quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

CONQUEST OF AMERICA - A CONQUISTA DA AMÉRICA

História - Documentários
CONQUEST OF AMERICA - A CONQUISTA DA AMÉRICA
Início do séc. XVII. Os principais personagens, os heróis, os jogos políticos das nações e seus interesses, as aventuras, dificuldades, os conflitos, as civilizações e os povos nativos encontrados. 
Uma mini-série de excelentes documentários, que contém dramatizações históricas apoiadas em diários e documentos históricos Espanhóis e Franceses, assim como recolhas de narrações orais dos nativos Norte Americanos e que nos revelam o que foi a grande aventura da conquista da América. 

Áudio: Castelhano
Fontes: YouTube - Historiando 







A CONQUISTA DA AMÉRICA 1 - O NORDESTE 





A CONQUISTA DA AMÉRICA 2 - O NOROESTE 




A CONQUISTA DA AMÉRICA 3 - SUDOESTE 




A CONQUISTA DA AMÉRICA 4 - SUDESTE 




A Conquista da América

Império Espanhol até 1800
Império Espanhol até 1800
O historiador Carlos Fuentes diz que a América foi muito desejada antes mesmo do seu conhecimento. Ao aportarem em solo americano, os espanhois já traziam atreladas à sua bagagem cultural, ideias imaginadas sobre como seria esse continente, como deveriam procurar riquezas e/ ou fixarem-se nessas terras. Neste post trabalharemos o período da colonização espanhola da América, mais uma das épocas que encontramos na História, permeadas por dominações, massacres e a imposição cultural.
No século XV, enquanto Portugal dominava a circunavegação da África e o comércio com as Índias, a Espanha de Fernando e Isabel de Castela decidiu apoiar e financiar uma aventura temerosa. Cristóvão Colombo, navegador genovês, acreditava que a Terra era redonda e que se seguissem a direção Oeste, chegariam na Ásia.  Em 1488, foi dado o aval para a expedição. Porém, foi em 12 de outubro de 1492, após trinta e três dias de viagem em alto mar, com uma tripulação desconfiada e condições insalubres, que Colombo aportou no atual Caribe, mais especificamente nas Bahamas.
Muitos descrevem essa viagem como desapontadora para a coroa espanhola. Afinal, não chegaram ao Oriente. Contudo, todo o território “descoberto” e explorado pelos espanhois tornava-se sua posse. Isso, além das práticas mercantilistas de acúmulos de metais e monopólios comerciais, fez com que Espanha e Portugal desejassem formalizar acordos para que, no fundo, nenhum ficasse no caminho do outro. Ou seja, mesmo que as riquezas não estivessem tão às vistas logo da chegada das primeiras expedições na América, era inteligente por parte dos espanhois, em querer alguma regulamentação daquelas terras, haja vista a possibilidade de domínio português.
Em 3 de maio de 1493, por intermédio do papa nascido em Valência, Alexandre VI (1431-1503), foi redigida a Bula Inter Coetera, que estabelecia as fronteiras imaginárias dos territórios americanos. Basicamente, a 100 léguas a oeste de Cabo Verde foi traçada uma linha e Portugal possuiria as terras a leste e a Espanha a oeste. Os portugueses alegaram favorecimento aos espanhois e não assinaram a bula. Propuseram, portanto, uma nova linha. Esta estaria a 370 léguas de Cabo Verde, e continuariam com as terras a leste (e a preciosa rota que contornava a África). Para a Espanha não haveria muitas mudanças, já que os territórios descobertos por Colombo ainda lhe pertenceria. Então, em 7 de junho de 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas.
Tratado de Tordesilhas - 1494
Tratado de Tordesilhas – 1494
Esses são aspectos legalistas da dominação tanto espanhola quanto portuguesa. Vocês podem perceber que não foi mencionado qualquer tipo de ocupação prévia daquelas terras. Isso significa duas coisas: que nem passava pela cabeça dos colonizadores considerar os nativos; e que a dominação foi tão forte, que hoje em dia, possuímos muito mais afinidades culturais com a Europa do que com as civilizações pré-colombianas (denominadas assim porque estavam na América antes de Colombo).
A América seria o local inóspito e maravilhoso imaginado pelos europeus, e conteria uma ambiguidade em seu cerne: de um lado seria o Paraíso na Terra, local de uma pureza humana que não existia mais na Europa, o cenário perfeito para a construção de um império cristão; e de outro, território de costumes pagãos, sociedade em desordem, idolátrica e pecadora, por parte dos nativos. Os europeus desbravadores eram o povo eleito para ocupar e reorganizar essa terra prometida.
No caso da colonização da América Espanhola, no século XVI, várias expedições foram realizadas para tomarem posse do território, que era muito vasto. O modo pelo qual se estabeleceu a dominação, variou muito de região para região, devido, sobretudo, aos habitantes que lá já viviam. Dentre as denominadas três grandes civilizações indígenas, maias, incas e astecas, só as duas últimas sofreram o ataque, pois os maias já haviam sido extintos antes da chegada dos espanhois. Os astecas estavam ao norte, hoje no atual México, e os incas ao sul, atual Peru, mas ambos processos de colonização foram discutidos de maneira parecida pela historiografia, principalmente àquela romântica do século XIX, com a denominação de grandes conquistadores que lideravam o movimento. Foram esses, Hernán Cortés e Francisco Pizarro.
– A conquista do México
Em 1519, Cortés e sua armada aportaram na ilha de Hispaniola (atual República Dominicana), previamente explorada por Colombo. Porém, não permaneceram ali e viajaram para as terras à oeste, que futuramente seria chamada de Yucatán, península no litoral mexicano. No continente, a quantidade de ouro era muito maior do que nas ilhas, um atrativo maior. Essa viagem até tornou-se, acima de tudo, um desejo pessoal muito grande de Cortés, de vencer, de ser o primeiro a chegar a tal lugar. Na imaginação do conquistador, Montezuma reconheceria a superioridade do império do rei Carlos V e se renderia. Não haveria a necessidade de qualquer tipo de batalha, porque ser súdito do rei espanhol e cristão era a única possibilidade que passava em sua mente.
Rota de Cortés
Rota de Cortés
No momento em que Montezuma II soube da chegada do grupo espanhol, ordenou que se retirassem. Os conquistadores, por sua vez, não se aventuraram sozinhos pelo território desconhecido. Vários povos indígenas que já haviam sofrido com a dominação asteca se uniram aos europeus para derrotar seu inimigo maior. O uso de intérpretes por parte dos espanhois foi fundamental para o sucesso na conquista. Ao chegar a Tenochtitlán, Cortés foi acolhido como hóspede, o que corroborou sua ideia de uma conquista pacífica. Existia a crença de que o espanhol seria o retorno de Quetzalcoalt, deus asteca que os guiou para o crescimento e dominação da área, e, naquele momento, exerceria o mesmo papel.
Alguns historiadores dizem que pode ter ocorrido algum tipo de má interpretação, falta de compreensão por ambas as partes. Montezuma não saberia das intenções do espanhois, e estes não perceberam que não estavam sendo muito claros. Pouco tempo depois da sua chegada, Cortés mandou prender Montezuma e o obrigou a reconhecer a superioridade do rei espanhol.
Conquista de Tenochtitlán - século XVIII, autor desconhecido
Conquista de Tenochtitlán – século XVIII, autor desconhecido
Em 1520, durante o curto período de ausência do conquistador, um de seus comandantes deu início a um massacre contra os nobres astecas, com o resultado de quase 2 mil mortos. Foi o início da guerra. O desenvolvimento bélico dos europeus era maior. O uso da pólvora e do canhão surpreendeu aos indígenas, assim como os cavalos, animal não nativo daquele território. Contudo, os nativos se adaptaram. Conheciam o local e passaram a promover ataques noturnos, pegando os espanhois de surpresa e os desafiando em uma terra desconhecida.
Por outro lado, as estratégias militares de Cortés fizeram toda a diferença. Se aproveitando da topografia local, pois Tenochtitlán foi uma cidade que se desenvolveu em cima do lago Texcoco, ligada por diques e pontes às porções de terra, mandou que jogassem no lago os corpos daqueles mortos por doenças como varíola ou mesmo gripe, não conhecidas pelos indígenas, altamente letais e que já tinham dizimado populações na Europa. A contaminação da água e de recursos básicos a partir de uma estratagema biológico foi a gota d’água. E em 1521, a grande capital asteca era de domínio espanhol. Eles planejaram e derrotaram um império estruturado como o asteca, com mais de 25 milhões de pessoas.
Inicialmente, Cortés recebeu condecorações da coroa espanhola, e títulos, como o de Marquês do Vale, além de ter sido nomeado governador e capitão geral. Porém, seu poder, aos poucos, encontrou dificuldade em ser mantido, devido às resistências vindas da própria Corte com suas prerrogativas. Faleceu com as finanças arruinadas em dívidas.
A conquista do México foi um dos maiores eventos históricos, sobretudo pelo choque cultural ocorrido quando europeus e indígenas encontraram-se pela primeira vez. As mudanças desde então foram plurais, tanto para aqueles que tiveram seu território invadido por homens nunca vistos, quanto àqueles que se aventuraram do outro lado do Oceano, num sonho incerto e perigoso. Esse momento histórico foi um período de fronteira, novidade, sobretudo nos estabelecimentos de relações entre os indígenas e os europeus. Os espanhois chegaram nessa terra com um objetivo certo, encontrar ouro, e se depararam com outras relações comerciais que, com o tempo, mostraram-se infrutíferas, como a escravização dos índios.
– A conquista do Peru
Na chamada América andina, a situação foi um pouco diferente. O império Inca foi conquistado por Francisco Pizarro, mas após duas tentativas frustradas. Um dos grandes motivos, além da geografia dificultosa da região, principalmente do Peru e da Bolívia, com seus terrenos entrecortados e a altitude, era a força interna do império Inca. Eles possuíam um sistema político bem hierarquizado e estratificado, encabeçado pela elite nobre, e o imperador era considerado o filho do deus Sol.
Os espanhois chegaram nas fronteiras dos incas em 1528. Já havia ocorrido a conquista do México, então estavam mais preparados sobre o que encontrariam. Nessa época, o imperador era Huayna Capac, que alegava ser da mesma linhagem do legendário Manco Cápac, criador do povo inca. Ele continuou a expansão territorial iniciada pelo seu pai, Tupac Inca, chegando a região do Equador. Ao mesmo tempo em que a supremacia inca era inquestionável, o governo de Huayna Capac passou a sofrer algumas dificuldades. O imperador se apoiava nos seus dois filhos, Tupac Cusi Hualpa, mais conhecido como Huáscar, e Atahualpa, filho ilegítimo. Enquanto o primeiro dominava a região de Cusco, capital inca,  e o segundo, originário de Quito, um dos territórios conquistados por seu pai, manteve-se no local, e contava com o apoio majoritário da armada inca. Em 1531, após disputas internas, Atahualpa tornou-se o imperador. Foi nesse imbróglio que surgiu a figura de Pizarro.
Francisco Pizarro e seus irmãos Gonzalo, Juan e Hernando, receberam permissão da coroa espanhola para conquistar a região andina em 1529. Em 1531, chegaram ao Peru e, assim como ocorreu com Cortés no México, o imperador foi informado. Além disso, os espanhois também passaram como deuses pelo povo quéchua.
Um dos primeiros passos de Pizarro foi solicitar um encontro com Atahualpa em Cajamarca, região onde estava de passagem. Hernando de Soto e Hernando Pizarro foram os emissários destinados a transmitir as prerrogativas do comandante: queriam que o chefe indígena aceitasse a fé cristã e a superioridade do papa e de Carlos V. O imperador concordou e chegou ao local combinado. Lá, foi interpelado por um espanhol a mando do conquistador, que disse suas demandas. Ele discordou. Enfurecidos, os espanhois iniciaram uma batalha sangrenta, que matou boa parte dos acompanhantes e exército inca que acompanhava o imperador, a chamada Batalha de Cajamarca.
Encontro de Francisco Pizarro e Atahualpa – Guamán Poma de Ayala - 1532
Encontro de Francisco Pizarro e Atahualpa – Guamán Poma de Ayala – 1532
Após esse episódio, Atahualpa foi preso pelos espanhois e sua libertação negociada a partir de uma quantidade prata e ouro. Mesmo com o esforço dos incas de reunirem a quantia, o destino do imperador foi o sacrifício. Historiadores questionam qual seria a intenção de Pizarro, se torna-lo refém e mata-lo ou apenas buscava o ouro. Muitos compreendem que o conquistador estava sendo pressionado por seus colegas e comandados a matar Atahualpa e demonstrar a superioridade espanhola. Em 1533, após quase um ano de batalhas e confrontos, as cidades de Cusco e Quito foram tomadas e a conquista terminada.
Sacrifício de Atahualpa - Guamán Poma de Ayala - século XVI
Sacrifício de Atahualpa – Guamán Poma de Ayala – século XVI
A conquista não foi a maior dificuldade dos europeus. O período de estabelecimento da colonização foi extremamente complexo para os espanhois e portugueses que aportaram na América com uma ideia pré-concebida de como dominar, mas eles não contavam com um aspecto fundamental: os indígenas. A cultura asteca, inca e de demais povos, era complexa, estruturada e enraizada naqueles nativos. Cortés e Pizarro tornaram-se figuras míticas, emblemáticas, que marcaram a conquista dos espanhois em territórios inexplorados, período de um dos maiores choques culturais da História: a conquista do Novo Mundo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

OS ENIGMAS DE CRISTÓVÃO COLOMBO - MISTÉRIOS DA NACIONALIDADE

Documentários
OS ENIGMAS DE CRISTÓVÃO COLOMBO - MISTÉRIOS DA NACIONALIDADE E DAS VIAGENS
Todos conhecemos o nome deste personagem da história, mas a sua nacionalidade, continua a ser motivo de grande mistério, fazendo correr muita tinta. Várias nações reclamam para si a nacionalidade deste navegador e descobridor. Várias são também as teses acerca da sua origem. Assim, este blog partiu em busca dos enigmas da nacionalidade de Colombo ou Colón, como lhe chamam os Espanhóis, tentando revelar a sua verdadeira nacionalidade. Mas para além do mistério da sua nacionalidade, Colombo encerra vários outros enigmas, relacionados com a descoberta e a viagem para o Continente Americano, que ele acreditava ser a Índia.
Encontrará aqui vários documentários, que irão sendo actualizados, cada um com  uma teoria diferente acerca da sua nacionalidade, e revelando enigmas históricos ligados ao navegador, sua família e o mistérios das suas viagens.
Ouça, veja e julgue você mesmo, qual a tese que mais lhe pareça assertiva. Em todo caso, ficará a conhecer pormenores acerca da vida e viagens do descobridor das Américas, que aqui lhe serão revelados.

* José Rui Lira

Áudio: Castelhano
Fonte: YouTube






A CLAVE DE CRISTÓVÃO COLOMBO - O NOBRE GALEGO QUE DESCOBRIU A AMÉRICA 
Documentário acerca de uma investigação que defende a tese de que Colombo era de origem Galega.








ENIGMA COLOMBO 
Através duma técnica que se chama o "descarnamento", praticando uma exumação dos restos mortais do navegador, esta investigação tentará revelar o seu passado oculto e o enigma da sua nacionalidade.







A FARSA DE COLOMBO E O DESCOBRIMENTO DA AMÉRICA 
Jacques de Mahieu revela-nos mais uma teoria acerca da nacionalidade e mistérios de Cristóvao Colombo.







O SEGREDO DE CRISTÓVÃO COLOMBO 
Ele relata que não foi um dos eventos mais importantes da história em 1492: a descoberta da América. A determinação e teimosia de um almirante, Cristóvão Colombo, serviu para descobrir um continente até então inexistente. Para fazer isso, Colombo teve de enfrentar tudo e todos, até mesmo sábios e réis. Sua determinação para levar a cabo tal empreendimento é o ponto de partida desta viagem privada. A história que Colombo manteve em segredo.


terça-feira, 8 de novembro de 2016

Tȟašúŋke Witkó - CRAZY HORSE: O GRANDE CHEFE SIOUX

História Nativa Norte Americana
Tȟašúŋke Witkó - CRAZY HORSE: O GRANDE CHEFE SIOUX
Provavelmente já ouviu falar do grande chefe Índio Crazy Horse - Cavalo Louco, ou pelo menos já deve ter visto algum dos filmes Westerns que retratam histórias suas, das suas guerras entre o seu povo e o 7º de Cavalaria do General Custer. O que talvez menos frequentemente se saiba é que este grande guerreiro Sioux, além da sua bravura na guerra, tem também uma história de amor bonita, embora um pouco trágica. Crazy Horse cedo se apaixonou por uma jovem do seu povo, o seu primeiro amor, que apesar de ser correspondido, teve as suas batalhas,pois a jovem foi entregue a outro guerreiro Sioux. Crazy Horse por diversas vezes não se importou em perder o seu elevado status nem em sacrificar a paz da sua tribo para tentar recuperar o seu amor.
Para além desta bela história, também pode ver esclarecida a questão da morte do grande chefe Sioux, pois sobre ela existe uma grande controvérsia até aos dias de hoje.
Assim, proponho-lhes uma viagem sobre a história nativa Norte Americana, neste blog, para lhe revelar Tȟašúŋke Witkó - o nome em língua Lakota de Crazy Horse, o Grande Chefe Sioux. Para isso apresento-lhes aqui um excelente documentário e interessante informação escrita.

* José Rui Lira

Áudio: Espanhol
Texto: Português
Fontes: Historia y Arqueologia - YouTube - Guerreiros Sioux







DOCUMENTÁRIO
QUEM MATOU CAVALO LOUCO ?





A História de Crazy Horse (Cavalo Louco)

 Entre muitos grandes guerreiros Sioux, se destaca Crazy Horse (Cavalo Louco). Vamos aprender um pouco mais sobre essa grande personalidade que nunca deve ser esquecida.

 Crazy Horse (ou Tashunkewitko no idioma original Lakota), nasceu no Rio republicano em 1845. Ele era um homem extraordinariamente belo, dizem que sua estatura era praticamente perfeita. Além disso, ele era modesto e cortês. Crazy Horse era um guerreiro nato. No entanto, ele era um guerreiro gentil, um verdadeiro valente, que representava o ideal mais elevado dos Sioux.


 Na infância de Crazy Horse, os Sioux raramente viam homens brancos. Ele foi cuidadosamente criado de acordo com os costumes tribais. Naquela época, cada conquista dos filhos, por menor que fosse, era digna de uma festa em sua honra. O primeiro passo sozinho, a primeira palavra, a passagem para a masculinidade ou feminilidade, nada passava desapercebido pelos pais carinhosos. Sob tais condições a vida de Crazy Horse começou. Os seus pais trataram de ensiná-lo desde cedo a ter características como generosidade, coragem e abnegação.
 Dizem que, em um inverno rigoroso, quando Crazy Horse ainda era só uma criança, havia pouquíssima comida. Isso porque os búfalos não foram encontrados. Crazy Horse então montou em seu cavalo de estimação e atravessou os campos afim de conseguir alimento. Descobriu-se que os seu seus pais não o haviam autorizado. Crazy Horse conseguiu a comida, mas a mesma acabou sendo repartida com as outras famílias da aldeia. No final, restou só o suficiente para duas refeições.

 Crazy Horse amava cavalos, e ganhou um do seu pai quando ainda era bem jovem. Ele era um excelente cavaleiro e acompanhou várias vezes o seu pai na caça de búfalos e tornou-se também um ótimo caçador.

 Crazy Horse tinha um irmão mais novo a quem ele amava muito. Dizem que, em certa ocasião, ele salvou o irmão de um urso, lutando com o animal até que ele recuasse.

 Aos 16 anos, ele se juntou a um poderoso grupo de guerra. Nas batalhas ele se mostrava um companheiro determinado que arriscou a própria vida para salvar a dos seus amigos.

 Devido ao seu excelente desempenho nas batalhas e suas muitas vitórias contra tribos inimigas, Crazy Horse foi considerado um herói indígena.

 Foi-se observado também que ele, mesmo tendo a chance, muitas vezes se absteve de matar e apenas golpeou o inimigo.

 Em certa batalha liderada por Crazy Horse, ele perdeu o irmão tão amado quando ele foi derrubado do cavalo e morto.

 Conta-se que em um inverno, Crazy Horse matou dez búfalos. Quando os caçadores voltaram, estes vieram cantando canções de agradecimento.

 Ele atingiu a maioridade quando já havia conflitos entre os Sioux e os homens brancos. Entretanto, ele nunca tinha lutado com os brancos até o momento, e certamente nenhum golpe ainda havia sido contado ou escalpelamento de um deles.

 Crazy Horse tinha 21 anos quanto todos os chefes Sioux se reuniram e decidiram defender uma forte resistência contra os invasores brancos. Crazy Horse não tomou parte na discussão do Conselho. Apesar de tão jovem, ele já era um líder entre eles.

 O ataque ao forte Phil Kearny foi o primeiro fruto da nova política, e aqui Crazy Horse foi escolhido para liderar o ataque aos lenhadores, destinados a chamar soldados para fora do forte enquanto um exército de seiscentos índios estavam a sua espera. O sucesso dessa estrategema foi reforçado por sua manipulação magistral dos homens. A partir desde momento um guerra iniciava. Touro Sentado (Chefe Sioux) olhou para Crazy Horse como um líder de guerra, e até os chefes Cheyenne, aliados dos Sioux, praticamente admitiram a sua liderança.

 Crazy Horse era um homem de ações e não de palavras. Ele foi um membro do Coração Forte e de muitas outras sociedades guerreiras.

 Foram inúmeras as vitórias de Crazy Horse no campo de batalha. Até mesmo os soldados brancos foram obrigados a reconhecerem por diversas vezes a excelente e notável habilidade desse guerreiro.

 Por volta de 1877, entretanto, Crazy Horse foi pego em uma armadilha dos soldados americanos. Eles o mantiveram preso, com as mãos atadas. Crazy Horse então disse para aqueles homens: "Deixe-me ir! Deixe-me morrer lutando!". Ele então tentou pegar a sua faca para se soltar, mas foi bruscamente impedido pelos soldados. Ele começou a lutar, e foi aí que um soldado o traspassou com a sua baioneta. A ferida foi mortal, e ele morreu no decorrer da noite.

 Crazy Horse morreu com apenas 33 anos de idade, no Forte Robinson, Nebraska, em 1877. O seu pai, cantando uma canção de morte, carregou o corpo, que segundo os Sioux não deveria mais ser poluído pelo toque de um homem branco.

 Assim morreu um dos mais hábeis e verdadeiros índios americanos. Sua vida era o ideal, seu registro limpo. Essa é com certeza uma personalidade que deve ser lembrada por infinitas gerações. Crazy Horse foi um exemplo para todos nós. São pessoas assim que dão um verdadeiro sentido a palavra GUERREIRO.



sábado, 5 de novembro de 2016

O CAMINHO DE FERRO IMPOSSÍVEL

Documentários
O CAMINHO DE FERRO IMPOSSÍVEL
Este é um documentário excepcional com grande beleza de paisagens e riqueza histórica, exibido a 2 de Janeiro de 2016 na RTP 2 intitulado "O caminho de ferro impossível". É-nos apresentada a história da Linha do Douro e sua extensão em Espanha até Salamanca. Na parte final, é apresentado um grupo de entusiastas desta linha, que lutam pela sua reabertura: a associação Tod@via! Os The Brave Ones participaram também na sua produção.
Pretende-se consciencializar as pessoas para a luta pela manutenção e aproveitamento da Linha do Douro.

Áudio: Português 
Fonte: RTP 2 - YouTube





DOCUMENTÁRIO:




quinta-feira, 3 de novembro de 2016

MOTÖRHEAD - POR DETRÁS DA MÚSICA

Documentários
MOTÖRHEAD - POR DETRÁS DA MÚSICA
Motörhead foi uma banda inglesa de heavy metal, formada em Junho de 1975 pelo baixista, cantor e compositor Ian Fraser Kilmister, conhecido profissionalmente por Lemmy, sendo o líder e membro constante da banda até sua morte em 2015.Uma simbólica homenagem deste blog a Lemmy Kilmister, membro da banda que recentemente faleceu. Um documentário impactante que demonstra bem a luta de alguns músicos e bandas para vencerem no mundo da música.
Com imagens de arquivos e entrevistas, o programa "Motörhead - Behind The Music Remastered" aqui apresentado neste documentário, revelanos a história da banda britânica liderada por Lemmy Kilmister. Com mais de 40 anos de carreira, os Motörhead conquistaram o seu espaço na história do rock.
Entre os entrevistados, estão nomes como Ozzy Osbourne , Dave Grohl , Lars Ulrich (Metallica) e Robert Trujillo, bem como entrevistas com a formação actual dos Motörhead (Phil Campbell e Mikkey Dee) e, naturalmente, a formação clássica da banda, com "Fast" Eddie Clarke e Philip "Filthy Animal" Taylor.


Áudio: Inglês 
Legendas: Português 
Fonte: YouTube 





DOCUMENTÁRIO:




CLICK AQUI PARA VER DOCUMENTÁRIO

terça-feira, 25 de outubro de 2016

CONQUISTA DE LISBOA AOS MOUROS - CARTA DE UM CRUZADO

História de Portugal
CONQUISTA DE LISBOA AOS MOUROS - CARTA DE UM CRUZADO
Eis aqui um dos episódios gloriosos da nossa história e do nosso primeiro Rei, D. Afonso Henriques, mas também um episódio de glória inserido na reconquista da Península-Ibérica. No entanto, os acontecimentos talvez não denotem tanta glória em relação ao comportamento que os Cruzados tiveram para com os então habitantes de Lisboa. Através de uma carta, pensa-se que escrita por um Cruzado, de nome Raul, que participou no cerco a Lisboa que durou 21 dias, revelam-se aqui os diversos episódios do cerco e como tudo ocorreu. Um documento precioso para a compreensão deste facto histórico que aqui partilho convosco.
Acerca da carta do Cruzado R. importa dizer que ela é apresentada com base nas traduções referenciadas na lista de fontes abaixo apresentadas. Com a pregação da segunda cruzada por São Bernardo de Claraval, em 1146 na basílica de Vézelay, com intenção de enviar um grande exército para defesa dos territórios francos na Palestina atacados pelos turcos seljúcidas, uma parte das forças de cruzados, que do Nordeste da Europa se dirigiam por mar para o Médio Oriente, foram aliciados a ajudarem o mais recente rei da Cristandade, D. Afonso Henriques, a combater os infiéis. Este é o relatório que o cruzado R[aul] mandou a Osb[erto] de Baldr[eseia] (Bawssey), que é a interpretação mais recente, ou que Osb[erto] de Baldr[eseia] mandou a R.   Como escreveu Alfredo Pimenta, «o autor, fosse Osberno ou fosse R., parece ter sido padre; era inglês ou normando; e entrou com certeza na conquista de Lisboa. E isso é o que importa acima de tudo.» 1 (Ver notas abaixo)

Texto: Português 
Fontes: Portugaliae Monumenta Historica. - O Portal da História - Wikipédia













 







A Conquista de Lisboa aos Mouros
 
As minhas saudações !
Assim como temos por certo que será vosso grande desejo ir sabendo o que se passa connosco, sem sombra de dúvida podeis estar seguro de dar-se o mesmo entre nós a vosso respeito. Por isso vos manifestaremos por escrito as venturas ou adversidades desta nossa viagem e bem assim os feitos, os ditos, ou tudo o que, durante ela, virmos ou ouvirmos e for digno de relato. 

Expedição a Almada. Represálias

Sucedeu ... que certo dia alguns dos nossos passaram o Tejo para irem pescar do lado de Almada 2. Efectivamente, o areal daquela praia era mais favorável para os pescadores. Caíram sobre eles os mouros daquela zona, mataram bastantes e levaram com eles alguns cativos, cinco dos quais eram bretões. Os nossos ficaram indignados com isso e, discutido o assunto entre todos, foi decidido que duzentos cavaleiros com quinhentos peões seriam enviados a Almada para a saquearem. À hora de fazerem a travessia, os colonienses 3 e os flamengos, por má vontade ou por receio, ou por outro motivo que não conheço, retiraram os seus do nosso grupo para não atravessarem. Por essa razão, os normandos, os ingleses e os que se mantinham connosco e estavam do nosso lado, malogrados na constituição de grupo que abrangesse a todos, entregaram a expedição prevista a Saério de Archelle 4com uns trinta cavaleiros e uma centena de peões, para mais. Depois de terem matado em combate mais de quinhentos mouros, trazendo cerca de duzentos cativos e mais de oitenta cabeças, o que não deixou de ser motivo de grande alegria para os nossos e de grande abatimento dos inimigos, regressaram eles vitoriosos no mesmo dia, tendo perdido um apenas dos nossos.
Quando os mouros, ao olharem das muralhas, avistam as cabeças espetadas nas lanças, saem ao encontro dos nossos a pedir que lhes entreguem as cabeças cortadas. Tendo-as recebido, em pranto e clamor prolongado, levam-nas para dentro das muralhas. Ouviu-se por toda a noite uma voz de dor e uma lamúria magoada de pranto por quase todas as partes da cidade. O facto é que por tal acto de ousadia tão preclaro ficámos a ser de extremo terror para os inimigos pelo tempo fora, enquanto que, para os colonienses, para os flamengos e para os portugueses, isso era factor de honra. Livre ficava a partir de então o caminho para atravessar até Almada.
Inicia-se a construção de uma torre móvel e a escavação de uma mina 
( 16 de Outubro )
É então que, por sua vez, os nossos se empenham mais no trabalho e se lançam a escavar um fosso subterrâneo entre a Torre e a Porta de Ferro 5, com o fim de deitarem abaixo a muralha 6. Porque estava demasiado acessível aos inimigos, ao ser descoberta depois de iniciado o cerco à cidade, foi extremamente danosa para os nossos, tendo-se gasto muitos dias a defendê-la sem êxito. Além disso, são levantadas pelos nossos duas balistas: uma, colocada junto à margem do rio era accionada pelos marinheiros, outra situada frente à Porta de Ferro estava às ordens dos cavaleiros e dos seus acompanhantes. Estavam todos eles organizados em grupos de cem e, mal se ouvia o sinal para saírem os primeiros cem, outros cem entravam; de forma que no espaço de dez horas tinham sido disparadas cinco mil pedras. Acção desta natureza extenuava extremamente os inimigos. É então a vez de os normandos, os ingleses e os que com eles se encontravam começarem a fazer uma torre móvel de 83 pés de altura 7. Os colonienses e os flamengos recomeçam a escavar novo fosso subterrâneo frente à muralha da parte mais alta do castelo a fim de a deitarem abaixo; era uma construção de merecer elogios, com cinco entradas, com um pouco menos de 40 côvados de largura na frente, e concluíram-na em menos de um mês 8.
Entretanto, a fome e o mau cheiro dos cadáveres (com efeito, faltava sítio para sepultar dentro da cidade) angustiavam pateticamente os inimigos. Dava-se até o caso que os restos lançados dos navios junto das muralhas eram levados pelas águas e eram recolhidos para comer.
Aconteceu com isso algo que provoca riso, como foi o caso de uns flamengos que montavam vigia no interior das ruínas de umas casas e, depois de terem comido figos até ficarem saciados, deixaram uma porção deles naquele sítio; aperceberam-se disso quatro mouros e como aves que se precipitam para o isco, às escondidas e pé ante pé aproximaram-se; advertindo nisso, os flamengos (que era para os atraírem que costumavam com bastante frequência espalhar restos daquela natureza por aqui e por ali), acabaram, no caso, por estender umas redes nos sítios costumados e apanharam três dos mouros que nelas se deixaram envolver. O caso foi depois motivo de grande galhofa.
Desmoronamento dum lanço da muralha; avança a torre móvel
Minada, pois, a muralha e atafulhada com lenha para arder, nessa mesma noite, ao cantar do galo, um pano das muralhas de cerca de trinta côvados ruiu por completo.9
No entanto, já antes, se tinham ouvido os mouros que estavam de vigia às muralhas gritarem angustiados que, para porem fim de imediato a um trabalho ininterrupto, estavam dispostos a partilhar o dia supremo com a morte e que não tinham medo de a enfrentar, mas seria para eles satisfação máxima se eles se trocassem a si mesmos pelos nossos. Na realidade, era fatal ir até um ponto de onde era inevitável não voltar; em boa verdade, se em qualquer parte a vida acabasse bem, não se diria que ela era breve; de facto, duraria quanto devia, não quanto podia e não seria contada por quanto tempo tinha durado, mas pelo modo como tinha corrido bem, e impor-lhe-iam apenas uma cláusula boa.
Os mouros, pois, acorrem todos, cada de sua parte, a defender a brecha da muralha, tapando-a com uma barreira de cancelas. Foram então os colonienses e os flamengos e tentaram entrar, mas foram rechaçados. Efectivamente, embora a muralha tivesse ruído, à configuração do terreno impedia-lhes a entrada pelo simples aterro existente. No entanto, como não podiam atacá-los de perto, atormentavam-nos com o arremesso de setas incessantes e violentas, de tal forma que eles, para se defenderem e como que evitando não ficar feridos, ao manterem-se imobilizados, pareciam ouriços de espinhos.
Assim se defenderam dos atacantes até à hora prima do dia, altura em que estes se retiraram para os seus acampamentos.
Por sua vez, os normandos e os ingleses, que vêm armados para renderem os seus companheiros, aprestam-se para tomarem em primeira-mão a entrada aos inimigos que já houvessem sido feridos e estivessem esgotados. No entanto, ainda que impressionados com a vozearia, foram impedidos de o fazerem pelos comandantes dos flamengos e dos colonienses, os quais instavam connosco para que intentássemos a entrada, com as nossas máquinas, por onde quer que fosse possível, pois diziam que aquela abertura fora conseguida por eles e não por nós. Desta forma, porém, são rechaçados da entrada por todos os modos durante alguns dias.
Finalmente foi levada a bom termo a nossa máquina de guerra, envolvida a toda a volta por vimes e couro de boi para evitar que fosse atingida pelo fogo ou pela violência das pedras. Foi além disso intimado a todos os dos navios que fizessem mantas de guerra e abrigos entrançados com varas.
Exortação final e missa campal ( 19 de Outubro )
No domingo seguinte, pois, estando já a postos os aprestos de defesa, chama-se o arcebispo para dar a bênção ao empreendimento. Acabada a oração e feita a aspersão da água benta, determinado sacerdote, com a relíquia do Santo Lenho do Senhor nas mãos, pronunciou o seguinte sermão:
(...) [Que terminou dizendo,]
«O Deus da paz e do amor, que faz de dois um só e nos entregou reciprocamente uns aos outros, Ele que levanta da terra o necessitado e do esterco ergue o pobre, Ele que escolheu a David, seu servo, e o foi buscar aos rebanhos de ovelhas, embora fosse o mais novo dos filhos de Jessé, Ele que aos evangelizadores dá a palavra de grande eficácia para aperfeiçoamento da sua pregação e manifestação da sua obra, mantendo as nossas mãos na sua vontade, nos dirija e nos receba com glória; Ele mesmo governe quem nos governa para podermos [ensinar] o seu rebanho com disciplina e não com os instrumentos de um pastor desorientado. Seja Ele a dar valor e fortaleza ao seu povo, seja Ele a apresentar a si mesmo um rebanho purificado e resplandecente e em tudo imaculado e digno dos apriscos celestes, onde há uma morada para os que se alegram nos esplendores dos santos, de tal modo que no seu templo todos nós, grei e pastores, cantemos glória a Jesus Cristo, Nosso Senhor, a quem é devida glória pelos séculos dos séculos. Ámen.»
A grande torre móvel vai-se aproximando das muralhas
A esta palavras, todos caíram de bruços com gemidos e lágrimas nos seus rostos. De novo, à ordem do sacerdote, todos se levantaram e foram abençoados pela veneranda relíquia da Cruz do Senhor, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Assim, rogando em altas vozes o auxílio divino, aproximaram finalmente a máquina da frente da muralha, a uma distância de uns quinze côvados.
Aí morreu um dos nossos atingido por uma pedrada de funda atirada das muralhas. No dia seguinte 10, de novo, a máquina é deslocada para junto da torre que fica situada num recanto da cidade frente ao rio 11.
Os inimigos, porém, levaram igualmente para ali todos os seus aprestos de defesa. Logo que isso descobrimos, com facilidade fizemos fracassar os seus planos, pois os nossos desviaram a máquina para a direita frente ao rio e ultrapassaram a torre uns vinte côvados junto à muralha perto da Porta Férrea 12 que está voltada para a torre. Aí os nossos besteiros e frecheiros repeliram da dita torre os inimigos que não conseguiam aguentar o ritmo das setas, pois a torre ficava a descoberto pela parte posterior que está voltada para a cidade.
O combate final
Afugentados os inimigos da torre e da muralha, vizinha da nossa máquina, com a chegada da noite descansámos um pouco, tendo todos regressado ao acampamento, mas deixando de guarda cem cavaleiros dos nossos e cem dos franceses, com frecheiros e besteiros e alguns jovens ligeiramente armados.
Ora, na primeira vigília da noite, a maré-cheia envolveu a máquina e impedia que os nossos tivessem caminho para sair ou para entrar. Tendo os mouros descoberto que a maré nos isolava, a pé, atacaram a máquina com duas companhias de homens através da dita porta, enquanto outros, em multidão inacreditável, por cima das muralhas, tendo acarretado materiais de lenha com pez, estopa e azeite com substâncias incendiárias de toda a espécie, começam a atirá-los à nossa máquina. Outros ainda lançavam sobre nós uma chuva insuportável de pedras.
Havia, porém, debaixo das asas da máquina, entre ela e a muralha, um abrigo de vimes que em língua vulgar toma o nome de gato valisco 13, em que se mantinham sete mancebos da província de Ipswich que tinham trazido sempre esse abrigo atrás da máquina. Ali debaixo, juntamente com os que se encontravam em andares inferiores, alguns dos nossos procuravam, tanto quanto lhes era possível desfazer os materiais inflamáveis, mas em vão. Outros, por seu lado, tendo aberto covas debaixo da máquina e aí permanecendo, dispersavam as bolas de fogo. Uns, nos andares cimeiros, através de postigos regavam de cima os couros que se retesavam; aí havia uns renques de vassouras de cauda, pendentes da parte de fora, que molhavam toda a máquina. Os restantes, porém, dispostos em linha de batalha, resistiam com ardor aos que tinham avançado desde a porta.
Foi assim a máquina defendida nessa noite em esforço digno de admiração, por um punhado dos nossos, sob a ajuda de Deus, sem grandes feridas, enquanto a maior parte dos mouros, pelo contrário, mais de perto ou mais de longe, tinham caído mortos.
Ao romper da manhã 14, a nossa máquina, com a subida da maré fica novamente isolada. Novamente surgem os mouros ao nosso encontro, uns, vindos pela porta, abatem-se sobre os nossos (foi neste embate que o comandante das galés do rei foi ferido e veio a morrer), outros, a partir das muralhas, atiram sobre. os nossos uma chuvada de pedras, pois que tinham para aí acarretado as balistas. Além disso sobre as nossas máquinas, que apenas ficam a uma distância de oito pés das muralhas, lançam baldes repletos de materiais inflamados em tal quantidade que é mais que difícil dizer quanto trabalho, suor, golpes e feridas sem número aguentaram na maior parte do dia, sem terem qualquer apoio dos companheiros.
Até o nosso especialista dos engenhos 15 ficou ferido numa perna por causa de uma pedra e deixou-nos privados de qualquer esperança no seu apoio. Também os franceses, ao verem-se rodeados de água, e estando ou feridos ou fazendo-se feridos, uns atirando com as armas, outros ficando com elas, optam vergonhosamente por fugir e passar um vau, não ficando mais que seis de todos eles. Finalmente, na baixa-mar, os inimigos, já cansados, abandonam o combate, desiludidos de qualquer expectativa de futuro. Por sua vez, os nossos cavaleiros e aqueles que tinham sido escolhidos para guardarem a máquina, uma vez entrados outros dos seus apoiantes a rendê-los, deixam aquele lugar, depois de terem estado dois dias e uma noite, sem tirarem as armas, a defender a máquina em angústia quase insuportável.
A Lisboa mourisca rende-se aos cristãos.                       ( 21 de Outubro, 3.ª feira ). 16
Cerca, porém, hora décima, na baixa-mar, os nossos juntam-se na praia para aproximarem a máquina até quatro pés das muralhas e assim lançarem uma ponte com maior facilidade. A defender esta parte da muralha chegam os mouros vindos de toda a parte. Ao verem, porém, a ponte já içada uns dois côvados e nós já prestes a entrar, como se nem a vida viesse a ser deixada aos vencidos, gritam em grandes brados e, à nossa vista, depõem as armas, baixam os braços e suplicam tréguas, ao menos até ao dia seguinte.
Intervindo Fernão Cativo 17, por parte do rei, e Hervey de Glanville 18, pela nossa, foram concedidas tréguas e recebidos logo de seguida cinco reféns, tendo sido acordado em como durante a noite não atacariam as nossas máquinas ou como eles, entretanto, não procederiam a qualquer reparação que revertesse em nosso prejuízo; além disso, durante a noite, deviam deliberar como é que nos entregariam a cidade no dia seguinte; se é que era assim que queriam decidir entre eles, pois, caso contrário, o resto ficaria sujeito à sorte das armas.
Ferrão Cativo e Hervey de Glanville, por sua parte, sendo já quase a primeira vigília da noite, recebem reféns e entregam-nos ao rei. Foi isso motivo de grande discórdia, pelo facto de não os terem entregues aos nossos, pois consideravam que através deles se prepararia uma traição por parte do rei, admitindo que era hábito seu assim proceder, e por isso mostravam-se indignados contra Fernão Cativo e Hervey de Glanville.
Conferência sobre o modo de rendição                            ( 22 de Outubro )
De madrugada, pois, convocando os colonienses e os flamengos, os nossos condestáveis juntamente com os anciãos, dirigem-se ao acampamento do rei, para ouvirem o que aqueles embusteiros teriam deliberado. Interrogados, são favoráveis a entregarem a cidade ao rei e a deixarem o ouro, a prata e outros haveres dos habitantes da cidade nas nossas mãos. Para darem a isto uma resposta, os nossos saem fora.
Treme então, até definhar, o antigo inimigo, ao sentir que finalmente vai ficar despojado do velho direito. Contra todos e através de todos, excita os vasos da iniquidade. A tal ponto se encarniça o vírus da maldade que dificilmente ou irremediavelmente alguém chega algum dia a concordar com o outro, ficando em ruptura mútua. De facto, ao chegarem já perto da entrada das portas, se não fosse o nosso Deus contrapor a sua dextra de propiciação, a boa harmonia ter-se-ia rompido. Efectivamente usou sempre Ele para connosco de clemência da sua bondade desde o início da nossa associação, a tal ponto que, quando já os nossos chefes abandonavam o leme da governação por múltiplas e desesperadas causas de divisão, era então que a brisa do Espírito Santo, trazendo a sua inspiração e como que fazendo reverberar as nuvens caliginosas do temporal com a vibração de um raio de sol do meio-dia, tornava mais agradáveis os laços da concórdia que regressava.
Foi o caso que, quando estávamos em assembleia para darmos a nossa resposta, os nossos marinheiros, com outros tresloucados a eles semelhantes, se juntam na praia em conspiração montada por um certo sacerdote de Bristol, homem sacrílego; efectivamente, tratava-se de alguém de costumes mais que reprováveis, como algum tempo depois tivemos conhecimento por ter sido apanhado a roubar. Começaram eles paulatinamente a incitar à revolta, desde simples falas até chegarem a vociferar, para declararem que era indigno que tantos e tão grandes homens, ilustres na sua terra e nos feitos militares, se sujeitassem a estar a mando de uns poucos reunidos em assembleia, aos quais, nas circunstâncias presentes, não seria propriamente necessário conselho, mas valentia. Na realidade, os que tinham até ali chegado, trazidos pelo Espírito Santo fosse o que fosse que tivessem. feito, tinham agido de modo excelente, sob a sua inspiração. Ora, entre os seus magnates não se registava assembleia ou empreendimento que alguma vez não tivessem sido em vão. Efectivamente, sem eles, tinha sido tomado o arrabalde, sem eles saberem tinha sido submetida Almada; se, como convinha, se tivessem deixado levar pelo seu entusiasmo, já há muito, diziam, teriam tomado conta da cidade ou teriam tido alguma vantagem maior.
Reflexões
Mas que havemos de dizer de homens que injuriam desta maneira, senão que há uma certa capacidade naturalmente implantada nos maus comportamentos de tal modo que o crime de uns poucos deslustra a inocência de muitos e que, em contrapartida, a escassez dos bons, ainda que queira, não consegue desculpar os crimes de muitos? Todavia, quem não se irritará ao ver que a virtude sincera fica manchada pela alegação de vícios, quando não conseguem discernir o que querem ou deixam de querer nem o que lhes agrada nas coisas boas ou o que lhes desagrada nas coisas más? Se vêem uma pessoa humilde, chamam-lhe abjecto; se anda de cabeça levantada, pensam que é por soberba; se é menos instruído, consideram que deve ser posto a ridículo devido à sua falta de conhecimentos; se tem alguma ciência, dizem-no inchado por causa do saber; se é severo, têm-lhe horror porque é cruel; se é indulgente, culpam-no por facilitar; se é simples, desprezam-no como se fosse estúpido; se é áspero, evitam-no como a um malicioso; se é diligente, consideram-no escrupuloso; se é vagaroso, julgam-no negligente; se é perspicaz, têm-no por ambicioso; se é sossegado, chamam-lhe preguiçoso; se é parco, clamam que é avaro; se, quando come, fica saciado, condenam-no por comilão; se faz jejum na comida, falam dele como dissimulado; ao que anda em liberdade condenam-no como criminoso; ao modesto, como homem rude; aos que são pessoas de rigor por causa da austeridade não os estimam; os mansos por afabilidade para eles são pessoas vis. Se alguém vive de outra maneira, ainda que os seus comportamentos sejam sempre de boa qualidade, ao serem espicaçados pelas línguas dos maldizentes, ficarão dependurados de anzóis de duas pontas.
Apaziguamento de tensões entre cruzados 
O alvoroço deste tumulto é, pois, dirigido contra Hervey de Glanville, que tinha entregue os reféns ao rei e não a eles e tinha bem assim deixado alguns deles fora da atribuição dos dinheiros da cidade, como se eles fossem de outra raça. Mais de quatrocentos correm para fora dos acampamentos e, de armas na mão, procuram-no por todo o lado, ainda mesmo onde sabem que ele não está, clamando em altas vozes: "fora o ímpio, castigue-se o traidor"!
Tendo tomado conhecimento disto, quando estávamos no acampamento do rei, alguns dos nossos anciãos tomaram a iniciativa de lhes ir ao encontro para reprimirem estes assomos de violência. Logo que eles voltaram, reunimo-nos para respondermos ao que anteriormente estava em causa.
Os reféns, por sua parte, tendo-se dado conta de que os nossos tinham entrado em disputas, dissimulam e intentam retractar-se das palavras da primeira proposta. Ao rei e aos seus homens diziam que pretendiam guardar a sua palavra e manter todas as promessas que anteriormente nos tinham afiançado; aos nossos, nem com a morte algo fariam, pois tinham-se apercebido que éramos corruptos, desleais, sem piedade, cruéis, que nem os nossos próprios senhores poupávamos. Tudo isto deixou os nossos prostrados na maior vergonha.
De novo se voltou a conselho com o rei; passou-se nisso a maior parte do dia e ao fim anuíram os reféns no seguinte: o alcaide, com um genro seu, ficaria de posse de todos os seus bens em liberdade e todo e cada um dos homens da cidade ficaria com o que tinham para comer e a cidade render-se-ia; de contrário, tentariam a sorte das armas.
Acordo de actuação em concertação com o rei Português
Os normandos e bem assim os ingleses, para quem os incidentes de guerra tinham sido particularmente gravosos, cansados do longo cerco, diziam que seria razoável aceder e que não seria honesto antepor o dinheiro ou os víveres à honra de tomar a cidade.
Os colonienses e os flamengos, por sua parte, com a sua inata cupidez de deitar a mão, lembravam o desgaste de uma longa viagem e a perda dos seus bens como o longo caminho a percorrer ainda, argumentavam que não era admissível deixar alguma coisa aos inimigos. Chegados a este ponto de discussão, por último, acediam a que todos os haveres e mantimentos do alcaide lhe fossem concedidos, com excepção de uma égua árabe que o conde de Aerschot 19 cobiçava para si e se propunha tirar-lhe sob que pretexto fosse. Finalmente, a este respeito, a opinião deles tornou-se inabalável, os nossos suportavam-na com grande indignação.
A noite põe termo à reunião, os reféns mantêm a sua opinião, os francos dispõem-se a qualquer das alternativas, à paz ou à guerra.
No dia seguinte, porém, decidiram tentar a entrada na cidade à força das armas e voltaram todos ao acampamento. Entretanto os colonienses e os flamengos mostram-se indignados, porque parecia que o rei era benevolente para com os reféns, e saem armados dos acampamentos para, à força, roubarem os reféns ao acampamento do rei e se vingarem neles. Gera-se confusão e embate de armas por todo o lado.
Nós, pela nossa parte, estando no meio, entre o rei e os acampamentos dos outros, e esperançados em que se voltasse a parlamentar, fizemos saber ao rei o que se preparava. Porém, o duque de Flandres e o conde de Aerschot, dando-se conta do motim, armam-se também e a custo travam o levantamento dos seus.
O rei fica descontente
Apaziguado o motim, seguidamente, vão ter com o rei para uma conciliação em favor dos seus, declarando que estavam completamente fora do acontecido. Garantida que foi por parte deles a sua segurança, o rei, uma vez serenado o ânimo, manda que os seus deponham as armas, assegurando firmemente que deixaria para o dia seguinte o cerco, mas não posporia a sua dignidade à tomada da cidade; antes, pelo contrário, dizia, tudo consideraria de menos se ficasse sem ela; no entanto, que se sentia atingido por aquelas injúrias, e nada mais queria em comum com homens corruptos, sem contenção, e dispostos a tudo.
Tendo a custo serenado finalmente o ânimo, anuiu a que se deliberasse sobre o que pretendia para o dia seguinte. Deliberou-se, pois, que no dia seguinte todos os nossos chefes, de uma parte e de outra, por si e pelos seus, prometessem manter fidelidade ao rei enquanto permanecessem na sua terra.
Confirmado isto por ambas as partes, anuiu-se ao que no dia anterior os mouros tinham pedido relativamente à rendição da cidade. Decidiu-se, pois, entre nós, que 140 homens de armas dos nossos e 160 dos colonienses e flamengos entrariam antes dos outros na cidade e que ocupariam pacificamente a fortaleza do castelo superior, por forma que os inimigos pudessem trazer os dinheiros e todos os seus haveres, comprovados, sob juramento, perante os nossos; feita assim a recolha, a cidade seria depois inspeccionada pelos nossos: se algo mais do que o alegado fosse encontrado com alguém, o dono em cuja casa fosse achado pagaria com a vida. Deste modo, depois de espoliados, todos seriam mandados em paz para fora da cidade.
Entrada solene na cidade ( 25 de Outubro )
Aberta, pois, a porta e dada autorização de entrarem, os colonienses e os flamengos, concebendo um astucioso ardil, solicitam aos nossos que seja deles a honra de serem os primeiros a entrar. Dada, pois, a anuência para tal efeito e chegada a ocasião, fazem entrada mais de duzentos com os que anteriormente haviam sido designados, fora outros que se tinham intrometido pela brecha da muralha que ficava à sua mercê da parte em que se encontravam, enquanto ninguém dos nossos, que não fosse dos designados, presumira proceder à entrada. 20
À frente, pois, ia o arcebispo e os outros bispos com a bandeira da Cruz do Senhor e a seguir entram os nossos chefes juntamente com o rei e os que para este efeito tinham sido escolhidos.
Oh! Quanta não foi a alegria de todos! Oh! Quanta não foi a honra especial que todos sentiam! Oh! Quantas não foram as lágrimas que afluíam em testemunho de alegria e de piedade, quando todos viram colocar no mais alto da fortaleza o estandarte da Cruz salvífica em sinal de sujeição da cidade, para louvor e glória de Deus e da santíssima Virgem Maria. O arcebispo e os bispos com o clero e todos os outros, não sem lágrimas de júbilo, cantavam o Te Deum laudamus com o Asperges me e orações de devoção.
Entretanto, o rei dá a volta a pé pelas muralhas do castelo cimeiro.
Desmandos de alguns cruzados
Os colonienses e os flamengos, ao lobrigarem na cidade tantas oportunidades de se saciarem não respeitam qualquer observância de juramento ou de palavra dada. Correm por aqui e por ali, saqueiam, arrombam portas, espreitam pelos interiores de qualquer casa, assustam os habitantes e, contra o direito divino e humano, infligem-lhes injúrias, dispersam vasilhames e roupas, actuam sem respeito contra as donzelas, põem no mesmo prato da balança o lícito e o ilícito, às escondidas tudo subtraem, mesmo o que deveria ficar em comum para todos. Ao bispo da cidade, um ancião de muitos anos, cortam-lhe o pescoço, contra o direito divino e humano 21. Aprisionam o próprio alcaide da cidade, depois de lhe terem tirado tudo de casa. A pequena égua, de que falámos acima, o próprio conde de Aerschot a arrebatou com as suas mãos. Tendo ele sido intimado pelo rei e por todos os nossos a entregá-la, reteve-a com tanta obstinação que o próprio alcaide disse que a sua pequena égua ao urinar sangue tinha perdido um potro, exprimindo de maneira astuta a fealdade de uma acção obscena.
O êxodo dos habitantes
Os normandos e os ingleses, que tinham em máximo apreço a palavra dada e o respeito divino, observavam onde poderia levar uma actuação destas e permaneciam quietos no lugar que lhes fora determinado, preferindo manter as mãos limpas de qualquer roubo a violarem os princípios de solidariedade firmada por um juramento de fidelidade.
A atitude tomada deixou grandemente cobertos de opróbrio o conde de Aerschot e Cristiano com os seus nobres, cuja cupidez ficava à vista de todos, sem equívocos, depois de terem com toda a evidência atirado para trás das costas o seu juramento.
No entanto, voltando finalmente a si, com pedidos insistentes, suplicaram junto dos nossos que fossem os nossos, juntamente com os seus, a congregar as restantes partes da cidade para uma partilha pacífica, de tal forma que, depois de aceites as respectivas partilhas, debatessem em paz as injúrias e as subtracções de todos, estando eles dispostos a emendarem o que indevidamente se tinham antecipado a retirar.
Espoliados, pois, os inimigos na cidade, foram vistos sair, sem despegar, pelas três portas, desde o início da manhã de sábado até à quarta-feira subsequente, em tão grande multidão de gente que era como se nela tivesse confluído a Espanha inteira.
Verificou-se seguidamente um prodígio que causou muita admiração: os alimentos dos inimigos que antes da conquista da cidade e ao longo de quinze dias se haviam revelado intragáveis por cheiro insuportável, pudemos saboreá-los pouco depois, já que tanto para nós como para eles se apresentavam bons e agradáveis.
Saqueada, pois, a cidade, foram encontradas em fossas cerca de oito mil cargas de trigo e de cevada, enquanto as de azeite eram de uns doze mil sextários 22.
Relativamente às observâncias da sua religião, logo depois vimos com os olhos o que acima tínhamos referido. Efectivamente, no seu templo, que se levanta em sete ordens de colunas com outras tantas abóbadas, foram encontrados uns duzentos cadáveres dos que ali tinham morrido, fora mais oitocentos doentes que aí haviam ficado no meio daquela imundície e na sua fealdade.
Restauração da diocese de Lisboa, com novo bispo; purificação da mesquita ( 1 de Novembro ).
Tomada, pois, a cidade, após dezassete semanas de cerco, os habitantes de Sintra fizeram oferta da guarnição do seu castelo e entregaram-se ao rei. Por sua vez, o castelo de Palmela foi abandonado pela sua guarnição e foi tomado pelo rei já sem ninguém. Rendidas, pois, todas as fortalezas que nas redondezas estavam ligadas à cidade, foi celebrado o nome dos francos por todas as terras de Espanha e abateu-se o terror sobre os mouros aos quais ia chegando a notícia destes acontecimentos.
Seguidamente, foi eleito para a sede episcopal um dos nossos, Gilberto de Hastings 23, tendo dado o seu assentimento para a eleição o rei, o arcebispo, os bispos, o clero e todos os leigos. No dia em que se celebrava a Festa de Todos os Santos, em louvor e honra do nome de Cristo e da Sua Santíssima Mãe, foi feita a purificação do templo pelo arcebispo e por mais quatro bispos sufragâneos 24 e restaurada a diocese como sede do episcopado, com os seguintes castelos e terras: para além do Tejo, o castelo de Alcácer, o castelo de Palmela, a zona de Almada; aquém do Tejo, o castelo de Sintra, o castelo de Santarém, o castelo de Leiria. Os limites vão do castelo de Alcácer até ao castelo de Leiria e do mar, a ocidente, até à cidade de Évora.  
A situação miserável dos mouros
Sobreveio seguidamente uma peste tão grande entre os mouros que pelas vastidões dos ermos, pelas vinhas e pelas aldeias e praças, bem como pelas casas em ruínas jaziam inúmeros milhares de cadáveres à mercê das feras e das aves; os que ainda tinham vida, semelhantes a fantasmas que andassem errantes à face da terra, abraçavam-se ao sinal da cruz e beijavam-no, confessavam que Maria, cheia de bondade, é a bem-aventurada Mãe de Deus, de tal modo que em tudo o que fazem ou dizem, mesmo nos momentos extremos, misturam invocações a Maria boa, boa Maria e lhe dirigem apelos angustiados.




Notas:

1. O problema é decidir qual foi a regra seguida pelo escritor no endereçamento da carta. De acordo com as regras da epistolografia clássica escrevia-se o remetente em primeiro lugar, mas com o cristianismo a regra inverteu-se, passando a escrever-se primeiro o destinatário e só depois o remetente, para provar submissão. A carta, escrita em latim, começa «Osb. de Baldr. R. salutem», e pode ser traduzida: «A Osb[erto] de Bawdsey, R[aul]. As minhas saudações!», como faz a tradução de 2001, ou «A Osb[erto] de Baldr[esseia] R. Saúde», como faz a de 1936. 
2. Localidade na margem esquerda do Tejo, na «outra banda», em frente de Lisboa. 
3. Membros do contingente alemão que se concentrou em Colónia e de lá saiu em Abril de 1147. 
4. Saério de Archelles era um dos quatro condestáveis que comandavam o contingente inglês e normando, sendo encarregue de uma parte dos navios da frota. 
5. A Porta de Ferro ficava no actual Largo de Santo António da Sé, segundo José da Felicidade Alves, Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147, nota 45. 
6. O fosso ficava «na extensão da Rua da Padaria, entre o Largo de Santo António da Sé e a esquina junto ao arco da rua das Canastras», segundo José da Felicidade Alves, ob.cit, pág. 
7. Segundo outra fonte, A Carta do Cruzado Arnulfo a Milão, publicada também por José Augusto de Oliveira, na edição de 1936, a torre terá sido projectada por um engenheiro de Pisa e construída com o apoio do rei, tendo 25 metros de altura (83 pés). 
8. Situava-se entre o Limoeiro e a Calçada de São João da Praça, segundo A. Vieira da Silva, A Cerca Moura de Lisboa, p.43. 
9. Seria na zona de Alfama, perto das Portas do Sol, e a muralha teria cerca de 60 metros de extensão. 
10. 20 de Outubro. 
11. Torre da Cerca Moura. 
12. Devia ser a futuramente conhecida por Porta do Mar, actualmente Arco Escuro, e não a Porta de Ferro. 
13. Ou «galês». A Gata era uma máquina que servia para minar na raiz dos muros. 
14. 21 de Outubro. 
15. Possivelmente o engenheiro de Pisa que tinha construído a torre. 
16. Ás 4 horas da tarde de 21 de Outubro, 3.ª feira, Festa das Onze Mil Virgens. 
17. Fernão Cativo era o alferes-mor do Rei. 18. Hervey de Glanville era outro dos quatro condestáveis que comandavam os cruzados ingleses e normandos, especificamente encarregue da direcção dos homens de Norfolk, sendo provavelmente familiar do autor da carta. 
19. O conde Arnaldo de Aerschot, da Flandres, comandante das forças de cruzados vindos do Império germânico, ou romano como se dizia na época, era sobrinho do duque Godofredo I da Baixa-Lotaríngia.
20. De facto tanto pode ter sido em 24, uma sexta-feira, como a 25 de Outubro. Existe discrepância nas outras fontes. 
21. Quer isto dizer que havia um bispo moçárabe de Lisboa. A existência de uma comunidade cristã na Lisboa mourisca é pouco conhecida, mas teria o seu culto na igreja de Santa Cruz do Castelo. 
22. Cargas e cestos eram medidas muito variáveis de sólidos e líquidos. 
23. A escolha de um bispo inglês terá sido devido à importância do apoio das forças desse país, ou por motivo dos jogos da dependência eclesiástica entre Mérida, Santiagp de Compostela e Braga. Os documentos atestam a sua actividade à frente da diocese de Lisboa de 1148 a 1162. O bispo que voltou a Inglaterra em 1150 a pedir apoio possivelmente para a conquista de Alcácer do Sal, terá morrido em 1166. 
24. Isto é, bispos sufragâneos de Braga.

Fontes:
Portugaliae Monumenta Historica. Scriptores, I, org. de Alexandre Herculano, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1856, págs. 392 a 405

Conquista de Lisboa aos Mouros (1147) Osberno, trad. de José Augusto de Oliveira, pref. de Augusto Vieira da Silva, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1935 (2.ª ed., 1936);
Charles Wendell David, De Expugnatione Lyxbonensi: The Conquest of Lisbon edited from the unique Manuscript in Corpus Christi College, Cambridge, with a Translation into English, Nova Iorque, Columbia University Press, 1936;
Alfredo Pimenta, «A Conquista de Lisboa», in Fontes Medievais da História de Portugal, Lisboa, Sá da Costa («Clássicos Sá da Costa»), 1948;
Conquista de Lisboa aos Mouros em 1147. Carta de um Cruzado inglês que participou nos acontecimentos, apres. e notas de José da Felicidade Alves, Lisboa, Livros Horizonte («Cidade de Lisboa, 4»), 1989;
A Conquista de Lisboa aos Mouros. Relato de um Cruzado, ed., trad. e notas de Aires A. Nascimento, introd. de Maria João V. Branco, Lisboa, Vega («Obras clássicas da Literatura Portuguesa. Literatura Medieval, 96»), 2001





Cerco de Lisboa (1147)


Cerco de Lisboa
Reconquista
Siege of Lisbon by Roque Gameiro.jpg
Cerco de Lisboa por Roque Gameiro
Data1 de Julho a 25 de Outubro de 1147
LocalLisboa
Desfecho
Combatentes
Cristãos:
Cross-Pattee-red.svg Cruzados
Muçulmanos:

Flag of None.svg Taifa de Badajoz
Comandantes
Liderados por:
Saher de Archelle
Liderados por:
  • Desconhecido
Forças
Total de homens:
  • 20,000
Portugueses:
  • 7,000 homens
Cruzados:
  • 6,000 Ingleses
  • 5,000 Alemães
  • 2,000 Flamengos
Total de homens:
  • 15,000
Baixas
DesconhecidasDesconhecidas
Cerco de Lisboa teve início a 1 de julho de 1147 e durou até 21 de outubro, integrou a Reconquistacristã da península Ibérica, culminando na conquista desta cidade aos mouros pelas forças de D. Afonso Henriques (1112 - 1185) com o auxílio dos Cruzados que se dirigiam para o Médio Oriente, mais propriamente para a Terra Santa. Foi o único sucesso da Segunda Cruzada.
Após a queda de Edessa, em 1144, o Papa Eugénio III convocou uma nova cruzada para 1145 e 1146. O Papa ainda autorizou uma cruzada para a Península Ibérica, embora esta fosse uma guerra desgastante de já vários séculos, desde a derrota dos Mouros em Covadonga, em 718. Nos primeiros meses da Primeira Cruzada em 1095, já o Papa Urbano II teria pedido aos cruzados ibéricos (futuros portugueses, Castelhanos, Leoneses, Aragoneses, etc.) que permanecessem na sua terra, já que a sua própria guerra era considerada tão valente como a dos Cruzados em direcção a Jerusalém. Eugénio reiterou a decisão, autorizando MarselhaPisaGénova e outras grandes cidades mediterrânicas a participar na guerra da Reconquista.
19 de maio zarparam os primeiros contingentes de Cruzados de DartmouthInglaterra, constituídos por flamengosnormandosinglesesescoceses e alguns cruzados germanos. Segundo Odo de Deuil, perfaziam no total 164 navios — valor este provavelmente aumentado progressivamente até à chegada a Portugal. Durante esta parte da cruzada, não foram comandados por nenhum príncipe ou rei; a Inglaterra estava em pleno período d'A Anarquia. Assim, a frota era dirigida por Arnold III de Aerschot (sobrinho de Godofredo de Louvaina), Christian de GhistellesHenry Glanville (condestável de Suffolk), Simon de DoverAndrew de Londres, e Saher de Archelle.
A armada chegou à cidade do Porto a 16 de junho, sendo convencidos pelo bispo do PortoPedro II Pitões, a tomarem parte nessa operação militar. Após a conquista de Santarém (1147), sabendo da disponibilidade dos Cruzados em ajudar, as forças de D. Afonso Henriques prosseguiram para o Sul, sobre Lisboa.
As forças portuguesas avançaram por terra, as dos cruzados por mar, penetrando na foz do rio Tejo; em junho desse mesmo ano, ambas as forças estavam reunidas, ferindo-se as primeiras escaramuças nos arrabaldes a Oeste da colina sobre a qual se erguia a cidade de então, hoje a chamada Baixa. Após violentos combates, tanto esse arrabalde, como o a Leste, foram dominados pelos cristãos, impondo-se dessa forma o cerco à opulenta cidade mercantil.
Bem defendidos, os muros da cidade mostraram-se inexpugnáveis. As semanas se passavam em surtidas dos sitiados, enquanto as máquinas de guerra dos sitiantes lançavam toda a sorte de projéteis sobre os defensores, o número de mortos e feridos aumentando de parte a parte.
No início de outubro, os trabalhos de sapa sob o alicerce da muralha tiveram sucesso em fazer cair um troço dela, abrindo uma brecha por onde os sitiantes se lançaram, denodadamente defendida pelos defensores. Por essa altura, uma torre de madeira construída pelos sitiantes foi aproximada da muralha, permitindo o acesso ao adarve. Diante dessa situação, na iminência de um assalto cristão em duas frentes, os muçulmanos, enfraquecidos pelas escaramuças, pela fome e pelas doenças, capitularam a 20 de outubro.
Entretanto, somente no dia seguinte, o soberano e suas forças entrariam na cidade, nesse meio tempo violentamente saqueada pelos cruzados.
Decorrente deste cerco surgem os episódios lendários de Martim Moniz, que teria perecido pela vitória dos cristãos, e da ainda mais lendária batalha de Sacavém.
Alguns dos cruzados estabeleceram-se na cidade, de entre os quais se destaca Gilbert de Hastings, eleito bispo de Lisboa.
Após a rendição uma epidemia de peste assolou a região fazendo milhares de vitimas entre a população.
Lisboa tornar-se-ia a capital de Portugal em 1255.

Os cruzados na conquista de Lisboa (1147)

Ora como tivéssemos chegado ao Porto, o bispo com seus clérigos veio ao nosso encontro. O rei achava-se então ausente com o seu exército, lutando contra os mouros. Feitas a todos as saudações conforme o costume da sua gente, disse-nos o bispo que já sabia que nós havíamos de chegar, e na véspera recebera do rei uma carta, em que se dizia isto:
«Afonso, rei de Portugal, a Pedro, bispo do Porto, saúde. Se porventura arribarem aí os navios dos Francos, recebei-os diligentemente com toda a benignidade e doçura e, conforme o pacto que com eles fizerdes de ficarem comigo, vós e quantos o quiserem fazer, como garantia da combinação feita, vinde em sua companhia a ter comigo, junto de Lisboa. Adeus !»
Carta do cruzado inglês Osberno (séc. XII)