O CAMINHO DE FERRO IMPOSSÍVEL - HISTÓRIA DA LINHA DO DOURO
O comboio, permitiu combater o isolamento do Douro superior e vencer mais rapidamente a praga da filoxera que então se propagava pelas vinhas do Douro. Um excelente documentário da RTP 2, filmado na beleza do douro património da humanidade e que nos conta a história da Linha do Douro e sua extensão em Espanha até Salamanca. Revelam-se aqui as terríveis dificuldades encontradas para levar a obra a termo e o retrato do Portugal do séc. XIX.
Na parte final, é apresentado um grupo de entusiastas desta linha, que lutam pela sua reabertura.
Áudio: Português
Fontes: Rtp 2 - YouTube
* José Rui Lira
Documentário
O CAMINHO DE FERRO IMPOSSÍVEL
Linha do Douro
A Linha do Douro é uma linha de caminho-de-ferro em Portugal, de bitola ibérica, que liga Ermesinde ao Pocinho, numa extensão de cerca de 160 Km. Na sua extensão máxima, terminava na fronteira com Espanha junto a Barca de Alva, totalizando cerca de 200 km. Começou a ser construída em 1875[1], e foi concluída em 9 de Dezembro de 1887, com a inauguração do troço até Barca de Alva.[2] No mesmo dia, foi inaugurada a linha desde esta estação até à rede espanhola, em La Fuente de San Esteban.[3] A ligação internacional foi encerrada em 1 de Janeiro de 1985, e o troço entre Pocinho e Barca D’Alva fechou em 18 de Outubro de 1988.[1]
História
Antecedentes
O Rio Douro constituiu, ao longo da história, uma importante estrada natural, tendo sido, até ao Século XIX, a única via de comunicação na região; com efeito, os mais antigos registos da sua utilização datam da ocupação romana.[1] No entanto, este curso de água sempre foi difícil de navegar, até que surgiram os barcos rabelos, cuja maior preparação para vencer as dificuldades naturais do rio possibilitou o trânsito de mercadorias e passageiros, desenvolvendo, assim, esta região.[1] Um outro passo importante foi a demolição do Cachão da Valeira, entre 1780 e 1791, que permitiu a navegação do Douro até Barca d’Alva e a fronteira com Espanha.[1]
Planeamento
Em 1867, o Estado Português apresentou às Câmaras os projectos para as ligações ferroviárias, em bitola ibérica, unindo o Porto ao Pinhão, a Braga, e à fronteira com Espanha no Minho; apesar do empenho que as populações e o próprio governo tinham na construção destas linhas, devido à sua necessidade, só em 14 de Junho de 1872 foi decretado o início das obras na Linha do Minho e a realização de estudos para o traçado da Linha do Douro, que devia passar por Penafiel.[2]
O principal propósito da Linha do Douro foi, além de providenciar transporte para as povoações ao longo da via, transportar adubos, sementes e outros produtos para o interior, e escoar a produção agrícola destas regiões; por outro lado, iria fornecer uma alternativa ao transporte fluvial, bastante limitado pela então reduzida capacidade de navegação no Rio Douro, e permitir um melhor acesso ao interior transmontano.[4] Devido à sua importância, a construção da Linha do Douro adquiriu uma maior prioridade em relação a outros projectos ferroviários em Portugal, nomeadamente a continuação do Caminho de Ferro do Sul até ao Algarve.[5]
Troço entre Ermesinde e o Pinhão
Os trabalhos da Linha do Minho iniciaram-se no dia 8 de Julho de 1872, tendo o primeiro troço, até Braga, sido aberto à exploração em 20 de Maio de 1875.[2] As obras na Linha do Douro principiaram em 8 de Julho de 1873, tendo o primeiro tramo, entre Ermesinde e Penafiel, entrado ao serviço no dia 30 de Julho de 1875[2] O troço seguinte, até Caíde, foi inaugurado em 20 de Dezembro do mesmo ano, e a linha chegou ao Juncal em 15 de Outubro de 1877.[6]
A linha foi aberta à exploração até Régua em 15 de Julho de 1879, ao Ferrão em 4 de Abril de 1880[6], e ao Pinhão em 1 de Junho de 1880.[6]
Troço entre o Pinhão e Barca D'Alva e ligação internacional
Com a abertura do troço até ao Pinhão, concluiu-se o principal propósito da Linha do Douro, que era estabelecer uma ligação ferroviária até esta região; no entanto, já nesta altura se planeava a continuação da linha até à fronteira com Espanha em Barca d’Alva, pelo que, em 23 de Julho de 1883, foi decretada a construção deste troço.[2] A linha foi aberta, assim, até ao Tua em 1 de Setembro de 1883, e até ao Pocinho no dia 10 de Janeiro de 1887.[2] O troço entre esta estação e Barca d’Alva foi inaugurado em 9 de Dezembro de 1887,[7][8] e no mesmo dia é inaugurada a Linha Internacional de Barca d’Alva a La Fregeneda e a Salamanca, permitindo a ligação da Linha do Douro à rede ferroviária espanhola, tendo-se, desde logo, iniciado o serviço directo entre o Porto e Salamanca.[3] Esta foi a quinta ligação ferroviária internacional aberta, tendo sido construída pela Compañia de Ferro-Carril Salamanca à la Fronteira de Portugal, e financiada por um grupo de estabelecimentos bancários da Praça do Porto, denominado de Sindicato Portuense.[9][10]Também em 1887, foi inaugurado o primeiro lanço da Linha do Tua, de Foz Tua a Mirandela.[11]
A conclusão da ligação internacional foi um dos motivos para o declínio do tráfego fluvial no Rio Douro.[1]
Formação dos Caminhos de Ferro do Estado
Uma lei, promulgada em 14 de Julho de 1899, criou os Caminhos de Ferro do Estado, uma organização governamental, mas com uma certa independência, que tinha como propósito gerir as linhas que eram propriedade do governo português[12]; a Linha do Douro foi integrada na Divisão do Douro e Minho desta operadora.[13]
Fases da Construção
Entre as Estações | Extensão | Inauguração | Encerramento |
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Ermesinde – Penafiel | 30,311 km | 30 de Julho de 1875 | |
Penafiel – Caíde | 7,328 km | 20 de Dezembro de 1875 | |
Caíde – Juncal | 18,818 km | 15 de Setembro de 1878 | |
Juncal – Régua | 38,371 km | 15 de Julho de 1879 | |
Peso da Régua – Ferrão | 15,813 km | 4 de Abril de 1880 | |
Ferrão – Pinhão | 7,611 km | 1 de Junho de 1880 | |
Pinhão – Tua | 12,993 km | 1 de Setembro de 1883 | |
Tua – Pocinho | 31,678 km | 10 de Janeiro de 1887 | |
Pocinho – Côa | 9,061 km | 5 de Maio de 1887 | 18 de Outubro de 1988 |
Côa – Barca D’Alva - fronteira | 18,882 km | 9 de Dezembro de 1887 | 18 de Outubro de 1988 |
Século XX
Década de 1900
Em 7 de Fevereiro de 1902, foram aprovados dois projectos para a construção de pontes sobre o Rio Douro, sendo uma rodoviária, para acesso à Estação Ferroviária do Pinhão, e outra, de tipologia rodo-ferroviária, junto à localidade do Pocinho, para transportar a Linha do Sabor e a Estrada Real 9.[14] No início daquele ano, previu-se a introdução de carruagens de primeira classe nos serviços entre o Porto e Barca d’Alva.[15]
O troço internacional entre Barca d’Alva e Salamanca revelou-se um fracasso financeiro, o que levou, nos inícios do Século XX, à falência do Sindicato Portuense e à sua integração na Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos de Ferro Peninsulares[9]; a ligação internacional passou, então, a ser gerida pela Compañía de Ferrocarriles de Salamanca à Fronteira de Portugal, tendo sido, por diversas vezes, ainda no Século XIX, utilizada pelo Sud Expresso, porque este trajecto reduzia o tempo de percurso em cerca de 5 horas.[10]
Década de 1920
Em 1927, a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses venceu o concurso de arrendamento das linhas dos Caminhos de Ferro do Estado, tendo começado a gerir as antigas ligações desta operadora, incluindo a Linha do Douro, em 11 de Maio desse ano.[13]
Décadas de 1980 e 1990
Em 30 de Setembro de 1984 foi aprovado, pelo Governo Espanhol, o encerramento a todos os tipos de tráfego, de várias ligações ferroviárias, incluindo o troço entre La Fuente de San Esteban e La Fregeneda, que fazia parte da linha internacional até Barca d’Alva; como estava programado, este troço fechou a 1 de Janeiro do ano seguinte, junto com a linha até Barca d'Alva.[1][16] No dia 18 de Outubro de 1988, foi encerrado o troço entre as Estações de Pocinho e Barca d’Alva.[1] Este tramo foi quase totalmente abandonado, em contraste com a antiga linha em Espanha, que foi categorizada como monumento, e declarada como Bem de Interesse Cultural, sendo regularmente alvo de inspecções.[1]
Em 1995, foi duplicada a via férrea entre Ermesinde e Valongo.[17]
Século XXI
Em Agosto de 2009, foi anunciado, pela então Secretária de Estado e dos Transportes, Ana Paulo Vitorino, a intenção de reabrir o tráfego internacional desta linha, estando, naquela altura, previstos para breve o inicio dos trabalhos para recuperação do troço entre o Pocinho e Barca d’Alva, com o objectivo de o reabrir ao tráfego.[18]
Caracterização
Traçado
A linha, em grande parte do seu percurso, acompanha as margens do rio Douro, contendo a maior extensão de via férrea ladeada de água de Portugal, superando mesmo o grande troço ribeirinho da Linha da Beira Baixa, ao longo do Rio Tejo.[19]
Obras de Arte
Túneis
No seu percurso a linha tem 22 túneis:
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Pontes
Ao longo da linha existem 35 pontes:
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Exploração comercial
Hoje em dia apenas está ativo ao tráfego ferroviário (mercadorias e passageiros) no troço Ermesinde-Pocinho da linha.
Os troços entre Porto e Ermesinde, na Linha do Minho, e entre Ermesinde e Caíde, na Linha do Douro, foram totalmente renovados, tendo sido duplicados e eletrificados.
Serviços de mercadorias
A linha é explorada, no troço em funcionamento, por várias empresas de mercadorias.
Serviços de passageiros e material circulante
Na transição do Século XIX para o XX, a divisão de Minho e Douro dos Caminhos de Ferro do Estado operava, entre Penafiel, Porto e Braga, vários serviços de passageiros, sendo normalmente utilizadas carruagens com dois pisos.[20] Em 1983, realizavam-se comboios semidirectos, sendo um dos destinos a Estação de Barca d’Alva.[21]
CP Porto
A CP Porto explora, com recurso a comboios da Série 3400, o serviço entre Porto - S. Bento e Caíde. Estes efectuam esta ligação em aproximadamente 50 minutos.[22]
Também pertence à CP Porto a exploração da linha entre Caíde e o Marco de Canaveses, mas como a modernização da linha ainda não avançou além Caíde, este percurso é assegurado por automotoras a gasóleo, Série CP 592.[22]
CP Regional
Existem ainda ligações frequentes entre Porto - S. Bento ou Porto (Porto-Campanhã) - Régua (Interregional), com recurso a automotoras da Série CP 592 a gasóleo, percurso que se faz em aproximadamente 1 hora e 45 minutos. Ou ligações Caíde (onde faz ligação com os CP Porto) - Régua (Regionais), com recurso igualmente a automotoras da Série CP 592, com duração total (Porto-Régua) de aproximadamente 2 horas e 25 minutos.[22]
Relativamente à exploração (Porto - S. Bento - Pocinho), o percurso é assegurado diariamente por 5 automotoras, igualmente da Série CP 592, em aproximadamente 3h15[22].
De referir, que esporadicamente a CP, efectua o serviço (Porto - S. Bento - Pocinho), recorrendo a comboios clássicos, constituindos por carruagens Sorefame (2ª série), puxados por uma locomotiva, geralmente da Série 1400.
Também assegurado por automotoras a gasóleo, Série CP 592, existe o serviço de comboios regionais entre a Régua e o Pocinho.
Em 2005, o número de passageiros que viajavam no percurso entre Pinhão e Pocinho era muito inferior ao verificado no resto da Linha do Douro, totalizando cerca de 35 mil passageiros por ano; esta situação devia-se, principalmente, à falta de atracções turísticas, e de capacidade hoteleira, que se faziam sentir após aquele ponto.
Outra série de material circulante utilizada na Linha do Douro foi a 0600, correspondente a uma família de automotoras a gasóleo, que permitiram uma maior velocidade nos serviços da linha.
Cruzeiros
Em 2005, realizavam-se, regularmente, vários cruzeiros fluviais entre a cidade do Porto e a Estação de Régua, uma vez que existiam boas condições para o transbordo entre o Cais da Régua e esta interface.[1] Embora os cruzeiros fossem organizados até Barca d'Alva, a inexistência da ligação ferroviária naquela localidade forçava os barcos a regressar ao Pocinho, onde tomavam o comboio de regresso ao Porto; naquela altura, previa-se que a reabertura da ligação até Barca d'Alva seria utilizada por mais de 20 mil passageiros por ano, em combinação com os serviços de cruzeiros.
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