quarta-feira, 11 de maio de 2016

CINEMA: KRABAT - APRENDIZ DE FEITICEIRO

Cinema
KRABAT - APRENDIZ DE FEITICEIRO
Krabat (Prisioneiros da Magia (título no Brasil) ou Krabat - Aprendiz de Feiticeiro (título em Portugal)) é uma adaptação cinematográfica do livro de mesmo título escrito po Otfried Preußler. Foi dirigido por Marco Kreuzpaintner e foi lançado na Alemanha em 9 de outubro de 2008. Nos Estados Unidos, estreou no Seattle International Film Festival em 2009.[1] . Já no Brasil, foi direto para DVD em Fevereiro de 2010.
Krabat (David Kross) é um adolescente órfão, que em seus sonhos ouve uma voz constantemente. Ela faz com que siga até um velho moinho, onde é iniciado, junto com outros jovens, na arte da magia negra. Só que os seres demoníacos sempre exigem um alto preço para transmitir seus ensinamentos: a alma dos alunos.

Género: Fantasia - Paranormal
Actores: David Kross - Daniel Bruhl
Nacionalidade: Alemanha
Realizador: Marco Kreuzpaintner
Ano: 2008
Áudio: Brasileiro








sexta-feira, 6 de maio de 2016

REIS DE PORTUGAL - 4ª Parte: DE DONA MARIA I a DOM LUIZ

História de Portugal
REIS DE PORTUGAL - 4ª Parte: DE DONA MARIA I a DOM LUIZ
Esta é a quarta parte duma excelente série de vídeo-programas apresentada pelo Coronel Fernandes Henriques, que nos revela programa a programa, a história de cada um dos Reis de Portugal, Rei após Rei, e com eles a história de Portugal desde a pré-história. A primeira, segunda e terceira partes foram já publicadas anteriormente neste blog com o mesmo título "Reis de Portugal". Poderá vê-los pesquisando por esse título na barra de pesquisa deste Blog.
Junto ao programa sobre cada Rei, poderá complementar o seu conhecimento com ampla informação escrita acerca de cada monarca.

Género: História de Portugal

Texto: Português 
Áudio:Português
Fonte: Filmes Unimundos II - YouTube - Wikipédia - Família Real Portuguesa











Programa 27
DONA MARIA I - A PIEDOSA






Maria I de Portugal


Maria I
Rainha de Portugal e Algarves
Reinado24 de fevereiro de 1777
20 de março de 1816
Aclamação13 de maio de 1777
PredecessorJosé I
SucessorJoão VI
Co-monarcaPedro III (1777–1786)
RegenteJoão, Príncipe Regente
(1792–1816)
Rainha do Brasil
Reinado16 de dezembro de 1815
20 de março de 1816
SucessorJoão VI
RegenteJoão, Príncipe Regente
MaridoPedro III de Portugal
Descendência
José, Príncipe do Brasil
João VI de Portugal
Maria Ana Vitória de Portugal
Nome completo
Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana
CasaBragança
PaiJosé I de Portugal
MãeMariana Vitória da Espanha
Nascimento17 de dezembro de 1734
Paço da RibeiraLisboa,EstremaduraPortugal
Morte20 de março de 1816 (81 anos)
Convento do CarmoRio de JaneiroRio de JaneiroBrasil
EnterroBasílica da EstrelaLisboa,Portugal
ReligiãoCatolicismo
Maria I (Lisboa17 de dezembro de 1734 – Rio de Janeiro30 de março de 1816), apelidada de a Piedosa e a Louca, foi a Rainha de Portugal e Algarves de 1777 até sua morte, e também Rainha do Brasil a partir do final de 1815. De 1792 até sua morte, seu filho mais velho João atuou como regente do reino em seu nome devido sua doença mental. Era a filha mais velha do rei José I e sua esposa a infanta Mariana Vitória da Espanha.

Biografia


Maria Francisca, Princesa da Beira, Duquesa de Barcelos(1739), Francesco Pavona.











Nascimento

Maria nasceu a 17 de dezembro de 1734 no Paço da Ribeira, em Lisboa, Portugal. Seu nome completo era Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana. Foi primogênita de D. José de Bragança, então Príncipe do Brasil, e sua esposa Mariana Vitória de Bourbon, Infanta de Espanha.
Quando o seu pai subiu ao trono em 1750 como D. José I, Maria tornou-se suaherdeira presuntiva e recebeu os títulos tradicionais de Princesa do Brasil e Duquesa de Bragança.

Casamento

A continuidade dinástica da Casa de Bragança ficou assegurada com o seu casamento com o tio Pedro de Bragança. O casamento foi realizado no Palácio de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa, a 6 de julho de 1760. Ele subiu ao trono como Pedro III, sendo feito 19.º duque de Bragança, 16º duque de Guimarães e 14.º duque de Barcelos, 12.º marquês de Vila Viçosa, 20º conde de Barcelos, 16.º conde de Guimarães, de Ourém, de Faria, e de Neiva, 22.º conde de Arraiolos. Tiveram quatro filhos e três filhas.

Reinado


Dona Maria I, Rainha de Portugal, por José Leandro de Carvalho, 1808.
Embora Maria I seja tradicionalmente reconhecida como a primeira Rainha reinante em Portugal, isso é questionável, visto que à luz de uma nova perspectiva da história,Teresa de Leão já havia sido reconhecida como tal pelo papa, em 1112. Seu primeiro acto como rainha, iniciando um período que ficou conhecido como a Viradeira, foi a demissão e exílio da corte do marquês de Pombal, a quem nunca perdoara a forma brutal como tratou a família Távoradurante o Processo dos Távoras. Rainha amante da paz, dedicada a obras sociais, concedeu asilo a numerosos aristocratas franceses fugidos ao Terror da Revolução Francesa (1789-1799). Era, no entanto, dada a melancolia e fervor religioso de natureza tão impressionável que quando ladrões entraram em uma igreja e espalharam hóstias pelo chão, decretou nove dias de luto, adiou os negócios públicos e acompanhou a pé, com uma vela, a procissão de penitência que percorreu Lisboa.
O seu reinado foi de grande actividade legislativa, comercial e diplomática, na qual se pode destacar o tratado de comércio que assinou com a Rússia em 1789. Desenvolveu a cultura e as ciências, com o envio de missões científicas a AngolaBrasilCabo Verde e Moçambique, e a fundação de várias instituições, entre elas a Academia Real das Ciências de Lisboa e a Real Biblioteca Pública da Corte. No âmbito da assistência, fundou a Casa Pia de Lisboa. Fundou ainda a Academia Real de Marinha para formação de oficiais da Armada.
5 de janeiro de 1785 promulgou um alvará impondo pesadas restrições[1] à atividade industrial no Brasil. Durante seu reinado ocorreu o processo, condenação e execução do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Regência do filho


Moeda com as efígies de Maria I e Pedro III

Retrato da Rainha Dona Maria I com uma Coroa
Mentalmente instável, desde 10 de fevereiro de 1792 foi obrigada a aceitar que o filho tomasse conta dos assuntos de Estado. Obcecada com as penas eternas que o pai estaria sofrendo no inferno, por ter permitido a Pombal perseguir osjesuítas, o via como "um monte de carvão calcinado".
Para tratá-la veio de Londres o Dr. Willis, psiquiatra e médico real de Jorge III, enlouquecido em 1788, mas de nada adiantaram seus "remédios evacuantes".
Em 1799, sua instabilidade mental se agravou com os lutos pelo seu marido Pedro III (1786) e seu filho, o príncipe herdeiroJoséDuque de BragançaPríncipe da BeiraPríncipe do Brasil, morto aos 27 anos (1788), a marcha da Revolução Francesa, e execução do Rei Luís XVI de França na guilhotina e o filho e herdeiro João assumiu a regência : João VI de Portugal.

Mudança para o Brasil

A Família Real Portuguesa transfere-se para o Brasil, fruto do receio de ser deposta, à semelhança do que ocorrera nos países recentemente invadidos pelas tropas francesasNapoleão acumula o título de rei de Itália, dando o título de rei de Nápoles ao seu irmão José Bonaparte, a quem posteriormente situou no trono da Espanha; nos Países Baixos a coroa é dada a seu irmão Luís Bonaparte (Luís I da Holanda). Em 1801, o primeiro-ministro de Espanha, Manuel Godoy apoiado porNapoleão invadiu Portugal por breves meses e, no subsequente Tratado de BadajozOlivença passou para a coroa deEspanha, mais tarde também ocupada pelos franceses. Portugal continuou a fazer frente à França e, ao recusar-se a cumprir o bloqueio naval às Ilhas Britânicas, foi invadido pela coligação franco-espanhola liderada pelo Marechal Junot. A família real foge para o Brasil a 13 de Novembro de 1807 deixando Portugal a mercê do invasor. Junot invade Lisboa sendo nomeado governador de Portugal. A 1 de Agosto de 1808, o Duque de Wellington desembarcou em Portugal e iniciou-se a Guerra Peninsular. Entre 1809 e 1810, o exército luso-britânico lutou contra as forças invasoras de Napoleão, nomeadamente na batalha do Buçaco. Quando Napoleão foi derrotado em 1815, Maria e a família real encontravam-se ainda no Brasil. Dos membros da realeza, porém, foi a que se manteve mais calma, chegando a declarar: Não corram tanto, vão pensar que estamos a fugir.

Reino Unido

Proclamada Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezembro de 1815.

Morte


Túmulo de Maria I na Basílica da Estrela, em Lisboa
Incapacitada, Maria viveu no Brasil por oito anos, sempre em estado infeliz. Ela morreu no Convento do Carmo, na cidade doRio de Janeiro, em 20 de março de 1816, aos 81 anos de idade. Após as cerimônias fúnebres, seu corpo foi sepultado noConvento da Ajuda, também no Rio. Com sua morte, o Príncipe Regente João foi aclamado Rei de Portugal, Brasil e Algarves.
Em 1821, após o retorno da Família Real para Portugal, seus restos mortais foram transladados para Lisboa e sepultado em um mausoléu na Basílica da Estrela, igreja que ela mesma mandou erguer.

Bibliografia

-Defesa Militar, Princípios dos dois irmãos Jorge e Julio Stumpf Vasconcellos Editora Biblioteca do Exército e Marinha do Brasil, 1939.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Maria I de Portugal
Coat of arms of the United Kingdom of Portugal, Brazil and the Algarves.svg
Brasão de armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822)
Estilo realSua Majestade Fidelíssima
Tratamento directoVossa Majestade Fidelíssima
Estilo alternativoSenhora

Títulos e estilos[editar | editar código-fonte]

O estilo oficial de D. Maria I, desde a sua Aclamação até 1815 foi:
Pela Graça de Deus, Maria I, Rainha de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
Com a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1815, o seu estilo evoluiu para:
Pela Graça de Deus, Maria I, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Maria I foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:

Genealogia

Descendência

NomeRetratoLongevidadeNotas
Havidos de D. Pedro III de Portugal
(5 de Julho de 1717 – 25 de Maio de 1786; casados a 6 de Junho de 1760)
José, Príncipe do BrasilRetrato de uma jovem de peruca empoada e vestindo um casaco verde, e um colete dourado sob uma couraça de armadura. Com a Cruz de Cristo ao peito, apoia a mão esquerda num elmo sobre uma mesa e a esquerda na anca. Veste um manto de veludo vermelho, com forro de arminho.21 de Agosto de 1761 –
11 de Setembro de 1788
Recebeu o título de Príncipe da Beira ao nascer, título criado pelo seu avô maternoespecialmente para si. Desposou a tia materna, a Infanta Maria Francisca Benedita, de quem tinha quinze anos de diferença de idade; do casamento não houve descendência. Tornando-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente ao trono com a Aclamação da sua mãe, D. José faleceu prematuramente de varíola.
D. João de Bragança20 de Outubro de 1762Nado-morto, no Paço de Nossa Senhora da AjudaLisboa
D. João Francisco de Paula Domingos António Carlos Cipriano de Bragança16 de Setembro de 1763 –
10 de Outubro de 1763
Morreu menos de um mês depois de nascer.
João VI de PortugalRetrato de uma homem de cabelos brancos e patilhas, com um casaco preto com bordados a fio de ouro, e calças brancas.13 de Maio de 1767 –
10 de Março de 1826
Tornou-se Príncipe do Brasil e herdeiro aparente do trono, com a morte precoce dos irmãos mais velhos. Governou como Príncipe Regente, desde a declaração de incapacidade de mental da Rainha D. Maria I em 1792, e tornou-se Rei de Portugalentre 1816 e 1826.
Infanta D. Maria Ana Vitória15 de Dezembro de 1768 –
2 de Novembro de 1788
Nascida no Palácio de Queluz a 15 de Dezembro de 1768, morta em San Lorenzo de El Escorial em 2 de Novembro de 1788, tendo tido dois filhos e uma filha. Casou-se comGabriel António Francisco Xavier João Nepomuceno José Serafim Pascoal Salvador de Bourbon e SaxeInfante de Espanha, nascido em Portici a 12 de maio de 1752 e morreu no Escorial a 23 de Novembro de 1788, quarto filho de Carlos IIIrei da Espanha e de sua esposa Maria Amália de Saxe.
Infanta D. Maria Clementina Francisca Xavier de Paula Ana Josefa Antónia Domingas Feliciana Joana Michaela Julia de Bragança9 de Junho de 1774 –
27 de Junho de 1776
D. Maria Isabel de Bragança12 de Dezembro de 1776 –
14 de Janeiro de 1777

Na cultura popular

Uma versão altamente ficcionalizada da rainha Maria I é a protagonista da opéra-comique Les diamants de la couronne (1841), pelo compositor Daniel Auber, comlibretto de Eugène Scribe e Jules-Henri Vernoy de Saint-Georges; figurando igualmente na adaptação a zarzuela de Francisco Asenjo Barbieri, Los diamantes de la corona (1854), esta com libretto de Francisco Camprodón. Na ópera, Maria é menor aquando da morte do seu pai, sendo o país governado por um Conselho de Regência liderado pelo Conde de Campo Mayor. Maria toma o nome de "Catalina" e, sem ninguém o saber, lidera um grupo de bandidos com o intuito de vender as jóias da coroa, substituindo-as por falsificações, para trazer solvência fiscal ao Estado. No final, durante a sua coroação, Maria usa a sua astúcia para evitar a determinação do Conselho de Regência que a obrigaria a casar com um filho de rei de Espanha e, ao invés, casa com o Marquês de Sandoval, que havia sido assaltado pelos bandidos e se havia enamorado pela beleza de "Catalina", chefe da quadrilha.[2]

Maria-vai-com-as-outras

O termo "maria-vai-com-as-outras" é muito popular na lusofonia, onde é usado para designar uma pessoa fraca, sem opinião própria, que se deixa levar pelos outros. Segundo o pesquisador Brasil Gerson, autor do livro Histórias das Ruas do Rio, o termo foi cunhado a partir da figura da rainha Maria I, que viveu seus últimos anos no Rio de Janeiro. Declarada mentalmente incapaz desde 1792, Maria vivia reclusa e só saía na companhia de suas damas, que costumavam levá-la para passear às margens do rio Carioca, no antigo bairro de Águas Férreas (atual Cosme Velho). Ao ver a monarca sendo conduzida pelas mãos por suas damas, a população exclamava: Maria Vai-com-as-Outras.
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Programa 28
DOM JOÃO VI - O CLEMENTE 






João VI de Portugal


Dom João VI
Coat of arms of the United Kingdom of Portugal, Brazil and the Algarves.svg
Rei de Portugal
Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
Imperador do Brasil
Retrato de D. Joao VI - Gregorius, Albertus Jacob Frans 2.jpg
D. João VI, 1825, por Albertus Jacob Frans Gregorius
Governo
Reinado20 de março de 1816
10 de março de 1826
Coroação6 de Fevereiro de 1818Rio de Janeiro
ConsorteD. Carlota Joaquina de Bourbon
Antecessor(a)D. Maria I
HerdeiroD. Pedro (filho)
Sucessor(a)D. Pedro IV
Casa RealBragança
DinastiaBragança
Título(s)O Clemente
Vida
Nome completoJoão Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança
Nascimento13 de maio de 1767
PortugueseFlag1750.png LisboaReino de Portugal
Morte10 de março de 1826 (58 anos)
Flag United Kingdom Portugal Brazil Algarves.svg LisboaReino de Portugal
SepultamentoPanteão Real da Dinastia de BragançaMosteiro de São Vicente de ForaLisboa
Filho(s)D. Teresa, Princesa da Beira
D. Francisco, Príncipe da Beira
D. Isabel, Rainha de Espanha
D. Pedro IV e I
D. Maria, Condessa de Molina
D. Isabel Maria
D. Miguel I
D. Maria da Assunção
D. Ana, Marquesa de Loulé
PaiD. Pedro III
MãeD. Maria I
AssinaturaAssinatura de Dom João VI
João VI (nome completo: João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de BragançaBTO(Lisboa13 de maio de 1767 — Lisboa, 10 de março de 1826), cognominado O Clemente, foi rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1816 a 1822de facto, e desde 1822 até 1825de jure. Desde 1825 foi rei de Portugal até sua morte, em 1826. Pelo Tratado do Rio de Janeiro de 1825, que reconhecia a independência do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, também foi o imperador titular do Brasil, embora tenha sido seu filho Pedro o imperador do Brasil de facto.
Um dos últimos representantes do absolutismoD. João viveu num período tumultuado, e seu reinado nunca conheceu paz duradoura. Ora era a situação portuguesa ou europeia a degenerar, ora era a brasileira. Não esperara vir a ser rei; só ascendeu à posição de herdeiro da Coroa pela morte de seu irmão mais velho, D. José. Assumiu a regência quando sua mãe, Dona Maria I, foi declarada mentalmente incapaz. Teve de lidar com a constante ingerência nos assuntos do reino de nações mais poderosas, notadamente a EspanhaFrança e Inglaterra. Obrigado a fugir de Portugal quando astropas napoleônicas invadiram o país, chegando à colônia enfrentou revoltas liberais que refletiam eventos similares na metrópole, e foi compelido a retornar à Europa em meio a novos conflitos. Perdeu o Brasil quando seu filho D. Pedro I proclamou a independência e viu seu outro filho, D. Miguel I, rebelar-se buscando depô-lo. Finalmente, foi provado há pouco tempo que morreu envenenado. Seu casamento foi da mesma forma acidentado, e a esposa, Dona Carlota Joaquina, repetidas vezes conspirou contra o marido em favor de interesses pessoais ou da Espanha, seu país natal.
Não obstante as atribulações, deixou uma marca duradoura especialmente no Brasil, criando inúmeras instituições e serviços que sedimentaram a autonomia nacional, sendo considerado por muitos pesquisadores o verdadeiro mentor do moderno Estado brasileiro. Apesar disso, é até hoje um dos personagens mais caricatos da história luso-brasileira, sendo acusado de indolência, falta de tino político e constante indecisão, sem falar em sua pessoa, retratada amiúde como grotesca, o que, segundo a historiografia mais recente, na maior parte dos casos é uma imagem injusta.

Primeiros anos


D. João infante, pintura anônima no Museu da Inconfidência.
D. João nasceu em 13 de maio de 1767, durante o reinado de seu avô, D. José I. Foi o segundo dos filhos de Dona Maria e D. Pedro, que era também seu tio. Tinha dez anos quando o avô morreu e sua mãe ascendeu ao trono como Maria I de Portugal. Sua infância e juventude foram vividas discretamente, já que era apenas um Infante, ficando à sombra de seu irmão, D. José, o primogênito e herdeiro do trono. Formou-se um folclore a respeito de uma suposta falta de cultura no príncipe; entretanto, de acordo com Pedreira e Costa, há indícios de que tenha recebido uma educação tão rigorosa quanto a que seu irmão, na condição de herdeiro, recebeu. Por outro lado, um relato do embaixador francês não o pintou em cores favoráveis, descrevendo-o como hesitante e apagado. De qualquer forma, há pouca informação a respeito desta fase de sua vida.[1]
Segundo a tradição, teve como professores de letras e ciências o frei Manuel do CenáculoAntônio Domingues do Paço e Miguel Franzini, como mestre de música, o organista João Cordeiro da Silva e o compositor João Sousa de Carvalho, e como instrutor de equitação, o sargento-mor Carlos Antônio Ferreira Monte. De seu aproveitamento, pouco se sabe. Também seguramente teve instrução em religião, legislação, língua francesa e etiqueta, e a história deve ter sido aprendida através da leitura de obras de Duarte Nunes de Leão e João de Barros.[2]

Casamento e crise sucessória

Em 1785 seu casamento foi arranjado com a infanta Dona Carlota Joaquina, filha do futuro rei Carlos IV de Espanha (na época, ainda era o herdeiro do trono) e deDona Maria Luísa de Parma. Por razões políticas, temendo uma nova União Ibérica, parte da corte portuguesa não via o casamento com uma princesa espanhola com bons olhos. Apesar de sua pouca idade, Carlota era considerada uma menina muito vivaz e de educação refinada. Não obstante, teve de suportar quatro dias de testes diante dos embaixadores portugueses antes que o casamento se confirmasse. Também, sendo parentes, e pela pouca idade da infanta, os noivos precisaram de uma dispensa papal para poderem se unir. Após a confirmação, a outorga das capitulações matrimoniais foi assinada na sala do trono da corte espanhola, cercada de grande pompa e com a participação dos grandes de ambos os reinos, seguindo-se imediatamente o esponsal, realizado por procuração. D. João foi representando pelo próprio pai da noiva. À noite foi oferecido um banquete para mais de dois mil convidados.[3]

Dona Carlota Joaquina em 1785, pintura deMariano Salvador Maella.
A infanta foi recebida no Paço de Vila Viçosa no início de maio e em 9 de junho o casal recebeu as bênçãos nupciais na capela do Paço. Seu casamento ocorreu ao mesmo tempo que o de sua irmã, Dona Mariana Vitória, destinada ao infante D. Gabriel, também da casa real espanhola. A assídua correspondência de D. João com Dona Mariana na época revela que a falta da irmã lhe pesava, e, comparando-a com sua jovem esposa, dizia: "Ela é muito esperta e tem muito juízo, só o que tem é ser ainda muito pequena e eu gosto muito dela, mas por isso não te deixo de ter amor igual". Por outro lado, o temperamento da menina era pouco dado à docilidade, exigindo por vezes a intervenção da própria rainha Dona Maria. Além disso, ele com dezoito anos e ela com apenas dez, a diferença de idade entre ambos o incomodava e o punha em ansiedade. Pela excessiva juventude da esposa, o casamento ainda não se consumara, e dizia: "Cá há de chegar o tempo em que eu hei de brincar muito com a infanta. Se for por este andar julgo que nem daqui a seis anos. Bem pouco mais crescida está de que quando veio". De fato, a consumação teve de esperar até o dia 5 de abril de 1790. Em 1793 nascia Dona Maria Teresa, a primeira dos nove filhos que teriam.[3]
Entrementes, sua vida relativamente pacata sofreu uma reviravolta em 11 de setembro de 1788, quando seu irmão mais velho, D. José, faleceu. Assim D. João passava a ser o herdeiro da Coroa.[4] Em D. José o povo depositava grandes esperanças e era tido como um príncipe alinhado aos ideais progressistas do iluminismo, mas era criticado pelos religiosos, já que parecia inclinar-se para a orientação política anticlerical do marquês de Pombal. Em contrapartida, a imagem de D. João enquanto seu irmão viveu era oposta. Sua religiosidade era notória e teria se mostrado favorável à prática do regime absolutista. A crise sucessória se agravou quando, no ano seguinte, D. João ficou gravemente enfermo, e temeu-se pela sua vida. Recuperado, em 1791 caiu doente outra vez, "deitando sangue pela boca e pelos intestinos", conforme anotações deixadas pelo capelão do marquês de Marialva, acrescentando que seu ânimo estava sempre abatido. Formara-se desta forma um clima de tensão e incertezas sobre o seu futuro reinado.[5]

Regência


Domingos SequeiraDom João, Príncipe Regente, passando revista às tropas na Azambuja, 1803
Além disso, a rainha dava crescentes sinais de desequilíbrio mental. Em 10 de fevereiro de 1792, em documento assinado por dezessete médicos, ela foi declarada incapaz de gerir o reino, não havendo previsão de melhora em seu quadro. D. João se mostrou relutante em assumir decididamente as rédeas do poder, rejeitando a ideia de umaregência formalizada, abrindo assim caminho para elementos da nobreza formarem uma corrente que pretendia governar de facto o reino através de um Conselho. Circularam rumores de que D. João exibia sintomas da mesma insanidade, especulando-se se ele também se veria impedido de reinar. De acordo com antigas leis que norteavam a instituição regencial, caso o regente viesse a falecer ou ser impedido por qualquer motivo, e tendo filhos menores de quatorze anos - situação em que se encontraria D. João - o governo seria exercido pelos tutores dos infantes ou, se estes não houvessem sido nomeados formalmente, pela esposa do regente - uma espanhola. Complicava-se, entre temores, suspeitas e intrigas, todo o quadro institucional da nação.[6]
Ao mesmo tempo, sentiam-se os reflexos da Revolução Francesa, que causaram perplexidade e horror entre as casas reinantes europeias. A execução do rei francês Luís XVI em 21 de janeiro de 1793 pelas forças revolucionárias precipitou uma resposta internacional. Assim, em 15 de julho foi assinada uma convenção entre Espanha e Portugal, e em 26 de setembro Portugal aliou-se à Inglaterra, ambos os tratados visando auxílio mútuo para o combate aos franceses e levando os portugueses no ano seguinte às campanhas do Rossilhão e da Catalunha (1793-1795), em que o país participou com seis mil soldados, e que depois de um início bem sucedido acabou em fracasso. Criou-se um delicado problema diplomático, em que Portugal não podia selar a paz com a França sem ferir a aliança com a Inglaterra, que envolvia múltiplos interesses, passando assim a buscar uma neutralidade que se revelou frágil e tensa.[7] [8]
Depois da derrota, tendo a Espanha alienado Portugal da Paz de Basiléia concertada com a França, e sendo a Inglaterra poderosa demais para ser atacada diretamente, o alvo da vingança francesa passou a ser Portugal.[9]Assumindo o poder francês em 1799, no mesmo ano em que D. João foi instalado oficialmente como regente do reino (em 14 de julho),[10] Napoleão Bonapartecoagiu a Espanha a impor um ultimato aos portugueses, que obrigava ao rompimento com a Inglaterra e a submissão do país aos interesses franceses. Diante da negativa de D. João, a neutralidade se tornou inviável. Em 1801 Espanha e França invadiram Portugal, episódio conhecido como a Guerra das Laranjas, onde perdeu-se a praça de Olivença. Todos os países envolvidos, com interesses conflitantes, faziam movimentos ambíguos e acordos secretos. A situação se tornara crítica para Portugal, que tentava se manter fora das convulsões. Mas, de todas, era a parte mais fraca, foi usado como um joguete pelas outras potências e acabaria por ser novamente invadido.[9] Enquanto isso, D. João teve de enfrentar o inimigo dentro de casa. Sua própria esposa, fiel aos interesses espanhóis, iniciou intrigas objetivando depor o marido e tomar o poder, tentativa que entretanto acabou abortada em 1805, com o resultado da conspiradora ser exilada da corte, passando a viver no Palácio de Queluz, enquanto o regente passou a residir no Palácio de Mafra.[11] [12]

Partida para o Brasil

Em 1807 foram assinados os tratados de Tilsit, entre a França e Rússia, e de Fontainebleau, entre a França e Espanha, onde definiu-se a conquista e partilha de Portugal. O destino do reino estava traçado. D. João tentou desesperadamente ganhar tempo e até o último momento simulou uma submissão voluntária à França, chegando a sugerir ao rei inglês a declaração de uma guerra fictícia à Inglaterra. O Bloqueio Continental decretado por Napoleão não foi seguido em todos os seus termos e secretamente estabeleceu-se com a Inglaterra novo acordo em que Portugal receberia ajuda para uma eventual fuga da família real. O acordo era sumamente vantajoso para os ingleses, que, preservando de uma deposição certa o governo legítimo, que sempre lhe fora simpático, manteria sua influência sobre o país, continuando a tirar grandes lucros no comércio com o império transcontinental português. A Portugal cabia escolher entre a obediência à França ou à Inglaterra, mas o governo, dividido entre francófilos e anglófilos, hesitava, ameaçando Portugal de uma guerra não apenas contra uma potência, mas contra duas. Logo os eventos se precipitaram: em outubro de 1807 chegaram informações de que um exército composto de franceses e espanhóis se aproximava, em 1º de novembro foi conhecido na corte que Napoleão divulgara uma notícia dizendo que a Casa de Bragança em dois meses deixaria de reinar, e em 6 de novembro a esquadra inglesa entrou no porto de Lisboa com uma força de sete mil homens, com ordens de ou escoltar a família real para o Brasil ou, se o governo se rendesse aos franceses, atacar e conquistar a cidade. Depois de angustiada ponderação, pressionado por todos os lados, D. João decidiu aceitar a proteção inglesa e partir para o Brasil.[9] [13] [14]

Embarque da família real para o Brasil noporto de BelémMuseu Histórico e Diplomático.
O exército invasor, comandado por Jean-Andoche Junot, iniciara seu avanço, mas chegou às portas da capital somente em 30 de novembro de 1807.[11] Tendo enfrentado várias dificuldades no caminho, esta milícia estava alquebrada e faminta, suas fardas estavam em farrapos e os soldados, em sua maioria novatos inexperientes, mal conseguiam carregar suas armas. Alan Manchester descreveu-os dizendo que "sem cavalaria, artilharia, cartuchos, sapatos ou comida, cambaleando de fadiga, a tropa mais parecia a evacuação de um hospital do que um exército marchando triunfalmente para a conquista de um reino", e por isso acredita-se que uma resistência poderia ter sido bem sucedida, mas o governo não estava a par da situação do inimigo, e de qualquer modo já era tarde para eles.[15]D. João, acompanhado de toda a família real e grande séquito de nobres, prelados, funcionários de Estado e criados, bem como volumosa bagagem onde se incluía valioso acervo de arte, os arquivos de Estado e o tesouro real, já partira, deixando o país sob uma regência, conhecida como Conselho de Regência de 1807. A ideia de uma mudança da sede da corte para a América como ato geopolítico já existia em Portugal há muito tempo, e de fato alguns meses antes já haviam sido feitos alguns preparativos para a eventualidade, mas neste momento a fuga teve de ser realizada às pressas, debaixo de chuvas que deixaram as ruas um lamaçal, e causou enorme tumulto em Lisboa, em meio a uma população entre atônita e revoltada que não podia acreditar que seu príncipe a abandonava. Na confusão foram esquecidas no cais inúmeras outras malas e pertences, os caixotes com toda a prataria das igrejas, que foi confiscada e fundida pelos franceses, e o precioso acervo de sessenta mil volumes da Biblioteca Real, que foi salvo e enviado ao Brasil mais tarde.[16] [17] [18] No relato de José Acúrsio das Neves, a partida causou profunda comoção no príncipe regente:
"Queria falar e não podia; queria mover-se e, convulso, não acertava a dar um passo; caminhava sobre um abismo, e apresentava-se-lhe à imaginação um futuro tenebroso e tão incerto como o oceano a que ia entregar-se. Pátria, capital, reino, vassalos, tudo ia abandonar repentinamente, com poucas esperanças de tornar a pôr-lhes os olhos, e tudo eram espinhos que lhe atravessavam o coração".[19]
Para explicar-se ao povo, D. João mandara afixar cartazes pelas ruas afirmando que a partida fora inevitável, a despeito de todos os esforços feitos para assegurar a integridade e a paz do reino; recomendando calma a todos, ordenou que não resistissem aos invasores para que não se derramasse sangue em vão. Em virtude da pressa, no mesmo navio que o príncipe, seguiram sua mãe a rainha e os seus herdeiros D. Pedro I e D. Miguel, uma decisão imprudente, dados os perigos de uma viagem transatlântica naquela época, pondo em risco a sucessão da Coroa caso naufragassem, enquanto que Dona Carlota e as infantas iam em dois outros barcos.[20] O número de pessoas embarcadas é muito controverso; no século XIX falava-se em até 30 mil emigrados;[21] estimativas mais recentes oscilam de quinhentas a quinze mil, mas a esquadra, composta por quinze embarcações, de fato só podia levar de doze a quinze mil pessoas, estando neste número inclusos os tripulantes. Porém, há vários relatos a respeito da superlotação dos navios. Segundo Pedreira e Costa, levando em conta todas as variáveis, é mais provável que tenham sido de quatro a sete mil pessoas, excluindo tripulantes. Muitas famílias foram separadas, e mesmo altos dignitários não encontraram uma colocação nos navios, ficando para trás. A viagem não foi nada tranquila; logo de início enfrentaram uma tormenta que obrigou a um considerável desvio na rota, vários navios estavam em precária condição, a superlotação impunha situações humilhantes para a nobreza, a maioria teve de dormir amontoada, sob vento e chuva, nos tombadilhos; a higiene era péssima, surgindo até uma epidemia de piolhos, muitos não haviam conseguido trazer mudas de roupa, várias pessoas adoeceram, os mantimentos e a água eram escassos e foram racionados. O ânimo de todos azedou e iniciaram murmurações, e a frota, atravessando um denso nevoeiro em que se perdeu contato visual entre os navios e, em seguida, sendo fustigada por outra tempestade que danificou seriamente vários barcos, acabou por se dispersar na altura da Ilha da Madeira. Logo depois o príncipe mudou seus planos, e por sua ordem o grupo de navios que ainda o acompanhava se dirigiu para Salvador, provavelmente por uma razão política - agradar os habitantes da primeira capital da colônia, que já haviam dado vários sinais de descontentamento com a perda do antigo status -, enquanto os navios restantes seguiam para o Rio de Janeiro, como era o plano original.[22] [23]

A transformação da colônia em reino


Decreto da abertura dos portos, Biblioteca Nacional do Brasil.
Em 22 de janeiro de 1808 o navio que levava o regente mais duas outras naus aportaram na Baía de Todos os Santos, no Brasil. Mas em Salvador o cais estava deserto, pois o governador, o conde da Ponte, preferiu primeiro aguardar as ordens do príncipe para depois permitir que o povo o recepcionasse. Estranhando a atitude, ordenou D. João que todos viessem como quisessem.[24] Entretanto, para permitir que a nobreza se recompusesse depois de tão penosa jornada, o desembarque foi protelado para o dia seguinte, quando foram recebidos festivamente, em meio a uma procissão, repicar de sinos e a celebração de um Te Deum na Catedral. Nos dias seguintes o príncipe recebeu todos os que o quiseram homenagear, prestando-se ao cerimonial do beija-mão e concedendo várias mercês.[25]Entre elas, decretou a criação de uma aula pública de economia e uma escola de cirurgia,[26] mas sobretudo foi decisiva neste primeiro momento a abertura dos portos às nações amigas, uma medida de vasta importância política e econômica e a primeira de muitas que tomaria para melhorar as condições da colônia. Entretanto, naturalmente, a Inglaterra, cuja economia dependia em grande parte do comércio marítimo, e que agora se convertera em uma espécie de tutora do reino, foi diretamente beneficiada, obtendo diversos privilégios.[27]

Alegoria da chegada de D. João ao Brasil
Salvador passou um mês em comemorações pela presença da corte, e tentou seduzi-la para transformá-la em nova sede do reino, oferecendo-se até para construir um luxuoso palácio para abrigar a família real, mas D. João, lembrando aos locais que anunciara a todas as nações sua intenção de fixar-se no Rio de Janeiro, declinou, e prosseguiu viagem. O navio que o levava entrou na Baía de Guanabara em 7 de março, onde encontrou-se com as infantas e outros membros da comitiva, cujos navios haviam chegado antes. No dia 8 finalmente toda a corte desembarcou, encontrando a cidade engalanada para recebê-la. Foram nove dias de celebrações ininterruptas.[28]Um conhecido cronista da época, o padre Perereca, testemunha ocular da chegada, ao mesmo tempo em que lamentava as notícias da invasão da metrópole, já intuía o que significava a corte em solo brasileiro:
Com a corte viera o essencial do aparato de um Estado soberano: a alta hierarquia civil, religiosa e militar, aristocratas e profissionais liberais, artesãos qualificados, servidores públicos. Para muitos estudiosos na transferência da corte para o Rio se iniciou a fundação do Estado brasileiro moderno e deu-se o primeiro passo em direção à sua verdadeira independência.[30] Mesmo que formal e juridicamente o Brasil ainda permanecesse algum tempo como colônia portuguesa, nas palavras deCaio Prado Jr.,

Vista do Largo do Carmo no centro do Rio, poucos anos depois da chegada da corte.
Mas primeiro era preciso acomodar todo o pessoal recém-chegado, um problema difícil de resolver dadas as acanhadas proporções da cidade então. Principalmente faltavam casas dignas o bastante para satisfazer o alto padrão de vida da nobreza, em especial da própria família real. Esta foi instalada no Palácio dos Vice-reis, um grande casarão, mas sem maior conforto e em nada semelhante aos palácios portugueses. Mesmo grande, não foi suficiente para acomodar a todos, e foi necessário requisitar os edifícios vizinhos, como o Convento do Carmo, a Casa da Câmara e a cadeia. Para atender aos outros nobres e instalar novas repartições públicas, inúmeras residências menores foram desapropriadas às pressas, despejando-se arbitrariamente seus proprietários, às vezes usando de meios violentos diante de resistências. Como o regente, a despeito dos esforços do vice-rei Marcos de Noronha e Brito e de Joaquim José de Azevedo, ainda estava mal instalado, o comerciante Elias Antônio Lopes ofereceu sua casa de campo na Quinta da Boa Vista, um palacete suntuoso em excelente localização que imediatamente caiu no agrado do príncipe. Depois de várias reformas e ampliações, o palacete se transformaria no Paço de São Cristóvão. Dona Carlota Joaquina, por outro lado, preferiu ficar em uma chácara na praia de Botafogo, continuando seu hábito de viver apartada do marido.[32]

Registro da cerimônia do beija-mão na corte carioca de D. João, um costume típico da monarquia portuguesa
A cidade, na época com cerca de sessenta mil habitantes, se viu transformada do dia para a noite. A população adicional, cheia de novas exigências, impôs uma nova organização no abastecimento de alimentos e outros bens de consumo, incluindo itens de luxo. O processo de instalação dos portugueses ainda levaria anos para se completar e o cotidiano do Rio se tornou durante um bom tempo caótico; os aluguéis dobraram, subiram os impostos e os víveres sumiram, requisitados para a nobreza. Isso logo dissipou o entusiasmo popular pela chegada do príncipe. Com o tempo a fisionomia urbana também começou a mudar, com a construção de inúmeras novas residências, palacetes e outras edificações, e foram implementadas várias melhorias nos serviços e na infraestrutura. Igualmente, a presença da corte introduziu novos padrões de etiqueta, novas modas e novos costumes, incluindo uma nova estratificação social.[33] [34] [35] [36]
Entre os ditos costumes, D. João VI continuou no Brasil o antigo cerimonial português do beija-mão, pelo qual tinha grande apreço e que entrou para o folclore, exercendo grande fascínio sobre o povo.[37] Recebia seus súditos todos os dias, excetuando domingos e feriados, que em longas filas, onde se misturavam nobres e plebeus, esperavam para mostrar seu respeito pelo monarca e pedir-lhe mercês. Disse o pintor Henry L’Evêque que "o Príncipe, acompanhado por um Secretário de Estado, um Camareiro e alguns oficiais de sua Casa, recebe todos os requerimentos que lhe são apresentados; escuta com atenção todas as queixas, todos os pedidos dos requerentes; consola uns, anima outros.... A vulgaridade das maneiras, a familiaridade da linguagem, a insistência de alguns, a prolixidade de outros, nada o enfada. Parece esquecer-se de que é senhor deles para se lembrar apenas de que é o seu pai".[38] Oliveira Lima registrou que ele "nunca confundia as fisionomias nem as súplicas, e maravilhava os requerentes com o conhecimento que denotava das suas vidas, das suas famílias, até de pequenos incidentes ocorridos em tempos passados e que eles mal podiam acreditar terem subido à ciência d'el-rei".[39]
Ao longo de sua permanência no Brasil o rei formalizaria a criação de um enorme número de instituições e serviços públicos e fomentaria a economia, a cultura e outras áreas da vida nacional. Todas essas medidas foram tomadas a princípio pela necessidade prática de se administrar um grande império em um território antes desprovido desses recursos, pois a ideia predominante era a de que o Brasil permaneceria como uma colônia, visto que se esperava um retorno da corte para a antiga metrópole assim que a situação política europeia se normalizasse. Entretanto, esses avanços se tornariam a base da futura autonomia do Brasil.[40] [41]
Isso não quer dizer que tudo fossem amenidades e progresso. Houve sérias crises políticas, que iniciaram logo depois de sua chegada, com a invasão da Guiana Francesa em 1809, em represália à invasão de Portugal,[42] e grandes problemas econômicos, a começar com o penoso acordo comercial de 1810 imposto pela Inglaterra, que na prática inundou o pequeno mercado interno com quinquilharias inúteis e prejudicou as exportações e a criação de novas indústrias no país;[43] [44]deficit público se multiplicou por vinte e a corrupção grassava à solta nas instituições, incluindo o primeiro Banco do Brasil, que acabou falindo. Além disso a corte era extravagante e perdulária, acumulava privilégios sobre privilégios e sustentava uma legião de sicofantas e aventureiros. O cônsul britânico James Hendersonobservou que poucas cortes europeias eram tão grandes como a portuguesa. E diz Laurentino Gomes que D. João distribuiu mais títulos hereditários durante os primeiros oito anos de sua estada no Brasil do que foram outorgados em todos os trezentos anos anteriores da história de Portugal, sem contar mais de cinco mil insígnias e comendas de ordens honoríficas.[45] [46]
Quando Napoleão foi apeado do poder, em 1815, as potências europeias instalaram o Congresso de Viena para reorganizar o mapa político do velho continente. Portugal participou das negociações, mas diante das maquinações inglesas contrárias aos interesses da Casa de Bragança, o regente foi aconselhado a permanecer no Brasil pelo conde de Palmela, embaixador português junto ao Congresso, e pelo poderoso príncipe de Talleyrand, a fim de estreitar os laços entre metrópole e colônia, sugerindo-se inclusive a elevação da colônia à condição de reino unido a Portugal. O representante inglês também acabou concordando com a ideia, que resultou na efetiva criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezembro de 1815, instituição jurídica rapidamente reconhecida por outras nações.[41]

Ascensão ao trono e outras questões políticas[editar | editar código-fonte]


D. João VI nos trajes de sua aclamação, pintura de Debret.
Em 20 de março de 1816 faleceu a rainha Dona Maria, abrindo caminho para o regente assumir o trono. Mas embora passasse a governar como rei no dia 20, sua sagração não se realizou de imediato, sendo aclamado somente em 6 de fevereiro de 1818, com grandes festividades.[10] Entrementes, vários assuntos políticos ocupavam o primeiro plano. Dona Carlota Joaquina continuava a conspirar contra os interesses portugueses. Na verdade isso havia iniciado em Portugal, e, ambiciosa, logo após sua chegada ao Brasil estabelecera entendimentos tanto com espanhóis como com nacionalistas platinos, pretendendo conseguir um reino para si própria, fosse como regente da Espanha, fosse como rainha de um novo reino a ser criado nas colônias espanholas no sul da América, ou mesmo através da deposição de D. João. Isso tornara sua convivência com D. João impossível, apesar da paciência que o marido lhe demonstrava, e só por força das conveniências se apresentavam juntos em público. Embora Dona Carlota tenha conseguido angariar muitas simpatias, todos esses seus planos malograram. Apesar disso, conseguiu influenciar o marido a se envolver mais diretamente na política colonial espanhola, o que acabou desembocando na tomada de Montevidéu em 1817 e na anexação da Província Cisplatina em 1821.[47] [48]
Na mesma época se colocava o problema de casar o príncipe herdeiro D. Pedro I. O Brasil era visto na Europa como um país distante demais, atrasado e inseguro, e encontrar boas candidatas não foi tarefa simples. Depois de um ano de buscas o embaixador, marquês de Marialva, conseguiu enfim uma aliança com uma das mais poderosas casas reinantes da Europa, os Habsburgo, imperadores da Áustria, depois de seduzir a corte austríaca com algumas mentiras, uma faustosa exibição de pompa e a distribuição de barras de ouro e diamantes entre a nobreza. Casou-se então D. Pedro I com Dona Leopoldina, filha do imperador Francisco I, em 1817.[49] O imperador e seu ministroMetternich consideraram a aliança "um pacto vantajosíssimo entre a Europa e o Novo Mundo", podendo fortalecer o regime monárquico em ambos os hemisférios e criando para a Áustria uma nova zona de influência.[50]
Ao mesmo tempo, a situação em Portugal não estava nada tranquila; acéfalo e devastado pela Guerra Peninsular, que causou fome em massa e um enorme êxodo populacional,[51] com o afastamento definitivo da ameaça francesa a metrópole se havia convertido na prática num protetorado britânico, comandado pelo marechalWilliam Beresford, que governou com mão de ferro. Desde a ascensão de D. João ao trono os portugueses faziam pressão para o seu retorno, iniciavam rebeliões de orientação liberal e agiam sociedades secretas, objetivando uma convocação das Cortes, que não se reuniam desde 1698. No Brasil havia agitação semelhante. Em 1817 eclodira em Recife a Revolução Pernambucana, movimento republicano que instalou um governo provisório em Pernambuco e se infiltrou por outros estados, mas foi severamente reprimido. Em 24 de agosto de 1820 um levante militar no Porto instaurou uma Junta Governativa, com repercussões em Lisboa. Reuniram-se as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes, formando um governo e convocando eleições para deputados sem a consulta a D. João. O movimento se espalhou para a Ilha da Madeira, os Açores e alcançou a capitania do Grão-Pará e a Bahia, no Brasil, chegando a causar a sublevação da guarnição militar no próprio Rio de Janeiro.[4] [52]
A 30 de janeiro de 1821 as Cortes se reuniram em Lisboa e decretaram a formação de um Conselho de Regência para exercer o poder em nome de D. João, libertaram muitos presos políticos e exigiram o regresso imediato do rei. Em 20 de abril D. João convocou no Rio uma reunião para escolher deputados à Constituinte, mas no dia seguinte houve protestos em praça pública que acabaram reprimidos com violência. No Brasil a opinião geral era de que a volta do rei poderia significar a retirada do país da autonomia conquistada, voltando a ser uma colônia. Pressionado, D. João tentou encontrar uma saída contemporizadora enviando para Lisboa seu filho, o príncipe herdeiro D. Pedro I, para outorgar uma Constituição e estabelecer as bases de um novo governo. O príncipe, contudo, já envolvido com ideias libertadoras, recusou-se. A crise havia ido longe demais e não havia como voltar atrás. Só restou ao rei nomear D. Pedro I regente em seu nome e partiu para Lisboa em 25 de abril de 1821, após uma permanência de treze anos no Brasil, do qual levou saudades.[4] [10] [52]

Regresso a Portugal


Desembarque de D. João VI em Lisboa
Os navios com o rei e sua comitiva entraram no porto de Lisboa em 3 de julho. Sua volta fora orquestrada de modo a não dar a entender que o rei se sentira coagido, mas de fato já se havia instaurado um novo ambiente político.[4]Elaborada a Constituição, o rei foi obrigado a jurá-la em 1º de outubro de 1822, perdendo diversas prerrogativas. Dona Carlota negou-se a imitar o marido, e com isso seus direitos políticos foram cassados, sendo despojada do título de rainha. Nesta data, do outro lado do oceano o rei já havia perdido também o Brasil. Seu filho, optando por ficar no país, liderou uma revolta proclamando a Independência do Brasil em 7 de setembro, assumindo o título de imperador.[10] [53] Diz a tradição que antes de seguir viagem para Portugal D. João VI teria antecipado os futuros acontecimentos dizendo para o herdeiro: "Pedro, o Brasil brevemente se separará de Portugal: se assim for, põe a coroa sobre tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela". Segundo as memórias do conde de Palmela, de fato a independência brasileira teria sido realizada em comum acordo entre o rei e o príncipe. De qualquer modo, a correspondência posterior entre os dois registra a preocupação do príncipe de que isso não perturbasse o pai.[54] O reconhecimento oficial da independência, porém, demorou.[10]

D. Miguel à frente da Vilafrancada
A Constituição liberal jurada pelo rei vigoraria apenas durante alguns meses. O liberalismo não agradava a todos e ergueu-se um movimento absolutista. Em 23 de fevereiro de 1823, em Trás-os-Montes, o conde de Amaranteproclamou a monarquia absoluta, o que entretanto não vingou de pronto, mas novas agitações se seguiram. Em 27 de maio o infante D. Miguel, instigado por sua mãe Dona Carlota, liderou outra revolta, conhecida como aVilafrancada, tentando restaurar o absolutismo. Mudando o jogo, o rei apoiou o filho a fim de evitar sua própria deposição - desejada pelo partido da rainha - e apareceu em público no dia de seu aniversário ao lado do filho, que vestia um uniforme da Guarda Nacional, um corpo militar que embora desorganizado tendia para o liberalismo, recebendo os aplausos da milícia. A seguir o monarca se dirigiu pessoalmente a Vila Franca para melhor administrar a crise, e seu retorno para Lisboa foi um verdadeiro triunfo. O clima político se mostrava indeciso, e com isso mesmo os mais firmes defensores do liberalismo recearam se comprometer em demasia. As Cortes, antes de serem dissolvidas, protestaram contra qualquer mudança que se operasse no texto constitucional recém aprovado, mas o regime absoluto foi restaurado,[10] [55] os direitos da rainha, restabelecidos, e o rei, aclamado pela segunda vez em 5 de junho de 1823. D. João, além disso, reprimiu manifestações em contrário, deportou alguns liberais, prendeu outros, ordenou a recomposição de magistraturas e instituições mais de acordo com a nova orientação política e criou uma comissão para elaborar estudos para uma nova Carta.[56] [55]
A aliança do rei com D. Miguel não frutificou, já que, sempre influenciado pela mãe, o infante em 29 de abril de 1824 levantou a guarnição militar de Lisboa e colocou o pai sob custódia no Paço da Bemposta, na chamada Abrilada, a pretexto de esmagar os maçons e defender o rei das ameaças de morte que aqueles supostamente teriam-lhe feito, prendendo na ocasião diversos inimigos políticos. Tentava o infante, na verdade, forçar a abdicação do pai. Alertado da situação, o corpo diplomático penetrou no palácio e, diante de tantas autoridades, os custódios do rei não resistiram, moderando-se. Em 9 de maio, por conselho de embaixadores amigos, D. João simulou um passeio a Caxias, mas de fato foi buscar refúgio junto à armada britânica ancorada no porto. A bordo da nau Windsor Castle chamou o filho, repreendeu-o, destituiu-o do comando do exército e ordenou-lhe a libertação dos presos que fizera. D. Miguel foi exilado. Vencida a rebelião, o povo foi às ruas comemorando a permanência do governo legítimo, onde se uniram absolutistas e liberais.[10] [57] No dia 14 o rei voltou à Bemposta, reconstituindo o ministério e mostrando generosidade para com os outros rebeldes. Porém, não cessava a rainha de conspirar. A polícia descobriu que outra rebelião deveria estourar em 26 de outubro, diante do que a D. João não restou senão mostrar-se enérgico, mandando a esposa para prisão domiciliar em Queluz.[10]

Anos finais


O rei em gravura de 1825 deManuel Antônio de Castro
No fim de seu reinado D. João ordenou a criação de um porto-franco em Lisboa, mas a medida não foi implantada. Mandou prosseguir a devassa para averiguar a morte do marquês de Loulé, seu antigo amigo, mas a sentença final nunca foi proferida. Em 5 de junho de 1824 anistiou os envolvidos na revolução do Porto, excetuando nove oficiais que foram desterrados, e no mesmo dia mandou entrar em vigor a antiga Constituição do reino e convocar novamente as Cortes para a elaboração de um novo texto. A mudança constitucional enfrentou diversos obstáculos, principalmente da Espanha e de partidários da rainha.[58]
Contudo, os maiores problemas que enfrentou foram os ligados à independência do Brasil, até então a maior fonte de riqueza de Portugal, e cuja perda fora de grande impacto sobre a economia portuguesa. Foi imaginada inclusive uma expedição de reconquista da antiga colônia, mas logo a ideia foi abandonada. Negociações difíceis entabuladas na Europa e no Rio de Janeiro, com a mediação e pressão da Inglaterra, resultaram no definitivo reconhecimento da independência em 29 de agosto de 1825. Ao mesmo tempo, o rei libertou todos os brasileiros que estavam presos e autorizou o comércio entre ambas as nações. Quanto a D. Pedro, foi acertado que governaria soberano com o título de Imperador Regente, mantendo D. João para si o título de Imperador Titular do Brasil, passando a assinar os documentos oficiais como "Sua Majestade o Imperador e Rei D. João VI". O Brasil ficava ainda obrigado ao pagamento do último empréstimo contraído com Portugal. Sobre a sucessão das duas coroas, nada ficou dito no tratado, mas D. Pedro, continuando na qualidade de Príncipe Real de Portugal e Algarves, permanecia implicitamente na linha de sucessão ao trono português.[10] [58]
Em 4 de março de 1826, D. João, vindo do Mosteiro dos Jerônimos onde almoçara, recolheu-se ao Paço da Bemposta sentindo-se mal. Iniciaram vômitos, convulsões e desmaios, que duraram alguns dias. O enfermo pareceu melhorar, mas por prudência designou sua filha, a infantaIsabel Maria, como regente. Na noite do dia 9 a moléstia se agravou, e perto das 5 horas do dia 10, faleceu. Os médicos não puderam determinar exatamente acausa mortis, mas suspeitou-se de envenenamento. Seu corpo foi embalsamado e sepultado no mausoléu dos reis de Portugal, o Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. A infanta assumiu imediatamente o governo interino e D. Pedro foi reconhecido legítimo herdeiro, como D. Pedro IV de Portugal.[59] Recentemente uma equipe de pesquisadores exumou o pote de cerâmica chinesa que continha as suas vísceras. Fragmentos do seu coração foram reidratados e submetidos a análises, que detectaram uma quantidade de arsênico suficiente para matar duas pessoas, confirmando as suspeitas de que o rei foi em verdade assassinado.[60] [61]

Vida privada


Manuel Dias de OliveiraRetrato de D. João e Dona Carlota, uma imagem oficial que dissimula a perene discórdia entre o casal
Em sua juventude foi uma figura retraída, fortemente influenciado pelo clero, vivendo cercado de padres e frequentando diariamente as missas da Igreja. Entretanto, Oliveira Lima afirmou que antes do que uma expressão de carolice pessoal, isso era um mero reflexo da cultura portuguesa de então, e que o rei...
"compreendia que a Igreja, com seu corpo de tradições e sua disciplina moral, só lhe podia ser útil para o bom governo a seu modo, paternal e exclusivo, de populações cujo domínio herdara com o cetro. Por isso foi repetidamente hóspede de frades e mecenas de compositores sacros, sem que nessas manifestações epicuristas ou artísticas se comprometesse seu livre pensar ou se desnaturasse sua tolerância cética.... Aprazia-lhe o refeitório mais do que o capítulo do mosteiro, porque neste se tratava de observância e naquele se cogitava de gastronomia, e para observância lhe bastava a da pragmática. Na Capela Real mais gozava com os sentidos do que rezava com o espírito: os andantes substituíam as meditações".[62]
Apreciava muito a música sacra e era um grande leitor de obras sobre arte, mas detestava atividades físicas. Acredita-se que sofria de periódicas crises de depressão. Seu casamento não foi feliz, mas circularam rumores de que uma vez, aos 25 anos, se apaixonara por Eugênia José de Menezes, dama de companhia de sua esposa. Quando ela engravidou as suspeitas recaíram sobre D. João. O caso foi abafado e a moça foi enviada à Espanha para dar à luz. Nasceu uma menina, cujo nome se desconhece. A mãe viveu encerrada em mosteiros e foi sustentada por toda a vida por D. João. Os historiadores Tobias Monteiro e Patrick Wilcken apontam indícios de que D. João teria tido também um relacionamento homossexual, não por convicção, antes por necessidade, pois seu casamento logo se revelou um fracasso, vivendo apartado da esposa e reunindo-se a ela somente em ocasiões protocolares. Seu parceiro teria sido seu camareiro favorito, Francisco de Sousa Lobato, cuja tarefa teria sido masturbar o rei com alguma regularidade. Embora isso possa ser fruto de simples maledicência, um padre, chamado Miguel, teria uma vez surpreendido a cena e por isso deportado para Angola, não sem antes deixar um testemunho por escrito. De qualquer maneira o camareiro acabou recebendo diversas honrarias, acumulando entre outros os cargos de conselheiro do rei, secretário da Casa do Infantado, secretário da Mesa de Consciência e Ordens e governador da fortaleza de Santa Cruz, recebendo também o título de barão e depois visconde de Vila Nova da Rainha.[63]
No Rio os hábitos pessoais do rei, instalado num ambiente precário e despojado, eram simples. Ao contrário do relativo isolacionismo que observara em Portugal, passou a se mostrar mais dinâmico e interessado pela natureza. Deslocava-se com frequência entre o Paço de São Cristóvão e o Paço da cidade, passava temporadas na Ilha de Paquetá, na Ilha do Governador, na Praia Grande, a antiga Niterói, e na Real Fazenda de Santa Cruz. Praticava a caça e se demorava em lugares aprazíveis repousando em barracas, ou debaixo de alguma árvore. Gostava do país, apesar dos enxames de mosquitos e outras pragas e do calor abrasante dos trópicos, que de resto eram detestados pela maioria dos portugueses e outros estrangeiros.[64] Tinha aversão a mudanças em sua rotina, o que se estendia ao vestuário, e usava a mesma casaca até que ela se rasgasse, obrigando seus camareiros a costurá-la no próprio corpo do monarca enquanto ele dormia. Sofria de ataques de pânico quando ouvia trovoadas, encerrando-se em seus aposentos com as janelas trancadas, não recebendo ninguém.[65]

Legado


Alegoria das virtudes de D. João VI, pintura de Domingos Sequeira.
No decorrer dos poucos anos de sua permanência no Brasil, D. João ordenou a criação de uma série de instituições, projetos e serviços que beneficiaram imensamente o país no âmbito econômico, administrativo, jurídico, científico, cultural, artístico e outros mais, embora nem todos tenham tido o sucesso planejado e alguns fossem francamente disfuncionais ou desnecessários, como observou mordazmente Hipólito José da Costa.[46] Entre eles, foi o responsável pela criação da Imprensa Régia, do Jardim Botânico[66] do Arsenal de Marinha, da Fábrica de Pólvora,[67]do Corpo de Bombeiros, da Marinha Mercante, da Casa dos Expostos.[68] Também criou diversas aulas avulsas no Rio, Pernambuco, Bahia e outros lugares, tais como teologia, dogmática e moral; cálculo integral, mecânica, hidrodinâmica, química, aritmética, geometria; francês e inglês; botânica e agricultura, e várias mais. Fomentou a fundação de diversas sociedades e academias para estudos científicos, literários e artísticos, como a Junta Vacínica, a Real Sociedade Bahiense dos Homens de Letras, o Instituto Acadêmico das Ciências e das Belas-Artes, a Academia Fluminense das Ciências e Artes,[69] a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro,[70] a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho,[71] a Academia dos Guardas-Marinhas, a Academia Militar,[67] a Real Biblioteca,[72] o Museu Real,[73] o Teatro Real de São João, além de recrutar solistas de canto de fama internacional e patrocinar os músicos da Capela Real, onde se incluía o padre José Maurício, o maior compositor brasileiro de seu tempo,[68] apoiando também a vinda da Missão Artística Francesa, que resultou na criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, antecessora da Academia Imperial de Belas Artes, de fundamental importância para a renovação do ensino e produção de arte no Brasil.[74]
Na economia D. João determinou mudanças de largo alcance, iniciando a partir da abertura dos portos e da abolição do monopólio comercial dos portugueses, tendo a Inglaterra como a grande beneficiada. Se por um lado os comerciantes instalados no Brasil tiveram de enfrentar poderosa concorrência estrangeira, por outro se fomentou a criação de novas manufaturas e outras atividades econômicas que antes eram proibidas, precárias ou inexistentes no Brasil. Ao mesmo tempo, iam-se instalando diversos órgãos administrativos de alto escalão, como os ministérios da Guerra e Estrangeiros e o da Marinha e Ultramar; os Conselhos do Estado e o da Fazenda, o Conselho Supremo Militar, o Arquivo Militar, as Mesas de Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens, a Casa de Suplicação, a Intendência Geral da Polícia, o Banco do Brasil[66] [67] a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação,[75] e a Administração Geral dos Correios,[67] além de passar a absorver brasileiros nos quadros administrativos e funcionais, contribuindo para diminuir as tensões entre os nativos e os portugueses.[76] Também incentivou a produção agrícola, especialmente do algodão, arroz e cana-de-açúcar; abriu estradas e estimulou a navegação fluvial, dinamizando a circulação de pessoas, bens e produtos entre as regiões.[77]

Controvérsias

No entender de Pedreira & Costa, são poucos os monarcas portugueses que ocupam no imaginário popular um lugar tão destacado como D. João VI, um imaginário que o descreve de maneiras muito variadas, "ainda que raramente por boas razões.... Não são estranhas as atribulações de sua vida conjugal e familiar e as referências à sua personalidade e aos seus costumes pessoais, convidando à caricatura fácil e à circulação de uma tradição pouco lisonjeira, quando não jocosa".[78]São populares as descrições do rei como indolente, parvo e trapalhão, subjugado por uma esposa megera, um comilão asqueroso que tinha sempre franguinhos assados nos bolsos da casaca para comê-los a qualquer hora com as mãos engorduradas,[40] [79] uma visão perfeitamente tipificada no filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil,[40] uma paródia mesclada de aguda crítica social. A obra teve enorme repercussão, mas na crítica de Ronaldo Vainfas, "é uma história cheia de erros de todo tipo, deturpações, imprecisões, invenções". Para o historiador Luiz Carlos Villalta, "constitui um amplo ataque ao conhecimento histórico" e, ao contrário do anunciado pela cineasta Carla Camurati, que pretendeu "produzir uma narrativa cinematográfica que constituísse uma espécie de romance histórico com funções pedagógicas e que, assim, oferecesse ao espectador um conhecimento do passado e o ajudasse, como povo, a pensar sobre o presente.... não oferece conhecimento histórico novo ao espectador, nem que se considere que a mesma concebe a História como um Romance: ele reforça, na verdade, as ideias que os espectadores trazem, sendo nulo em termos de ampliação do conhecimento.... Dessa forma, conduz-se o espectador mais ao deboche do que à reflexão crítica sobre a história do Brasil".[80]

D. João retratado por vários artistas, mostrando a diversidade em suas representações
Até mesmo sua iconografia o representa com traços os mais diversos. Ora é um obeso, desproporcionado e com aparência desleixada, ora é um personagem dignificado e elegante.[81] Diz a pesquisadora Ismênia de Lima Martins:
Em seu governo sempre dependeu de auxiliares fortes, encontrando-os principalmente nas figuras do conde de Linhares, do conde da Barca e em Tomás de Vila Nova Portugal, que podem ser considerados os mentores de muitas das mais importantes medidas que o rei tomou,[83] mas segundo John Luccock, um fidedigno observador do período joanino, "o príncipe regente tem sido várias vezes acusado de apatia; a mim, pareceu-me ele possuir maior sensibilidade e energia de caráter do que em geral tanto amigos como adversários costumam atribuir-lhe. Achava-se colocado dentro de circunstâncias novas e próprias para pô-lo à prova, curvando-se ante elas com paciência; se incitado, agia com vigor e presteza". Enalteceu também o caráter do rei, reafirmando sua bondade e atenção.[84]Oliveira Lima, com seu clássico Dom João VI no Brasil (1908), foi um dos grandes responsáveis pelo inicio de sua reabilitação em maior escala.[85] [79] Pesquisou inúmeros documentos de época sem encontrar descrições brasileiras desfavoráveis ao rei, nem de embaixadores e outros diplomatas acreditados na corte, ao contrário, encontrando muitos relatos que o pintaram em cores positivas, como os testemunhos deixados pelo cônsul britânico Henderson e o ministro norte-americano Sumter, que "preferiam muito dirigir-se diretamente ao monarca, sempre disposto a fazer justiça, a entender-se com seus ministros.... reputando-o em tal assunto muito mais adiantado do que os seus cortesãos". Documentos diplomáticos também comprovam a largueza de sua visão política, almejando para o Brasil uma importância nas Américas comparável à dos Estados Unidos, adotando um discurso que era semelhante ao do Destino Manifesto norte-americano. Fazia valer sua autoridade sem violência, mas de maneira persuasiva e afável; sua condução dos assuntos internacionais, embora não tenha tido sucesso em repetidas ocasiões e tenha cedido a alguma ambição imperialista, em muitas outras se revelou clarividente e harmonizadora, e não é preciso repetir as múltiplas ações, descritas antes, que levou a cabo para melhorar as condições de vida da colônia brasileira.[84] [62]

Estátua equestre do rei na Praça de Gonçalves Zarco, Porto.
No entanto, o general francês Junot descreveu-o como "um homem fraco, que suspeita de tudo e de todos, cioso de sua autoridade mas incapaz de fazer-se respeitar. É dominado pelos padres e só consegue agir sob a coação do medo", e vários historiadores brasileiros, como Pandiá CalógerasTobias Monteiro e Luiz Norton, carregaram nas cores sombrias. Entre os portugueses, como Oliveira Martins e Raul Brandão, foi invariavelmente retratado como uma figura burlesca até a ressurgência conservadora de 1926, quando então foram aparecendo alguns nomes para defendê-lo, como Fortunato de AlmeidaAlfredo Pimenta e Valentim Alexandre.[79] [86] [87] É certo também que fez muitos desafetos, que elevou impostos e agravou a dívida pública, que multiplicou títulos e privilégios hereditários, que não soube apaziguar todas as discórdias internas nem eliminar a corrupção arraigada nos escalões administrativos, e que deixou o Brasil à beira da falência quando esvaziou o tesouro para voltar a Portugal.[40] [88] [79]
Qualquer que tenha sido o caráter do rei, e entre erros e acertos, é inconteste a importância do seu reinado para um notável arranco de desenvolvimento e para a própria unidade da nação brasileira. Gilberto Freyre afirmou que "D. João VI foi uma das personalidades que mais influíram sobre a formação nacional.... foi um mediador ideal.... entre a tradição – que encarnou – e a inovação – que acolheu e promoveu – naquele período decisivo para o futuro brasileiro".[89] Como disse Laurentino Gomes, "nenhum outro período da história brasileira testemunhou mudanças tão profundas, decisivas e aceleradas quanto os treze anos em que a corte portuguesa morou no Rio de Janeiro". Estudiosos como Oliveira Lima, Maria Odila da Silva Dias, Roderick Barman e o mesmo Laurentino acreditam que se ele não tivesse se deslocado para a América e instalado um forte governo centralizado provavelmente o grande território do Brasil, com importantes diferenças regionais, teria se fragmentado em diversas nações distintas, como ocorreu com a vasta colônia espanhola sua vizinha, uma opinião que já havia sido emitida pelo almirante britânico sir Sidney Smith, comandante da esquadra que escoltara os navios portugueses em fuga para o Brasil.[90] [40]
As biografias mais recentes tentam distinguir entre lenda e fato, e reverter o folclore do ridículo que se formou sobre ele e que de resto não tem muita documentação histórica autêntica que o corrobore.[40] Lúcia Bastos adverte que mesmo atitudes que hoje poderíamos criticar devem ser analisadas com cuidado contra seu contexto histórico, como a questão da corrupção, lembrando que, embora houvesse gastos enormes e claros abusos, na época não havia separação nítida entre o público e o privado, e na lógica do Antigo Regime "o rei é o dono do Estado.... aquela distribuição de benesses fazia parte: o rei é o dispensador de justiça e benesses".[79] Nas palavras de Leandro Loyola, "das novas pesquisas surge um governante que tinha limitações, mas enfrentou uma conjuntura totalmente adversa e sobreviveu a ela, apesar de governar um país pequeno, empobrecido e decadente como o Portugal do começo do século XIX".[40] Significativamente, Napoleão, seu mais poderoso inimigo, antes de falecer na ilha de Santa Helena, disse sobre ele: "Foi o único que me enganou".[91] O marquês de Caravelas, discursando no Senado por ocasião da morte do rei, louvou-o dizendo: "Nós todos que aqui estamos temos muitas razões para nos lembrarmos da memória de D. João VI, todos lhe devemos ser gratos, pelos benefícios que nos fez: elevou o Brasil a reino, procurou por todos o seu bem, tratou-nos sempre com muito carinho e todos os brasileiros lhe são obrigados".[92]

Representações

D. João VI já foi personificado no cinema e na televisão por:
Também teve sua efígie impressa nas notas de Cr$ 500 (quinhentos cruzeiros).[98]

Descendência

Realeza Portuguesa
Dinastia de Bragança
Descendência
Duchy of Braganza (1640-1910).png
Com sua esposa, Carlota Joaquina de Bourbon, Infanta de Espanha (1775-1830), teve os filhos:[10]
  1. D. Maria Teresa de Bragança (1793-1874), casada em primeiras núpcias com D. Pedro Carlos de Bourbon e Bragança, Infante de Portugal e de Espanha, e pela segunda vez com Carlos de Bourbon, Conde de Molina, também Infante de Espanha e seu cunhado; com descendência.
  2. D. Francisco António Pio de Bragança (1795-1801), Príncipe da Beira; sem descendência.
  3. D. Maria Isabel de Bragança (1797-1818), casou-se com Fernando VII de Espanha; uma filha natimorta.
  4. D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, Imperador do Brasil e Rei de Portugal (1798-1834), casado em primeiras núpcias comMaria Leopoldina de Áustria e em segundas com Amélia de Leuchtenberg; com descendência.
  5. D. Maria Francisca de Assis de Bragança (1800-1834), casou com Carlos de Bourbon, Conde de Molina; com descendência.
  6. D. Isabel Maria de Bragança (1801-1876); sem descendência.
  7. D. Miguel I de Portugal (1802-1866), casado com Adelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg; com descendência do casamento e com duas filhas naturais legitimadas.
  8. D. Maria da Assunção de Bragança (1805-1834); sem descendência.
  9. D. Ana de Jesus Maria de Bragança (1806-1857), casou com Nuno José Severo de Mendoça Rolim de Moura Barreto, 1ºduque de Loulé; com descendência.

Títulos, estilos, e honrarias


Títulos e estilos

O estilo oficial de D. João VI enquanto Rei de Portugal: Pela Graça de Deus, João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.
Ao reconhecer a independência do Império do Brasil pelo Tratado do Rio de Janeiro, D. João VI passa a usar, por carta de lei de 15 de Novembro de 1825, o título de imperador do Brasil, que lhe fora deferido pelo seu filho: Pela Graça de Deus, João, Imperador do Brasil, e Rei do Reino Unido de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Outros títulos e honrarias

D. João VI foi também o 8º Príncipe da Beira e do Brasil, o 21º Duque de Bragança, 18º Duque de Guimarães, 16º Duque de Barcelos, 20º Marquês de Vila Viçosa, 24º Conde de Arraiolos; 22º Conde de Ourém, de Barcelos, de Faria e de NeivaGrão‑prior do Crato e Senhor da Casa do Infantado; Grão-mestre das ordens deCristo, de Avis, de São Tiago da Espada, da Torre e Espada, de São João de Jerusalém, e Grão‑prior em Portugal; Grã-cruz das ordens de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de Carlos III, de São Fernando, de Isabel a Católica, do Espírito Santo, de São Luís, de São Miguel, da Legião de Honra, de Leopoldo, deSanto Estêvão, da Coroa de Ferro, de Santo André, de Santo Alexandre Nevsky, de Sant'Ana, do Elefante, do Leão Neerlandês, da Águia Negra; Cavaleiro daOrdem do Tosão de Ouro e da Ordem da Jarreteira, e serviu de Condestável no ato da aclamação de sua mãe, a rainha Dona Maria I.



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Programa 29
DOM PEDRO IV -  O REI SOLDADO 



Dom Pedro IV de Portugal - I do Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Pedro I & IV
Retrato por Simplício Rodrigues de Sá, c. 1830
Imperador do Brasil
Reinado12 de outubro de 1822
7 de abril de 1831
Coroação1 de dezembro de 1822
SucessorPedro II
Rei de Portugal e Algarves
Reinado10 de março de 1826
2 de maio de 1826
PredecessorJoão VI
SucessoraMaria II
EsposasMaria Leopoldina da Áustria
Amélia de Leuchtenberg
Descendência
Maria II de Portugal
Miguel, Príncipe da Beira
João Carlos, Príncipe da Beira
Januária do Brasil
Paula do Brasil
Francisca do Brasil
Pedro II do Brasil
Maria Amélia do Brasil
Nome completo
Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim
CasaBragança
PaiJoão VI de Portugal
MãeCarlota Joaquina da Espanha
Nascimento12 de outubro de 1798
Palácio Real de QueluzQueluz,EstremaduraPortugal
Morte24 de setembro de 1834 (35 anos)
Palácio Real de Queluz, Queluz, Estremadura, Portugal
EnterroMonumento à Independência do BrasilSão PauloBrasil
ReligiãoCatolicismo
Assinatura
Pedro I & IV (Queluz12 de outubro de 1798 – Queluz, 24 de setembro de 1834), apelidado de "o Libertador" e "o Rei Soldado",[nota 1] foi o primeiro Imperador do Brasil como Pedro I de 1822 até sua abdicação em 1831, e também brevemente Rei de Portugal e Algarves como Pedro IV entre março e maio de 1826. Era o quarto filho do rei João VI de Portugal e sua esposa a infanta Carlota Joaquina da Espanha, sendo assim um membro da Casa de Bragança. Pedro viveu seus primeiros anos de vida em Portugal até que tropas francesas invadiram o país em 1807, forçando afuga da família real para a colônia do Brasil.
O estouro da Revolução Liberal do Porto em 1820 forçou a volta de João VI para Portugal em abril do ano seguinte, com Pedro ficando no Brasil como seu regente. Ele precisou lidar com ameaças de tropas portuguesas revolucionárias e insubordinadas, com todas no final sendo subjugadas. Desde a chegada da família real portuguesa em 1808 o Brasil tinha gozado de grande autonomia política, porém a ameaça do governo português de revogar essas liberdades criou grande descontentamento na colônia. Pedro ficou do lado dos brasileiros e declarou a Independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Ele foi aclamado como seu imperador no dia 12 de outubro e derrotou todas as forças fiéis a Portugal até março de 1824. Alguns meses depois ele esmagou a Confederação do Equador, uma revolta separatista que havia tomado algumas províncias do nordeste brasileiro.
Uma nova rebelião se iniciou na província Cisplatina no começo de 1825, com a subsequente tentativa por parte dasProvíncias Unidas do Rio da Prata de anexá-la levando o Brasil a entrar na Guerra da Cisplatina. Nesse meio tempo Pedro também se tornou o monarca de Portugal após a morte de seu pai, rapidamente abdicando do trono em favor de sua filha mais velha Maria II. A situação piorou em 1828 quando a guerra no sul fez o Brasil perder a Cisplatina, que tornou-se o país independente do Uruguai. No mesmo ano o trono de Maria foi usurpado pelo infante Miguel, irmão mais novo de Pedro. Seus casos sexuais extraconjugais criaram grandes escândalos e também mancharam sua reputação. Mais dificuldades sugiram no parlamento brasileiro, onde os debates políticos passaram a ser dominados a partir de 1826 com a discussão sobre se o governo deveria ser escolhido pelo imperador ou pela legislatura. Pedro foi incapaz de lidar com os problemas simultâneos do Brasil e Portugal, por fim abdicando do trono brasileiro em 7 de abril de 1831 em favor de seu filho mais novo Pedro II e partindo para a Europa.
Ele invadiu Portugal em julho de 1832 no comando de um exército. Inicialmente Pedro se envolveu no que parecia ser uma guerra civil portuguesa, porém logo o conflito ficou maior e englobou toda a península Ibérica em uma disputa entre defensores do liberalismo e aqueles que queriam a volta do absolutismo. Pedro acabou morrendo de tuberculoseem 24 de setembro de 1834, poucos meses depois dele e os liberais terem se saído vitoriosos. Ele foi considerado por contemporâneos e pela posteridade como uma figura importante que auxiliou na propagação dos ideais liberais que haviam permitido que o Brasil e Portugal deixassem os regimes absolutistas para formas mais representativas de governo.

Início de vida

Nascimento


Pedro em 1800, por Agustín Esteve.
Pedro nasceu às 8h00min do dia 12 de outubro de 1798 no Palácio Real de Queluz, perto de LisboaPortugal.[3] Ele foi nomeado em homenagem a São Pedro de Alcântara e seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim.[4] [5] Ele desde seu nascimento recebeu o prefixo honorífico de "Dom".[6]
Seu pai era o então D. João, Príncipe do Brasil, com Pedro sendo assim membro da Casa de Bragança. Seus avós eram a rainha D. Maria I e o rei D. Pedro III de Portugal, que eram sobrinha e tio além de marido e mulher.[7] Sua mãe era a infantaCarlota Joaquina, filha do rei Carlos IV da Espanha e sua esposa Maria Luísa de Parma.[8] Os pais de Pedro tiveram um casamento infeliz; Carlota Joaquina era uma mulher ambiciosa que sempre procurava defender os interesses espanhóis, mesmo em detrimento de Portugal. Havia relatos de que ela era infiel com o marido, chegando ao ponto de conspirar contra ele junto com nobres portugueses insatisfeitos.[9]
Pedro era o segundo filho menino mais velho de João e Carlota Joaquina, o quarto filho no geral, tornando-se o herdeiro aparente de seu pai com o título de Príncipe da Beira em 1801 após a morte de seu irmão mais velho D. Francisco Antônio.[10]João desde 1792 atuava como regente em nome de sua mãe Maria I, que havia sido declarada mentalmente insana e incapaz de governar.[11] Os pais de Pedro se afastaram em 1802; João foi viver Palácio Nacional de Mafra enquanto Carlota Joaquina ficou no Palácio do Ramalhão. Pedro e seus irmãos D. Maria Teresa, D. Maria Isabel, D. Maria Francisca, D. Isabel Maria e D. Miguel foram viver no Palácio de Queluz junto com sua avó a rainha, longe dos pais que viam apenas durante ocasiões de estado.[12] [13]

Educação


Pedro c. 1809, por Francesco Bartolozzi.
No final de novembro de 1807, quando Pedro tinha apenas nove anos de idade, o exército francês de Napoleão Bonaparteinvadiu Portugal e toda a família real portuguesa fugiu de Lisboa. A corte atravessou o oceano Atlântico até chegar em março do ano seguinte na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, a maior e mais rica colônia de Portugal.[14] Pedro leuEneida de Virgílio durante a viagem e conversou com vários membros da tripulação de seu navio, aprendendo noções de navegação.[15] No Brasil, após uma breve estada no Paço Real, Pedro e seu irmão Miguel estabeleceram-se junto com seu pai no Paço de São Cristóvão.[16] Pedro amava o pai, apesar de nunca ter sido íntimo dele, ressentindo a constante humilhação que João sofria nas mãos de Carlota Joaquina por causa dos casos extraconjugais dela.[12] [17] Como resultado, quando adulto Pedro abertamente chamava sua mãe de "vadia" e sentia por ela nada além de desprezo.[18] As experiências de traição, frieza e negligência que Pedro passou quando criança tiveram grande impacto na formação de sua personalidade.[12]
Uma pequena quantidade de estabilidade durante sua infância vinha da presença de sua aia Maria Genoveva do Rêgo e Matos, quem ele amou como uma mãe, e seu aio e supervisor o frei Antônio de Arrábida, que tornou-se seu mentor.[19]Ambos ficaram encarregados do crescimento do príncipe e tentaram lhe dar uma educação adequada. Seus estudos englobavam uma grande gama de assuntos que incluíam matemáticaeconomia políticalógicahistória e geografia.[20] Ele aprendeu a ler e escrever em português, além de latim e francês.[21] Pedro também conseguia traduzir textos do inglês e entender alemão.[22] Mais tarde como imperador, ele dedicaria pelo menos duas horas de seu dia para ler e estudar.[22] [23]
Apesar da abrangência da instrução de Pedro, sua educação mostrou-se deficiente. O historiador Otávio Tarquínio de Sousa afirmou que Pedro "era sem sombra de dúvida inteligente, astuto [e] perspicaz".[24] Entretanto, o historiador Roderick J. Barman escreveu que ele tinha uma natureza "muito efervescente, muito errática e muito emocional". Pedro permaneceu impulsivo, nunca aprendeu a exercer auto-controle, avaliar as consequências de suas decisões ou adaptar seu panorama para situações em mudança.[25] João jamais permitiu que alguém disciplinasse o filho. Pedro às vezes contornava sua rotina de duas horas de estudos diários ao dispensar seus instrutores para poder realizar atividades que ele considerava como mais interessantes.[20]

Primeiro casamento


Pedro c. 1816, por Jean-Baptiste Debret.
Pedro encontrava prazer em atividades que necessitavam de habilidades físicas ao invés de ficar na sala de aula. Ele treinou equitação na Fazenda Santa Cruz de seu pai, tornando-se um bom cavaleiro e um excelente ferrador.[26] [27] Pedro e seu irmão Miguel gostavam de sair caçando a cavalo através de terrenos desconhecidos e florestas, às vezes até mesmo de noite e sob mau tempo.[26] O príncipe mostrava talento para desenho e artesanato, fazendo ele mesmo mobílias e entalhando madeira.[28]Além disso, Pedro também gostava bastante de música, transformando-se em um hábil compositor sob a tutela de Marcos Portugal. Ele tinha uma boa voz para o canto e era proficiente em diversos instrumentos (incluindo pianoflauta e violão), conseguindo tocar canções e danças populares.[29] Pedro era um homem simples tanto em hábitos quanto ao lidar com outras pessoas. Exceto em ocasiões solenes quando era necessário usar vestuários elegantes, suas roupas diárias consistiam em calças brancas de algodão, uma jaqueta listrada também de algodão e um chapéu de palha com abas largas, ou ainda uma sobrecasaca e cartola para situações mais formais.[30] Ele frequentemente entrava em conversas com pessoas nas ruas querendo saber sobre seus problemas.[31]
A personalidade de Pedro era marcada por uma vontade enérgica que beirava a hiperatividade. Era impetuoso com uma tendência para ser dominador e temperamental. Ele se distraia ou ficava entediado facilmente, entretendo-se com namoricos em sua vida pessoal além de suas atividades equestres e de caça.[32] Seu espírito inquieto o fazia buscar aventuras e, certas vezes disfarçado de viajante, ele frequentava tavernas nos distritos de pior reputação do Rio de Janeiro.[33] Pedro raramente bebia álcool, porém era um mulherengo incorrigível.[34] Seu primeiro caso duradouro conhecido foi com uma dançarina francesa chamada Noémi Thierry, que teve uma criança natimorta dele. Seu pai, que em 1816 tornou-se rei João VI com a morte de Maria I, enviou Thierry para longe a fim que ela não ameaçasse o noivado de Pedro com a arquiduquesa Leopoldina da Áustria, filha do imperador Francisco I da Áustria e a princesa Maria Teresa da Sicília.[35]
Pedro e Leopoldina casaram-se por procuração no dia 13 de maio de 1817, com ela assumindo o nome de Maria Leopoldina.[36] Ela chegou no Rio de Janeiro em 5 de novembro, imediatamente se apaixonando pelo marido, que era muito mais charmoso e atraente do que fora levada a esperar. Após "anos sob o sol tropical, sua pele ainda era clara, suas bochechas rosadas". Pedro, então com dezenove anos, era bonito e um pouco mais alto do que a média, possuindo olhos negros e um cabelo castanho escuro. "Sua boa aparência", segundo o historiador Neill Macaulay, "devia-se muito ao seu porte, orgulhoso e ereto mesmo em tenra idade, e sua preparação, que foi impecável. Habitualmente arrumado e limpo, ele havia pego o costume brasileiro de tomar banho frequentemente".[26] A missa nupcial ocorreu no dia seguinte, com a ratificação dos votos feitos anteriormente por procuração.[37] O casal eventualmente teria sete filhos: D. Maria, D. Miguel, D. João Carlos, D.Januária, D. Paula, D. Francisca e D. Pedro.[38]

Independência do Brasil

Revolução Liberal do Porto


Pedro faz um juramento de lealdade à constituição portuguesa em nome de seu pai no dia 26 de fevereiro de 1821. Ele pode ser visto na varanda do Paço Imperial levantando seu chapéu.
Chegaram no Brasil em 17 de outubro de 1820 notícias de que guarnições militares em Portugal haviam se amotinado, levando a que posteriormente ficaria conhecida como a Revolução Liberal do Porto de 1820. Os militares formaram um governo provisório e suplantaram a regência que João havia nomeado, convocando asCortes, o parlamento centenário português, desta vez democraticamente eleito e com o objetivo de criar uma constituição nacional.[39] Pedro ficou surpreso quando seu pai não apenas lhe pediu conselhos, mas também decidiu enviá-lo de volta para Portugal para governar como regente em seu nome e tentar aplacar os revolucionários.[40] O príncipe nunca havia sido educado para governar e anteriormente jamais recebeu permissão para participar dos assuntos de estado. O papel que seria seu direito de nascimento era na verdade exercido por sua irmã mais velha Maria Teresa; João confiava nela para conselhos e inclusive lhe fez uma membro do Conselho de Estado.[41]
Pedro era visto com suspeitas por João e pelos conselheiros mais próximos do rei, todos os quais apegavam-se aos princípios de uma monarquia absolutista. Em contraste, o príncipe era bem conhecido como um grande defensor dos ideais do liberalismo e de uma monarquia constitucional representativa. Ele havia lido os trabalhos de VoltaireBenjamin Constant, Gaetano Filangieri e Edmund Burke.[42] Até mesmo sua esposa Maria Leopoldina comentou que "Meu esposo, Deus nos ajude, ama as novas ideias".[43] [44] João adiou o máximo possível a partida de Pedro, temendo que o filho fosse aclamado rei pelos revolucionários assim que chegasse em Portugal.[40]
Tropas portuguesas no Rio de Janeiro se amotinaram em 26 de fevereiro de 1821. João e seu governo não realizaram quaisquer ações contra as unidades revoltosas. Pedro decidiu agir por conta própria e foi se encontrar com os rebeldes. Ele negociou com eles e convenceu seu pai a aceitar as demandas, que incluíam a nomeação de um novo gabinete e a realização de um juramento de obediência para a futura constituição portuguesa.[45] Os eleitores da paróquia do Rio de Janeiro encontraram-se em 21 de abril para eleger seus representantes nas Cortes. Um pequeno grupo de agitadores invadiu o encontro e formaram um governo revolucionário. João e seus ministros novamente permaneceram passivos, com o rei estando prestes a aceitar as exigências dos revolucionários quando Pedro tomou iniciativa e enviou tropas do exército para restabelecer a ordem.[46] João e sua família finalmente cederam sob a pressão das Cortes e partiram de volta para Portugal em 26 de abril, deixando Pedro e Maria Leopoldina no Brasil.[47] Dois dias antes, o rei avisou o filho: "Pedro, se o Brasil for se separar de Portugal, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que para algum desses aventureiros".[48]

"Independência ou morte"


Pedro em agosto de 1822, porSimplício Rodrigues de Sá.
Pedro foi nomeado como regente do Brasil, desde o início promulgando decretos que garantiam os direitos pessoais e de propriedade. Ele também reduziu impostos e gastos governamentais.[44] [49] Até mesmo os revolucionários presos no incidente de abril acabaram sendo libertados.[50] Tropas portuguesas sob o comando do tenente-general Jorge de Avilez Zuzarte de Sousa Tavares amotinaram-se em 5 de junho de 1821, exigindo que Pedro fizesse um juramento para manter a constituição portuguesa após ela ser colocada em efeito. O príncipe foi intervir sozinho com os rebeldes. Ele negociou calma e engenhosamente, ganhando o respeito das tropas e sendo bem sucedido em reduzir o impacto das exigências mais inaceitáveis.[51] [52] O motim era um golpe de estado militar mal disfarçado que tentava transformar Pedro em uma mera figura decorativa e transferir o poder para Avilez.[53] O príncipe acabou aceitando um resultado desfavorável, porém também avisou que seria a última vez que cederia sob pressão.[52] [54]
A crise alcançou um ponto sem volta quando as Cortes dissolveram o governo central no Rio de Janeiro e ordenaram o retorno de Pedro.[55] Os brasileiros viram essa ação como uma tentativa de novamente subordinar seu país ao domínio português, já que o Brasil havia sido elevado a reino em 1815.[56] O príncipe recebeu uma petição em 9 de janeiro de 1822 contendo oito mil assinaturas que imploravam para que não partisse.[57] Ele respondeu afirmando que "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Digam ao povo que fico!"; este evento ficou conhecido como o Dia do Fico.[58]Avilez se amotinou novamente para tentar forçar o retorno de Pedro para Portugal. Desta vez o príncipe contra-atacou, reunindo as tropas brasileiras (que não haviam juntado-se aos portugueses nos motins anteriores),[59] unidades milicianas e civis armados.[60] Avilez ficou em inferioridade numérica e foi expulso do Brasil junto com suas tropas.[61]
Pedro tentou manter pelos meses seguintes alguma aparência de unidade com Portugal, porém a ruptura final era iminente. Ele procurou apoio fora do Rio de Janeiro com o auxílio de seu ministro José Bonifácio de Andrada e Silva. O príncipe viajou para a província de Minas Gerais em abril e depois para São Paulo em agosto. Ele foi bem recebido nas duas províncias e as visitas reforçaram sua autoridade.[62] Enquanto voltava de São Paulo, Pedro recebeu no dia 7 de setembro as notícias de que as Cortes não aceitariam a autorregulamentação no Brasil e puniriam todos que desobedecessem suas ordens.[63] "Nunca alguém que evitava a ação mais dramática sobre o impulso imediato", como escreveu Berman sobre o príncipe, ele "não precisou de mais tempo para decisão além do que ler as cartas exigiam".[64] Pedro montou sua égua e disse para os presentes: "Amigos, as Cortes Portuguesas querem escravizar-nos e perseguir-nos. A partir de hoje as nossas relações estão quebradas. Nenhum vínculo unir-nos mais [...] Para o meu sangue, minha honra, meu Deus, eu juro dar ao Brasil a liberdade. Brasileiros, que nossa palavra de ordem seja a partir de hoje 'Independência ou morte!'".[65]

Imperador constitucional


Pedro em 1823, por Jean-Baptiste Debret.
O príncipe foi aclamado em 12 de outubro como Imperador D. Pedro I, o dia de seu aniversário de 24 anos e também a data oficial da fundação do Império do Brasil. Ele foi coroado em 1 de dezembro. Sua ascensão não se estendeu imediatamente por todos os territórios brasileiros e Pedro teve que forçar a submissão de várias províncias nas regiões sudoeste, nordeste e norte, com as últimas unidades ainda leais a Portugal se rendendo apenas no começo de 1824.[66] Enquanto isso a relação de Pedro e José Bonifácio se deteriorou.[67] A situação chegou ao ápice quando o imperador dispensou o ministro sob os motivos de conduta inapropriada. José Bonifácio tinha usado sua posição para assediar, perseguir, prender e até mesmo exilar seus inimigos políticos.[68] Por meses os inimigos do ministro tinham trabalhado para ganhar o favor do imperador. Eles haviam conferido a Pedro em 13 de maio de 1822 enquanto ainda era regente o título de "Defensor Perpétuo do Brasil",[69]também lhe introduzindo à Maçonaria em 2 de agosto e posteriormente o fazendo grão-mestre em 7 de outubro no lugar do próprio José Bonifácio.[70]
A crise entre monarca e seu antigo ministro afetou imediatamente a Assembleia Geral Nacional Constituinte, que havia sido eleita com o objetivo de criar uma constituição para o país recém criado.[71] José Bonifácio, como membro da assembleia constituinte, havia recorrido a demagogia e alegou a existência de uma grande conspiração portuguesa contra os interesses brasileiros; ele chegou até mesmo a insinuar que Pedro, nascido português, também estava implicado.[72] O imperador ficou ultrajado pela invectiva direcionada aos leais cidadãos que eram de nascimento português, além das insinuações que ele mesmo estava conflituoso sobre sua lealdade ao Brasil.[73] Pedro ordenou em 12 de novembro de 1823 a dissolução da assembleia constituinte e convocou novas eleições.[74] No dia seguinte ele encarregou o recém estabelecido Conselho de Estado de elaborar um rascunho constitucional. As cópias do documento resultante foram enviadas para todos os concelhos municipais, com a enorme maioria votando a favor de sua adoção instantânea como a Constituição do Império.[75]
constituição foi outorgada por Pedro em 25 de março de 1824, criando um Estado altamente centralizado. Como resultado, elementos rebeldes nas províncias dePernambucoParaíba e Ceará tentaram se separar do Brasil e unir-se no que ficou conhecido como a Confederação do Equador.[76] [77] Pedro tentou sem sucesso impedir o derramamento de sangue ao oferecer-se para aplacar os revoltosos.[76] [78] Ele furioso falou que "O que estavam a exigir os insultos de Pernambuco? Certamente um castigo, e um castigo tal que se sirva de exemplo para o futuro".[76] Os rebeldes nunca conseguiram assegurar seu controle das províncias e foram facilmente subjugados. As rebeliões já tinha acabado por volta do final de 1824.[77] [79] Dezesseis rebeldes foram julgados e executados,[79] [80] Enquanto todos os outros acabaram perdoados pelo imperador.[81]

Crises

Sucessão portuguesa


Pedro em março de 1826, por Antônio Joaquim Franco Velasco.
Portugal acabou assinando um tratado com o Brasil em 29 de agosto de 1825 após longas negociações, por fim reconhecendo a independência do segundo.[82] Exceto pelo reconhecimento da independência, as provisões do tratado foram às custas do Brasil, incluindo a exigência do pagamento de reparações financeiras a Portugal, com nenhum outro requerimento ficando por parte da antiga metrópole. A compensação deveria ser paga a todos os cidadãos portugueses residentes no Brasil pelas perdas que tinham passado, como por exemplo propriedades que foram confiscadas. João também recebeu o direito de se intitular Imperador do Brasil.[83] Mais humilhante foi que o tratado implicava que a independência havia sido concedida como um ato beneficente do rei português, ao invés de ter sido compelida pelos brasileiros através da força bruta.[84] Pior ainda, o Reino Unido foi recompensado por seu papel no avanço das negociações ao assinar um tratado separado em que seus favoráveis direitos comerciais foram renovados, além da assinatura de uma convenção em que o Brasil concordava em abolir o comércio de escravos com a África dentro de quatro anos. Ambos os acordos prejudicaram seriamente os interesses comerciais brasileiros.[85]
O imperador recebeu alguns meses depois a notícia de que seu pai havia morrido em 10 de março de 1826, e que sendo assim ele havia sucedido João no trono de Portugal como Rei D. Pedro IV.[86] Ele rapidamente abdicou da coroa portuguesa em 2 de maio por saber que uma união pessoal entre o Brasil e Portugal seria inaceitável para os povos de ambas as nações, passando o trono para sua filha mais velha que se tornou a Rainha D. Maria II.[87] [88] [nota 2] Sua abdicação foi condicional: Portugal deveria aceitar uma constituição elaborada por ele e Maria casaria-se com seu irmão Miguel.[86] Pedro continuou a agir como rei ausente mesmo com a abdicação e intercedeu em assuntos diplomáticos e internos, como a realização de nomeações. Para ele foi no mínimo difícil manter separadas sua posição de imperador brasileiro e suas obrigações de proteger os interesses de sua filha em Portugal.[92]
Miguel fingiu aceitar os planos do irmão. Ele anulou a constituição com o apoio de Carlota Joaquina logo que foi nomeado regente da sobrinha no início de 1828, sendo aclamado como rei com o suporte dos portugueses que eram a favor do absolutismo.[93] Além da dolorosa traição de seu amado irmão, Pedro também teve que suportar a deserção de suas irmãs Maria Teresa, Maria Francisca, Isabel Maria e Maria da Assunção todas para a facção de Miguel.[94] Apenas sua irmã caçulaAna de Jesus permaneceu fiel a ele, posteriormente viajando para o Rio de Janeiro a fim de ficar perto de Pedro.[95] O imperador ficou consumido pelo ódio e começou a acreditar nos rumores que Miguel havia matado João, virando seu foco para Portugal e tentando em vão conseguir apoio internacional pelos direitos de Maria.[96]

Guerra e viuvez


Celebrações na Praça São Francisco de Paula no Rio de Janeiro pela volta de Pedro da Bahia, 4 de abril de 1826.
Um pequeno grupo de rebeldes com o apoio das Províncias Unidas do Rio da Prata declarou em abril de 1825 a independência da Cisplatina, então a província mais ao sul do Brasil.[97] O governo brasileiro inicialmente viu a tentativa de secessão como um levante menor. Demorou meses até uma ameaça maior surgir do envolvimento das Províncias Unidas, que esperava anexar a Cisplatina, causando assim preocupações sérias. O Brasil em retaliação declarou guerra em dezembro, iniciando a Guerra da Cisplatina.[98] Pedro viajou em fevereiro de 1826 para a província da Bahia no nordeste do país, levando consigo sua esposa e sua filha Maria. O imperador foi muito bem recebido pelos habitantes locais.[99] A viagem tinha a intenção de gerar apoio para o esforço de guerra.[100]
O séquito imperial incluía Domitila de Castro, Viscondessa de Santos (posterior Marquesa de Santos), que desde o primeiro encontro dos dois em 1822 havia sido a amante do imperador. Apesar de nunca ter sido fiel a Maria Leopoldina, Pedro anteriormente tinha tomado o cuidado de esconder suas escapadas sexuais com outras mulheres.[101] Porém, sua atração por sua nova amante "tinha se tornando flagrante e sem limites", enquanto sua esposa precisava aguentar desfeitas e ser o assunto de fofocas.[102] O imperador cada vez mais passou a ser rude e vil com Maria Leopoldina, deixando-a com pouco dinheiro, proibindo-a de deixar o palácio e forçando-a a aturar a presença de Domitila como suadama de companhia.[103] Enquanto isso, a amante aproveitou a oportunidade para avançar seus interesses e também os de sua família e amigos. Aqueles que desejavam favores ou a promoção de projetos cada vez mais ignoravam os canais legais e normais, ao invés disso procurando Domitila por ajuda.[104]
Pedrou partiu em 24 de novembro de 1826 do Rio de Janeiro para a cidade de São José na província de Santa Catarina. De lá ele foi para Porto Alegre, capital daprovíncia de São Pedro do Rio Grande do Sul, onde o exército principal estava esperando.[105] O imperador chegou em 7 de dezembro e descobriu que as condições militares eram muito piores do que os relatórios anteriores haviam lhe feito esperar. Ele "agiu com sua energia costumeira: ele passou uma afobação de ordens, demitiu supostos enxertadores e incompetentes, fraternizou com as tropas e de forma geral sacudiu a administração militar e civil".[106] Pedro já estava voltando para o Rio de Janeiro quando soube que Maria Leopoldina tinha morrido após um aborto.[107] Rumores sem fundamento logo se espalharam dizendo que a imperatriz havia sido fisicamente maltratada pelo marido.[nota 3] Enquanto isso a guerra continuou sem conclusão e Pedro acabou cedendo a Cisplatina em agosto de 1828, com a província tornando-se o país independente do Uruguai.[115]

Segundo casamento


O casamento de Pedro e Amélia. Ao lado do imperador estão seus filhos do primeiro casamento: Pedro, Januária, Paula e Francisca.
Pedro percebeu depois da morte da esposa como ele a havia tratado miseravelmente, com sua relação com Domitila começando a ruir. Diferentemente da amante, Maria Leopoldina era popular, honesta e amava o marido sem esperar nada em troca. O imperador passou a sentir muitas saudades dela, nem mesmo sua obsessão por Domitila conseguindo fazê-lo superar seu sentimento de perda e arrependimento.[116] Um dia a amante o encontrou chorando no chão abraçado a um retrato de Maria Leopoldina, cujo fantasma infeliz Pedro afirmou ter visto.[117] Posteriormente o imperador deixou a cama que estava com Domitila e gritou: "Larga-me! Sei que levo vida indigna de um soberano. O pensamento da Imperatriz não me deixa".[118] Ele não esqueceu de seus filhos, que ficaram órfãos de mãe, sendo observado em mais de uma ocasião segurando seu filho Pedro em seus braços e dizendo: "Pobre menino, és o príncipe mais infeliz do mundo".[119]
Domitila acabou deixando o Rio de Janeiro em 27 de junho de 1828 após insistências do imperador.[120] Pedro havia decidido casar-se novamente e tornar-se uma pessoa melhor. Ele tentou convencer seu sogro Francisco I de sua sinceridade, afirmando em uma carta "que toda minha perversidade acabou, que não hei de novamente cair nos erros em que já caí, que arrependo-me e pedi a Deus por perdão".[121] Francisco não se convenceu, tendo ficado profundamente ofendido pela conduta que sua filha tinha passado, retirando seu apoio às preocupações brasileiras e frustrando os interesses portugueses de Pedro.[114] Princesas de várias nações recusaram propostas de casamento uma depois da outra devido a má reputação do imperador pela Europa.[93] Seu orgulho ficou muito ferido e ele acabou permitindo a volta de Domitila, que chegou na capital em 29 de abril de 1829 após quase um ano longe.[121] [122]
Entretanto, ele encerrou definitivamente sua relação com Domitila ao saber que um noivado tinha finalmente sido arranjado. Ela voltou em 27 de agosto a viver em sua província natal de São Paulo, onde permaneceu pelo resto da vida.[123] Dias antes em 2 de agosto, Pedro havia se casado por procuração com a princesaAmélia de Leuchtenberg, filha Eugênio de Beauharnais e da princesa Augusta da Baviera.[124] Ele ficou impressionado por sua beleza ao conhecê-la pessoalmente.[125] Os votos realizados por procuração foram ratificados em 17 de outubro em uma missa nupcial.[126] Amélia era bondosa e amorosa com os filhos dele e providenciou um necessitado sentimento de normalidade tanto para a família imperial quanto para o público em geral.[127] A promessa do imperador feita após o banimento de Domitila para alterar seu comportamento acabou mostrando-se sincera. Ele nunca mais teve quaisquer casos e manteve-se fiel à nova esposa.[128] Pedro também fez as pazes com José Bonifácio, seu antigo ministro e mentor, em uma tentativa de mitigar e superar seus desentendimentos do passado.[129]

Entre Brasil e Portugal

Crises sem fim


Pedro em 1830 por Henri Grevedon.
Desde os dias da assembleia constituinte de 1823 e depois com vigor renovado a partir de 1826 com a abertura do parlamento brasileiro, houve uma disputa ideológica sobre o equilíbrio dos poderes mantidos pelo imperador e pela legislatura no governo. De um lado estavam aqueles que compartilhavam as visões de Pedro, políticos que acreditavam que o monarca deveria ser livre para escolher os ministros, políticas nacionais e a direção governamental. Em oposição estavam aqueles, então conhecidos como o Partido Liberal, que defendiam que os gabinetes deveriam manter o poder para estabelecer o curso de governo e que seriam formados por deputados tirados do partido da maioria respondendo ao parlamento por suas ações.[130] Estritamente falando, ambos os lados defendiam o liberalismo e dessa forma umamonarquia constitucional.[131]
Pedro respeitava a constituição apesar de suas falhas como governante: ele nunca interferiu nas eleições ou participou de fraudes eleitorais, recusou-se a assinar atos ratificados pelo governo ou impor restrições na liberdade de expressão.[132] O imperador também nunca dissolveu a Câmara dos Deputados ou convocou novas eleições quando esta discordava de seus objetivos ou adiava suas sessões, mesmo isso estando dentro de suas prerrogativas.[133] Jornais e panfletos liberais usaram o nascimento português de Pedro no apoio a acusações válidas (como por exemplo que boa parte de sua energia era dedicada a assuntos relacionados a Portugal)[134] e também falsas (que ele estava envolvido em conspirações para suprimir a constituição e reunificar o Brasil e Portugal).[135] Os amigos portugueses do imperador que faziam parte da corte, incluindo Francisco Gomes da Silva que foi apelidado de "Chalaça", eram para os Liberais parte desses complôs e formavam um "gabinete secreto".[136] Nenhuma dessas figuras mostrava interesse em tais questões e, seja quais foram os interesses que eles podem ter compartilhado, não havia nenhuma conspiração para anular a constituição ou levar o Brasil de volta ao controle português.[137]
Outra fonte de críticas por parte dos Liberais eram as visões abolicionistas de Pedro.[138] O imperador tinha concebido um processo gradual para eliminar a escravidão no país. Entretanto, o poder constitucional para promulgar legislações estava nas mãos do parlamento, que era dominado por donos de terras escravagistas e que assim poderiam frustrar quaisquer tentativas de abolição.[139] Pedro optou por tentar a persuasão através do exemplo moral, estabelecendo sua Fazenda Santa Cruz como um modelo ao conceder terras aos seus escravos libertos.[140] Ele também tinha outras ideias avançadas. Quando declarou sua intenção de permanecer no Brasil no Dia do Fico, a população tentou lhe conceder a honra de desatrelar os cavalos e eles mesmos puxarem sua carruagem, porém o então príncipe recusou. Sua resposta foi ao mesmo tempo uma condenação do direito divino dos reis, da suposta superioridade de sangue da nobreza e do racismo: "Ofende-me ver os meus semelhantes dando ao homem tributos apropriados à divindade. Eu sei que o meu sangue é da mesma cor que o dos negros".[141]

Abdicação


Representação artística da abdicação de Pedro, por Aurélio de Figueiredo em 1911.
Os esforços do imperador para apaziguar os Liberais resultaram em mudanças importantes. Ele apoiou um 1827 uma lei estabelecendo responsabilidade ministerial.[142] Pedro nomeou um gabinete em 19 de março de 1831 formado por políticos tirados da oposição, permitindo que o parlamento tivesse um papel maior no governo.[143]Por fim, ofereceu posições na Europa para Francisco Gomes e outro amigo português a fim de acabar com os rumores de um "gabinete secreto".[127] [144] Para seu desalento, as medidas paliativas não pararam os contínuos ataques dos Liberais sobre seu governo e nascimento estrangeiro. Pedro ficou indisposto a lidar com a deteriorante situação política por estar frustrado com a intransigência.[127]
Enquanto isso, exilados portugueses fizeram campanha para que ele abrisse mão do Brasil e dedicasse suas energias à luta pela coroa de sua filha.[145] De acordo com Barman, "[em] uma emergência as habilidades do Imperador resplandeciam – ele ficava com nervos calmos, engenhoso e firme na ação. A vida como monarca constitucional, cheia de tédio, cuidado e conciliação, ia de encontro à essência de sua personalidade".[146] Por outro lado, o historiador salientou que ele "encontrava no caso de sua filha tudo que mais apelava a sua personalidade. Ao ir para Portugal ele poderia defender os oprimidos, mostrar seu cavalheirismo e abnegação, manter o governo constitucional e gozar da liberdade de ação que desejava".[145]
A ideia de abdicar do trono brasileiro e voltar para Portugal começou a tomar sua mente e, a partir de 1829, ele falava a respeito frequentemente.[147] Uma oportunidade logo apareceu para agir sobre esse noção: radicais dentro do Partido Liberal reuniram gangues de rua para assediar a comunidade portuguesa vivendo no Rio de Janeiro. Em 11 de março de 1831, naquilo que ficou conhecido como a Noite das Garrafadas, os portugueses retaliaram e o tumulto tomou as ruas da capital nacional.[148] Pedro dispensou o gabinete Liberal em 5 de abril, que estava no poder apenas desde 19 de março, por motivos de incompetência ao restaurar a ordem.[143] [149] Uma grande multidão incitada pelos radicais se reuniram no centro do Rio de Janeiro na tarde do dia 6 de abril, exigindo a imediata restauração do antigo gabinete.[150] Pedro respondeu afirmando que "Tudo farei para o povo; nada, porém, pelo povo".[151] Tropas do exército, incluindo sua guarda pessoal, desertaram após o anoitecer e se juntaram aos protestos. Foi apenas nesse momento que Pedro percebeu o quanto tinha ficado isolado e separado dos assuntos brasileiros, surpreendendo todos ao abdicar do torno à aproximadamente 3h00min da madrugada de 7 de abril.[152] Ele entregou o documento da abdicação a um mensageiro e afirmou: "Aqui está a minha abdicação; desejo que sejam felizes! Retiro-me para a Europa e deixo um país que amei e que ainda amo".[153]

Retorno a Europa

Guerra de restauração


Pedro c. 1834, autor desconhecido.
Pedro, Amélia e outros embarcaram na fragata britânica HMS Warspite na manhã do dia 7 de abril. A embarcação permaneceu ancorada no Rio de Janeiro e o antigo imperador foi transferido para o HMS Volage em 13 de abril, partindo no mesmo dia para a Europa.[154] Ele chegou em Cherbourg-OctevilleFrança, em 10 de junho.[155] [156] Pelos meses seguintes ele ficou indo e voltando entre a França e Reino Unido. Pedro foi bem recebido, porém não recebeu nenhum apoio de ambos os governos.[157] Encontrando-se em uma situação embaraçosa por não ter nenhuma posição oficial tanto na casa imperial brasileira quanto na casa real portuguesa, ele assumiu em 15 de junho o título de Duque de Bragança, que anteriormente já tinha mantido como herdeiro de Portugal. Apesar de que título deveria pertencer ao herdeiro de Maria, algo que Pedro certamente não era, sua reivindicação foi reconhecida de forma geral.[158] [159] Sua única filha com Amélia, Maria Amélia, nasceu em 1 de dezembro em Paris.[160]
Ele não esqueceu de seus outros filhos. Pedro escreveu cartas comoventes para cada um deles, expressando o quanto sentia saudades e pedindo repetidas vezes para que levassem a sério suas educações. Pedro disse a seu filho e sucessor pouco depois de sua abdicação: "Tenho a intenção que eu e o mano Miguel havemos de ser os últimos malcriados da família Bragança".[161] Charles John Napier, um comandante naval britânico que lutou com Pedro na década de 1830, comentou que "suas boas qualidades eram próprias; as ruins devido à falta de educação; e nenhum homem era mais sensível a isso do que ele mesmo".[162] Suas cartas para Pedro II frequentemente continham linguajar muito além do nível de leitura do menino, com historiadores presumindo que tais passagens tinham a intenção de servirem como conselhos que o jovem monarca eventualmente pudesse consultar ao alcançar a idade adulta.[155]
Em Paris, Pedro acabou conhecendo e ficando amigo de Gilbert du Motier, Marquês de La Fayette, um veterano da Guerra da Independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa que se tornou um de seus maiores apoiadores.[159] [163] O duque despediu-se em 25 de janeiro de 1832 de sua família, La Fayette e mais de duzentas pessoas que haviam ido lhe desejar boa sorte. Ele ajoelhou-se diante de Maria e disse: "Minha senhora, aqui estás um general português que irá manter os seus direitos e restaurar sua coroa". Sua filha o abraçou em seguida em lágrimas.[164] Pedro partiu para o arquipélago atlântico dos Açores, o único território português que permanecera leal a Maria. Ele passou alguns meses realizando preparações finais e por fim partiu para Portugal continental, entrando na cidade doPorto sem oposição no dia 9 de julho.[165] Pedro estava na liderança de uma pequena força portuguesa composta por liberais como Almeida Garrett e Alexandre Herculano, além de mercenários estrangeiros e voluntários como o neto de La Fayette, Adrien Jules de Lasteyrie.[166]

Morte


Pedro em seu leito de morte em 1834, por José Joaquim Rodrigues Primavera.
O exército de Pedro estava em grande inferioridade numérica e foi cercado pelos liberais no Porto por mais de um ano. Foi nesta situação que no começo de 1833 ele recebeu as notícias de que sua filha Paula estava para morrer. Meses depois em setembro ele se encontrou com Antônio Carlos de Andrada, um dos irmãos de José Bonifácio. Como um representante do chamado Partido Restaurador, Antônio Carlos pediu para o duque retornar ao Brasil e governar seu antigo império como regente durante a minoridade do filho. Pedro percebeu que os Restauracionistas queriam usá-lo como uma ferramenta a fim de facilitar sua chegada ao poder, frustrando Antônio Carlos ao fazer as exigências mais impossíveis para ver se o povo brasileiro também queria sua volta, não apenas uma facção política. Ele também insistiu que quaisquer pedidos de retorno como regente fossem constitucionalmente válidos. A vontade do povo teria de ser transmitida através de seus representantes locais e sua nomeação precisaria ser aprovada pelo parlamento. Apenas assim, e "sob a apresentação de uma petição a ele em Portugal por uma delegação oficial do parlamento brasileiro", ele consideraria aceitar o pedido.[167]
Durante a guerra contra Miguel, Pedro montou canhões, cavou trincheiras, cuidou de feridos, comeu dentre os soldados mais baixos e lutou sob fogo pesado enquanto homens ao seu lado eram alvejados ou explodidos.[168] Sua causa estava quase perdida até ele tomar a arriscada atitude de dividir suas forças e enviar uma parte para lançar um ataque anfíbio no sul de Portugal. A região de Algarve caiu diante da expedição, que então marchou direto para Lisboa e capturou a capital em 24 de julho.[169] Pedro então seguiu para subjugar o restante do país, porém bem quando o conflito parecia estar direcionando-se para sua conclusão, interveio seu tio espanhol o infante Carlos, Conde de Molina e que estava tentando tomar a coroa de sua sobrinha a rainha Isabel II. Essa guerra maior englobou toda a península Ibérica e o duque aliou-se com os exércitos espanhóis liberais leais à rainha, derrotando tanto Miguel quanto Carlos. Um tratado de paz foi assinado em 26 de maio de 1834.[170]
Pedro sempre gozou de saúde forte durante toda sua vida, exceto por surtos de epilepsia a cada alguns anos.[28] [171] Porém a guerra minou sua constituição e por volta de 1834 ele estava sofrendo de tuberculose.[172] Em 10 de setembro ele ficou de cama no Palácio Real de Queluz.[173] Pedro ditou uma carta aberta aos brasileiros em que implorava a adoção da gradual abolição da escravidão. Ele os avisou: "Escravidão é um mal, e um ataque contra os direitos e dignidade da espécie humana, porém suas consequências são menos prejudiciais para aqueles que sofrem no cativeiro do que para a Nação cujas leis permitem a escravidão. Ela é um câncer que devora a moralidade".[174] Pedro morreu às 14h30min do dia 24 de setembro de 1834 após uma longa e dolorosa doença.[175] Conforme seu pedido, seu coração foi colocado na Igreja da Lapa no Porto, enquanto seu corpo foi inicialmente enterrado no Panteão da Dinastia de Bragança na Igreja de São Vicente de Fora, Lisboa.[176] [177] As notícias de sua morte chegaram no Rio de Janeiro em 20 de novembro, porém seus filhos foram informados apenas em 2 de dezembro.[178] José Bonifácio, que havia sido removido de sua posição de guardião, escreveu a Pedro II e suas irmãs: "Dom Pedro não morreu. Apenas homens ordinários morrem, heróis não".[179] [180]

Legado


Monumento à Independência do Brasil, onde Pedro e suas duas esposas estão enterrados.
O então poderoso Partido Restaurador desapareceu instantaneamente com a morte de Pedro.[181] Um julgamento justo do antigo monarca tornou-se possível assim que a ameaça de seu retorno ao poder sumiu.Evaristo da Veiga, um de seus piores críticos e também um dos líderes do Partido Liberal, deixou uma declaração que, de acordo com o historiador Otávio Tarquínio de Sousa, acabou ficando como a visão prevalecente:[177] "o antigo imperador do Brasil não era um príncipe ordinário [...] e a Providência fez dele um poderoso instrumento da libertação, tanto no Brasil e em Portugal. Se nós [brasileiros] existimos como um corpo em uma Nação livre, se nossa terra não foi rasgada em pequenas repúblicas inimigas, onde apenas anarquia e espírito militar prevalecem, nós devemos muito à resolução que ele tomou em ficar entre nós, em realizar o primeiro grito por nossa independência. [...] Portugal, se fez-se livre da mais escura e degradante tirania [...] se goza dos benefícios trazidos por um governo representativo aos povos educados, ela deve a D. Pedro de Alcântara, cujas fatigas, sofrimentos e sacrifícios pela causa portuguesa lhe deram em alto grau o tributo da gratitude nacional".[182]
John Armitage, que viveu no Brasil durante a segunda metade do reinado de Pedro, comentou que "até mesmo os erros do Monarca foram atendidos com grande benefício através de sua influência nos assuntos da pátria mãe. Caso ele tivesse governado com mais sabedoria, teria sido bem para a terra de sua adoção, porém, talvez, infeliz para a humanidade". Armitage complementou que assim como "o falecido Imperador dos Franceses, ele também foi uma criança do destino, ou ainda, um instrumento nas mãos da beneficente Providência para o adiantamento de fins grandes e inescrutáveis. Tanto no velho quanto no novo mundo ele doravante estava predestinado a tornar-se um instrumento de mais revoluções, e antes do fim da sua carreira brilhante, mas efémera, na terra de seus pais, para reparar amplamente pelos erros e loucuras de sua vida anterior, por sua devoção cavalheiresca e heróica na causa da liberdade civil e religiosa".[183]
Em 1972, aniversário de 150 anos da independência, o corpo de Pedro foi levado para o Brasil – conforme havia pedido em seu testamento – acompanhado de grande pompa e honras dignas de um chefe de estado. Seus restos foram reenterrados no Monumento à Independência do Brasil na cidade de São Paulo, junto com os de Maria Leopoldina e Amélia.[176] [184] Os três corpos foram brevemente exumados em 2012 para que examinações e pesquisas arqueológicas e científicas fossem realizadas a fim de descobrir-se mais a respeito do imperador e as duas imperatrizes.[185] O historiador Neill Macaulay afirmou que "críticas a Dom Pedro eram livremente expressas e muitas vezes veementes; isso o fez abdicar de dois tronos. Sua tolerância às críticas públicas e sua disposição a abrir mão do poder separaram Dom Pedro de seus predecessores absolutistas e dos governantes dos estados coercivos de hoje, cujos mandatos vitalícios são tão seguros quanto dos reis de antigamente". Ele também afirmou que "líderes liberais bem sucedidos como Dom Pedro podem ser homenageados ocasionalmente com um monumento de pedra ou bronze, porém seus retratos, de quatro andares de altura, não moldam prédios públicos; suas imagens não são levadas em passeatas de centenas de milhares de manifestantes uniformizados; nenhum "-ismo" é anexado aos seus nomes".[186]

Títulos e honras


Monograma imperial de Pedro.

Títulos e estilos

  • 12 de outubro de 1798 – 11 de junho de 1801: "Sua Alteza, o Sereníssimo Infante D. Pedro, Grão Prior de Crato"[88]
  • 11 de junho de 1801 – 20 de março de 1816: "Sua Alteza Real, o Príncipe da Beira"[88]
  • 20 de março de 1816 – 9 de janeiro de 1817: "Sua Alteza Real, o Príncipe do Brasil"[88]
  • 9 de janeiro de 1817 – 10 de março de 1826: "Sua Alteza Real, o Príncipe Real"[88]
  • 12 de outubro de 1822 – 7 de abril de 1831: "Sua Majestade Imperial, o Imperador"[88]
  • 10 de março de 1826 – 2 de maio de 1826: "Sua Majestade, o Rei"[88]
  • 15 de junho de 1831 – 24 de setembro de 1834: "Sua Alteza Imperial, o Duque de Bragança"[158]
No Brasil, seu título e estilo completo era: "Sua Majestade Imperial, D. Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil".[187]Já em Portugal, como rei ele era: "Sua Majestade Fidelíssima, D. Pedro IV, Rei de Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."[188]

Honras

Estrangeiras:[190]

Descendência

NomeRetratoVidaNotas
Com Maria Leopoldina da Áustria
Maria II de PortugalMaria II 1852b.jpg4 de abril de 1819 –
15 de novembro de 1853
Rainha de Portugal de 1826 até sua morte. Casou-se primeiro com o príncipeAugusto de Beauharnais, Duque de Leuchtenberg, porém ele morreu poucos meses após a união. Seu segundo marido foi o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, que se tornou o rei D. Fernando II após o nascimento do primeiro filho do casal. Os dois acabariam tendo onze filhos. Maria foi a herdeira de seu irmão Pedro II desde a ascensão deste até sua exclusão da linha de sucessão brasileira em 30 de outubro de 1835 pela lei nº 91.[191]
Miguel, Príncipe da Beira26 de abril de 1820Príncipe da Beira de seu nascimento até sua morte
João Carlos, Príncipe da Beira6 de março de 1821 –
4 de fevereiro de 1822
Januária do BrasilJanuaria of Brazil 1865b.jpg11 de março de 1822 –
13 de março de 1901
Casou-se com o príncipe Luís Carlos, Conde de Áquila e filho do rei Francisco I das Duas Sicílias. Os dois tiveram quatro filhos. Foi oficialmente reconhecida como uma infanta de Portugal em 4 de junho de 1822,[192] porém foi posteriormente excluída da linha de sucessão portuguesa após a independência do Brasil.[193]
Paula do BrasilDona Paula Mariana Joana Carlota de Bragança.jpg17 de fevereiro de 1823
– 16 de janeiro de 1833
Morreu aos nove anos de idade, provavelmente de meningite.[194] Por ter nascido depois da independência do Brasil, ela nunca fez parte da linha de sucessão portuguesa.[195]
Francisca do BrasilFrancisca of Braganza 1880.png2 de agosto de 1824 –
27 de março de 1898
Casou-se com o príncipe Francisco de Orleães, Príncipe de Joinville e filho do reiLuís Filipe I da França. O casal teve três filhos. Por ter nascido depois da independência do Brasil, ela nunca fez parte da linha de sucessão portuguesa.[196]
Pedro II do BrasilPedro II of Brazil - Brady-Handy.jpg2 de dezembro de 1825
– 5 de dezembro de 1891
Imperador do Brasil de 1831 até 1889. Casou-se com a princesa Teresa Cristina das Duas Sicílias, filha do rei Francisco I das Duas Sicílias. Os dois tiveram quatro filhos. Por ter nascido depois da independência do Brasil, ele nunca fez parte da linha de sucessão portuguesa.[180]
Com Amélia de Leuchtenberg
Maria Amélia do BrasilMaria Amelia 1849b.jpg1 de dezembro de 1831
– 4 de fevereiro de 1853
Ela viveu sua vida inteira na Europa e nunca visitou o Brasil. Maria Amélia foi prometida ao arquiduque Maximiliano da Áustria, depois imperador Maximiliano do México, porém ela morreu antes do noivado tornar-se oficial. Por ter nascido anos depois da abdicação de seu pai ao trono português, ela nunca fez parte da linha de sucessão.[197]
Com Maria Benedita de Castro
Rodrigo Delfim PereiraRodrigo Delfim Pereira 1876b.jpg4 de novembro de 1823
– 31 de janeiro de 1891
Pedro o reconheceu como seu filho em seu testamento e lhe deu uma parte de sua herança.[198] Pereira acabou se tornando um diplomata brasileiro e viveu a maior parte de sua vida na Europa.[199]
Com Domitila de Castro, Marquesa de Santos
Isabel Maria de Alcântara Brasileira, Duquesa de GoiásDuchess of Goiás 1843b.jpg23 de maio de 1824 –
3 de novembro de 1898
Ela foi a única filha ilegítima de Pedro que foi oficialmente reconhecida. Isabel Maria recebeu em 24 de maio de 1826 o título de "Duquesa de Goiás", o estilo de "Sua Alteza" e o direito de usar o prefixo honorífico "Dona".[200] Ela foi a primeira pessoa a receber um título de duque no Império do Brasil.[201] Essas honras não lhe deram a condição de princesa ou um lugar na linha de sucessão brasileira. Pedro lhe deu uma porção de sua herança em seu testamento.[198] Ela posteriormente perdeu seu título em 17 de abril de 1843 ao casar-se com um estrangeiro, Ernst Fischler von Treuberg, Conde de Treuberg.[202] [203]
Pedro de Alcântara Brasileiro7 de dezembro de 1825 –
27 de dezembro de 1825
O imperador aparentemente considerou lhe dar o título de "Duque de São Paulo", algo que nunca aconteceu pela morte prematura da criança.[204]
Maria Isabel de Alcântara Brasileira13 de agosto de 1827 –
25 de outubro de 1828
O imperador considerou lhe dar o título de "Duquesa do Ceará", o estilo de "Sua Alteza" e o prefixo honorífico "Dona". Isso nunca chegou a acontecer pela morte prematura da criança. Mesmo assim, é bem comum encontrar fontes a chamando de Duquesa do Ceará, mesmo não existindo registro oficial de seu título, algo que também não é mencionado na papelada de seu funeral.[205]
Maria Isabel de Alcântara BourbonCountess of Iguaçu 1852b.jpg28 de fevereiro de 1830 –
13 de setembro de 1896
Condessa de Iguaçu por casamento em 1848 com Pedro Caldeira Brant, filho deFelisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena.[204] Ela nunca recebeu títulos de seu pai devido seu casamento com Amélia. Entretanto, Pedro a reconheceu em seu testamento, porém não lhe deixou herança, apenas pedindo que sua viúva ajudasse em seu crescimento e educação.[198]
Com Henriette Josephine Clemence Saisset
Pedro de Alcântara Brasileironascido em 28 de agosto de 1829O imperador o reconheceu como seu filho em seu testamento e lhe deu uma parte de sua herança.[198] Pedro de Alcântara Brasileiro teve vários descendentes, dentre eles um oficial da marinha francesa.[206]

Ancestrais

  1. Ir para cima Pedro ficou conhecido no Brasil como "o Libertador" devido ao seu papel na independência do país.[1] Ele também ficou conhecido em Portugal como "o Libertador", além de "o Rei Soldado". Ambos os epítetos vieram de seu papel nas guerras contra seu irmão Miguel.[2]
  2. Ir para cima Pedro abriu mão não apenas das coroas portuguesa e brasileira. Menos conhecido é o fato que ele recebeu em abril de 1822 a oferta da coroa da Grécia pelo governo local, que na época estava lutando pela independência. Pedro recusou e os gregos eventualmente escolheram o príncipe Oto da Baviera como monarca.[89] Ele também recusou ofertas pela coroa da Espanha feitas em 1826 e 1829 por liberais que haviam se rebelado contra o governo absolutista de seu tio Fernando VII. Os liberais tanto em Portugal quanto na Espanha concordaram em 1830 fazer de Pedro o "Imperador da Ibéria". Ele aparentemente também recusou essa oferta já que nada se deu dela.[90] Entretanto, o historiador brasileiro Sérgio Correia da Costa e o português Antônio Sardinha argumentaram, baseados em pouquíssimas evidências, que um dos motivos que teria feito Pedro abdicar do trono brasileiro era destronar seu irmão e seu tio para poder reinar sobre toda a península Ibérica como imperador.[91]
  3. Ir para cima Rumores circularam na época dizendo que Pedro supostamente chutou Maria Leopoldina no útero durante uma discussão acalorada. A briga fora assistida por Domitila e Wenzel Philipp Leopold, Barão von Mareschal. Este último estava servindo como o ministro austríaco no Brasil e assim era inclinado a refletir os interesses da imperatriz, tendo sido a única testemunha a deixar um relato sobre o que realmente aconteceu. De acordo com ele, o casal teve uma briga em que trocaram insultos, porém não há nenhuma menção de violência física.[108] Os historiadores Alberto Rangel,[109] Pedro Calmon,[110] Otávio Tarquínio de Sousa,[111] Sérgio Correia da Costa[112] e Roderick J. Barman[25]rejeitaram a possibilidade de Pedro ter fisicamente atacado a esposa, com todos afirmando que o desentendimento limitou-se a palavras duras. A posterior exumação do corpo de Maria Leopoldina confirmou que ela morreu de causas naturais.[113] Todavia, calúnias sobre a conduta de Pedro na época da morte de sua primeira esposa ainda estavam circulando por volta de 1831, servindo como uma lembrança duradoura do que as pessoas realmente acreditavam, não importando a natureza infundada das alegações.[111]Barman foi categórico ao afirmar que a morte de Maria Leopoldina tirou de Pedro "qualquer aura restante de santo, tanto em casa quanto no exterior"




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Programa 30
DOM MIGUEL -  O REI ABSOLUTO 


D. Miguel I de Portugal


Miguel I
Rei de Portugal e Algarves
Reinado11 de julho de 1828
26 de maio de 1834
Aclamação11 de julho de 1828
PredecessoraMaria II
SucessoraMaria II
EsposaAdelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg
Descendência
Maria Assunção de Bragança
Maria de Jesus de Bragança
Maria das Neves de Bragança
Miguel Januário de Bragança
Maria Teresa de Bragança
Maria José de Bragança
Aldegundes de Bragança
Maria Ana de Bragança
Maria Antônia de Bragança
Nome completo
Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga Evaristo
CasaBragança
PaiJoão VI de Portugal (alegadamente)
MãeCarlota Joaquina da Espanha
Nascimento26 de outubro de 1802
Palácio Real de QueluzQueluz,Portugal
Morte14 de novembro de 1866 (64 anos)
EsselbachWürttemberg
EnterroPanteão da Dinastia de Bragança,Igreja de São Vicente de Fora,LisboaPortugal
ReligiãoCatolicismo
Miguel I (nome completo: Miguel Maria do Patrocínio João Carlos Francisco de Assis Xavier de Paula Pedro de Alcântara António Rafael Gabriel Joaquim José Gonzaga EvaristoQueluz26 de outubro de 1802 – Esselbach14 de novembro de 1866), apelidado de "o Absolutista" e "o Tradicionalista", foi o Rei de Portugal e Algarves entre 1828 e 1834 e pretendente ao trono português entre 1834 e 1866, tendo sido alegadamente (ver secção: Questão da paternidade) o terceiro filho varão do rei D. João VI de Portugal e de D. Carlota Joaquina de Bourbon e o irmão mais novo do imperador Pedro I do Brasil.[1]
Após a sua derrota nas Guerras Liberais que duraram entre 1828 e 1834, e a sua consequente rendição emEvoramonte, foi despojado do estatuto de realeza e as Cortes declararam que o, então, já ex-infante D. Miguel e todos os seus descendentes ficaram para sempre excluídos da sucessão ao trono português e sob pena de mortecaso regressassem a Portugal. A Lei do Banimento do ramo Miguelista veio a ser revogada pela Assembleia Nacional a 27 de maio de 1950, permitindo o regresso a território português dos descendentes do ex-infante D. Miguel.

Início de vida

Genealogia e família

D. Miguel nasceu em 26 de outubro de 1802, no Palácio Real de Queluz, na vila homónima, e foi alegadamente (ver secção: Questão da paternidade) o sétimo filho de D. João VIrei de Portugal e dos Algarves e Imperador do Brasilcom a sua consorte, a rainha D. Carlota Joaquina de Bourbon[2] , filha de Carlos IV de Espanha e sua consorte Maria Luísa de Parma, filha de Filipe I de Parma e de Maria Luísa Isabel de França.

Rei de Portugal

D. Miguel foi rei de Portugal entre 1828 e 1834, período no qual se deu a Guerra Civil Portuguesa de 1831-1834.
O seu reinado é altamente controverso na História de Portugal. Segundo o partido constitucionalista, D. Miguel foi um usurpador do título monárquico de sua sobrinha D. Maria da Glória e fora apenas regente. Por sua vez, o chamado partido miguelista contrapunha que D. Pedro I do Brasil perdera o direito à Coroa Portuguesa e, por isso, a designar um seu sucessor (no caso, sua filha, D. Maria da Glória) desde o momento em que erguera armas contra Portugal, declarara a independência do Brasil e se tornara imperador desse novo País.
Com efeito, de acordo com as Leis Fundamentais do Reino, um príncipe herdeiro que levantasse armas contra Portugal ou ascendesse ao trono de um estado estrangeiro, perderia o direito ao trono português. De acordo com esta interpretação, D. Miguel seria assim o legítimo sucessor de D. João VI, vindo a ser legitimado pelas Cortes, em11 de julho de 1828, em conformidade com as Leis tradicionais vigentes antes e após a revolta liberal de 1820.
Como resultado desta polémica, para os liberais D. Miguel passou à história como o Absolutista ou o Usurpador (por alegadamente ter arrebatado o trono que seria da sua sobrinha), enquanto os miguelistas lhe atribuem o cognome de o Tradicionalista (por ter sido aclamado em Cortes, ainda que forçadas, no respeito da tradição legal portuguesa).
Antes de ascender ao trono ― uma vez que o primeiro filho de D. João VI, o Infante D. Francisco António, Príncipe da Beira falecera na infância ― D. Miguel usou os títulos destinados aos secundogénitos de Senhor do Infantado e Duque de Beja. Na sequência da insurreição de Vilafrancada, foi ainda feito senhor de Samora Correia pelo seu pai. Após o período do seu reinado efectivo, já no exílio, foi pretendente ao título de Duque de Bragança, com os demais subsidiários (Marquês de Vila ViçosaConde de Arraiolosde Barcelosde Neiva e de Ourém).

Ideologia


Retrato de D. Miguel.
D. Miguel era um homem de aparentes ideais católicos e tradicionalistas, os quais defendia com frontalidade. Era pouco popular entre aburguesia, mais aberta à influência do ideário liberal, mas gozava de grande popularidade entre o povo, que, caído na miséria após as guerras contra Espanha e França, procurava num rei a figura forte de um salvador. A isto acresce que era a Igreja Católica quem, à época, muitas vezes matava a fome do elevadíssimo número de mendigos e deserdados de mais de 30 anos de guerras, pelo que a aparente inimizade dos liberais face a esta instituição terá levado a que o povo se colocasse ainda mais do lado miguelista.
D. Miguel era também um admirador do chanceler Metternich da Áustria, embora afirmasse não ser adepto de uma monarquia absoluta, mas apenas pretender libertar Portugal das influências estrangeiras ― principalmente das ideias da Maçonaria, as quais considerava nefastas.

Início da actividade pública

Em Maio de 1823, no seguimento da instituição do regime parlamentar em Portugal, D. Miguel liderou um movimento militar contra as forças parlamentares ― a insurreição de Vilafrancada ― que resultou na dissolução das Cortes e no restabelecimento do poder régio absoluto de seu pai, D. João VI. Este nomeou então o filho Generalíssimo e Chefe do Exército.
A reacção dos parlamentaristas, no entanto, organizou-se e projectou destronar o rei e restabelecer a Constituição de 1822. A isto D. Miguel respondeu com a revolta política que veio a ficar conhecida pela Abrilada. Em 30 de Abril de 1824, D. Miguel tentou travar a conspiração, convocando as tropas de todos os quartéis de Lisboa. O corpo diplomático estrangeiro, contudo, interveio, levando D. João VI para bordo do navio de guerra inglês HMS Windsor Castle, onde pressionou o rei a demitir D. Miguel do comando do Exército e a ordenar o seu exílio [4] .
Dois anos depois, quando o rei D. João VI morreu, D. Miguel estava ainda exilado na corte de Viena de Áustria. Morto o rei, a regência da sua irmã D. Isabel Maria, em Lisboa, considerou que o imperador do Brasil, D. Pedro I, deveria herdar o trono de Portugal. No Brasil, o imperador D. Pedro I foi chamado a assumir o trono português; no entanto, este preferiu abdicar em favor de sua filha mais nova, D. Maria da Glória (depois rainha D. Maria II de Portugal) e outorgou uma carta constitucional ao reino de Portugal.

Caricatura representando os dois irmãosD. Pedro IV e D. Miguel a brigar pela coroa portuguesa (por Honoré Daumier1833).

Reinado

Para poder voltar a Portugal, D. Miguel aceitou, então, ficar noivo da sua sobrinha, D. Maria da Glória, e para poder ser nomeado regente na menoridade desta, jurou ainda, perante a corte austríaca, a Carta Constitucional de 1826 com "reserva de todos os seus direitos" e a expressa determinação de esta ser previamente aceite pelos três estados do reino, conforme seu decreto de outorga[5] . À sua chegada a Lisboa, D. Miguel repetiu, nos mesmos termos, o juramento de fidelidade à constituição e à rainha, sua prometida mulher. Pouco depois, convocou a reunião dos três estados do reino em cortes, para decidir a sucessão no trono de Portugal.
Em 23 de junho de 1828 forçou a sua aclamação como rei pelas Cortes Gerais do Reino, que anularam a vigência da Carta Constitucional (a qual ele mesmo havia jurado cumprir) e repuseram as Leis constitucionais tradicionais. Foi reconhecido pelo Papa, por Espanha e pelos Estados Unidos, cujo PresidenteAndrew Jackson, seguia o princípio de reconhecer oficialmente todos os soberanos e governantes de facto, ficando as restantes potências na expectativa, mas aceitando porém tratar com o seu governo enquanto entidade que "de facto" exercia o poder político sobre a quase totalidade do território nacional.
Reinou, deste modo, entre 1828 e 1832. Entre outras iniciativas, fundou em 1828 a Real Casa de Asilo dos Náufragos, em São João da Foz do Douro, destinada a casa abrigo para salva-vidas, predecessora do Instituto de Socorros a Náufragos. Esta instituição constituiu o primeiro embrião de um serviço de salvamento na costa portuguesa. A Real Escola de Veterinária, predecessora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa, foi criada pelo Decreto de El-Rei D. Miguel I, publicado a 7 de Abril de 1830 na "Gazeta de Lisboa".
D. Miguel tentou o reconhecimento internacional para o seu regime, tendo até 1830 a simpatia de França e da Grã-Bretanha e Irlanda. Porém, naquele ano, grandes mudanças ocorreram na conjuntura europeia: em França uma rebelião colocou no trono Luís Felipe I em lugar de Carlos X; enquanto no Reino Unido o Governo deArthur Wellesley, 1.º Duque de Wellington, caiu antes que fosse concedido o reconhecimento a D. Miguel como monarca. No meio de tudo isto o seu irmão D. Pedro havia em sua regência como imperador transformado o Brasil num importante parceiro comercial e militar das grandes potências, devido ao seu tamanho continental e reservas naturais. Além destes factos, a acção diplomática de Metternich ― cujo soberano era sogro de D. Pedro, e pretendia que a sua neta, Habsburgo por sua mãe, ascendesse ao trono de Portugal ― começou também a desenvolver-se contra D. Miguel.

Guerra Civil

Em 1831, o imperador D. Pedro I abdicou do trono do Brasil em favor do filho, D. Pedro II, e partiu para a Europa em busca de apoios para a causa de sua filha D. Maria da Glória. Após obter armas e dinheiro, por intermédio de Juan Álvarez Mendizábal, reuniu na Grã-Bretanha e Irlanda uma força de aproximadamente sete mil soldados britânicos, regressando a Portugal para liderar pessoalmente o partido liberal na guerra contra os miguelistas. O regresso de D. Pedro e dos liberais desencadeou a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).Logo tomou o arquipélago dos Açores, de onde lançou ataques navais a Portugal Continental.

Evoramonte, a localidade onde foi assinada a Convenção que pôs termo às Guerras Liberais.
Na primavera de 1834 a guerra civil entraria na sua fase decisiva. Em 22 de abril, em Londres, a Grã-Bretanha e Irlanda e aFrança decidiram pôr fim ao reinado de D. Miguel I em Portugal e às pretensões de Carlos María Isidro de Borbón em Espanha.
Nessa altura, em 24 de abril de 1834, firmou-se o Tratado de Londres, uma Quádrupla Aliança dos quatro mais fortes Estados europeus, que decidiram juntar-se para intervir militarmente contra as forças do rei D. Miguel.
Como consequência desta aliança, o Almirante inglês Napier desembarcou tropas na Figueira da Foz, avançando por Leiria,Ourém e Torres Novas, enquanto o General espanhol José Ramón Rodil y Campillo entrou em Portugal através da Beira e Alto Alentejo, com uma expedição de 15 mil homens, em apoio do partido de D. Pedro e de sua filha D. Maria da Glória. Na batalha de Asseiceira, as forças militares portuguesas (absolutistas) foram definitivamente derrotadas pela conjugação das forças estrangeiras, aliadas às forças liberais do duque da Terceira, e foram obrigadas a depor as armas, sendo o rei D. Miguel I forçado a abdicar em favor de D. Maria II através da Convenção de Evoramonte assinada a 26 de maio de 1834.

Lei do Banimento

19 de dezembro de 1834, a rainha D. Maria II promulgou uma carta de lei, conhecida como a Lei do Banimento, através da qual D. Miguel, então já destituído do estatuto de realeza, e todos os seus descendentes, ficaram para sempre obrigados a viver fora do território português e sem quaisquer direitos de sucessão ao trono de Portugal.
Carta de Lei de 19 de Dezembro de 1834
«Dona Maria Segunda, por Graça de Deos, Rainha de Portugal, Algarves, e seus Dominios:
Fazemos saber a todos os Nossos Subditos que as Cortes Geraes e Extraordinarias Decretaram, e Nós Queremos a Lei seguinte:
Art.º 1.º O ex-Infante D. Miguel, e seus descendentes são excluídos para sempre do direito de suceder na Corôa dos Reinos de Portugal, Algarves, e seus Dominios.
Art.º 2.º O mesmo ex-Infante D. Miguel, e seus descendentes são banidos do territorio Portuguez, para em nenhum tempo poderem entrar nelle, nem gosar de quaesquer direitos civis, ou políticos: a conservação, ou acquisição de quaesquer bens fica-lhes sendo vedada, seja qual for o título, e a natureza dos mesmos: os patrimoniaes, e particulares do ex-Infante D. Miguel, de qualquer especie que sejam, ficam sujeitos ás regras geraes das indemnisações.»
Esta Lei foi posteriormente reforçada com a promulgação da Constituição Monárquica de 1838, na qual o artigo 98 estipulou que "A linha colateral do ex-infante Dom Miguel e todos os seus descendentes estão perpetuamente excluídos da sucessão".
A Constituição de 1838 foi revogada aquando da reinstituição em vigor da Carta Constitucional em 1842, a qual não continha qualquer cláusula de exclusão da linha miguelista. Porém, ainda assim D. Miguel e os seus descendentes mantiveram-se no exílio até à segunda metade do século XX reconhecendo que o reinado efetivo dos monarcas da Casa de Bragança-Saxe-Coburgo-Gota lhes retiraram todos os direitos de sucessão dinástica.
A Lei do Banimento veio apenas a ser revogada pela Assembleia Nacional em 27 de Maio de 1950, permitindo o regresso a Portugal dos descendentes do já ex-intante D. Miguel. Contudo, todos os críticos defendem que a República não dispunha de qualquer validade para revogar leis de natureza dinástica, sendo que a única revogação de lei aceite por todos foi a da Lei da Proscrição dos demais ramos da família real dos Bragança.

No exílio

1 de junho de 1834, depois da derrota militar, D. Miguel partiu de Évora para embarcar num navio de guerra britânico em Sines, com destino a Génova, tendo pernoitado pela última vez em solo português na vila alentejana de Alvalade, que sempre se revelara fiel à sua causa[6] .
Viveu no exílio primeiro na Itália, depois na Grã-Bretanha e, finalmente, na Alemanha.

Retrato do ex-Infante D. Miguel de Bragança, datado de 1848.
Ainda ao largo da costa portuguesa, D. Miguel denunciou a Concessão de Evoramonte, redigindo uma carta à chegada em que afirmava que o acordo fora firmado sob coacção. No dia 20 de junho fez um protesto contra a renúncia que fora obrigado a fazer dos seus direitos à coroa de Portugal. Ao fazê-lo, perdeu voluntariamente o direito à pensão vitalícia que Portugal ficara obrigado a pagar-lhe nos termos do acordo, não lhe restando, a partir de então, qualquer fortuna pessoal, visto que já mandara entregar as suas jóias ao seu irmão D. Pedro, como contribuição para o esforço de reconstrução do País após a guerra. Passou pois a viver da boa-vontade do Papa e dos seus partidários. A oferta do seu tesouro pessoal para ajudar na reconstrução de Portugal suscitou a D. Pedro IV o comentário emocionado: "Isto são mesmo coisas do mano Miguel"[7] .
D. Miguel viveu o resto de sua vida no Grão-Ducado de Baden, em Baden-Württemberg, na Alemanha, onde se casou com a Princesa Adelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg, que lhe deu seis filhas e um filho varão.
Em 26 de novembro de 1836, D. Miguel nomeou simbolicamente Governador do Reino do Algarve e Comandante em Chefe Interino de Todas as Tropas Realistas, Regulares e Irregulares do Exército de Operações do Sul o chamado "Remexido", líder de um grupo de guerrilheiros e ex-soldados, que se manteve fiel à causa miguelista e fez acesa resistência no território compreendido entre o Algarve e o norte do Alentejo durante mais de quatro anos após a Concessão[7] . O que não foi caso isolado, já que se conhecem vários outros focos de luta de guerrilha ao longo de todo o país nesta época, com especial destaque no Norte de Portugal, apoiados nomeadamente pelo célebre Zé do Telhado, no Douro, e pelo conde de Almada, no Minho.
Entretanto, a 26 de outubro de 1866, morreu sem nunca ter conseguido regressar a Portugal, e muita da sua luta pela sua legitimação pelo Reino de Portugalesmoreceu, apesar da continuidade que lhe foi dada, posteriormente, pelo seu filho Miguel Januário de Bragança e por alguns apoiantes que sempre o seguiram.
D. Miguel jaz desde 1967 no Panteão da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa, juntamente com sua esposa, para onde foi trasladado do Convento dos Franciscanos de Engelberg, em Großheubach, no distrito de Miltenberg, na Alemanha.

Descendência

Filiação no reinado

D. Miguel I de Portugal, enquanto solteiro e em pleno período do seu reinado, manteve uma relação duradoura com D. Antónia Francisca Ribeiro do Carmo, uma nobre portuguesa que viveu entre Portugal e a Itália, e com quem o monarca teve a sua primeira filha natural em 1831[8] , reconhecendo-a publicamente, anos depois, em Albano, na Itália, a 2 de agosto de 1839[9] [10] , e permitindo a ela, desse modo, a reivindicação do estatuto de Infanta de Portugal. Pelo facto desta filha ter nascido antes da aplicação da Lei do Banimento que, após as guerras liberais, obrigou ao exílio o rei e os seus descendentes, e somando os factos desta filha natural ter nascido na vigência do reinado de seu pai e de ter sido reconhecida pelo próprio, a mesma reivindicou direitos de sucessão ao trono de Portugal.[carece de fontes]
Mais tarde, em 1833 ou 1834, no último ano do reinado de D. Miguel I e novamente antes da aplicação da Lei do Banimento, o monarca teve ainda uma segunda filha natural com uma mulher de origem humilde residente em Santarém. Esta segunda filha, em virtude da mãe não pertencer à nobreza portuguesa, não gozou do mesmo reconhecimento público que a primeira filha natural do monarca; todavia, o rei conferiu-lhe, tal como à primeira filha, o direito ao uso dos apelidos da realeza para efeitos de registo de Baptismo e de legitimação paterna. Reivindicou direitos de sucessão e deixou descendência.[carece de fontes]
Entre os motivos que levaram D. Miguel a efectuar o reconhecimento das suas duas primeiras filhas naturais estiveram a sua enorme necessidade de afirmar os seus direitos dinásticos perdidos pela Constituição Monárquica de 1838 e o de assegurar que deixava descendência.[carece de fontes]
Contudo segundo o direito sucessório em vigor ao tempo estas duas filhas legitimadas não tinham quaisquer direitos dinásticos, pois os filhos legitimados estavam excluídos da sucessão da Coroa, quer durante o Antigo Regime quer durante o Regime Liberal. Além disso D. Miguel I veio a contrair matrimónio de que nasceram filhos legítimos.[carece de fontes]
NomeNascimentoMorteNotas
Maria da Assunção de Bragança18311897De seu nome completo Maria da Assunção Ribeiro do Carmo e Bragança foi a primeira filha natural de D. Miguel I e resultante da relação do monarca com a nobre portuguesa de nome D. Antónia Francisca Ribeiro do Carmo. Esta filha, que nasceu em pleno período de reinado do pai e sendo ele solteiro, foi reconhecida publicamente pelo próprio monarca no ano de 1839, tendo sido, por isso, à época, considerada como sua filha legitimada[11] .
Maria de Jesus de Bragança18331910De seu nome completo Maria de Jesus de Bragança e Bourbon foi a segunda natural de D. Miguel I e resultante da relação monarca com uma senhora de origens humildes residente em Santarém. Foi-lhe concedido o pleno direito ao uso dos apelidos da realeza para efeitos de registo de baptismo e de semi-legitimação paterna. Casou com D. Silverio Rodriguez e com o nobre D. Tomás José Fletcher de Melo Homem. Deixou descendência.

Filiação no exílio


O ex-Infante com sua esposa, a princesaAdelaide, e seus dois filhos mais velhos,Maria das Neves e Miguel Januário.
Após a sua derrota nas guerras liberais e a sua consequente rendição em maio de 1834, D. Miguel foi despojado do seu estatuto de realeza e as cortes declararam que D. Miguel e todos os seus descendentes seriam para sempre inaceitáveis à sucessão ao trono e sob pena de morte caso regressassem a Portugal. Por esse mesmo motivo, a 19 de dezembrodesse mesmo ano foi oficialmente promulgada a Lei do Banimento na qual o, então, já ex-infante e ex-rei D. Miguel e seus descendentes ficaram obrigados a viver no exílio[12] , e esse facto foi ainda reforçado com a promulgação daconstituição monárquica de 1838, revogada em 1842, na qual o artigo 98 estipulou que "a linha colateral do ex-infante Dom Miguel e todos os seus descendentes estão perpetuamente excluídos da sucessão". Isso não impediu também que, em 1866, aquando da morte de D. Miguel I, o Governo do Rei D. Luís decretasse 20 dias de luto nacional, dez de luto rigoroso, "pela morte do Senhor Dom Miguel de Bragança, tio do Rei" (Diário do Governo de 17.11.1866, n.° 262).
D. Miguel, então a viver na Alemanha, se casou a 24 de setembro de 1851, em Kleinheubach, com a princesa Adelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg e de quem teve sete filhos que nunca aceitaram bem o facto da sua perda perpétua de direitos dinásticos e que continuaram a apresentar pretensões a títulos nobiliárquicos e à herança do trono de Portugal. Contudo, nunca desrespeitaram, o que estava pré-definido pelas Cortes de Lamego e pela Carta Constitucional que definia que "nenhum estrangeiro poderá suceder na Coroa do Reino de Portugal".
NomeNascimentoMorteNotas
Maria das Neves of Portugal.jpgMaria das Neves de Bragança18521941Casou-se, em 1871, com o Afonso Carlos de Bourbon, Duque de São Jaime. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.
Miguel, Duke of Braganza.jpgMiguel Januário de Bragança18531927Casou-se em 1877 com a princesa Isabel de Thurn e Taxis, e em 1893 com a princesa Maria Teresa de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg. Reivindicou o título de Infante de Portugal, entre outros títulos de realeza.
Mariateresadebragança.jpgMaria Teresa de Bragança18551944Casou-se, em 1873, com o arquiduque Carlos Luís da Áustria. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.
Mariajosédebragança.jpgMaria José de Bragança18571943Casou-se, em 1874, com Carlos Teodoro, duque da Baviera. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.
Infanta Adelgundes, Duchess of Guimarães.JPGAldegundes de Bragança18581956Casou-se, em 1876, com Henrique de Bourbon-Parma, conde de Bardi. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.
MarieAnna.jpgMaria Ana de Bragança18611942Casou-se, em 1893, com o grão-duque Guilherme IV de Luxemburgo. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.
2nd wife of Robert, Duke of Parma.JPGMaria Antónia de Bragança18621959Casou-se, em 1884, com o duque Roberto I de Parma. Reivindicou o título de Infanta de Portugal.

Questão da paternidade

Inúmeras fontes bibliográficas e testemunhos da época sugerem que D. Miguel teria sido fruto de alegadas ligações adúlteras de sua mãe, D. Carlota Joaquina de Bourbon. Segundo estas, o próprio rei D. João VI teria confirmado não ter tido relações sexuais com a sua esposa durante mais de dois anos e meio antes donascimento de D. Miguel[13] [14] , tempo durante o qual o rei e a rainha terão vivido em guerrilha conjugal, permanente conspiração, e só se encontravam em raras ocasiões oficiais.[15]
Segundo esta teoria, D. Miguel poderia ter sido filho do marquês de Marialva (com quem se assemelhava fisicamente), ou do jardineiro do palácio da rainha, ou de um outro serviçal do Ramalhão (o palácio localizado perto de Sintra, onde D. Carlota Joaquina vivia separada do seu real esposo).[16] [17] Para Raul Brandão, por exemplo, João dos Santos, o cocheiro e jardineiro da Quinta do Ramalhão, seria o pai de D. Maria da Assunção e de D. Ana de Jesus Maria, enquanto o D. Miguel seria o filho do marquês de Marialva.[18] Por seu lado, Alberto Pimentel assegura que "...passa como certo que dos nove filhos que D. Carlota Joaquina dera à luz, apenas os primeiros quatro tiveram por pai D. João VI".[19]
Os defensores desta teoria não conseguem contudo explicar o porquê de D. João, se tinha de facto dúvidas quanto à paternidade de D. Miguel, ter reconhecido este último como seu filho. Repudiando D. Miguel, o monarca teria a mais soberana das oportunidades de anular o seu casamento com D. Carlota Joaquina. Se não o fez, é lícito afirmar que não tinha quaisquer dúvidas quanto à paternidade de D. Miguel e que essas dúvidas são fruto de meros mexericos sem base sólida e muito explorados por alguma propaganda pró-liberal e por alguns monárquicos da actualidade que pretendem privar os descendentes de D. Miguel da condição de pretendentes ao trono de Portugal.
Por outro lado, dado que as dúvidas sobre a paternidade de D. Miguel acima referidas têm como base fundamental as memórias de Laura Permon, a mulher doGeneral Junot, onde sobressai uma profunda antipatia pela Corte Portuguesa e por D. Carlota Joaquina, a sua veracidade torna-se mais duvidosa ainda.[20] Aduquesa de Abrantes, no entanto, não deixou de sublinhar nas suas "Memórias" a própria "diversidade cómica" da descendência do rei D. João VI: "O que é notável nesta família de Portugal é não haver um único filho parecido com a irmã ou o irmão...". A mulher do General Junot escreveu ainda que o rei Absoluto teve por pai"um moço de estrebaria".[21]
É um facto que, ao longo da História, são inúmeros os casos em que a fidelidade conjugal de reis e rainhas é posta em causa, mas, neste caso específico, esta veracidade torna-se ainda mais remota se atendermos também ao facto de que nenhum dos historiadores liberais de referência do período pós-miguelista (Luz Soriano e Alexandre Herculano) coloca em dúvida a paternidade de D. Miguel, mesmo apesar de terem sido seus inimigos confessos e de inclusivamente terem combatido contra ele durante a Guerra Civil.



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Programa 31
DONA MARIA II - A EDUCADORA 




Rainha Dona Maria II de Portugal


Maria II

Único daguerreótipo conhecido, c. 1850
Rainha de Portugal e Algarves
1º Reinado 2 de maio de 1826
a 23 de junho de 1828
Predecessor Pedro IV
Sucessor Miguel I
Regentes
2º Reinado 26 de maio de 1834
a 15 de novembro de 1853
Predecessor Miguel I
Sucessor Pedro V
Co-monarca Fernando II (1837–1853)

Maridos Augusto de Beauharnais
Fernando II de Portugal
Descendência
Pedro V de Portugal
Luís I de Portugal
João, Duque de Beja
Maria Ana de Portugal
Antônia de Portugal
Fernando de Portugal
Augusto, Duque de Coimbra
Nome completo
Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga
Casa Bragança
Pai Pedro I do Brasil & IV de Portugal
Mãe Maria Leopoldina da Áustria
Nascimento 4 de abril de 1819
Paço de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil
Morte 15 de novembro de 1853 (34 anos)
Palácio das Necessidades, Lisboa, Portugal
Enterro Panteão da Dinastia de Bragança, Igreja de São Vicente de Fora, Lisboa, Portugal
Religião Catolicismo
Assinatura
Maria II (Rio de Janeiro, 4 de abril de 1819Lisboa, 15 de novembro de 1853), apelidada de "a Educadora" e "a Boa Mãe", foi a Rainha de Portugal e Algarves em dois períodos diferentes, primeiro de 1826 até ser deposta em 1828 por seu tio Miguel, e depois de 1834 até sua morte. Era filha mais velha do imperador Pedro I do Brasil, que também reinou Portugal brevemente como Pedro IV, com sua primeira esposa a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria.

Biografia

Nascimento

Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança nasceu em 4 de abril de 1819 no Paço de São Cristóvão, cidade do Rio de Janeiro, Brasil, sob o título de Princesa da Beira e posteriormente Princesa Imperial do Brasil. Era a filha mais velha do então imperador Pedro I do Brasil e sua primeira esposa a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria. Maria da Glória foi a única monarca da Europa a nascer fora de terras europeias, embora ela tenha nascido dentro de território português.

Início do reinado

Pedro ascendeu ao trono português em março de 1826 como Pedro IV, porém rapidamente abdicou em favor de sua filha mais velha, que tornou-se Rainha de Portugal e Algarves como Maria II, então com apenas seis anos de idade. Ela deixou o Rio de Janeiro a 5 de julho de 1828, acompanhada por Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, que fora escolhido pelo próprio Pedro para acompanhá-la.
O infante Miguel, seu tio paterno, chegara a Lisboa em 9 de fevereiro de 1828 e desembarcou no dia 22, recebendo das mãos de sua irmã mais velha a infanta Isabel Maria a regência, ratificando em 26 de fevereiro o juramento que prestara à Carta Constitucional perante as cortes que Isabel Maria havia convocado, mas não tardou a mudar de resolução. Ele dissolveu as cortes em 13 de marços, convocando em 3 de maio o conselho dos três Estados para decidir a quem pertencia a coroa, segundo a antiga forma das cortes do país, quando se tratava de graves pontos de direito.
O conselho reuniu-se em 21 de junho e Miguel foi proclamado rei quatro dias depois em precipitada resolução, em vista do ato de reconhecimento do herdeiro da coroa prestado pela regência e real câmara dos pares, instituída pela Carta Constitucional, acerca da sucessão da Casa de Bragança nas duas coroas de Portugal e Brasil, e particularmente na do Portugal, já indicada nas conferências realizadas em Londres em agosto de 1823.
E também nos preliminares do tratado de 25 de agosto de 1823, que reconheceu a Independência do Brasil, onde a tal respeito foi apresentado na conferência de 9 de agosto o seguinte Artigo Secreto: "Como por causa da aceitação da renúncia pessoal do imperador do Brasil, Pedro, à Coroa de Portugal, as Cortes de Portugal devem determinar qual dos filhos do imperador será chamado à sucessão daquela coroa por morte do presente rei: entende-se que as ditas cortes podem chamar à sucessão o filho mais velho do dito imperador do Brasil, ou a filha mais velha, na falta de descendência masculina."
Miguel residia em Viena, para onde fora mandado, por carta régia de 12 de maio de 1824, depois da revolta de 30 de abril ou Abrilada. Os brasileiros não aceitaram que o imperador cingisse a coroa portuguesa, o que resultaria na unidade da antiga monarquia, da qual haviam se libertado.


D. Miguel, 1827
por Johann Nepomuk Ender, no Palácio de Queluz.
Pedro, depois de proclamado Rei de Portugal, resolveu abdicar a coroa portuguesa na filha mais velha, Maria da Glória, em 3 de maio, tendo em 29 de abril outorgado aos portugueses uma constituição livre, a Carta Constitucional. A abdicação era condicional: a princesa casaria com seu tio, Miguel, e enquanto se não realizasse o consórcio, e o novo regime não dominasse em Portugal, continuaria a regência de Isabel Maria em nome de Pedro IV.
A 31 de julho de 1826 foi jurada a constituição em Portugal. Miguel, em Viena, também a jurou em 4 de outubro, pronto a obedecer às vontades do irmão Pedro, e efetuou, por procuração, seus esponsais com a sobrinha perante a corte de Viena, a 29 de outubro. Foi dispensado o impedimento de consanguinidade por breve do papa Leão XII, estando a rainha representada no ato, em virtude do alvará que para tal fim fora conferido em 28 de abril de 1826, pelo barão de Vila Seca, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Império do Brasil junto à corte do imperador Francisco I, como participado às cortes pela infanta regente.
Em vista do procedimento do infante Miguel no ato de jurar a Carta Constitucional, quando tempos depois, no meio da agitação dos partidos que se gladiavam, dos tumultos e das revoltas, Isabel Maria adoeceu, Pedro não hesitou em nomear, em nome da rainha Maria II, Miguel seu lugar-tenente e regente do reino, por decreto de 3 de setembro de 1827, resolvendo enviar a filha para Viena a completar a educação na corte de seu avô.
Após a revolução liberal, na sequência da reforma administrativa de 1836, a rainha Maria II entrega o foral de concelho ao Seixal, no dia 6 de novembro.

Levantamento absolutista


Maria II, 1829 por Thomas Lawrence, na Royal Collection
O reinado foi interrompido pelo levantamento absolutista liderado por seu tio, noivo e regente Miguel I, que se proclamou rei de Portugal a 23 de Junho de 1828. Começaram então as Guerras Liberais que se prolongam até 1834, ano em que Maria foi reposta no trono e Miguel exilado para a Alemanha.
O marquês de Barbacena, chegando a Gibraltar com a princesa em 3 de setembro de 1828, teve conhecimento por um emissário do que se passava em Portugal. Teve a perspicácia de compreender que Miguel viera de Viena resolvido a pôr-se à frente do movimento absolutista, aconselhado pelo príncipe Metternich, que dirigia a política europeia, sendo assim perigoso a jovem rainha ir para Viena. Tomando a responsabilidade, mudou a direção da viagem, e partiu para Londres, onde chegou a 7 de outubro. A política inglesa nada favorecia seus intuitos. O gabinete do Duque de Wellington patrocinava abertamente Miguel, de sorte que o asilo que o marquês procurara não era seguro. Maria II foi recebida na corte com as honras devidas à sua elevada hierarquia, mas os ingleses impediam os seus súbditos ali emigrados de irem reforçar a guarnição da ilha Terceira.
O golpe de Estado de Miguel não passara sem protestos. A 16 de maio de 1828 revoltava-se a guarnição do Porto, a 25 em Lagos um batalhão de infantaria. As revoltas foram sufocadas. Saldanha, Palmela, e outros, que tinham vindo para tomar a direção do movimento do Porto, reembarcaram no Belfast, que os trouxera; a guarnição do Porto, reforçada pelos voluntários académicos de Coimbra e por outras tropas liberais, emigrava para a Galiza e dali para Inglaterra. À frente duma pequena expedição liberal tentou Saldanha desembarcar na Terceira, mas não lho consentiu o cruzeiro inglês, cuja vigilância não pôde, contudo, evitar algum tempo depois que o Conde de Vila Flor, mais tarde da Terceira, conseguisse desembarcar. A tempo, porque em Agosto de 1829 aparecia na frente da ilha a grande esquadra miguelista que lançou em terra um corpo de desembarque. Deu-se então a batalha de 11 de agosto na vila da Praia, em que os miguelistas foram derrotados. Quando os emigrados na Inglaterra receberam a notícia da vitória, sentiram grande entusiasmo. Logo perderam as esperanças ao saber que a jovem rainha voltava para o Brasil. Na verdade, a situação de Maria II na corte inglesa, ao lado do ministério no poder, tornava-se embaraçosa e humilhante. A rainha saiu de Londres para ir encontrar com sua futura madrasta, Amélia de Leuchtenberg. Partiram juntas em 30 de agosto de 1829 para o Rio, chegando a 16 de outubro.
Julgava-se perdida a causa constitucional. Os emigrados dispersos (França, Inglaterra e Brasil) dividiam-se em fações rivais. Só a ilha Terceira reconhecia os princípios constitucionais, e mesmo ali apareciam guerrilhas miguelistas. A França estava já disposta a reconhecer o governo de Miguel quando em 1830 rebentou em Paris a revolução de julho, o que fez animar os liberais portugueses.

Guerra civil


Maria II, 1833, na Royal Collection

A Carta Constitucional e a família real.
Em 1831, Pedro I abdicou, a 7 de abril, da coroa imperial do Brasil em nome do seu filho Pedro II, irmão de Maria II, e veio para a Europa com a filha e a segunda mulher, sustentar os direitos da filha à coroa de Portugal. Tomou o título de Duque de Bragança, e de Regente em seu nome.
Quase ao mesmo tempo a regência da ilha Terceira, nomeada por Pedro e composta do Marquês de Palmela, do Conde de Vila Flor e de José António Guerreiro, pode preparar uma expedição que em pouco tempo se apossou dos Açores. Enquanto se ampliava assim o território constitucional, Pedro desembarcava em França, sendo acolhido com simpatia pelo novo governo e por Luís Filipe I. O governo de Miguel desacatara as imunidades dos súbditos franceses, não satisfizera de pronto as reclamações do governo francês, que mandara uma esquadra comandada pelo almirante Roussin forçar a barra de Lisboa e impor humilhantes condições de paz.
Pedro deixou a filha em Paris para acabar a sua educação, entregue à madrasta, com bons mestres, e partiu para os Açores à frente duma expedição organizada na ilha de Belle-Isle, reunindo seus partidários. Chegando aos Açores a 3 de março de 1832, formou novo ministério, juntou um pequeno exército, cujo comando entregou ao Conde de Vila Flor, meteu-o a bordo duma esquadra que entregou ao oficial inglês Sartorius, e partiu para Portugal continental, desembarcando a 8 de julho na Praia da Memória, em Matosinhos. Seguiu-se o cerco do Porto e uma série de combates, até que, a 24 de julho de 1833, o Duque da Terceira entrou vitorioso em Lisboa, depois de ter ganho, na véspera, a batalha da Cova da Piedade. Porto e Lisboa, as principais cidades, estavam no poder dos liberais. Pedro veio para Lisboa, e mandou vir sua filha de Paris.
O Teatro Nacional D. Maria II, no Rossio (zona central de Lisboa), tem o seu nome por ter sido inaugurado no dia de aniversário da rainha.

Casamentos


Ceptro do dragão, feito para a aclamação da rainha Maria II, simbolizando a Coroa de Portugal, a carta constitucional de 1826, e um dragão emblemático da Casa de Bragança
  • Com dispensa papal, por procuração, em 29 de outubro de 1826 casou com seu tio, o infante Miguel (1802-66). O casamento foi dissolvido ou anulado em 1 de Dezembro de 1834.
  • Casou em Munique por procuração em 1 de Dezembro de 1834[1] e em pessoa em Lisboa em 26 de janeiro de 1835 com o príncipe Augusto de Beauharnais. Batizado Augusto Carlos Eugénio Napoleão de Beauharnais, nascera em Milão 9 de Dezembro de 1810 e morreria em 28 de março de 1835 de difteria, no Paço Real das Necessidades, em Lisboa. Segundo duque de Leuchtenberg, Príncipe de Eichstadt, feito príncipe de Portugal pelo casamento, 1° Duque de Santa Cruz no Brasil, feito em 5 de novembro de 1829 por seu sogro e cunhado Pedro I do Brasil. Era filho de Eugénio de Beauharnais e da princesa Augusta da Baviera, e irmão mais velho da imperatriz Amélia, madrasta de Maria II.
Havia necessidade de um segundo marido. Apareceram candidatos de França, Nápoles, Alemanha e Sardenha e foi escolhido o sobrinho do rei Leopoldo I dos belgas:
  • Casou com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, baptizado Fernando Augusto Francisco António de Saxe-Coburgo-Gotha, nascido em Viena em 29 de outubro de 1816 e falecido em Lisboa a 15 de dezembro de 1885 no Paço Real das Necessidades, estando sepultado em mosteiro de São Vicente de Fora. O contrato foi assinado no fim de 1835. Meses depois, chegou o marido. Haviam casado em Coburgo por procuração em 1 de janeiro de 1836 e, em Lisboa, em pessoa, na Sé patriarcal em 9 de Abril de 1836. Este passou a Rei Consorte, como Fernando II, em 16 de setembro de 1837, após o nascimento de um filho varão. Regente do reino durante a menoridade do filho Pedro V e, depois da morte deste, até à chegada a Portugal do filho Luís I. Tiveram 11 filhos. Era filho de Fernando Jorge Augusto (Coburgo 1785-1851 Viena) príncipe de Saxe-Coburgo-Gotha e de Maria Antonia Gabriela (Viena 1797-1862 Viena), princesa herdeira de Kohary de Csabrag e Szitna. Viúvo, Fernando casaria de novo em 1869 com sua companheira de longa data, a cantora Elisa Hensler, feita condessa de Edla.

Morte


Maria II, 1837por John Simpson, no Museu Imperial
Desde sua primeira gravidez, aos dezoito anos de idade, Maria II enfrentou problemas para dar à luz, com trabalhos de parto prolongados e extremamente difíceis. Exemplo disso foi a sua terceira gestação, cujo trabalho de parto durou 32 horas, findas as quais, foi retirada a fórceps uma menina, batizada in articulo mortis com o nome de Maria (1840).[2]
Aos 25 anos de idade e em sua quinta gestação, a soberana tornou-se obesa e seus partos tornaram-se ainda mais complicados.[3] Em 1847 o sofrimento fetal que precedeu o nascimento de seu oitavo filho – o infante Dom Augusto – trouxe ao mundo uma criança "bastante arrouxada e com pouca respiração".[4]
A perigosa rotina de gestações sucessivas, somada à obesidade (que terminou por causar-lhe problemas cardíacos) e à frequência de partos distócicos (preocupante, especialmente por tratar-se de uma multípara) levaram os médicos a alertarem a rainha sobre os sérios riscos que corria. Indiferente aos avisos, Dona Maria II limitava-se a retrucar: "Se morrer, morro no meu posto".

Maria II, 1849

Bandeira pessoal de João V e de Maria II.
Em 15 de novembro de 1853, treze horas após o início do trabalho de parto do natimorto infante Dom Eugénio, seu 11.º filho, Dona Maria II morreu, aos 34 anos de idade. O anúncio da morte foi publicada no Diário do Governo de 16 de novembro de 1853:
"Paço das Necessidades, 15 de Novembro de 1853, à meia hora depois do meio dia.
Sua Magestade a Rainha começou a sentir annuncios do parto às nove horas e meia da noite de hontem. Appareceram difficuldades no progresso do mesmo parto, as quaes obrigaram os facultativos a recorrer a operações, pelas quaes se conseguiu a extracção de um Infante, de tempo, que recebeu o baptismo antes de extrahido.
O resultado destas operações teve lugar às dez horas da manhã. Desgraçadamente, passada hora e meia, Sua Magestade, exhausta de todas as forças, rendeo a alma a Deos, depois de haver recebido todos os sacramentos.
- Francisco Elias Rodrigues da Silveira. Dr. Kessler. Ignacio António da Fonseca Benevides. António Joaquim Farto. Manuel Carlos Teixeira."
Em carta datada de 28 de novembro de 1853, a Duquesa de Ficalho, camareira da rainha, relata o desenlace a seu irmão, o 2° Conde do Lavradio:
"Às duas horas depois da meia-noite do dia 14 para 15, recebi ordem para ir para o Paço, onde cheguei perto das três. Achei já a Imperatriz no quarto da Rainha, para onde entrei logo, achando Sua Majestade incomodada e mesmo pouco fora do seu costume. Assim estivemos até às cinco horas, e então saímos do quarto imediato e perguntámos ao Teixeira [5] o que achava, dizendo-nos: "Sua Majestade vai bem mas devagar". Eu não gostei; e assim se foi passando até às oito horas e meia. Então é que o Teixeira chamou os facultativos, que estavam fora e que não tinham visto a Rainha, e, logo que a examinaram, decidiu-se a horrível operação. Os facultativos eram o Teixeira, o Farto [6] e o Kessler [7] , e os médicos eram o Elias [8] e o Benevides.[9] O Kessler deu logo o caso por muito perigoso.
Começou-se a operação. Eu subi para cima da cama. Do lado direito, a Imperatriz, toda debulhada em lágrimas; a Rainha com ânimo, sem ter um desmaio, mas com muito mau parecer e, queixando-se de que sofria bastante, disse com a sua voz natural: "Ó Teixeira? Se tenho perigo, diga-mo; não me engane".

Maria II,
por William Charles Ross, 1852
A Imperatriz desceu da cama, e disse-me: "A Rainha deve-se confessar"; e foi logo dizê-lo a El-Rei, que respondeu: "Chamem o Patriarca". Ora a este tempo já o Farto tinha baptizado o menino. O Patriarca entrou, e a operação não estava de todo acabada, e tudo era horroroso, mas eram mais de dez horas. Acabou-se, e o Patriarca falou com a Rainha, que estava bem mal, e disse-lhe que fizesse com ele o acto de contrição para a absolver, mas, depois disto, pôde Sua Majestade confessar-se, sacramentar-se e ungir-se, e às onze horas e meia expirou.

Chegada do cortejo fúnebre de D. Maria II ao Mosteiro de São Vicente de Fora.
Não faço reflexões, mas tenho o maior sentimento de que não viessem o José Lourenço e Magalhães Coutinho [10] , que os foram buscar quando não havia remédio.
A rainha dizia: "- Não é nada como das outras vezes". E Ela já tinha passado por uma operação. Não posso explicar a consternação de El-Rei D. Fernando e de todo o Paço.’’
Triste embalsamação, que se fez no dia 16, estando eu sempre, e durou a do Infante e a da Rainha sete horas. Acabada esta aflição, foi a de se vestir, o que era quase impossível, no estado da dissolução em que estava Sua Majestade, mas do modo possível se fez, levando as Ordens e manto Real, mas foi preciso fechar o caixão, porque não é possível pintar o estado de dissolução." [11]

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Maria II de Portugal
Coat of Arms of the Kingdom of Portugal (1640-1910).png
Estilo real Sua Majestade Fidelíssima
Tratamento directo Vossa Majestade Fidelíssima
Estilo alternativo Senhora

Títulos e estilos

O estilo oficial de Maria como rainha era: "Sua Majestade Fidelíssima, D. Maria II, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Maria foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:





Programa 32
DOM PEDRO V - O ESPERANÇOSO



Pedro V de Portugal


Pedro V
Rei de Portugal e Algarves
Reinado15 de novembro de 1853
11 de novembro de 1861
Aclamação16 de setembro de 1855
PredecessoresMaria II e Fernando II
SucessorLuís I
RegenteFernando II (1853–1855)
EsposaEstefânia de Hohenzollern-Sigmaringen
Nome completo
Pedro de Alcântara Maria Fernando Miguel Rafael Gonzaga Xavier João António Leopoldo Víctor Francisco de Assis Júlio Amélio
CasaBragança-Saxe-Coburgo-Gota
PaiFernando II de Portugal
MãeMaria II de Portugal
Nascimento16 de setembro de 1837
Palácio das NecessidadesLisboa,Portugal
Morte11 de novembro de 1861 (24 anos)
Palácio das Necessidades, Lisboa, Portugal
EnterroPanteão da Dinastia de Bragança,Igreja de São Vicente de Fora, Lisboa, Portugal
ReligiãoCatolicismo
Assinatura
Pedro V (Lisboa16 de setembro de 1837 – Lisboa, 11 de novembro de 1861), apelidado de "o Esperançoso" e "o Muito Amado", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1853 até sua morte. Era o filho mais velho da rainha Maria II e seu marido o rei Fernando II. Ele ascendeu ao trono com apenas dezasseis anos de idade após a morte de sua mãe, com seu pai atuando como regente do reino até sua maioridade em 1855.

Biografia

Embora muito jovem aquando a sua ascensão ao trono português, com apenas 16 anos, foi considerado por muitos como um monarca exemplar, que reconciliou o povo com a casa real, após o reinado da sua mãe ter sido fruto de uma guerra civil vencida. D. Fernando II, seu pai, desempenhou um papel fundamental no início do seu reinado, tendo exercido o governo da nação na qualidade de regente do reino, orientando o jovem rei no que diz respeito às grandes obras públicas efectuadas. Pedro V é frequentemente descrito como um monarca com valores sociais bem presentes, em parte devida à sua educação, que incluiu trabalho junto das comunidades e um vasto conhecimento do continente europeu.

Pedro V, por W. Corden, noPalácio Nacional da Ajuda
A 16 de setembro de 1855, completando 18 anos, foi aclamado rei, presidindo nesse mesmo ano à inauguração do primeiro telégrafo eléctrico no país e, no ano seguinte (28 de outubro), inaugura o caminho de ferro entre Lisboa a Carregado. É também no seu reinado que se iniciam as primeiras viagens regulares de navio, entre Portugal eAngola.
Dedicou-se com afinco ao governo do país, estudando com minúcia as deliberações governamentais propostas. Criou ainda o Curso Superior de Letras, em 1859, que subsidiou do seu bolso, com um donativo de 91 contos de réis. Nesse mesmo ano é introduzido o sistema métrico em Portugal.
Pedro V foi um defensor acérrimo da abolição da escravatura e data do seu reinado um episódio que atesta a convicção do monarca nessa matéria e que simultaneamente demonstra a fragilidade de Portugal perante as grandes potências europeias: junto à costa de Moçambique é apresado um navio negreiro francês, tendo o seu comandante sido preso. O governo de França não só exigiu a libertação do navio, bem como uma avultada indemnização ao governo português.
Portugal é, por essa altura, flagelado por duas epidemias, uma de cólera, que grassa de 1853 a 1856, e outra defebre amarela, principalmente em 1856/1857. Durante esses anos o monarca, em vez de se refugiar, percorria os hospitais e demorava-se à cabeceira dos doentes, o que lhe trouxe muita popularidade.
Em 1858, D. Pedro V casa-se, por procuração, com a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, que morreu no ano seguinte. Sendo a saúde pública uma das suas preocupações, foi, juntamente com a sua esposa, a princesaEstefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, que Pedro fundou hospitais públicos e instituições de caridade. Aliás, cumprindo os desejos por ela manifestados, o monarca fundou o Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, após a sua morte.
Morreu com apenas 24 anos, em 11 de novembro de 1861, que segundo parecer dos médicos, devido à febre tifóide (enquanto o povo suspeitava de envenenamento e por isso viria a amotinar-se). Sua morte provocou uma enorme tristeza em todos os quadrantes da sociedade. Não tendo filhos, foi sucedido pelo irmão, o infante D. Luís, que habitava então no sul de França.
Teve uma notável preparação moral e intelectual. Estudou ciências naturais e filosofia, dominava bem o grego e o latim e chegou a estudar inglês. O seu espírito terá sido influenciado pela convivência que teve com Alexandre Herculano, que foi seu educador. Recebeu ainda inúmeros conselhos sobre governação e sentido de Estado por Mário Jorge de Castro Botelho, com quem trocava correspondência durante o período do seu reinado.
No dizer dos biógrafos, Pedro V: "com um temperamento observador, grave, desde criança [...] mandou pôr à porta do seu palácio uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse falar-lhe com franqueza, queixar-se [...] O povo começava a amar a bondade e a justiça de um rei tão triste [...]".

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Pedro V de Portugal
Flag Peter V of Portugal.svg
Bandeira pessoal de Pedro V
Estilo realSua Majestade Fidelíssima
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Pedro V enquanto Rei de Portugal: "Pela Graça de Deus, Pedro V, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Luís foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Outros títulos




Programa 33
DOM LUÍS - O POPULAR 




Luís I de Portugal


Luís I
Retrato por Augusto Bobone, 1885
Rei de Portugal e Algarves
Reinado11 de novembro de 1861
19 de outubro de 1889
Aclamação22 de dezembro de 1861
PredecessorPedro V
SucessorCarlos I
EsposaMaria Pia de Saboia
Descendência
Carlos I de Portugal
Afonso, Duque do Porto
Nome completo
Luís Filipe Maria Fernando Pedro de Alcântara António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Valfando
CasaBragança-Saxe-Coburgo-Gota
PaiFernando II de Portugal
MãeMaria II de Portugal
Nascimento31 de outubro de 1838
Palácio das Necessidades,LisboaPortugal
Morte19 de outubro de 1889 (50 anos)
Cidadela de CascaisCascais,Portugal
EnterroPanteão da Dinastia de BragançaIgreja de São Vicente de ForaLisboaPortugal
ReligiãoCatolicismo
Luís I (Lisboa31 de outubro de 1838 – Cascais19 de outubro de 1889), apelidado de "o Popular", foi o Rei de Portugal e Algarves de 1861 até sua morte. Era o segundo filho da rainha Maria II e seu marido o rei Fernando II, tendo ascendido ao trono após a morte prematura de seu irmão mais velho o rei Pedro V.

Biografia

Infante[editar | editar código-fonte]

O Infante D. Luís nasceu a 31 de outubro de 1838, segundo filho da rainha D. Maria II e do seu consorte, D. Fernando II. Embora a sua condição de filho segundo não desse a prever que D. Luís ascenderia ao trono português, a sua educação foi esmerada e compartilhada em grande parte com o seu irmão mais velho, o Príncipe Real D. Pedro: esteve a cargo do conselheiro Carl Andreas Dietz, que havia sido preceptor de D. Fernando, seu pai, até Abril de 1847, quando Dietz foi obrigado a deixar Portugal sob acusações de intromissão na política nacional associadas à sua filiação religiosaprotestante, tendo sido este substituído pelo Visconde da Carreira, auxiliado por Manuel Moreira Coelho.[1]

D. Luís, enquanto Infante de Portugal.
D. Pedro e D. Luís dividiam o tempo entre os palácios de MafraSintra, e deVila Viçosa, para além de estadias esporádicas no Palácio de Belém.[1]
Na qualidade de filho secundogénito do casal real, D. Luís enveredou pela carreira naval, tendo sido nomeado praça da Companhia dos Guardas Marinhas e reconhecido em cerimónia no Arsenal da Marinha em 28 de outubro de 1846, contando apenas com 8 anos de idade. Viria a ser sucessivamente promovido a segundo-tenente (1851), capitão-tenente (1854), capitão-de-fragata (1858) e capitão-de-mar-e-guerra (1859). Teve o primeiro comando naval em Setembro de 1857, no brigue Pedro Nunes, no qual efectuou um cruzeiro na costa de Portugal e uma viagem a Gibraltar. Foi nomeado, pelo irmão D. Pedro V, comandante da corveta Bartolomeu Dias, em 21 de Junho de 1858. Ao comando da Bartolomeu Dias, veio a cumprir nove missões de serviço entre os anos de 1858 e 1860: liderou a expedição aos arquipélagos da Madeira e dos Açores; foi responsável pelo transporte doPríncipe Jorge da Saxónia para Lisboa, onde este se casou com a Infanta D. Maria Ana, sua irmã; conduziu o casal a Inglaterra; deslocou-se a Tânger; e, em 1860, a Angola; foi de novo à Madeira às ordens da imperatriz Isabel da Áustria; e trouxe o príncipe Leopoldo de Hohenzollern-Sigmaringen de Southampton, para o seu casamento com aInfanta D. Antónia, tendo depois conduzido os noivos a Anvers.[1]

Rei de Portugal


Ratificação do casamento de D. Luís I e de D. Maria Pia, na Igreja de São Domingos.
Luís herdou a coroa em novembro de 1861, sucedendo ao seu irmão Pedro V por este não deixar descendência, e foi aclamado rei a 22 de dezembro do mesmo ano. A 27 de setembro do ano seguinte casou-se, por procuração, com D. Maria Pia de Sabóia, filha do rei Vitor Emanuel II da Itália. Quando infante serviu na marinha, visitando a África Portuguesa. Exerceu o seu primeiro comando naval em 1858.
Luís era um homem culto e de educação esmerada, como todos os seus irmãos. De grande sensibilidade artística, pintava, compunha e tocava violoncelo e piano. Poliglota, falava correctamente algumas línguas europeias. Fez traduções de obras deWilliam Shakespeare.
Durante o seu reinado e, em consequência da criação do imposto geral de consumo, que a opinião pública recebeu mal, originou-se o motim a que se chamou a Janeirinha (em finais de 1867). Também a 19 de maio de 1870, se verificou uma revolta militar, promovida pelo marechal Duque da Saldanha e que pretendia a demissão do governo. À revolta de 19 de maio, respondeu o monarca em 29 de agosto, com a demissão do ministério de Saldanha, chamando ao poder Sá da Bandeira.
Em setembro de 1871, subiu ao poder Fontes Pereira de Melo, que organizou um gabinete regenerador, o qual se conservou até 1877. Seguiu-se o Duque de Ávila, que não se aguentou durante muito tempo por lhe faltar maioria. Assim, e depois do conflito parlamentar que rebentou em 1878, Fontes foi chamado outra vez para constituir gabinete. Consequentemente, os progressistas atacaram o rei, acusando-o de patrocinar escandalosamente os regeneradores. Este episódio constitui um incentivo ao desenvolvimento do republicanismo. Em 1879, D. Luís chamava, então, os progressistas a formarem governo.

D. Luís e D. Maria Pia.
No seu tempo surgiu a Questão Coimbrã (1865-1866) e ocorreu a iniciativa das Conferências do Casino (1871), a que andavam ligados os nomes de Antero de Quental e Eça de Queiroz, os expoentes de uma geração que se notabilizou na vida intelectual portuguesa. De temperamento calmo e conciliador, foi um modelo de monarca constitucional, respeitador escrupuloso das liberdades públicas. Do seu reinado merecem especial destaque o início das obras dos portos de Lisboa e deLeixões, o alargamento da rede de estradas e dos caminhos-de-ferro, a construção do Palácio de Cristal, no Porto, a abolição da pena de morte para os crimes civis, a abolição da escravatura no Reino de Portugal, e a publicação do primeiro Código Civil.
Em 1884, foi efectuada a Conferência de Berlim, resultando daí o chamado Mapa Cor-de-Rosa, que definia a partilha deÁfrica entre as grandes potências coloniais: AlemanhaBélgicaFrançaInglaterra e Portugal.
Fértil em acontecimentos, é no reinado de Luís I que são fundados alguns dos partidos políticos portugueses: o Partido Reformista (1865), que ascendeu ao poder em 1868, o Partido Socialista Português (1875), com o nome de Partido Operário Socialista, e o Partido Progressista (1876), que chega ao poder em 1879. Em 1883, dá-se a realização do Congresso de Comissão Organizadora do partido Republicano. No final do seu reinado, o Partido Republicano apresenta-se já como uma força política perfeitamente estruturada.
Luís era principalmente um homem das ciências, com uma paixão pela oceanografia. Investiu grande parte da sua fortuna no financiamento de projectos científicos e de barcos de pesquisa oceanográfica, que viajaram pelos oceanos em busca de espécimes.
Luís seguiu os passos de sua mãe - Maria II, mandando construir e fundar associações culturais. Em 1 de Junho de 1871, D. Luís esteve no Seixal (uma vila fundada pela sua mãe), para testemunhar a fundação da Sociedade Filarmónica União Seixalense. Neste mesmo dia terminava a Guerra Franco-Prussiana.
Morre subitamente no seu palácio de verão, na cidadela de Cascais, a 19 de outubro de 1889. Sucede-lhe o seu filho Carlos, sob o nome de Carlos I de Portugal.
No dizer dos biógrafos, D. Luís, era: "muito agradável e liberal. [...] A Sr.ª D. Maria Pia, dizia que ele era um pouco doido, aludindo acertas aventuras de amor. [...] Além de tais aventuras, nada satisfazia mais o sr. D. Luís que o culto da arte. Escrevia muito, traduzia obras estrangeiras, e desenhava; mas o seu entusiasmo ia sobretudo para a música. Tinha uma grande colecção de violinos, e um bom mestre-escola [...]"

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Luís I de Portugal
Coat of Arms of the Kingdom of Portugal (1640-1910).png
Estilo realSua Majestade Fidelíssima
Tratamento directoVossa Majestade Fidelíssima
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

  • 31 de Outubro de 1838 – 11 de Novembro de 1861: "Sua Alteza, o infante D. Luís, Duque do Porto"
  • 11 de Novembro de 1861 – 19 de Outubro de 1889: "Sua Majestade Fidelíssima, o Rei"
O estilo oficial de Luís enquanto rei era: "Pela Graça de Deus, Luís I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc."

Honrarias

Enquanto monarca de Portugal, D. Luís foi Grão-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência

De sua mulher, D. Maria Pia de Saboia, princesa da Sardenha e do Piemonte e depois de Itália (1847-1911)



OS HOMENS DO REI DOM LUIZ I



Dom Luís I, segundo filho da Rainha Dona Maria II e de Fernando II, nasceu no Palácio das Necessidades a 31 de Outubro de 1838 tendo recebido o nome de Luís Filipe Maria Fernando Pedro de Alcântara António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Valfando.
Por morte de seu irmão Dom Pedro V, ocorrida a 11 de Novembro de 1861, assumiu o governo e foi aclamado em 22 de Dezembro.
Primorosamente educado, hábil marinheiro, dotado de tolerantíssima bonomia, Dom Luís tinha um temperamento de literato e de artista. Apreciava e executava música clássica e traduziu para Português obras do grande dramaturgo inglês Shakespeare.
Entretanto, e porque um dos primeiros deveres de um Rei é o de garantir a sua sucessão no Trono, Dom Luís resolveu casar-se.
Escolhida a noiva, a jovem Princesa Dona Maria Pia de Sabóia, então somente com 15 anos, pois que nascera a 16 de Outubro de 1847, realizou-se por procuração passada ao Duque de Loulé, o casamento, primeiro em 27 de Setembro de 1862, no Palácio Real de Turim.
Chegada a Lisboa em 5 de Outubro a bordo da Corveta Bartolomeu Dias que a fora buscar a Génova, realizou-se no dia seguinte a cerimónia na Igreja de S. Domingos havendo, nesse altura, uma tão pródiga distribuição de títulos, mercês e demais condecorações.
O seu longo reinado caracterizou-se, no aspecto político, pela formação de dois grandes partidos políticos, que se alternariam no poder por largos anos, e pela propaganda das ideias republicanas, habilmente conduzidas pelas promessas de uma prosperidade económica que a Monarquia não poderia dar.
Experimenta-se o rotativismo, a alternância no poder entre os partidos progressista e regeneradores.
Em 1862, José Anselmo Braamcamp expulsa as irmãs da Caridade e extingue os morgados, propriedades que não podiam alienar-se ou dividir-se. Passavam sempre para o filho primogénito.
A população de Braga amotinou-se pouco depois, por causa da expulsão das Freiras, tornando-se necessário enviar, para essa cidade, fortes destacamentos militares com o fim de, através da costumada receita da caserna, acalmarem os beatíficos, mas pouco cordatos, ânimos da gente bracarense.
No decorrer destas operações, o capitão Guilherme Augusto da Silva Macedo, conjurado com os sargentos de Infantaria 6, ido do Porto, conseguiu amotinar 200 soldados com os quais, e com a ajuda do Batalhão de Caçadores 3, tentou nova revolta, marchando sobre Barcelos, na esperança de obter a adesão de Infantaria 5 e 13 ali acampados nessa ocasião.
Apesar dos seus poderes serem limitados devido ao regime parlamentar, Dom Luís tentou dirimir os conflitos dos primeiros tempos sem pôr em causa os direitos e liberdades adquiridos.
Em 1866, o ultra-romantismo conservador é contestado por Antero, Teófilo de Braga e outros, em oposição a António Feliciano de Castilho. Vai dar origem à Questão Coimbrã ou Bom Senso e Bom Gosto, fecunda polémica que iria abrir novos rumos e novos ritmos à literatura portuguesa.
Entrado já o último quartel do século, a política interna, por tanto tempo em relativa calma, enveredou por uma fase de transformações que viriam a ser fatais à Coroa. A 7 de Setembro de 1876, mediante o Pacto da Granja, o Partido Histórico e o Partido Reformista fundiram-se no Partido Progressista, no decurso de uma reunião efectuada naquela praia e na qual, entre outros, estiveram presentes Anselmo Braamcamp (sucessor do Duque de Loulé na chefia dos Históricos), o Bispo de Viseu, D. António Alves Martins (chefe dos Reformistas), José Luciano de Castro, Francisco Pinto Bessa, Luís de Campos, Tomás Lobo, Adriano Machado, Francisco de Albuquerque e Mariano de Carvalho.
Nos começos de 1877, depois de se conservar no poder durante seis anos, demitiu-se o Ministério regenerador de Fontes Pereira de Melo. Seguiu-se-lhe, em 6 de Março, o do Duque de Ávila, que, aliás, não logrou manter-se por falta de maioria. E, após um conflito parlamentar, foi de novo chamado Fontes – facto que deu origem a uma das campanhas de mais vastas consequências que houve em Portugal. Os progressistas atacaram directamente a pessoa do Rei, acusando-o de patrocinar os regeneradores. Mariano de Carvalho, no Diário Popular, Emídio Navarro, no Progresso, e Joaquim Martins de Carvalho, no Conimbricense, publicaram artigos violentíssimos, atirando ao ódio da turba a imagem de um Rei que se subalternizara.
Entretanto, o republicanismo que, a par de tendências socializantes, surgira no plano meramente intelectual quando das Conferências do Casino, não só evoluíra, como ganhara raízes.
As Conferências Democráticas do Casino, organizadas por Antero do Quental, Augusto Soromenho, Eça de Queirós, Adolfo Coelho, Oliveira Martins, Batalha Reis, Manuel Arriaga, José Fontana aproveitam os temas (política, literatura, sociologia, crítica) para espalhar as ideias republicanas. O Governo proíbe-as. A semente vai germinar sem grandes pressas.
Em 1878, toma assento na Câmara o primeiro deputado republicano, Rodrigues de Freitas, eleito pelo Porto.
Assim, a comemoração do tricentenário da morte de Luís de Camões, em 1880, não era já apenas uma grandiosa manifestação de um escol lucidamente animado por sincera vontade de enquadramento no ritmo da Europa culta, mas a expressão do convencimento de que só o podia fazer fora das instituições que o imobilizavam. No cortejo cívico então efectuado, nem um Viva ao Rei, nem a mais insignificante homenagem à Rainha. E em vez do Hino da Carta tocou-se uma marcha triunfal.
Longe de lutas políticas, decorrem as notáveis viagens dos exploradores africanos que percorrem Angola e Moçambique.
O conhecimento do Portugal africano foi intensamente desenvolvido e com essa finalidade o Rei fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa, de que se declarou Protector e foi Presidente de Honra, participando com o maior interesse nas suas actividades culturais e científicas.
Em África, os exploradores portugueses Hermenegildo Capelo, Serpa Pinto, Roberto Ivens e Silva Porto percorrem os sertões e assinalam a presença portuguesa.
O reinado de Dom Luís assinalou-se materialmente pelo progresso, socialmente por uma certa paz e pelos sentimentos de convivência e politicamente pelo respeito pelas liberdades públicas.
Após dolorosa agonia, Dom Luís faleceu na Cidadela de Cascais, com 51 anos, a 19 de Outubro de 1889, tendo sido sepultado no Panteão Real de S. Vicente de Fora.
Fontes Pereira de Melo e Silva Porto foram os homens do Rei Dom Luís.