sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

REIS DE PORTUGAL - 2ª Parte : DE DOM DUARTE A DOM ANTÓNIO - O PRIOR DO CRATO.

História de Portugal
REIS DE PORTUGAL - 2ª Parte: DE DOM DUARTE A DOM ANTÓNIO - O PRIOR DO CRATO
Esta é a segunda parte duma excelente série de vídeo-programas apresentada pelo Coronel Fernandes Henriques, que nos revela programa a programa, a história de cada um dos Reis de Portugal, Rei após Rei, e com eles a história de Portugal desde a pré-história. A primeira parte foi já publicada anteriormente neste blog com o mesmo título "Reis de Portugal" e compreende os 10 primeiros programas. Em breve será publicada a terceira parte com os restantes monarcas a seguir a Dom António - O Prior do Crato até ao último reinante em Portugal.
Junto ao programa sobre cada Rei, poderá complementar o conhecimento com ampla informação escrita acerca de cada monarca.
Nesta segunda série de vídeos, gostava de salientar os referentes a El-Rei Dom Sebastião e ao Cardeal-Rei Dom Henrique. O primeiro porque nos relata com extraordinária claridade e detalhe tudo acerca da Batalha de Alcácer Quibir e o segundo porque explica muito bem o período contorbado que antecedeu à perca da independência Nacional e a subida ao trono do Rei Filipe II de Espanha, Primeiro de Portugal. Mas o princípal destes 2 programas é que permitem traçar uma comparação com o tempo actual contorbado que vivemos e percebermos que há certos sectores da nossa sociedade que então como agora, não se importam de vender a independência do País e agirem como verdadeiros traidores, se com isso tiverem lucro ou verem satisfeitas as suas ambições de poder. É nitida a forma como os que detinham um certo estatuto e poder o usavam para influenciar negativamente as decisões do Rei, ou como funcionam os jogos de interesses e a corrupção. Talvez seja por isso que alguns pretendam calar a nossa história, que ela não se ensine nas escolas, pois em episódios como estes dois que lhe referi, são claramente expostos e denunciados, aqueles que sempre estão na sombra a influenciar negativamente os destinos da Nação para seus interesses. É que a esses, não interessa que o Povo esteja alerta e perceba as suas artimanhas de traidores à Pátria e ao seu Povo.
Aqui fica revelada então, toda a história de Portugal e dos seus Reis, desde Dom Duarte a Dom António - O Prior do Crato, embora este último haja quem não o considere Rei, porque não chegou a ser aclamado em Cortes, mas levou a cabo acções de Monarca, embora por breve período, após a morte do Rei-Cardeal Dom Henrique até à subida ao trono de Dom Filipe I de Portugal - monarca com que se iniciará a terceira e última parte de "REIS DE PORTUGAL".

Género: História de Portugal
Texto: Português 
Áudio:Português
Fonte: Filmes Unimundos II - YouTube - Wikipédia














Programa 11

DOM DUARTE - O ELOQUENTE  





Duarte I de Portugal


Duarte I
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
Governo
Reinado14 de agosto de 1433 —
09 de setembro de 1438
Coroação1433Leiria
ConsorteD. Leonor de Aragão
AntecessorD. João I
HerdeiroAfonso V (filho)
SucessorD. Afonso V
DinastiaAvis
TítulosO EloquenteO Rei-Filósofo
Vida
Nascimento31 de outubro de 1391
ViseuPortugal
Morte9 de setembro de 1438 (46 anos)
TomarPortugal
SepultamentoMosteiro da BatalhaBatalha
FilhosD. João, D. Filipa, D. Afonso V, D. Maria, D. FernandoD. Leonor, D. Duarte, D. Catarina,D. Joana
PaiD. João I
MãeD. Filipa de Lencastre
AssinaturaAssinatura de Duarte I
Duarte I de Portugal (Viseu31 de Outubro de 1391 – Tomar9 de Setembro de 1438) foi o décimo-primeiro Rei de Portugal, cognominado o Eloquente pelo seu interesse pela cultura e pelas obras que escreveu. Filho de D. João I de Portugal e D. Filipa de Lencastre, desde cedo foi preparado para reinar como primogénito da ínclita geração. Em 1433sucedeu a seu pai. Num curto reinado de cinco anos deu continuidade à política exploração marítima e de conquistas em África. O seu irmão Henrique estabeleceu-se em Sagres, de onde dirigiu as primeiras navegações e, em 1434Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador. Numa campanha mal sucedida a Tânger o seu irmão D. Fernando foi capturado e morreu em cativeiro. D. Duarte interessou-se pela cultura e escreveu várias obras, como o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela. Preparava uma revisão da legislação portuguesa quando morreu, vitimado pela peste.

Reinado

D. Duarte recebeu o seu nome em homenagem ao avô de sua mãe, o rei Eduardo III da Inglaterra. Desde muito jovem, D. Duarte acompanhou o seu pai nos assuntos do reino, sendo portanto um herdeiro preparado para reinar; em 1412foi formalmente associado à governação pelo pai, tornando-se seu braço direito.

Estátua de D. Duarte em Viseu
Ao contrário de D. João I, D. Duarte foi um monarca preocupado em gerar consenso e ao longo do curto reinado de cinco anos convocou as Cortes cerca de cinco vezes, para discutir assuntos de estado. Várias vezes as Cortes tinham pedido a D. João I a organização de uma colectânea em que se coordenasse e actualizasse o direito (lei) vigente, para a boa fé e fácil administração na justiça. Para levar a cabo essa obra, D. Duarte designou o doutor Rui Fernandes, que a concluiu em 1446. Posteriormente revista por ordem do infante D. Pedro, ela se converteria nas Ordenações Afonsinas.
D. Duarte deu continuidade à política de incentivo à exploração marítima e de conquistas em África. Durante o seu reinado, o seu irmão Henrique estabeleceu-se em Sagres, a partir de onde dirigiu as navegações: assim, em 1434 Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador, um ponto lendário da época, cuja travessia causava terror aos marinheiros; daí avançou-se para Angra dos Ruivos em 1435, e Afonso Gonçalves Baldaia atingiu o Rio do Ouro ePedra da Galé em 1436.
Em 1437, os seus irmãos Henrique e Fernando convenceram-no a lançar um ataque a Marrocos, de forma a consolidar a presença portuguesa no norte de África, que se pretendia uma base para a exploração do Oceano Atlântico. A ideia não foi consensual: D. Pedro, Duque de Coimbra e D. João, Infante de Portugal estavam contra a iniciativa de atacar directamente o rei de Marrocos.
A campanha foi mal sucedida e a cidade de Tânger não foi conquistada,custando a derrota grandes perdas em batalha. O próprio príncipe Fernando foi capturado e morreu em cativeiro, por recusar-se a ser libertado em troca da devolução de Ceuta, o que lhe valeu o cognome de "Infante Santo". O próprio D. Duarte morreu pouco tempo depois de peste.
Fora da esfera política, Duarte foi um homem interessado em cultura e conhecimento. Escreveu vários livros de poesia e prosa. Destes últimos destaca-se o Leal Conselheiro (um ensaio sobre variados temas onde a moral e religião têm especial enfoque) e a Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela (em forma de manual para cavaleiros). Estava a preparar uma revisão do código civil português quando a doença o vitimou.
Jaz nas Capelas Imperfeitas do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.

Obra

-Leal Conselheiro, obra moral, endereçada a sua mulher, Leonor de Aragão.
-Ainda compôs um livro de Regimento pera os que custumarem andar a cavallo o Bem Cavalgar. (Ruy de Pina, Cronica d'el-rei dom Duarte, capitulo iii).

Títulos, estilos, e honrarias

O estilo oficial de D. Duarte enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Duarte I, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta

Descendência

Da sua esposa, a infanta Leonor de Aragão (1402-1455), teve nove filhos. A rainha tornar-se-ia regente do reino até Afonso V atingir a maioridade, o que gerou controvérsia no reino, pois a opinião pública considerava os infantes D. PedroD. Henrique e D. João mais capazes para a regência.
D. Leonor manteve-se regente até 1440, assinando os atos régios como «a triste rainha», e nesse ano foi substituída pelo infante D. Pedro e afastada da corte. Exilou-se em Espanha e morreu em Toledo. Deste casamento nasceram:
D. Joana de Portugal (1439-1475), casou com o rei Henrique IV de Castela e foi mãe de Joana a Beltraneja ou a Excelente Senhora     


Programa 12

DOM AFONSO V - O AFRICANO  




 


Afonso V de Portugal


Afonso V
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
D. Afonso V na Tomada de Arzila - Tapeçarias de Pastrana.png
D. Afonso V durante a Conquista de ArzilaTapeçarias de Pastrana (século XV).
Governo
Reinado9 de setembro de 1438 —
29 de agosto de 1481
Coroação11 de setembro de 1438,Tomar
ConsorteD. Isabel
D. Joana
AntecessorD. Duarte I
HerdeiroJoão II (filho)
SucessorD. João II
DinastiaAvis
TítulosO Africano
Vida
Nascimento15 de janeiro de 1432
SintraPortugal
Morte29 de agosto de 1481 (49 anos)
SintraPortugal
SepultamentoMosteiro da BatalhaBatalha
FilhosD. JoãoD. JoanaD. João II
PaiD. Duarte
MãeD. Leonor de Aragão
Afonso V de Portugal, (Sintra15 de janeiro de 1432 - Sintra, 28 de agosto de 1481), foi o décimo-segundo Rei de Portugal, cognominado o Africano pelas conquistas no Norte de África. Filho do rei D. Duarte, sucedeu-lhe em 1438 com apenas seis anos. Por ordem paterna a regência foi atribuída a sua mãe, D. Leonor de Aragão mas passaria para o seu tio D. Pedro, Duque de Coimbra, que procurou concentrar o poder no rei em detrimento da aristocracia e concluiu uma revisão na legislação conhecida como Ordenações Afonsinas. Em 1448, D. Afonso V assumiu o governo, anulando os editais aprovados durante a regência. Com o apoio do tio homónimo D. Afonso I, Duque de Bragança declarou D. Pedro inimigo do reino, derrotando-o na batalha de Alfarrobeira. Concentrou-se então na expansão no norte de África, onde conquistou Alcácer CeguerAnaféArzilaTânger e Larache. Concedeu o monopólio do comércio na Guiné a Fernão Gomes da Mina, com a condição de este explorar a costa, o que o levaria em 1471 à Mina, onde descobriu um florescente comércio de ouro cujos lucros auxiliaram o rei na conquista. Em 1475, na sequência de uma crise dinástica, D. Afonso V casou com a sobrinha D. Joana de Trastâmara assumindo pretensões ao trono de Castela, que invadiu. Após não obter uma clara vitória na Batalha de Toro, com sintomas de depressão, D. Afonso abdicou da coroa para o filho, D. João II de Portugal, falecendo em 1481.[1]

Biografia

Início de vida


Retrato de D. Afonso V com cerca de 25 anos, por Georg von Ehingen (1428-1508). George von Ehingen foi um cavaleiro da Suábia que esteve no exército de D. Afonso V em Ceuta, em 1458-59.
D. Afonso V de Portugal era filho do rei D. Duarte I de Portugal e de sua mulher, a princesa D. Leonor de Aragão, ele nasceu em 15 de janeiro de 1432, na Sintra.[2] D. Afonso V sucedeu a seu pai em 1438, com apenas seis anos.[1]Durante a menoridade, Portugal foi regido pela sua mãe, D. Leonor de Aragão, de acordo com o desejo expresso em testamento pelo rei Duarte de Portugal. No entanto, por ser mulher e estrangeira, D. Leonor de Aragão não era uma escolha popular e a oposição cresceu. O único aliado da rainha mãe era D. Afonso, irmão ilegítimo de D. Duarte e Conde de Barcelos.
Em 1439, as Cortes decidem retirar a regência a Leonor e entregá-la a D. Pedro, Duque de Coimbra, o tio mais velho de D. Afonso. Como regente, D. Pedro procurou limitar o desenvolvimento de grandes casas aristocráticas e concentrar o poder na pessoa do rei. Por sua ordem, cerca de 1448, foram revistas e concluídas as chamadas Ordenações Afonsinas (embora incluam leis de 1454), a primeira compilação oficial de leis do século XV, resultado de um pedido das Cortes a D. João I para a organização de uma colectânea em que se coordenasse e actualizasse o direito vigente, para a boa fé e fácil administração na justiça.
O país prosperou sob a sua alçada, mas o ambiente político não era o mais saudável uma vez que D. Pedro interferia com a ambição dos nobres. D. Afonso, Conde de Barcelos, inimigo pessoal de D. Pedro, apesar de serem meios-irmãos, tornou-se no tio favorito de D. Afonso V e começou a conspirar pelo poder. Em 1442, D. Afonso V nomeia este tio como primeiro Duque de Bragança. Com este título e terras adjacentes, D. Afonso I, Duque de Bragança torna-se no homem mais poderoso de Portugal e num dos mais ricos da Europa. Para assegurar a sua influência junto de D. Afonso V, D. Pedro organiza o casamento do jovem rei com a sua filha D. Isabel.

Reinado


Afonso V de Portugal
A 9 de junho de 1448, D. Afonso V atinge a maioridade e assume o governo do Reino.[1] A 15 de setembro do mesmo ano, desejoso de mostrar independência política, anula todos os editais aprovados durante a regência. A situação torna-se instável e, no ano seguinte, levado por informações que mais tarde viriam a provar-se falsas, D. Afonso declara o tio e sogro, D. Pedro, rebelde e inimigo do Reino. Juntamente com D. Afonso de Bragança, derrota o Duque de Coimbra na batalha de Alfarrobeira, onde este é morto em combate. Depois desta batalha e da perda deste notável príncipe da Ínclita geração, D. Afonso V passa a ser muito influenciado pelo Duque de Bragança.

mapa-múndi de Fra Maurorealizado sob encomenda de D. Afonso V em 1457, reunia o conhecimento geográfico da época. Concluído a 24 de abril de 1459, foi enviado para Portugal com uma carta dirigida ao Infante D. Henrique, tio de Afonso V, encorajando a continuar o financiamento de viagens de exploração. Cópia de Andrea Bianco na Biblioteca Marciana - Veneza.
Finda a instabilidade interna, a atenção de D. Afonso V concentrou-se na expansão noNorte de África, iniciada por seu avô D. João I em 1415 com a conquista de Ceuta. Em 1453, dá-se a queda de Constantinopla e o papa Calisto III, em 1456, apela a uma cruzada, a que D. Afonso V responde preparando um grande exército. Mas, frustrada esta missão, D. Afonso V retoma a campanha no Norte de África. O exército real conquistou, nas campanhas que valeram a D. Afonso o cognome de o AfricanoAlcácer Ceguer (1458), Anafé (1464) e Arzila (1471); com a tomada desta praça caíram também nas mãos dos Portugueses as praças de Tânger e Larache. O rei subsidiou ainda as explorações do oceano Atlântico, concedendo o comércio na Guiné a Fernão Gomes da Mina, com a condição de descobrir todos os anos 100 léguas de costa, o que o levaria até à costa de São Jorge da Mina. Organizadas pelo seu tio, o Infante D. Henrique, estas viagens não tiveram continuidade depois da morte deste em 1460. Do ponto de vista administrativo, D. Afonso foi um rei ausente, pouco preocupado com o desenvolvimento do comércio e a administração do Reino.
Com as campanhas africanas terminadas, D. Afonso V encontrou novas batalhas, desta vez políticas, na península Ibérica e na vizinha Castela, onde um escândalo de consequências dinásticas acabava de começar. O rei Henrique IV de Castelamorreu em 1474, tendo como única herdeira D. Joana. Mas a paternidade da princesa era contestada com base na suposta homossexualidade do rei e na relação da rainha, D. Joana de Trastâmara, irmã de D. Afonso, com um nobre chamado Beltrán de La Cueva. A nobreza e o clero estavam divididos, e uma parte apoiou a irmã de D. Henrique e tia de D. Joana, coroada como rainha Isabel I. É neste ponto que D. Afonso V interfere, casando, em 1475, com a sobrinha e assumindo as suas pretensões ao trono. D. Afonso V declara-se rei de Castela e invade o país vizinho. A campanha resulta em fracasso, quando D. Afonso abandona o campo da Batalha de Toro, com sintomas de depressão[1] onde as tropas de Castela foram lideradas pelo rei Fernando II de Aragão, recentemente casado com Isabel. D. Afonso procurou ainda o apoio de Luís XI de França, mas ao ver-se traído regressa a Portugal em 1477.
No desenvolvimento da Guerra da Beltraneja assinou com os Reis Católicos o Tratado das Alcáçovas-Toledo, inicialmente na vila portuguesa de Alcáçovas, noAlentejo, a [[4 de setembro de 1479, colocando fim à Guerra de Sucessão de Castela (1479-1480) e posteriormente ratificado na cidade castelhana de Toledo, a 6 de março de 1480. Além de formalizar o fim das hostilidades (pelo qual Joana e seu tio e marido Afonso V de Portugal, desistiam para sempre das suas pretensões ao trono de Castela), o Tratado continha cláusulas concernentes à política de projeção externa de ambos os países, num momento em que os dois reinos competiam pelo domínio do oceano Atlântico e das terras até então descobertas na costa africana: Portugal obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, oarquipélago dos Açores, o de cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias (exploradas por Diego Garcia de Herrera em 1476), renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam as próprias ilhas. Regulamentava também as áreas de influência e de expansão de ambas as coroas pelo Reino Oatácida de Fez, no Norte de África.
Desiludido e com sintomas de depressão, D. Afonso retira-se para o convento de Varatojo em Torres-Vedras e abdica para o filho D. João, futuro D. João II de Portugal. Tendo-se retirado da vida política, morre em 1481 aquando da sua chegada a Sintra. A descrição[1] da sua morte é a de que pediu, e lhe deram, um copo de água, e que morreu de seguida.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Afonso V de Portugal
Brasao de Aviz2.png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1385-1580)
Estilo realSua Alteza Real
Tratamento directoVossa Alteza Real
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

Aquando da sua coroação, o estilo oficial de D. Afonso V enquanto Rei de Portugal era:
Pela Graça de Deus, Afonso V, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta
Após a conquista de Alcácer-Ceguer, em 1458:
Pela Graça de Deus, Afonso V, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta e de Alcácer em África
Em 1471, com a conquista de Arzila e Tânger e elevação do senhorio do Norte de África à condição de Reino d'Além-Mar, a titulatura passa a:
Pela Graça de Deus, Afonso V, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África
Durante a pretensão de D. Afonso V à Coroa de Castela (1475-1479), pelo seu casamento com Joana, a Beltraneja:
Pela Graça de Deus, Afonso V, Rei de Castela, de Leão, de Portugal, de Toledo, de Galiza, de Sevilha, de Córdova, de Jáen, de Múrcia, dos Algarves d'Aquém e d'Além Mar em África, de Gibraltar, de Algeciras, e Senhor da Biscaia e de Molina
Após a Paz de Alcáçovas-Toledo em 1479, e renúncia aos títulos castelhanos, o estilo oficial reverte para:
Pela Graça de Deus, Afonso V, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Afonso V foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência




Programa 13
DOM JOÃO II - O PRÍNCIPE PERFEITO 

















João II de Portugal


João II
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
Joao II de Portugal.png
Governo
Reinado29 de agosto de 1481 —
25 de outubro de 1495
Coroação31 de Agosto de 1481Sintra
ConsorteLeonor de Viseu
AntecessorAfonso V
HerdeiroAfonso (filho)
Manuel I (primo)
SucessorManuel I
DinastiaAvis
TítulosO Príncipe Perfeito
Vida
Nascimento3 de março de 1455
LisboaPortugal
Morte25 de outubro de 1495 (40 anos)
AlvorPortugal
SepultamentoMosteiro da BatalhaBatalha
FilhosAfonso de PortugalJorge de Lancastre, Brites
PaiAfonso V
MãeIsabel de Portugal
João II de Portugal (Lisboa3 de maio de 1455 – Alvor25 de outubro de 1495) foi o décimo-terceiro Rei de Portugal, cognominado O Príncipe Perfeito pela forma como exerceu o poder. Filho do rei Afonso V de Portugal, acompanhou o seu pai nas campanhas em África e foi armado cavaleiro na tomada de Arzila. Enquanto Afonso V enfrentava os castelhanos, o príncipe assumiu a direcção da expansão marítima portuguesa iniciada pelo seu tio-avô Infante D. Henrique.
Dom João II de Portugal sucedeu ao seu pai após a sua abdicação em 1477, mas só ascendeu ao trono após a sua morte, em 1481. Concentrou então o poder em si, retirando-o à aristocracia. Nas conspirações que se seguiram suprimiu o poder da casa de Bragança e apunhalou pelas suas próprias mãos o seu primo Diogo, Duque de Viseu. Governando desde então sem oposição, João II foi um grande defensor da política de exploração atlântica, dando prioridade à busca de um caminho marítimo para a Índia. Após ordenar as viagens de Bartolomeu Dias e de Pêro da Covilhã, foi João II que delineou o projecto da primeira viagem.
O seu único herdeiro, o príncipe Afonso de Portugal estava prometido desde a infância a Isabel de Aragão e Castela, ameaçando a herdar os tronos de Castela e Aragão. Contudo o jovem príncipe morreu numa misteriosa queda em 1491 e durante o resto da sua vida D. João II tentou, sem sucesso, obter a legitimação do seu filho bastardo Jorge de Lancastre. Em 1494, na sequência da viagem de Cristóvão Colombo, que recusara, D. João II negociou o Tratado de Tordesilhas com os reis católicos. Morreu no ano seguinte sem herdeiros legítimos, tendo escolhido para sucessor o duque de Beja, seu primo direito e cunhado, que viria a ascender ao trono como Manuel I de Portugal.


Antes do trono


D. João II é armado cavaleiro por D. Afonso V, na cidade de Arzilapor Domingos Sequeira
João II de Portugal nasceu no Paço das Alcáçovas, no Castelo de São Jorge. Era filho do rei Afonso V de Portugal e de Isabel de Coimbra, princesa de Portugal. João II sucedeu ao seu pai após a sua abdicação, em1477; no entanto, D. Afonso V retornou e logo João lhe devolveu o poder, e só se tornou de novo rei após a sua morte em 1481. Como príncipe, João II acompanhou o seu pai nas campanhas em África e foi armado cavaleiro por D. Afonso V, depois da tomada de Arzila a 21 de agosto de 1471, junto ao corpo do conde de Marialva, perecido nessa batalha. No início desse ano, a 22 de janeiro, em Setúbal, desposou Leonor de Viseu, princesa de Portugal e sua prima direita, filha do infante Fernando. Fruto desta união, nasce em 1475 o infante Afonso.
Em 1474 assumiu a direcção da política da expansão enquanto Afonso V travava luta com os castelhanos e, a 25 de abril do ano seguinte, assumiu a regência do reino que, por ir socorrer o pai a Espanha, passara para o encargo de Leonor. Participou, a 2 de março, na batalha de Toro.

A época das conspirações e da morte dos conspiradores

Desde jovem que João não era popular junto dos pares do reino, visto que parecia ser imune a influência externa e desprezava a intriga. Os nobres poderosos, nomeadamente Fernando IIduque de Bragança, tinham medo da sua governação e, assim que ganhou as rédeas do país, João provou que tinham razão para isso.
Depois da sua ascensão ao trono, o monarca tomou uma série de medidas com vista a retirar poder à aristocracia e a concentrá-lo em si próprio. Imediatamente, começaram as conspirações mas inicialmente o rei adoptou uma posição de mero observador. Cartas de reclamação e pedidos de intervenção foram trocadas entre o duque de Bragança e os reis católicos de Espanha. O escrivão de sua Fazenda em Vila Viçosa e um mensageiro, entregaram ao rei correspondência comprometedora com os Reis Católicos em 1483. Foi o próprio monarca quem prendeu o duque de Bragança, ao fim de uma conversa a sós, em Évora. Foi julgado ao longo de 22 dias, em uma sala revestida de tapetes, à volta de uma mesa onde se encontravam 21 juízes, fidalgos e cavaleiros, com o rei sentado no topo e, em algumas sessões, com o réu a seu lado. A votação, iniciada com um discurso do monarca, consumiu dois dias e terminou com a condenação do duque à morte. No dia seguinte, 20 de junho de 1483, Fernando foi degolado na praça de Évora, diante do povo. O episódio é narrado pelos cronistas Garcia de Resende e Rui de Pina.[1]
No ano seguinte, o duque de ViseuD. Diogo, primo e cunhado de João II (irmão da rainha D. Leonor), concebeu um plano para apunhalar o soberano na praia, em Setúbal. Um dos envolvidos avisou o monarca, que decidiu viajar por terra, inviabilizando o plano dos conspiradores. Mandou então chamar ao palácio o duque e apunhalou-o pessoalmente. Depois de eliminar o cunhado, o rei enviou dois emissários à mãe do duque, comunicando o ocorrido. Chamou ainda um irmão do falecido, D. Manuel, e explicou-lhe que tinha esfaqueado o duque porque ele "o quisera matar", prometendo-lhe que, se o príncipe D. Afonso viesse a falecer, e não tivesse mais nenhum filho legítimo, ficaria D. Manuel como herdeiro de todos os seus reinos e senhorios. [nota 1]
Na sequência, mais de 80 pessoas foram perseguidas por suspeita de envolvimento nesta conspiração. Outras foram executadas, assassinadas ou exiladas para Castela, incluindo o bispo de ÉvoraGarcia de Meneses, envenenado na prisão. Diz a tradição que João II comentou, em relação à limpeza no país: eu sou o senhor dos senhores, não o servo dos servos.
Depois destes eventos, mais ninguém em Portugal ousou desafiar ou conspirar contra o rei, que não hesitava em fazer justiça pelas suas próprias mãos. João II podia agora governar o país sem que ninguém se lhe opusesse.

A exploração marítima


D. João IIIluminura no Livro dos Copos, c. 1490 a 1498
Pouco depois de subir ao trono, em 1482, João II centralizou na coroa a exploração e comércio na costa da Mina e Golfo da Guiné, determinando a construção de uma feitoria para apoiar o florescente comércio do ouro de aluvião na região. Sob o comando de Diogo de Azambuja foi rapidamente construído o "Castelo de São Jorge da Mina"[3] com pedra previamente talhada e numerada em Portugal, enviada como lastro nos navios, sistema de construção depois adoptado para numerosas fortificações.
João II foi um grande defensor da política de exploração atlântica iniciada pelo seu tio-avô o Infante D. Henrique. Osdescobrimentos portugueses serão a sua prioridade governamental, bem como a busca do caminho marítimo para a Índia. Durante o seu reinado conseguiram-se os seguintes feitos:
A totalidade das descobertas portuguesas do reinado de João II permanece desconhecida. Muita informação foi mantida em segredo por razões políticas e os arquivos do período foram destruídos no Terramoto de 1755. Os historiadores ainda discutem a sua verdadeira extensão, suspeitando que navegadores portugueses chegaram à América antes de Cristóvão Colombo. Para suportar esta hipótese são citados com frequência os cálculos mais precisos que os portugueses tinham do diâmetro da Terra. No fim do século XV, havia em Portugal uma escola de navegação, cartografia e matemática há mais de oitenta anos, onde os cientistas mais talentosos se dedicavam à investigação. Enquanto Colombo acreditava poder chegar à Índia seguindo para oeste, é provável que João II já soubesse da existência de um continente no meio. As viagens do misterioso capitão Duarte Pacheco Pereira, para oeste de Cabo Verde foram possivelmente mais importantes do que as interpretações tradicionais supõem. Portanto, quando Colombo pediu apoio para a sua viagem, João II recusou. Colombo, capitão sem experiência atlântica, partia de uma suposição que o rei sabia estar errada. Decidido a chegar à Índia pelo ocidente, contornando África, não havia razão para subsidiar a expedição. Em 1492, ao serviço dos reis de Castela e Aragão, Colombo descobriu oficialmente a América. Até à sua morte, esteve convencido que havia chegado à Índia. Este evento iniciou entre Portugal e Castela uma série de disputas sobre o domínio dos mares. Foi esta rivalidade que levou à assinatura do Tratado de Tordesilhas a 7 de junhode 1494. O tratado definia o semi-meridiano de Tordesilhas e estipulava que as terras a este desta linha seriam possessões portuguesas, enquanto que a outra metade do mundo seria espanhola.

Os elogios de Angelo Poliziano

O reputado humanista Angelo Poliziano numa carta enviada a D. João II em 1491, faz desta forma um elogio às suas proezas: [4]
que grandioso e vasto quadro de proezas apenas acreditáveis se me não oferecia, se eu fosse comemorar as vagas do túmido e soberbo oceano, antes intactas e sem carreira aberta, provocadas e quebrantadas pelos vossos lenhos, as balizas de Hércules desprezadas, o mundo que havia sido mutilado, restituído a si mesmo (...)
Oferecendo-se ao seu serviço, para escrever uma epopeia digna dos feitos do monarca, lembra que deve seguir Alexandre Magno e Júlio César no cuidado em deixar inscritas as suas memórias:
Acordai-vos de Alexandre, acordai-vos de César, os dois nomes principais que a fastosa antiguidade nos alardeia. (...)
A estes, logo, vós deveis, ao menos imitar, a estes a quem nos outros respeitos desmesuradamente vos avantajais.
A epopeia dos descobrimentos, a que se propunha Poliziano, foi só realizada quase um século depois por Luís de Camões. Poliziano morre em 1494 e D. João II em 1495, ambos com suspeitas de envenenamento.

O problema da descendência

Realeza Portuguesa
Casa de Avis
Descendência
Ordem Avis.svg
Mas a divisão do mundo não era o único assunto pendente entre os reinos ibéricos. Os reis católicos tinham várias filhas, mas apenas um filho, Juan, de saúde frágil. A filha mais velha, Isabel, era casada com o príncipe Afonso de Portugal desde a infância. Se Juan morresse sem deixar herdeiros, o mais provável seria Afonso, único filho de João II, tornar-se rei não só de Portugal, mas também de Castela e Aragão. Esta ameaça à coroa espanhola era bem real: Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela tentaram todas as vias diplomáticas para dissolver o casamento, sem qualquer sucesso. Finalmente, em 1491, o príncipe Afonso morre em consequência de uma misteriosa queda de cavalo durante um passeio à beira do rio Tejo. A ligação dos reis católicos ao acidente nunca foi provada, mas eram eles quem mais tinha a ganhar.
Durante o resto da sua vida, João II tentou, sem sucesso, obter a legitimação do seu filho bastardo, Jorge. Jorge, Duque de Coimbra, era fruto da relação adúltera do rei com Ana Furtado de Mendonça, filha de um fidalgo da corte e dama de honor da princesa Joana, a Beltraneja.
João II morreu em 1495, sem herdeiros legítimos. Dado o ódio que a nobreza portuguesa sempre lhe teve, a hipótese de envenenamento por um copo de água que tomou não é de excluir. Antes de morrer, João II escolheu Manuel de Viseu, duque de Beja, seu primo direito e cunhado (era irmão da rainha Leonor) para sucessor.
A rainha Isabel, a Católica, de Castela, por ocasião da sua morte, terá afirmado «Murió el Hombre!», referindo-se ao monarca português como o Homem por antonomásia, devido às posições de força que assumira durante o seu reinado.
Foi-lhe atribuído o cognome o Príncipe Perfeito pois foi graças às medidas por ele implantadas que emergiu triunfante o valor da sua obra, ou seja, a época de ouro de Portugal.
Jaz no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Aquando da sua morte em Alvor (Portimão), havia sido sepultado na Sé de Silves mas em 1499 os seus restos mortais foram exumados e trasladados para o seu atual local de sepultamento. Como forma de agradecimento à cidade de Silves por ter acolhido os restos mortais do monarca, pensa-se que D. Manuel I terá encomendado a chamada Cruz de Portugal, património nacional desde 1910.
Foram impressas uma nota de 1.000 angolares de Angola e uma nota de 500$00 Chapa 10 de Portugal com a sua imagem.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
João II de Portugal
Brasao de Aviz2.png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1385-1580)
Estilo realSua Alteza Real
Tratamento directoVossa Alteza Real
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. João II enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, João II, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África
Em 1485, com a criação do senhorio da Guiné abrangendo as possessões portuguesas que se estendiam pelo Golfo da Guiné, o estilo passa a:
Pela Graça de Deus, João II, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. João II foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência



Programa 14
DOM MANUEL I - O VENTUROSO 



Manuel I de Portugal


Manuel I
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
Governo
Reinado25 de outubro de 1495 —
13 de dezembro de 1521
Coroação27 de Outubro de 1495, Alcácer do Sal
ConsorteIsabel de Aragão
Maria de Aragão
Leonor de Áustria
AntecessorJoão II
HerdeiroJoão III (filho)
SucessorJoão III
DinastiaAvis
TítulosO Venturoso
Vida
Nascimento31 de maio de 1469
AlcochetePortugal
Morte13 de dezembro de 1521 (52 anos)
LisboaPortugal
SepultamentoMosteiro dos JerónimosLisboa
FilhosMiguel da PazJoão IIIIsabel,BeatrizLuísFernandoAfonso, Maria, Henrique IDuarteAntónio, Carlos, Maria
PaiFernando de Viseu
MãeBeatriz
AssinaturaAssinatura de Manuel I
Manuel I de Portugal (Alcochete31 de maio de 1469 — Lisboa13 de dezembro de 1521) foi o 14.º Rei de Portugal, cognominado O VenturosoO Bem-Aventurado ou O Afortunado tanto pelos eventos felizes que o levaram ao trono, como pelos que ocorreram no seu reinado. Manuel I ascendeu inesperadamente ao trono em 1495 em circunstâncias excepcionais, sucedendo ao seu primo direito João II de Portugal, de quem se tornara protegido. Prosseguiu asexplorações portuguesas iniciadas pelos seus antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia, do Brasil e das ambicionadas "ilhas das especiarias", as Molucas, determinantes para a expansão do império português. Foi o primeiro rei a assumir o título de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia. Em 1521, promulgou uma revisão da legislação conhecida como Ordenações Manuelinas, que divulgou com ajuda da recente imprensa. No seu reinado, apesar da sua resistência inicial, cumprindo as cláusulas do seu casamento com Dona Maria de Aragão, viria a autorizar a instalação da inquisição em Portugal. Com a prosperidade resultante do comércio, em particular o de especiarias, realizou numerosas obras cujo estilo arquitectónico ficou conhecido como manuelino.

Infância e juventude

Constantes surtos de peste negra em Lisboa, capital do Reino, levaram a corte e a nobreza dos séculos XIV e XV a instalarem-se em Alcochete, nomeadamente o rei João I e, em meados do século XV, o seu neto infante Fernando, Duque de Viseu. Aí, na vila de Alcochete, nasceu em 1469 Manuel, filho de Fernando, Duque de Viseu e de Beatriz de Portugal.

Armas de Manuel I de Portugal, Livro do Armeiro-Mor, 1509
Durante a infância e a juventude, assistiu à guerra de intriga e conspiração entre a aristocracia e o seu primo direito João II, muito cioso do seu poder. Alguns homens do seu círculo próximo foram mortos ou exilados, incluindo o seu irmão mais velho Diogo, Duque de Viseu, assassinado pelo próprio rei. Sucedeu-lhe como 5º Duque de Viseu, 5º Senhor da Covilhã e 4º Duque de Beja, 4º Senhor de Moura. Portanto, quando em 1493 recebeu uma ordem real de comparência no paço, Manuel I deveria estar preocupado. Mas o propósito de João II era nomeá-lo herdeiro da coroa, depois da morte do seu filho Afonso de Portugal e das tentativas frustradas de legitimar o bastardo Jorge de Lencastre.
Manuel I ascendeu ao trono em circunstâncias excepcionais, sucedendo João II de Portugal em 1495 de quem se tornara uma espécie de «filho adoptivo»[1]

Política externa e descobrimentos


Esfera armilar, divisa de Manuel I conferida por João II que, tendo escrito no meridiano "Spera Mundi" foi, mais tarde, interpretada como sinal de um desígnio divino para o reinado de Manuel,Igreja Matriz da Golegã
Aclamado em 27 de Outubro de 1495, Manuel I provou ser um sucessor à altura, apoiando os descobrimentos portugueses e o desenvolvimento dos monopólios comerciais. Durante seu reinado, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia (1498),Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil (1500), Francisco de Almeida tornou-se no primeiro vice-rei da Índia (1505) e o almiranteAfonso de Albuquerque assegurou o controlo das rotas comerciais do oceano Índico e golfo Pérsico e conquistou para Portugal lugares importantes como MalacaGoa e Ormuz.
Também no seu reinado organizam-se viagens para ocidente, tendo-se chegado à Gronelândia e à Terra Nova. O seu reinado decorreu num «contexto expansionista, já preparado por seu antecessor - e marcado pela descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1498 e pelas consequências políticas e económicas que advieram deste facto».[1]
A extensão de seu reinado «permite surpreender nele uma personagem determinada, teimosa, voluntariosa, autocrática, detentora de um programa político de potenciação do seu poder dotado de uma assombrosa coerência, posto em prática até ao seu mais ínfimo detalhe.
Manuel I opta por uma política de expansão indiana e põe em prática os seus princípios, criando a oportunidade para a realização daviagem de Vasco da Gama em 1497, contra, ao que parece, a oposição de parte do seu conselho. Escolhe, ainda, a via da inversão pró-aristocrática, ou seja, de restauração de privilégios e direitos antes postos em causa e isto certamente por opção política de Estado. O rei edifica, igualmente, um Estado que prenuncia em boa medida o absolutismo régio e o governo iluminado, por contraponto, aliás, ao problemático e agitado centralismo do seu antecessor João II.[1]
Tudo isto contribuiu para a constituição do Império Português, fazendo de Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa. Manuel I utilizou a riqueza obtida pelo comércio para construir edifícios reais, no que se chamaria muito posteriormente estilo manuelino, dos que são exemplo o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Atraiu cientistas para a corte de Lisboa e estabeleceram-se tratados comerciais e relações diplomáticas com a China e a Pérsia, além de que, em Marrocos, realizaram-se conquistas como SafimAzamor e Agadir.
A sua completa consagração europeia deu-se com a aparatosa embaixada em 1514, chefiada por Tristão da Cunha, enviando ao papa Leão X presentes magníficos como pedrarias, tecidos e jóias. Dos animais raros, destacaram-se um cavalo persa e um elefante, chamado Hanno, doravante mascote do papa, que executava várias habilidades. Mas uma das inúmeras novidades que encantaram os espíritos curiosos das cortes europeias da época terá sido sem dúvida o rinoceronte trazido das Índias, que assumiu, então, um papel preponderante na arte italiana.

Política interna


Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um dos legados mais exuberantes do estilo manuelino.
Na vida política interna, Manuel I seguiu as pisadas de João II e tornou-se quase num rei absoluto. As cortes foram reunidas apenas três vezes durante o seu reinado de mais de vinte e cinco anos, e sempre no paço de Lisboa. Manuel I dedicou-se à reforma dostribunais e do sistema tributário, adaptando-o ao progresso económico que Portugal então vivia.
Analisando-se a sua obra, verifica-se que avulta a tentativa de reforma do reino, «através da criação de instrumentos unificadores de carácter estatal, como sejam a publicação dos Forais Novos, reformando os antigos, a Leitura Nova (1504-1522), a compilação e revisão da legislação, consagrada pelas Ordenações Manuelinas, a reorganização da Fazenda Pública e a estruturação administrativa daí decorrente. Com ele organiza-se o Estado moderno».[2] Prova de que Manuel foi um rei que se preocupou em preservar a justiça e a boa ordem do Reino, é que durante seu reinado não apenas as Ordenações do Reino foram reformadas, mas também os Forais, a Ordenação e Regimento dos Pesos (1502), o Regimento dos Oficiais das Cidades, Vilas e Lugares destes Reinos (1504), os Artigos das Sisas (1512), o Regimento dos Contadores das Comarcas (1514), o Regimento das Ordenações da Fazenda (1516) e as Ordenações da Índia (1520). Obras de caráter burocrático fundamentais para a administração e organização do Reino português.

Absolutismo de direito divino


Ordenações Manuelinas,xilogravura da edição de 1514, impressa por João Pedro Buonhomini nas instalações deValentim Fernandes, em Lisboa
Em seis gravuras constantes da edição das Ordenações de 1514 - a única ilustrada - vemos o rei em majestade, portando uma coroa aberta e armadura, ladeado pela sua divisa, a esfera armilar e pelas armas do Reino, representada pelo escudo manuelino. Na sua mão direita está sempre o cetro real, símbolo da justiça, a que se prende uma fita, chamada filactério, onde se lê DEO IN CELO TIBI AVTEM IN MVNDO («A Deus no céu e a ti na terra»). É evidente a intenção de representar a ligação entre o terreno e o divino, e lembrar a noção de dualidade especular entre uma corte terrena, encabeçada pelo rei e uma corte celestial encabeçada por Cristo[3] . Isto reforça a ligação de Manuel com o messianismo e com a ideia de um rei enviado por Deus, um escolhido para representar a cristandade ante o novo horizonte que se descortinava com os descobrimentos. E de fato a sua imagem que passou à História foi a de um rei representante de Cristo, Senhor personificado na figura divina da Justiça, do “perfeito-monarca” e do “rei arquétipo”[4] .
O rei era representado como o centro coordenador e a ele cabia, na mais alta composição, o mais nobre dos ofícios: ministrar a justiça. Essa ligação entre o terreno e o espiritual está também presente no ideal régio que é justificado por João de Barros no Panegírico, “porque sendo Deus perfeita justiça, os reis, que por ele são ordenados e cujo poder representam, a ele só em tudo devem seguir”[5] . Esse tino requerido para a figura real se faz necessário para que o povo tenha em seu governante o “paradigma a seguir em todas as circunstâncias”, sendo para o mesmo, exigido ainda, qualidades que o tornem afamado e digno, dentre elas: “temperança, honestidade, humanidade, comedimento, bondade, fortaleza, lealdade, prudência, magnanimidade, amor às letras (...) e seus pensamentos em Deus”[4] .

Política religiosa


Iluminura do período manuelino, "Livro 3 Místicos"
Manuel I era um homem bastante religioso que investiu uma boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colónias através dos missionários católicos.
O seu reinado é lembrado pela perseguição feita a judeus e muçulmanos em Portugal, particularmente nos anos de 1496 a 1498. Esta política foi tomada por forma a agradar aos reis católicos, cumprindo uma das cláusulas do seu contrato de casamento com a herdeira de Espanha, Isabel de Aragão.
Massacre de Lisboa de 1506 foi talvez uma das consequências da política de Manuel I. Seguiram-se as conversões forçadas dos judeus e, depois, confiou ao seu embaixador em Roma a missão secreta de pedir ao papa, em 1515, a permissão de estabelecer aInquisição em Portugal.

Cultura e artes

Na cultura, Manuel I procedeu à reforma dos Estudos Gerais, criando novos planos educativos e bolsas de estudo. Na sua corte surge também Gil Vicente, o pai do teatro português, e Duarte Pacheco Pereira, o geógrafo, autor do Esmeraldo de Situ Orbis.
Manuel I morreu em 1521 e encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.

Cultura popular

No filme português Camões (1946), de José Leitão de Barros, foi interpretado pelo actor José Amaro.

Títulos, estilos, e honrarias


Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Manuel I enquanto Rei de Portugal, desde a sua Coroação até 1499:
Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, e Senhor da Guiné
Após o regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, a titulatura régia é reformulada e atinge a sua plenitude:
Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Enquanto monarca de Portugal, D. Manuel I foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência

Do primeiro matrimónio, com Isabel de Aragão, infanta de Espanha (1470–1498):
Realeza Portuguesa
Casa de Avis
Descendência
Ordem Avis.svg
Do segundo matrimónio, com a sua cunhada Maria de Aragão, infanta de Espanha (1482-1517), a 30 de Outubro de 1500:
Do terceiro matrimónio, com Leonor da Áustria (1498-1558), infanta de Espanha, irmã do imperador Carlos V:


Programa 15
DOM JOÃO III - O PIEDOSO :





João III de Portugal





João III
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
D. João III - Cristóvão Lopes (attrib).png
Retrato de D. João III, Cristóvão Lopes (atribuído), cópia de retrato de Anthonis Mor.
Governo
Reinado13 de dezembro de 1521 —
11 de junho de 1557
Coroação19 de Dezembro de 1521,Lisboa
ConsorteD. Catarina de Áustria
AntecessorD. Manuel I
HerdeiroJoão Manuel (filho)
Sebastião I (neto)
SucessorD. Sebastião I
DinastiaAvis
TítulosO PiedosoO Colonizador
Vida
Nascimento7 de junho de 1502
LisboaPortugal
Morte11 de junho de 1557 (55 anos)
LisboaPortugal
SepultamentoMosteiro dos Jerónimos,Lisboa
FilhosD. AfonsoMaria Manuela, Isabel, Beatriz, D. ManuelD. Filipe, D. Dinis, D. João ManuelD. AntónioD. Duarte
PaiD. Manuel I
MãeD. Maria de Aragão
AssinaturaAssinatura de João III
João III de Portugal (Lisboa6 de junho de 1502 — Lisboa11 de junho de 1557) foi o décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso ou O Pio pela sua crença religiosa. Filho do rei Manuel I de Portugal e D. Maria de Aragão, sucedeu-lhe em 1521, aos 19 anos. Herdou um império vastíssimo e disperso, nas ilhas atlânticas, costas ocidental e oriental de ÁfricaÍndiaMalásia, Ilhas do PacíficoChina e Brasil. Continuou a política centralizadora do seu pai. Durante o seu reinado foi obrigado a negociar as Molucas com Espanha, no tratado de Saragoça, adquiriu novas colónias na Ásia - Chalé, DiuBombaimBaçaim e Macau e um grupo de portugueses chegou pela primeira vez ao Japão em 1543, estendendo a presença portuguesa de Lisboa até Nagasaki. Para fazer face à pirataria iniciou a colonização efectiva do Brasil, que dividiu em capitanias hereditárias, estabelecendo o governo central em 1548. Ao mesmo tempo, abandonou diversas cidades fortificadas em Marrocos, devido ao custos da sua defesa face aos ataques muçulmanos. Extremamente religioso, permitiu a introdução da inquisição em Portugal em 1536, obrigando à fuga muitos mercadores judeus e cristãos-novos, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros. Inicialmente destacado entre as potências europeias económicas e diplomáticas, viu a rota do Cabo fraquejar, pois a rota do Levante recuperava, e em 1548 teve de mandar fechar a feitoria Portuguesa de Antuérpia. Viu morrer os dez filhos que gerou e a crise iniciada no seu reinado amplificou-se sob o governo do seu neto e sucessor, o rei Sebastião de Portugal.

Dados biográficos iniciais


D. João, enquanto Príncipe Herdeiro, no Tríptico dos Infantes;Mestre da Lourinhã, 1516.
Nascido em Lisboa, era filho do rei Manuel I de Portugal e de Maria de Aragão, princesa de Espanha, filha dos Reis Católicos. Na câmara da Rainha, parturiente,Gil Vicente em trajes de vaqueiro representou a sua primeira peça, o Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro. O batismo em 15 de junho foi realizado na capela de São Miguel do Paço da Alcáçova, tendo como padrinho o doge deVeneza, Leonardo Loredan, representado por Pero Pasquaglio. Foram madrinhas uma tia paterna, a Rainha Dona Leonor, viúva de Dom João II, e a avó paterna, a infanta Dona Beatriz, duquesa de Beja. Nas Cortes a seguir convocadas para 15 de agosto, o príncipe foi jurado herdeiro.
Educado em Latim e nos clássicos pelo bispo de Viseu, o castelhano Diogo Ortiz de Villegas, que morreu em 1519, e depois por Luís Teixeira, que lhe ensinou Direito Civil, pelo clérigo Tomás de Torres, que lhe deu noções de matemática,astronomia e geografia, e por João de Menelau, grego. Teve casa própria após a morte da mãe em 1517. Iria casar com Leonor de Áustria, que depois foi escolhida terceira mulher do próprio pai, apesar de ser noiva destinada ao filho.
Sucedeu em 1521 ao pai, morto no auge de seu poder aos 52 anos de idade, que reinara 26 anos. Dom João III, aos 19 anos, foi aclamado a 22 de dezembro, no alpendre da igreja de São Domingos. Jovens dominavam então a dinâmica cena europeia: a viúva de seu pai tinha 23 anos, o imperador Carlos V, 22 anos, Francisco I de França, 28 anos, Henrique VIII da Inglaterra tinha 31 anos.
Manteve a equipe governante do pai: o conde de Tarouca, Dom João de Meneses; o conde de Vila Nova (hoje Portimão) Dom Martinho de Castelo Branco; o primeiro conde de Vimioso, Dom Francisco de Paula de Portugal e Castro; o segundo barão de Alvito, Dom Diogo Lobo, e António Carneiro, secretário de Dom Manuel desde 1509.
Ascendeu ao trono quando Portugal possuía cidades fortificadas no Norte de África e os seus marinheiros tinham navegado nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, espalhando-se pelas ilhas atlânticas, pelas costa ocidental e oriental de ÁfricaÍndiaMalásia, Ilhas do Pacífico e possivelmente AustráliaChina e Brasil. Destacava-se entre as potências europeias do ponto de vista económico e diplomático, mas o país não chegava a um milhão e meio de habitantes. Durante o seu reinado Portugal adquiriu novas colónias na Ásia - Chalé, DiuBombaimBaçaim e Macau.
António MotaFrancisco Zeimoto e António Peixoto chegaram ao Japão sendo os primeiros europeus a visitar este arquipélago. Começou a colonização do Brasil. Ao mesmo tempo deu-se o abandono de algumas cidades fortificadas em Marrocos, como SafimAzamorArzilaAguz e Alcácer-Ceguer, devido ao custos da sua defesa contra os ataques dos xerifes muçulmanos. João III era, no entanto, extremamente religioso, o que o tornou subserviente ao poder da igreja e permeável à introdução da inquisição em 1536, pois o movimento luterano era já uma realidade europeia. As consequências sociais foram desastrosas, pois provocou insegurança nos cristãos novos, obrigando à fuga muitos mercadores judeus, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros.
Com a Inglaterra intensificam-se as relações comerciais, o mesmo acontecendo com os países do Báltico e Flandres. Teve como amigo e conselheiro António de Ataíde, 1.º Conde da Castanheira, que fez embaixador em Paris e que viria a aconselhar na criação do sistema de Capitanias-hereditarias no Brasil em 1534.

Reavaliação do Império

Herdou «um império vastíssimo mas demasiado disperso», de modo que o reavaliou com ajuda de conselheiros, abandonando o projeto imperial de seu pai. O novo homem forte dos assuntos relativos à expansão marítima passou a ser Vasco da Gama, que se incompatibilizara com Dom Manuel, nomeado em 1524 vice-rei daÍndia, onde morreu.
Em 1541, um acontecimento precipitou a sua decisão, pois perdeu Santa Cruz de Cabo de Gué. Os xerifes do norte da África em 1518 haviam proclamado a guerra santa contra o infiel, apoderando-se em 1524 de Marraquexe (em 1549, finalmente, retomaram Fez). Cercaram Safim em 1533, forçando Dom João a abandonarAzamor, Safim, Alcácer Céguer, Arzila. Havia ao mesmo tempo crise no estado da Índia, descrito como «um conjunto de territórios, estabelecimentos, bens, pessoas e interesses, administrados, geridos ou tutelados pela Coroa portuguesa no Oceano Índico e mares adjacentes ou nos territórios ribeirinhos, do cabo da Boa Esperança ao Japão» (Luiz Filipe Thomaz). No Índico surgira o perigo otomano, estimulando os chefes locais a lutarem contra os portugueses. Pacém e Calecute foram abandonados. Economicamente a rota do Cabo começava a fraquejar, pois a rota do Levante recuperava lentamente. Em 1548, D. João III mandou fechar a feitoria de Antuérpia. Havia concorrência castelhana no Extremo Oriente e Pacífico mas o maior perigo vinha de outras potências como a França.
Foi, entretanto, um rei que geriu muitas crises - a financeira, pois no seu reinado as despesas ordinárias da Coroa incluíam tenças, moradias, benesses pias, ordenados, obras públicas, universidade, obras em Belém e em Tomar, houve dotes a pagar, a compra do arquipélago do Maluco, socorros às praças do Norte da África, as armadas à Índia, a defesa das costas do Brasil e África, a aquisição de trigo nos anos maus. Crise política, pois seu reinado assistiu à emergência de duas potências, a Espanha de Carlos V e o Império Otomano, que tomou Buda e cercou Viena em 1529. Tudo isso em meio à proliferação de peste, maus anos agrícolas, instabilidade meteorológica, até o grande terremoto de Lisboa de 26 de janeiro de 1531. Como governante coube-lhe a gestão de várias crises: crise financeira, ameaça protestante, perigo turco, concorrência francesa e inglesa no império, crises no estado da Índia, peso da vizinhança demasiado forte de Carlos V.
Dom João preocupou-se efetivamente com o pleno domínio do Brasil, que dividiu em capitanias-donatárias, as conhecidas capitanias hereditárias, estabelecendo um governo central em 1548. «Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o sendo até o início do século XIX» (Paulo Drumond Braga, op. cit, pg 145).

Panorama do reinado


Mapa do Império Português no reinado de D. João III
Houve sem dúvida um ar de renovação cultural no seu reinado, preponderante na afirmação do renascimento português. Na literatura apareceu o poeta mais conhecido mundialmente Luís Vaz de Camões, como também Garcia de ResendeSá de MirandaBernardim Ribeiro e João de Barros. Na náutica surgiu Pedro Nunes, na botânica Garcia da Orta, na arquiteturaFrancisco de HolandaMiguel de ArrudaJoão de Castilho. Outros nomes foram Luís VivesAndré de ResendeDamião de GóisJoão de Ruão e Nicolau de ChantereneErasmo de Roterdão dedicou-lhe uma das suas obras e o rei teria pensado em contratá-lo para professor da nova universidade de Coimbra, criada em 1537. No seu reinado, a conselho de Diogo de Gouveia, criou numerosas bolsas de estudo no estrangeiro, enviando cerca de 300 bolseiros para França,[1] e fundou o Real Colégio das Artes e Humanidades em Coimbra. Foi também o responsável pela vinda dos missionários Jesuítas, uma ordem recém formada, que teria um papel determinante no contexto do padroado português em todo o império português.
João III era, no entanto, extremamente religioso, o que o tornou subserviente ao poder da igreja e permeável à introdução da inquisição em 1536, pois o movimento luterano era já uma realidade europeia. As consequências sociais foram desastrosas, pois provocou insegurança nos cristãos novos, obrigando à fuga muitos mercadores judeus, forçando o recurso a empréstimos estrangeiros.
Continuou a política centralizadora e absolutista do seu pai, convocando apenas três cortes em períodos bem espaçados: 1525, 1535 e 1544. A estagnação que caracterizou seu reinado amplificou-se sob seu neto e sucessor, o rei Sebastião de Portugal.
Afirma-se que a sua alegada neutralidade era na verdade política de apoio ao cunhado, o imperador Carlos V, e que teria mesmo pensado em uma união ibérica, o que é indefensável face às teorias atuais. Sempre desejou claramente a independência de Portugal, pois jamais fechou as portas à França, à Inglaterra e até à Polónia. Foi, entretanto, um rei que geriu muitas crises - a financeira, pois no seu reinado as despesas ordinárias da Coroa incluíam tenças, moradias, benesses pias, ordenados, obras públicas, universidade, obras em Belém e em Tomar, houve dotes a pagar, a compra do arquipélago das Molucas, socorros às praças do Norte da África, as armadas à Índia, a defesa das costas do Brasil e África, a aquisição de trigo nos anos maus. Crise política, pois o seu reinado assistiu à emergência de duas potências, a Espanha de Carlos V e o Império Otomano, que tomou Buda e cercou Viena em 1529. Tudo isso no meio de proliferação de peste, maus anos agrícolas, instabilidade meteorológica, e até o grande terremoto de Lisboa de 26 de janeiro de 1531.

Estátua de Dom João III, Coimbra.
Adoeceu após 1550, e teve grave doença perigosa em 1555. Morreu dois anos depois de acidente vascular cerebral, ouapoplexia, em Lisboa, estando sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.
Psicologicamente, foram características pessoais a sua enorme bondade, a lentidão na tomada de decisões, a dissimulação no relacionamento com os súbditos ou como arma diplomática, a piedade (recebeu do papa em dezembro de 1525 a 'rosa de ouro'). Filho de um génio político, Dom Manuel I de Portugal, foi neto de dois outros, os Reis Católicos de Espanha.
A sua imagem foi atacada no século XIX, acusado por Alexandre Herculano de homem medíocre, inábil, fanático, «inábil para governar por si próprio». Defendido por uma biografia importante escrita em 1936 por Alfredo Pimenta, acrítico, visões menos apaixonadas surgiram na década de 1960 em textos de Joaquim Veríssimo SerrãoBorges de MacedoSilva Dias e Romero de Magalhães.

Abdicação de D. Joana de Castela

20 de Julho de 1530, por escritura pública na corte, a sua prima D. Joana de Castela, viúva de D. Afonso V, abdicou dos seus direiros ao Trono de Castela a seu favor, para evitar que esses direitos caíssem na posse dos Reis Católicos.[carece de fontes]

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
João III de Portugal
Brasao de Aviz2.png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1385-1580)
Estilo realSua Alteza Real
Tratamento directoVossa Alteza Real
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. João III enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, João III, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. João III foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência

Realeza Portuguesa
Casa de Avis
Descendência
Ordem Avis.svg
  • Filhos naturais gerados antes do casamento, de Isabel Moniz, moça da câmara da Rainha Dona Leonor, viúva de Dom João II, e filha de um alcaide de Lisboa apelidado "o Carranca"[2] :
    • Manuel de Portugal, tido em 1521, natimorto
    • Duarte, Infante de Portugal, tido em 1523. Passou os seus primeiros anos em Sintra no mosteiro de Penhalonga. Foiarcebispo de Braga. Permaneceu no mosteiro da Costa em estudos até 1542. Em 1542 o rei autorizou-o a visitá-lo na corte. Homem extremamente culto, traduziu para o latim a maior parte da Crónica de Dom Afonso Henriques de Duarte Galvão. Recebeu do Papa Paulo III a Sé de Braga, onde entrou em 12 de agosto de 1543. Faleceu a 10 de novembro deste ano, de varíola.


    Programa 16
    DOM SEBASTIÃO - O DESEJADO 



    Sebastião de Portugal





    Sebastião I
    Brasao de Aviz.PNG
    Rei de Portugal
    D. Sebastião em pintura atribuída a Cristóvão de Morais.
    Governo
    Reinado 11 de junho de 1557
    04 de agosto de 1578
    Coroação 16 de Junho de 1557, Lisboa
    Antecessor D. João III
    Herdeiro Cardeal Dom Henrique (tio-avô)
    Sucessor D. Henrique I
    Dinastia Avis
    Títulos O Desejado, O Encoberto
    Vida
    Nascimento 20 de janeiro de 1554
    Lisboa, Portugal
    Morte 4 de agosto de 1578 (24 anos)
    Alcácer Quibir, Marrocos
    Sepultamento Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa
    Pai D. João Manuel
    Mãe D. Joana de Áustria
    Assinatura Assinatura de Sebastião I

    Sebastião I de Portugal (Lisboa, 20 de janeiro de 1554Alcácer-Quibir, 4 de agosto de 1578) foi o décimo sexto rei de Portugal, cognominado O Desejado por ser o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado O Encoberto ou O Adormecido. Foi o sétimo rei da Dinastia de Avis, neto do rei João III de quem herdou o trono com apenas três anos. A regência foi assegurada pela sua avó Catarina de Áustria e pelo Cardeal Henrique de Évora.
    Aos 14 anos assumiu a governação manifestando grande fervor religioso e militar. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias da chamada Reconquista (século X - 1492), decidiu a montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de D. Sebastião em combate e da nata da nobreza, iniciando a crise dinástica de 1580 que levou à perda da independência para a dinastia Filipina e ao nascimento do mito do Sebastianismo.

    Nascimento


    Iluminura de D. Sebastião recém-nascido, na obra Sentenças para a Ensinança e Doutrina do Príncipe, datada de 1554.
    Era filho do príncipe Dom João e de Dona Joana de Áustria, Seus avós paternos eram o rei de Portugal Dom João III e a Rainha Dona Catarina. Seus avós maternos eram o imperador Carlos V e a Imperatriz Dona Isabel. Dona Isabel era irmã de Dom João III.[1]
    O príncipe Dom João morreu em 2 de janeiro de 1554, deixando todo o reino com sobressaltos, pois Dom Sebastião ainda estava no ventre da sua mãe, Dona Joana, que era prima de Dom João. Dom João foi o único filho sobrevivente dos nove que Dom João III havia tido, e a sucessão do reino passou a depender do sucesso do parto.[1]
    O problema que ocorria em Portugal não era a falta de herdeiros, mas por causa do contrato de casamento de Dona Maria, irmã do príncipe defunto, com Dom Felipe II de Castela,[Nota 1] pelo qual, caso não houvesse sucessores, o reino passaria ao filho desta união, Dom Carlos, ocorrendo a união com Castela, que os portugueses sempre abominaram.[2]
    O arcebispo de Lisboa, D. Fernando de Meneses Coutinho e Vasconcelos, ordenou que, assim que começassem as dores de parto, avisassem à , para que fosse feita uma procissão de fé. Dezoito dias depois da morte do príncipe, a princesa começou a sentir as dores, na noite do dia 19 para o dia 20 de janeiro. De madrugada chegou o aviso, e o povo que afluiu à Igreja de São Domingos foi tamanho que várias pessoas ficaram de fora, indo padres a pregar do lado de dentro e outros a pregar do lado de fora.[2]
    Na manhã do sábado, dia 20 de janeiro de 1554, nasceu o príncipe, e foi dada a notícia do nascimento d'O Desejado, recebida com orações de agradecimento a Deus.[3]
    Em 27 de janeiro, ao oitavo dia, ele foi baptizado pelo Cardeal-Infante D. Henrique, irmão do rei Dom João, e recebeu o nome de São Sebastião, por causa do dia em que havia nascido, sendo seus padrinhos o rei e a rainha, seus avôs.[4]
    Em virtude de ser um herdeiro tão esperado para dar continuidade à Dinastia de Avis, ficou conhecido como O Desejado; alternativamente, é também memorado como O Encoberto ou O Adormecido, devido à lenda que se refere ao seu regresso numa manhã de nevoeiro, para salvar a Nação.

    Regência

    Com dois anos de idade, seu avô, o rei, enfermo, chamou-o à sua presença, para brincar. Quando o rei pediu água, trouxeram dois copos, um, fechado, para o rei e outro aberto para Sebastião. Vendo isto, o menino começou a chorar, querendo um copo como o do avô, que comentou:[5]
    Cedo quereis reinar.
     


    Retrato inédito de D. Sebastião I, por Alonso Sánchez Coello, 1562. Estava na Áustria, no castelo Schönberg, mas erradamente identificado com um nobre austríaco.
    No ano seguinte, em 11 de junho de 1557, morreu o rei Dom João III. Sebastião tornou-se rei com três anos, quatro meses e vinte e dois dias de idade.[5]
    Durante a sua menoridade, a regência foi assegurada primeiro pela sua avó, a rainha Catarina de Áustria, viúva de D. João III,[6] e depois pelo tio-avô, o Cardeal Henrique de Évora, (23 de Dezembro de 1562[7] -1568). Neste período, para além da aquisição de Macau em 1557 e Damão em 1559, a expansão colonial foi interrompida. A premência era a conjugação de esforços para preservar, fortalecer e defender os territórios conquistados.
    Durante a regência de D. Catarina e do cardeal D. Henrique e o curto reinado de D. Sebastião, a Igreja continuou a sua ascensão ao poder. A actividade legislativa centrou-se em assuntos do foro religioso, como por exemplo a consolidação da Inquisição e sua expansão até à Índia, a criação de novos bispados na metrópole e nas colónias. A única realização cultural importante foi o estabelecimento de uma nova universidade em Évora – e também aqui a influência religiosa na corte se fez sentir, pois foi entregue aos Jesuítas.
    Investiu-se muito na defesa militar dos territórios. Na rota para o Brasil e a Índia, os ataques dos piratas eram constantes e os muçulmanos ameaçavam as possessões em Marrocos, atacando, por exemplo, Mazagão em 1562. Procurou-se assim proteger a marinha mercante e construir ou restaurar fortalezas ao longo do litoral.
    Os bastiões no Norte de África, pouco interessantes em termos comerciais e estratégicos, eram autênticos sorvedouros de dinheiro, sendo necessário importar quase tudo, além do que, sujeitos a constantes ataques, custavam muito em armamento e homens. Assim, Filipe II em 1589 viria prudentemente a devolver aos mouros Arzila, oferecida a D. Sebastião em 1577 por Mulei Mohammed. Filipe II retirou-se.
    De facto, a preservação das praças em Marrocos devia-se sobretudo à questão de prestígio e tradição. O jovem rei cresceu educado por Jesuítas e tornou-se num adolescente de grande fervor religioso, embora a sua falta de experiência militar e política viesse a conduzir o exército português ao desastre de Alcácer-Quibir e à própria morte ou desaparecimento do rei.

    Motivos da Intervenção em Marrocos


    Com a reconquista de Tunis em 1574, aos Turcos faltaria apenas Marrocos para dominarem por completo o norte de África, ameaçando depois uma entrada na Península Ibérica.
    D. Sebastião começou a preparar a "Jornada de África", onde Filipe II de Espanha, seu tio, recusou participar, enviando apenas uma pequena pequena força que fez parte do Terço de Espanhóis e Italianos.
    O nexo da intervenção em Alcácer-Quibir é claramente explicado em carta do próprio D. Sebastião a D. João de Mendonça em 1576, onde manifesta preocupação crescente sobre a ameaça dos turcos que fariam Mulei Moluco um seu vassalo, ameaçando as praças portuguesas em Marrocos, e o próprio regresso dos andaluzes do Reino de Granada a Espanha:
    Não é somente para dar a posse daquele Reino ao tio do Xarife, mas principalmente com o fundamento de o fazerem tributário e vassalo do Turco, e o Turco se fazer Senhor de toda África, e de todos os portos de mar dela, tendo em cada uma delas muitas galés que lhes será fácil de pôr em efeito. Assim, pela natureza da mesma terra, como por seu grande poder, que quando assim acontecesse, o que Deus não permita, visto é quantos males sem remédio poderiam recrescer a toda espanha, que da Cristandade se pode dizer que é hoje a melhor e maior parte, e com este intento queria que não somente cuidareis nesta matéria e a discorrereis para me nela dardes parecer e conselho no que farei e devo fazer (...)[8]
    Dois anos antes, em 1574, os turcos tinham reconquistado Tunis, e eram senhores de todo o norte de África, exceptuando Marrocos, cujo controlo do reino se decidia na disputa entre Mulei Mohammed (o Xarife deposto), e o seu tio Mulei Moluco, que contava com o apoio turco. O Xarife pediu o apoio a D. Sebastião, e o rei partiu para a "Jornada de África", que se decidiria na Batalha de Alcácer Quibir.

    Desaparecimento e Lenda

    Na batalha de Alcácer-Quibir, o campo dos três reis, os portugueses sofreram uma derrota às mãos do sultão Abd al-Malik (Mulei Moluco) e perderam uma boa parte do seu exército. Quanto a D. Sebastião, morreu na batalha ou foi morto depois desta terminar. Conta-se que, ao ser aconselhado a render-se, e a entregar a sua espada aos vencedores, o rei se tenha recusado com altivez, dizendo: "A liberdade real só há de perder-se com a vida." [9] Foram as suas últimas palavras, e é-nos dito que ao ouvi-las, "os cavaleiros arremeteram contra os infieis; D. Sebastião seguiu-os e desapareceu aos olhos de todos envolto na multidão, deixando ... a posteridade duvidosa ácerca do seu verdadeiro fim." [10] Há quem defenda, por outro lado, que o seu corpo tenha sido enterrado logo em Ceuta, "com toda a solemnidade".[11] Mas para o povo português de então o rei havia apenas desaparecido. Este desastre teria as piores consequências para o país, colocando em perigo a sua independência. O resgate dos sobreviventes ainda mais agravou as dificuldades financeiras do país.


    Batalha de Alcácer-Quibir, 1578. in: Miscellanea (Miguel Leitão de Andrade, 1629.).
    Em 1582, Filipe I de Portugal mandou transladar para o Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, um corpo que alegava ser o do rei desaparecido, na esperança de acabar com o sebastianismo, o que não resultou, nem se pôde comprovar ser o corpo realmente o de Sebastião I. O Túmulo de Mármore, que repousa sobre dois elefantes, pode ainda hoje ser observado em Lisboa.
    Tornou-se então numa lenda do grande patriota português – o "rei dormente" (ou um Messias) que iria regressar para ajudar Portugal nas suas horas mais sombrias, uma imagem semelhante à que o Rei Artur tem em Inglaterra ou Frederico Barbarossa na Alemanha.
    Durante o subsequente domínio espanhol (1580-1640) da coroa portuguesa, quatro pretendentes afirmaram ser o rei D. Sebastião, tendo o último deles – o calabrês Marco Tulio Catizone – sido enforcado em 1603.
    Já em fins do século XIX, no sertão da Bahia, no Brasil, camponeses sebastianistas acreditavam que o rei iria regressar para ajudá-los na luta contra a "república ateia brasileira", durante a chamada Guerra de Canudos. O mesmo repetiu-se no sul do Brasil, no episódio da Guerra do Contestado.

    Teorias e dados sobre o desaparecimento

    Dentre incontáveis especulações e investigações de vários autores, a historiadora Maria Luísa Martins da Cunha defende, em dezembro de 2011, no terceiro volume do livro ‘Grandes Enigmas da História de Portugal', que o rei D. Sebastião sobreviveu à batalha de Alcácer-Quibir e reapareceu no ano de 1598 em Itália, onde foi mais tarde preso em Veneza, Florença e Nápoles, com a cumplicidade dos espanhóis. Segundo a mesma historiadora, o corpo do rei encontra-se sepultado na capela de São Sebastião, no Convento dos Agostinhos de Limoges.[12]
    Na verdade, já o historiador Faria e Sousa reportara testemunhos, como o de D. Luís de Brito, que afirmavam ter visto no final da batalha o rei à distância sem ser perseguido. Brito encontrou-o posteriormente, em direção ao rio, e segundo o historiador esta foi a última vez que ele foi visto vivo.
    O documento "Relação da Batalha de Alcácer que mandou um cativo ao Dr. Paulo Afonso"[13] , termina informando que o Rei se retirou, e que a batalha terminou sem nenhum lado declarar vitória:
    Neste tempo vendo El Rei que estava na vanguarda o seu campo desbaratado, se veio recolhendo pela banda do Duque de Aveiro, e o seguiu alguma gente de cavalo e a pé, cuidando que ia fazendo uma ponta para volver sobre os mouros, viu o campo já tão desbaratado que se retirou. Durou a batalha quatro horas sem se declarar a vitória.

    Prisioneiro de Veneza

    O caso do estranho em Veneza, mencionado acima, que vinte anos depois aparecera declarando-se Sebastião, rei de Portugal, é o de maior interesse. Ele chegou a ser aceite pelos portugueses da cidade como seu senhor soberano, por se parecer tão perfeitamente com Sebastião. João de Castro, neto do homónimo vice-rei da Índia e filho do diretor de finanças no reinado de D. Sebastião, defendeu e apoiou este estranho de Veneza, anunciando ao mundo que o rei não morreu no seu Discurso da vida do sempre bem-vindo e aparecido Dom Sebastião,[14] publicado em 1598, enquanto que Sebastião Figueira, uma das várias testemunhas que atestaram terem visto D. Sebastião sair vivo da batalha – afirmando mesmo ter saído dela com o rei – também o diz ter reconhecido em Veneza.[12] O Papa Clemente VIII mandara, por conselho de cardeais em conclave, que o pretendido rei aparecesse em Roma, onde a sua pretenção seria examinada; e chegando-se em conclave à conclusão, após cuidadas investigações, que era ele o verdadeiro D. Sebastião, escreve o Papa a Filipe III de Espanha, o então senhor da coroa e do Reino de Portugal, exigindo a devolução do dito Reyno ao Rey D. Sebastião, "sob pena de excommunhão mayor".[15] Filipe responde acusando o pretendente "impostor" de vários crimes e, por intermédio do seu embaixador em Veneza, manda-o prender. Foi formado um comité de nobres, que o examinaram 28 vezes, mas ele conseguiu-se ilibar de todas as acusações.[16] O pretendente mostrou marcas naturais no seu corpo, que muitos se lembravam serem de D. Sebastião, e revelou segredos de conversas entre embaixadores de Veneza no palácio de Lisboa, o que deixou atónitos os examinadores, e facilitou a sua libertação – sob a condição de ter que abandonar aqueles domínios em três dias. Na sua fuga caiu nas mãos dos Espanhóis, que em Nápoles o maltrataram, humilharam em público, e o embarcaram como escravo. Defendiam os espanhóis, que aquele sofredor era um mágico, mas tal justificação foi vista como um reconhecimento tácito da verdade das suas pretenções.[17]

    Títulos, estilos, e honrarias

    Estilo real de tratamento de
    Sebastião de Portugal
    Brasao de Aviz2.png Brasão de armas do Reino de Portugal (1385-1580)
    Estilo real Sua Majestade
    Tratamento directo Vossa Majestade
    Estilo alternativo Senhor
    Por ocasião da entrevista de Guadalupe (1577), concedida por Filipe II de Espanha a seu sobrinho D. Sebastião, e do tratamento majestático que lhe foi concedido pelo tio, D. Sebastião passa a usar a fórmula de adereçamento Sua Majestade, prenunciando o seu desejo imperial de conquista de África, suplantando a forma Sua Alteza Real até então em uso.

    Títulos e estilos

  • 20 de Janeiro de 1554 – 11 de Junho de 1557: Sua Alteza Real, O Príncipe Herdeiro de Portugal
  • 11 de Junho de 1557 – 4 de Agosto de 1578: Sua Majestade, O Rei de Portugal e dos Algarves
O estilo oficial de D. Sebastião enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Sebastião I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Sebastião foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Cultura popular

D. Sebastião é personagem principal nos romances históricos "O Desejado", do escritor brasileiro Aydano Roriz (2002-Brasil; 2003-Portugal), e "D. Sebastião e o Vidente" de Deana Barroqueiro.
Poema "D. Sebastião, Rei de Portugal", em Mensagem (1934), de Fernando Pessoa:
Louco, sim, louco, porque quiz grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Porisso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que ha.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nella ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadaver addiado que procria?

Descoberta de retratos perdidos


Retrato d'El Rei Dom Sebastião por Alonso Sánchez Coello.
Em novembro de 2010 foi encontrado na Áustria um retrato do rei, dado como desaparecido há 400 anos. O quadro estava no Castelo Schönberg, mas o protagonista era identificado como sendo um nobre austríaco. A obra é da autoria de Alonso Sánchez Coello e foi pintada na corte portuguesa em 1562.[18]


Retrato de D. Sebastião de Portugal (óleo sobre tela datável dos finais do século XVI ou início do século XVII, patente na câmara dos azuis).
Um outro retrato encontrado recentemente na Itália,[19] de autor ainda não identificado, mostra o soberano em idade adulta, com barba e bigode, numa representação de busto a 3/4 envergando armadura de gala com gola de folhos. Da decoração da armadura sobressai a Cruz de Cristo, de que é visível o braço superior, com uma forma mal representada, o que nos leva à conclusão da autoria por um pintor espanhol ou italiano, mais familiarizados com este tipo de cruz do que com as formas rectas da Cruz de Cristo.O retrato está carregado de simbolismo, não apenas pela inclusão da Cruz de Cristo, como pela legenda que encima o quadro "Sebastianus I Lusitanor R" (Sebastião I Rei dos Portugueses), que remete para o início do mito de D. Sebastião


Programa 17
CARDEAL-REI DOM HENRIQUE 

Henrique I de Portugal


Dom Henrique I
Ornamented Royal Coat of Arms of Cardinal Henry I of Portugal.svg
Rei de Portugal
Henrique o Rei.jpg
Governo
Reinado 04 de agosto de 1578
31 de janeiro de 1580
Coroação 28 de agosto de 1578, Lisboa
Antecessor D. Sebastião I
Herdeiro Reivindicaram: Catarina de Portugal, António de Portugal e Filipe II de Espanha
Sucessor Conselho de Governadores do Reino de Portugal
Dinastia Avis
Títulos O Casto
Vida
Nascimento 31 de janeiro de 1512
Lisboa, Portugal
Morte 31 de janeiro de 1580 (68 anos)
Almeirim, Portugal
Sepultamento Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa
Pai Manuel I
Mãe Maria de Aragão
Henrique I de Portugal (Lisboa, 31 de janeiro de 1512Almeirim, 31 de janeiro de 1580) foi o décimo-sétimo Rei de Portugal, tendo governado entre 1578 e a sua morte, 1580.
Ocasionalmente é chamado de Dom Henrique II por alguns autores, em virtude de ser o segundo chefe de Estado de Portugal chamado Henrique, tendo-se em linha de conta o conde D. Henrique, por aqueles chamado de D. Henrique I. É conhecido pelos cognomes de O Casto (devido à sua função eclesiástica, que o impediu de ter descendência legítima), O Cardeal-Rei (igualmente por ser eclesiástico) ou O Eborense / O de Évora (por ter sido também arcebispo daquela cidade e aí ter passado muito tempo, e inclusivamente fundado a primeira Universidade de Évora, entregue à guarda dos Jesuítas), transformando Évora num pólo cultural importante, acolhendo alguns vultos da cultura de então: Nicolaus Clenardus, André de Resende, Pedro Nunes, António Barbosa, entre outros.

Biografia

D. Henrique I
D. Henrique de Portugal
Cardeal da Santa Igreja Romana
Arcebispo de Évora

Título

Cardeal-presbítero dos Santos Quatro Coroados
Atividade Eclesiástica
Diocese Arquidiocese de Évora
Ordenação e nomeação
Nomeado arcebispo 13 de abril de 1539
Cardinalato
Criação 16 de dezembro de 1545
por Papa Paulo III
Brasão
Ornamented Royal Coat of Arms of Cardinal Henry I of Portugal.svg
Lema Festina lente
Dados pessoais
Nascimento 31 de janeiro de 1512
Morte 31 de janeiro de 1580 (68 anos)
Cardeais
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo

Nascimento e infância

D. Henrique nasceu a 31 de Janeiro de 1512, quinto filho varão de D. Manuel I (com quem se parecia nas feições[1] ) e sua segunda mulher D. Maria de Aragão e Castela.[2] Era, portanto, irmão mais novo daquele que viria a ser o rei D. João III.[3]
No dia em que nasceu, apesar de tal não acontecer habitualmente, caiu em Lisboa muita neve, facto que serviu aos "investigadores dos futuros" para traçarem horóscopos preconizando um temperamento virtuoso e candura de espírito.[4] Foi baptizado pelo Bispo de Coimbra, D. Jorge de Almeida.[1]
Estudou, com esmero, Latim, Grego, Hebraico, Matemática, Filosofia e Teologia, e cavalgava bem.[1]

Vida religiosa

Como se compreende, enquanto Infante de Portugal, não era esperado de D. Henrique que subisse ao trono.
Aos catorze anos, Henrique recebeu o sacramento da ordenação, para promover os interesses portugueses na Igreja Católica, na altura dominada pela Espanha. Ocupando primeiramente a dignidade de Dom Prior do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra,[1] subiu cedo na hierarquia da Igreja, tendo sido rapidamente Arcebispo de Braga, primeiro Arcebispo de Évora, Arcebispo de Lisboa e ainda Inquisidor-mor antes de receber o título de Cardeal (sendo portanto um cardeal-infante),[5] com o título dos Santos Quatro Coroados (1546).
Não pelas suas mãos, mas com sua autorização dada ao frei Luís de Granada (dominicano) que editou em português uma obra sua, intitulada "Meditações e homilias sobre alguns mysterios da vida de nosso Redemptor, e sobre alguns logares do Santo Evangelho, que fez o Serenissimo e Reverendissimo Cardeal Infante D. Henrique por sua particular devoção" em Lisboa,[6] editada por Antonio Ribeyro, em 1574. Esta obra, em português, visava substituir a palavra oral pela escrita, num esforço de chegar às recuadas aldeias onde dificilmente chegava, pela escassez de religiosos conhecedores do latim. Foram publicadas em latim pelos jesuítas em 1576 e depois em 1581.
Participou do conclave de 1549–1550, que elegeu ao Papa Júlio III e dos conclaves de abril e maio de 1555, nestes chegou a ser apontado como um dos favoritos a suceder no trono de São Pedro.


Em redor da fonte, alegoria da Eucaristia,ajoelhado em primeiro plano D. Manuel, e à sua esquerda, os seus seis filhos nascidos do casamento com D. Maria de Aragão
Fons Vitae, na Igreja da Misericórdia do Porto
O seu irmão João III de Portugal pediu ao cunhado, o imperador Carlos V que favorecesse a ascensão do seu irmão ao sólio pontifício, através da compra dos votos do Colégio dos Cardeais. Porém, não participou dos conclaves de 1559, 1565-1566 e de 1572.
Henrique, mais do que ninguém, empenhou-se em trazer para Portugal a Ordem dos Jesuítas, tendo utilizado os seus serviços no Império Colonial.[7]

Regente e rei

Quando João III de Portugal morreu, muitos discordavam da atribuição do poder da regência a Catarina de Áustria, irmã de Carlos I de Espanha. Henrique sucedeu assim à sua cunhada em 1562, servindo como regente para Sebastião I,[8] seu sobrinho de segundo grau, até este assumir o trono (1568).
Após a desastrosa Batalha de Alcácer-Quibir em 1578, depois de receber a confirmação da morte do rei,[9] no Mosteiro de Alcobaça, acabou por suceder ao sobrinho-neto. Henrique renunciou então ao seu posto clerical e procurou imediatamente uma noiva por forma a poder dar continuidade à dinastia de Avis, mas o papa Gregório XIII, que era um familiar dos Habsburgos que eram pretendentes ao trono de Portugal, não o libertou dos seus votos.
Foi aclamado rei na igreja do Hospital Real de Todos os Santos, no Rossio, sem grandes festejos.[10] Caber-lhe-ia resolver o resgate dos muitos cativos em Marrocos. O reino, então jubilante pela juventude com que D. Sebastião liderava, perdia o ânimo com a notícia e exigia vingança ao rei que, entretanto, adoecia.

Morte e crise de 1580

Que o cardeal-rei dom Henrique
Fique no Inferno muitos anos
Por ter deixado em testamento
Portugal, aos castelhanos
Quadra popular
Mesmo com o sério problema da sucessão em mãos, D. Henrique nunca aceitou a hipótese de nomear o Prior do Crato, outro seu sobrinho, herdeiro no trono, pois não reconhecia a legitimidade de D. António. Por consequência, após a sua morte, de facto D. António subiu ao trono mas não conseguiu mantê-lo, perdendo-o para seu primo Filipe II de Espanha, na batalha com o duque de Alba.


Painel de azulejos representando o cardeal D. Henrique em Évora
O rei-cardeal morreu durante as Cortes de Almeirim de 1580, deixando uma Junta de cinco governadores na regência: o arcebispo de Lisboa Jorge de Almeida, João Telo, Francisco de Sá Meneses, Diogo Lopes de Sousa e João de Mascarenhas.[11] [12]
Em novembro de 1580, Filipe II de Espanha enviou o Duque de Alba para reivindicar o Reino de Portugal pela força. Lisboa caiu rapidamente e o rei espanhol foi aclamado rei de Portugal como Filipe I,[13] com a condição de que o reino e seus territórios ultramarinos não se tornassem províncias espanholas.
Foi sepultado inicialmente em Almeirim, mas em 1582 o seu sobrinho Filipe II de Espanha transladou o seu corpo para o transepto da igreja do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Encontra-se junto ao túmulo construído para Dom Sebastião, cuja sepultura foi também aí colocada por ordem de Filipe II.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Henrique I de Portugal
Ornamented Royal Coat of Arms of Cardinal Henry I of Portugal.svg Brasão de armas reais e cardinalícias de D. Henrique de Portugal
Estilo real Sua Alteza Real
Tratamento directo Vossa Alteza Real
Estilo alternativo Senhor
N.B. O Cardeal-Rei não usou a forma Sua Majestade, que já havia sido utilizada pelo seu sobrinho D. Sebastião, por considerar o tratamento majestático apenas adequado para o divino.

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Henrique enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Henrique I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Henrique foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:


Programa 18
DOM ANTÓNIO - O PRIOR DO CRATO 





António de Portugal, Prior do Crato





D. António, Prior do Crato, aclamado pelos seus partidários Rei de Portugal em 1580
António I de Portugal (Lisboa1531 – Paris26 de Agosto de 1595), mais conhecido pelo cognome de o Prior do Crato (e, mais raramente, como o Determinadoo Lutador ou o Independentista, pela ênfase posta no recobro da independência dePortugal), era filho natural do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I, tendo sido um dos candidatos ao trono português durante a crise sucessória de 1580 [1] . Segundo alguns historiadores [2] , foi aclamado rei de Portugal e reinou efectivamente, em 1580, durante um curto espaço de tempo no continente, ficando, desde então e até 1583, a sua autoridade confinada a algumas ilhas dos Açores. Não consta, no ensino escolar, da lista de reis de Portugal, e em geral a historiografia, quer em Portugal, quer a nível internacional, caracteriza-o apenas como um pretendente na luta pelo trono.

Antecedentes


D. António, Prior do Crato
António era filho do Infante D. Luís (1506 – 1555), e como tal neto do rei D. Manuel I. Sua mãe chamava-se Violante Gomes, de alcunha a Pelicana, e pertencia ao povo [1] . Alguns autores afirmam que seria uma cristã-nova ou judia, como se convencionou chamar, pela qual o infante D. Luís se deixara fascinar e com quem teria casado em segredo[3] .

Cruz de Malta, o símbolo da Ordem dos Hospitalários, a que pertencia oPrior do Crato
Foi precisamente em virtude de ser conhecido como um bastardo e filho de cristã-nova, embora esta última afirmação não se possa ter por verdadeira, que a sua pretensão ao trono foi considerada inválida; ademais o seu pai fora também Prior da Ordem do Crato (o que o impedia de contrair matrimónio válido sem que antes obtivesse dispensa papal).
António foi discípulo de Frei Bartolomeu dos Mártires em Coimbra e entrou para a Ordem dos Hospitalários, cujo prior era o seu pai. Em 1574 foi governador da praça norte-africana de Tânger e em1578 acompanhou o rei D. Sebastião na campanha em Marrocos.
Feito prisioneiro na batalha de Alcácer-Quibir, conta-se que conseguiu a libertação com recurso à astúcia: Quando lhe perguntaram o significado da cruz de S. João que usava, respondeu que era o sinal de uma pequena mercê que tinha obtido do papa, e que a perderia se não voltasse até 1 de Janeiro. O seu captor, pensando que se tratava de um homem pobre, permitiu a sua libertação em troca de um pequeno resgate.

Pretensão ao trono

Quando regressou a Portugal em 1578, D. António reclamou o trono. Pretensão essa que acabou por lhe ser negada por não ser reconhecido como filho legítimo, acabando por ser aclamado o seu tio D. Henrique.[carece de fontes]
23 de Novembro de 1579, uma carta régia retira a D. António a nacionalidade portuguesa; os seus bens são confiscados e é expulso do reino. Era conhecida a antipatia do cardeal que foi encarregado em Évora da sua educação e se empenhou para que este seguisse a vida eclesiástica.
Em Janeiro de 1580, estando reunidas as Cortes em Almeirim, nas quais se esperava designar um herdeiro para o trono português, faleceu o velho cardeal D. Henrique. Uma Junta Governativa, constituída por cinco governadores, assumiu aregência do reino.
O trono português era então disputado por diversos pretendentes. Entre eles, destacavam-se a duquesa de BragançaD. CatarinaFilipe II de Espanha, e o próprio Prior do Crato. O mais legítimo herdeiro seria a duquesa, mesmo sendo mulher, já que descendia de D. Manuel por via masculina; Filipe II, por seu turno, era um estrangeiro e descendente de D. Manuel por via feminina; quanto a D. António, embora fosse também neto por via masculina, pesava sobre ele a suposta bastardia.
Filipe, no entanto, conseguiu subornar os grandes do reino com o ouro vindo das Américas, e a coroa começou a pender favoravelmente para o seu lado. Para estes, a ideia de uma união pessoal com a Espanha seria altamente proveitosa paraPortugal, que estava a passar um mau momento económico.
D. António procurou, pois, seduzir o povo para a sua causa, à semelhança da situação vivida durante a crise de 1383-1385. Tal como nesse período, também o rei de Castela invocara argumentos de natureza familiar para herdar o trono português; também então, D. JoãoMestre de Avis, filho ilegítimo do rei D. Pedro I, apresentou uma candidatura que acabou por sair vencedora nas Cortes de Coimbra de 1385 e foi ratificada por Aljubarrota.

Reinado


Angra do Heroísmo: em primeiro plano, a Sé Catedral; ao fundo a Fortaleza de São João Baptista.
24 de Julho de 1580, durante a preparação para a esperada invasão espanhola, D. António foi aclamado rei de Portugal pelo povo, no castelo de Santarém. D. António pedira ao povo que o aclamasse apenas regedor e defensor do reino, mas já o povo rejubilava. É aclamado também em Lisboa, Setúbal e em numerosos outros lugares [1] . No entanto, um mês mais tarde, a 25 de Agosto, as suas forças são derrotadas na batalha de Alcântara pelas do duque de Alba.
Tendo sobrevivido ao combate, D. António foge para o Norte, com as tropas de Sancho de Ávila a persegui-lo até Viana do Castelo. Durante 6 meses, de Novembro de 1580 até Maio do ano seguinte, vive homiziado no seu «reino», abrigando-se quer em mosteiros quer em casas de partidários devotados. De Junho a Setembro de 1581 está em Inglaterra, na corte de Isabel I, procurando ali em vão auxílio militar, e em seguida dirige-se a França, onde o encontra [1] . Em 1582 está na ilha Terceira [4] , nos Açores, que havia tomado o seu partido e de onde continuou a governar. Era reconhecido apenas localmente, de modo que, em Portugal Continental e na Madeira, o poder passou a ser exercido por Filipe II de Espanha, reconhecido oficialmente pelas Cortes de Tomar de 1581 como Filipe I de Portugal. Iniciava-se, na História de Portugal, a Dinastia Filipina.
D. António desembarcou na vila de São Sebastião, ao invés de no porto de Angra, tendo marchado por terra até aos portões de São Bento nesta cidade. Ali era esperado por Ciprião de Figueiredo, pelo conde de Torres Vedras, por Manuel Silva e outras personalidades locais. À sua chegada, as fortificações de Angra salvaram, o mesmo tendo feito as guarnições, com seus mosquetes e arcabuzes. Ficou hospedado no Convento de São Francisco e, posteriormente, no palácio domarquês de Castelo Rodrigo. Na ilha, visitou a baía da Salga e a baía da Praia (atual Praia da Vitória). Frequentou ainda o Convento da Esperança, cujas religiosas também o apoiavam.
De imediato determinou reforçar as defesas de Angra, face à iminência de um ataque espanhol e à acção dos corsários, tendo contado para tal com o incondicional apoio de Dna. Violante do Canto, inclusive financeiro. Ainda com relação às finanças, cunhou moeda – um acto típico de soberania e realeza. Por essas razões, aqueles já mencionados autores não hesitaram em considerá-lo o derradeiro príncipe da Casa de Avis, ao invés do Cardeal D. Henrique, e o décimo oitavo rei de Portugal.
Em Julho de 1580, D. António já havia escrito à rainha de FrançaCatarina de Médici, uma carta pedindo auxílio. Na ilha Terceira, em 1581, regista-se a primeira tentativa de desembarque de tropas espanholas, ferindo-se a batalha da Salga, onde os Espanhóis foram completamente derrotados. Participaram neste combate os escritores Cervantes e Lope de Vega.
Finalmente em 1583, quando D. António já ali não se encontrava [5] , forças espanholas muito superiores, sob o comando de D. Álvaro de Bazán, (vencedor dabatalha de Lepanto), logram dominar a ilha após violentos combates.
Após a derrota de suas forças nos Açores, D. António instalou-se em França – inimigo tradicional dos Habsburgos de Espanha – onde se exilou.

Exílio e morte


Retrato do 3.º duque de Alba, por Ticiano.
Depois de alguns meses, onde andou escondido em casas de amigos e mosteiros, D. António viajou até à Inglaterra, congregando também o auxílio da rainha Isabel I, que se tornara também inimiga figadal da Espanha. O auxílio seria prestado ao longo de vários anos, como durante os planos de D. António em tomar Lisboa a Julho de 1589, a troco de facilidades noBrasil e Açores, e ajuda na luta contra a casa da Áustria.
Atacou Lisboa a 3 de Junho de 1589 com o exército inglês que o auxiliava pela Porta da Trindade e Portas de Santa Catarina, fazendo grande destruição e pondo fogo a todos os edifícios exteriores à muralha.[6] Porém, a armada inglesa, comandada pelo famoso almirante Francis Drake foi atacada de peste e retirou-se. D. António, desembarcado em Peniche e já a caminho de Lisboa, que contava com o apoio popular, viu assim fracassada a sua tentativa de tomar a cidade, bem guarnecida pelos espanhóis. O povo, com medo e desinteressado, não reagiu, e D. António seria obrigado a partir novamente para o exílio. Há notícia também de uma tentativa de desembarque ao largo do Cabo de São Vicente, que viria a fracassar.
D. António acabou por perder os meios económicos. Os diamantes que trouxera do reino para o exílio foram sendo gastos gradualmente. O último e o melhor foi adquirido por M. de Sancy, de quem foi comprado por Sully e mais tarde incluído nas jóias da coroa inglesa. Nos seus últimos dias viveu com uma pequena pensão oferecida por Henrique IV da França.
Continuou ainda a lutar até ao fim da sua vida pela restauração da independência do seu país. Não chegaria a assistir ao fim dodomínio filipino. D. João, neto da sua prima, a duquesa D. Catarina de Bragança, seria aclamado como rei D. João IV após o golpe vitorioso de 1 de Dezembro de 1640. Desapareceu assim, proscrito e esquecido, o último príncipe de Avis.
D. António, prior do Crato, morreu em Paris, em 1595, deixando vários filhos, esses sim ilegítimos, o que à partida lhes dificultaria sustentar as pretensões paternas. A sua descendência foi vastíssima, conta centenas de descendentes até à actualidade. Radicados fundamentalmente na HolandaBélgica e Suíça, curiosamente não houve mais sangue deste príncipe que brotasse em Portugal.
Para além dos documentos que publicou para defender a sua causa, D. António foi o autor do Panegyrus Alphonsi Lusitanorum Regis (Coimbra1550), e de umcento dos SalmosPsalmi Confessionales (Paris1592). Esta obra foi traduzida para a língua inglesa com o título The Royal Penitent by Francis Chamberleyn(Londres1659), e para a língua alemã com o título Heilige Betrachtungen (Marburg1677).

Legitimidade de D. António


Infante D. Luís, Duque de Beja, pai de D. António
Já antes de Alcácer Quibir[carece de fontes], e com grande acuidade depois, a questão é recorrente e nunca foi encerrada. D. António foi o 18.º rei de Portugal?
Um estudo recente tenta demonstrar que D. António era filho legítimo do Infante D. Luís, filho de D. Manuel I por Violante Gomes. Nele vem reproduzido um assento da Sé de Évora, de 15 de Junho de 1544, descoberto por Luís de Mello Vaz de São Payo, no qual um baptizando é filho de uma escrava "de Pero Gomes, sogro do Infante D. Luís".[7] O autor do estudo argumenta que "não podemos crer que o cura da Sé chamasse sogro ao pai da manceba do Príncipe, mesmo que com ele vivesse maritalmente".[7] Também refere que este assento "fornece o nome, que não vimos mencionado em nenhuma outra fonte, do pai de Violante Gomes".[7]
Justiça seja feita, já em 1917 o Visconde de Faria nomeava o pai da Bela Pelicana como Pedro Gomes, não hesitando também em afirmar que D. António "era filho do casamento secreto de D. Luís, duque de Beja, com Violante Gomes, filha de Pedro Gomes".[8] Não menciona a fonte em que se baseia, mas poderá ser a mesma que está guardada no Arquivo de Évora.
Faria sustenta que o casamento fora secreto por ser morganático, mas que a família real reconhecia D. António como um dos seus membros, vistos os cargos e prerrogativas que os seus tios, D. João III e cardeal D. Henrique, lhe concederam. Quanto à sua mãe Violante Gomes, não era judia como com alguma conveniência se disse. Pertenceria à pequena nobrezacatólica, tendo abandonado o mundo, com o consentimento de seu marido, e professado na Ordem de São Bernardo, morrendo ainda jovem no Mosteiro de Almoster.
Poderá concluir-se assim[quem?] que D. António podia suceder a D. Sebastião, por preceder na linha sucessória aocardeal. E que então fora o rei legítimo, entre o fatídico 4 de Agosto de 1578 até à aclamação do seu tio D. Henrique, a28 desse mesmo mês. Enredado nos interesses imperiais dos Áustrias, o cardeal D. Henrique pressionou o papa a pronunciar-se pela ilegitimidade do sobrinho. Mas o próprio Gregório XIII veio a revogar aquela sua declaração.[carece de fontes]
Afirmando sempre a legitimidade sustentada no casamento de seus pais, o prior do Crato deveria ser rei após a morte do tio, a 31 de Janeiro de 1580, fazendo-se aclamar a 19 de Junho. De pouco lhe valeu a sua legitimidade ante as tropas do duque de Alba, e as intrigas sustentadas pelo opulento Filipe II, que já se impusera ao titubeante cardeal-rei, e agora comprava adeptos desde Madrid a Lisboa. Fugindo para França em 1581, as sucessivas manobras deste desventurado neto de D. Manuel I para retomar o país foram infrutíferas.
"Face à evidência descoberta por Vaz de Sampaio quanto à questão da legitimidade, parece sustentável elencar D. António entre os reis de Portugal. Mais do que isso, importa corrigir esse erro propositado na sua génese e repisado ao longo dos séculos."

Títulos, estilos, e honrarias


Títulos e estilos

D. António reivindicava o estilo oficial de:
Pela Graça de Deus, António I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Descendência

Filha de mãe desconhecida:
  • Maria de Portugal (1558-1599)
Filipa de Portugal (1560-?)Filhos de Ana Barbosa:
  • Luísa de Portugal (1562-?)
  • Afonso de Portugal (1566-?)
  • Manuel de Portugal (1568-1638)
  • Cristóvão de Portugal (1573-1638)
  • Pedro de Portugal (1575-?)
  • Dinis de Portugal (1576-?)
  • Violante de Portugal (1577-d.1602)
  • Antónia de Portugal (1578-d.1602)
  • João de Portugal (1579-?)

Sem comentários:

Enviar um comentário