construção de uma bastida, torre de assalto sobre rodas, de modo a superar a aparente invulnerabilidade das muralhas. Enquanto preparava o assalto, D. João passava longos momentos a meditar todas as estratégias que melhor defendessem os seus homens, ao mesmo tempo que desejava afirmar o seu domínio, tanto sobre a praça, como sobre o coração da sua jovem esposa, a gozar uma lua-de-mel tão atribulada. Quanto mais cedo a resolução do esforço militar, mais cedo se entregaria ao gozo nupcial.
 Foram de tal forma resolvidos os projectos do Rei, que logo dentro muralhas o ódio e a força passaram do espanto ao medo! Assustados perante os aparatosos engenhos, apressaram-se os de dentro a pedir tréguas. Propuseram a el-rei que João Fernandes Pacheco conferenciasse com Alvaro Pais. Acedendo ao diálogo, o Mestre de Aviz enviou Pacheco à barbacã onde falou com o comissário castelão, barricado intra-muros. Longo espaço de tempo durou esta conversação entre os dois guerreiros. Enquanto eles falavam, assediados e assediadores tinham dificuldade em suportar o silêncio que entretanto viera com a suspensão das investidas. Os mais pacíficos estavam esperançados na concórdia, mas os mais belicosos estavam impacientes por recomeçar a pugna. A conferência estava a revelar-se dificil, pois D. Alvaro, num orgulho irreflectido, estava a exigir condições e benesses ultrajantes às armas e brios lusitanos. A falta de acordo fez com que D. João tomasse a resolução de humilhar o infame capitão da Praça com um forte assalto às muralhas. Ele mesmo iria à frente dos seus soldados, desejoso de defender a honra das suas armas. Sabia o Rei que, apesar da sua força, muitos soldados lusitanos iriam perecer, dadas as dificuldades do campo de batalha. Mas dentro dos muros, perante o impasse das conversações, a «arrenegada» deu azo aos seus ímpetos belicosos, que a traição alimentava. A cobardia dos seus e a certeza da inferioridade militar impeliu-a à provocação e ao desafio, querendo com isso provar a razão da tão ignominiosa traição. Propôs um combate singular para resolver a contenda: ela mesma iria lutar com outra mulher, de quem conhecia o patriotismo, e que morava nas redondezas. Essa mulher era «Inês Negra», uma patriota até à raiz dos seus cabelos negros, a coroar o rosto trigueiro que a singularizava entre os seus conterrâneos. Há muito tempo que a «arrenegada» estava desejosa de provar pela força, o que antes já discutira com essa adversária.
 Inês, intimorata, aceita logo o desafio, farta que estava da vaidade e da traição da «arrenegada», escoltada pelas boas graças dos ocupantes. De bom grado acordou tal peleja o Rei, estupefacto pelo patriotismo e coragem da mulher que se lhe apresentou para defender a honra dos lusitanos.
 Aprazada a pugna para o dia 3 de Março, el-rei enviou à rainha recado para que viesse, pois tudo se conjugava para que o desfecho da contenda estivesse para breve: os engenhos estavam concluídos, o caminho para a progressão da bastida estava aplanado. Em Fiães, aos ouvidos da Rainha e das damas de companhia, junto com o recado do rei chegara também a notícia do desafio entre as duas mulheres de Melgaço. Logo as mais velhas comentaram tão descomposta escaramuça. Nas mais novas havia grande jubilação com a expectativa de comoções. Quando a comitiva da rainha desce de Fiães, eram agitadas as discussões do projectado combate, somente interrompidas pelas exclamações aflitas das timoratas e pelas risadas escarninhas das resolutas, na iminência de um tropeção das montadas. Nestas ocupações, quase esqueciam a paisagem deslumbrante, o panorama das extensas ondulações que formam o berço delicioso em que se espreguiça voluptuosamente o rio Minho. Chegadas ao acampamento, el-rei apressou-se em receber a rainha para acrescentar ao olhar amoroso a explicação do uso dos engenhos, e como se realizaria a escaramuça entre as duas mulheres. Ao comentar as diferentes posições e dúvidas quanto ao desfecho de tão insólito desafio, D. Filipa sentenciou: “Inês tem a razão e a Graça de Deus pelo seu lado. A vitória será da coroa portuguesa!”
 Finalmente, amanheceu o dia 3 de Março, numa Primavera que se anunciava prometedora. Logo o povoléu correu em direcção ao terreiro para assistir à luta. Todos, de um lado e do outro, se dispuseram a presenciar o espectáculo: os de dentro acudindo aos parapeitos das cortinas e bastiões, debruçavam-se curiosos; os de fora formaram um círculo ao redor do local do encontro. A «arrenegada» saiu por um postigo da fortaleza, avançando com um nodoso bordão. Foi estrondosa a gritaria do povo ao avistar a «arrenegada». No centro do terreno a desnaturada castelã aguardou pela rival perante as vaias e os apupos da multidão, ainda preocupada com a acomodação. Um burburinho cresceu de repente, e a multidão abriu alas para deixar passar Inês. Do campo lusitano saiu um grito de encorajamento e de carinho à mulher que avançava com olhar determinado e seguro. O primeiro recontro passou pelos dentes cerrados e olhos fuzilantes com que as duas adversárias se presentearam.
 Foi logo impetuoso o primeiro embate das justadoras. O choque foi tremendo, e num instante, os bordões quebraram-se. Agora, sem armas, atirando-se uma à outra com rancor, rasgavam reciprocamente as carnes com as unhas e os dentes. Atropelando-se, arrancando os cabelos, afogando-se nos fortes e rudes braços, derrubando-se alternadamente na luta, prolongaram durante minutos a encarniçada peleja. Estava a multidão excitada com tal drama, tentando discernir as fraquezas e as habilidades das lutadoras, quando a arrenegada entrou a fraquejar, saindo logo desfalecida, coberta em sangue e em lama. É o delírio da multidão e a glória de Inês Negra, que é levada em triunfo e aclamada como a heroína das hostes portuguesas. A arrenegada, no meio da confusão, arrasta-se para o interior do castelo, onde a derrota atravessa todos os olhares. Animados e excitados pelo exemplo de Inês, as hostes lusitanas tomam de vencida as muralhas de Melgaço. Os de dentro, amedrontados e conscientes sua inferioridade dão luta por pouco tempo, pedem tréguas, aceitando todas as condições do Mestre de Aviz, que os obrigou a sair desnudados, para escárnio do rapazio. Ao entrarem na Fortaleza, depararam com o corpo da «arrenegada» com um punhal cravado no coração. Inês sobe ao alto da torre e, abraçando as ameias, grita sem cessar:
 “-Tornaste a nós! És do rei de Portugal!”
 Os reis portugueses, ladeados por Inês, agradeceram à Senhora da Orada tão feliz desfecho, e entregaram a guarda e governo do Castelo da Vila de Melgaço a João Rodrigues de Sá. Depois, quando retiravam festivamente, com sua comitiva, em direcção a Monção, do alto da muralha, virada a noroeste, um vulto de mulher agitava com ufania a bandeira gloriosa das quinas que empunhava. Era Inês Negra!
Fonte Biblio CAMPELO, Álvaro Lendas do Vale do Minho Valença, Associação de Municípios do Vale do Minho, 2002 , p.59-61

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