quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O MISTÉRIO DE EHRICH WEISZ - O GRANDE HOUDINI

Personagens Históricos
O MISTÉRIO DE EHRICH WEISZ - O GRANDE HOUDINI
A sua vida e a sua morte foi envolvida em mistério e magia. Converteu-se numa lenda e todos os dias morria e voltava da morte ressuscitando diante do seu público, criando a ilusão de que podia escapar a tudo e de que tinha poderes especiais, numa época em que as pessoas descobriam os poderes da mediunidade e a magia de contactar com os mortos.
Aqui lhe revelo em 2 documentários a biografia e a mais completa informação do que foi considerado o maior mago de todos os tempos - O grande Houdini. Mas Harry Houdini não foi só um mago escapista, foi também um notável inventor, pois era ele que concebia, desenhava e construía, todo o material e máquinas complexas de que necesitava para as suas actuações. Revela-se aqui a biografia deste homem extraordinário, do seu tempo, e é também esse tempo de descobertas e exploração fantastica de diversos mistérios da vida, que aqui está retratado nesta extraordinária biografia. A vida de um homem que viveu no tempo em que o mundo vivia fascinado pelo espiritismo e pelos poderes sobrenaturais dos médiuns em contactar com os mortos, Houdini levantou acesas paixões, não deixando ninguém indiferente, pois revelou-se contra os farsantes, movendo uma guerra pessoal contra o espiritismo, ridicularizando-o nos seus espectáculos. A sua vida, assim como a sua morte, foram sempre envolvidas em grande mistério. O documentário "Houdini - Dead Man Talking" que aqui pode assistir, tenta aportar alguma luz acerca desses mistérios.

Texto: Português
Áudio: Castelhano
Fonte: Canal História - Wikipédia






Documentário
HOUDINI - DEAD MAN TALKING:






Documentário 
HOUDINI - UNLOCKING THE MYSTERY : 

 

 

Harry Houdini


Harry Houdini
Houdini pronto para uma apresentação em 1899
Nome completo Ehrich Weiss
Nascimento 24 de março de 1874
Budapeste,  Hungria
Morte 31 de outubro de 1926 (52 anos)
Detroit, Michigan,  Estados Unidos
Ocupação ilusionista, escapista, dublê, ator, historiador, produtor cinematográfico, piloto, espiritualista e desenganador.

Harry Houdini, ("O Grande Houdini") nome artístico de Ehrich Weisz (Budapeste, Hungria, 24 de março de 1874Detroit, Estados Unidos, 31 de outubro de 1926), foi um dos mais famosos escapistas e ilusionistas da história.
Sua família emigrou para os Estados Unidos, quando Houdini tinha quatro anos, em 3 de julho de 1878, a bordo do navio SS Fresia. Teve uma infância muito pobre, o que o obrigou a trabalhar desde cedo. Erik era judeu e filho de um rabino conhecido, o Rabino Mayer Samuel Weisz, que, ao chegarem à América, tornou-se Rabino da Congregação Sionista. Erik tinha sete irmãos e se considerava diferente deles, um pouco mais artista laico do que religioso. Porém, Houdini nunca deixou de lembrar da sua origem e do seu povo. Curioso citar que o sobrenome da família originalmente era Weisz, modificado para Weiss, e Erik para Ehrich pela pronuncia alemã, pois no início do século XX, já se pressentia levemente o que viria a ser uma perseguição ao povo judeu. Foi perfurador de poços, fotógrafo, contorcionista, trapezista. Foi também ferreiro e nesse ofício ele aprendeu os truques que mais tarde o transformariam no maior mágico ilusionista do mundo.
Certa vez, seu chefe encarregou-lhe de abrir um par de algemas cuja chave um policial perdera. Após inúmeras tentativas usando serras, Houdini teve a ideia de pinçar a fechadura para abri-la. Ele conseguiu e a maneira como o fez serviu de base para abrir todas as algemas que empregava em seus truques.
Erik começou sua carreira em Appleton, no estado do Wiscosin, e já com 9 anos era trapezista nos eventos que seu pai organizava para a congregação. Gostava de ser chamado de “Ehrich, o príncipe do Ar”. Durante sua infância, a situação financeira da família se deteriorava rapidamente, então, o jovem Ehrich, começou a trabalhar. Fazia todo tipo de trabalho, mas entre idas e vindas, nunca deixava de praticar sua paixão pelo trapézio, e logo ensaiava alguns truques de mágica. Em pouco tempo, percebeu que era isso o que queria fazer e foi dedicar-se para aprender seus ligeiros passos de mágica.
Seu pai era absolutamente contra, queria que Ehrich se dedicasse para a congregação, mas logo em seguida aceitou a causa. Ehrich já não queria mais ser conhecido como “Ehrich, o filho do rabino” e passou a utilizar o codinome de “Harry Houdini”, em homenagem ao seu mestre (mesmo que à distância), Jean Eugene Robert-Houdin. Em 1893 passou a apresentar-se com alguns de seus irmãos, tendo criado um show com o nome de “The Houdini Brothers”. Durante uma apresentação, Houdini conheceu Bess Rahner, uma jovem americana com quem se casou, e passou a ser sua assistente de palco.


Houdini e um elefante (1918)
A grande virada cultural de Houdini se deu em 1899, quando conheceu o empresário Martin Beck que ficou impressionado com suas apresentações. E, assim, agregou as apresentações de Houdini às dos grandes mágicos até o início do ano 1900, quando Houdini voltou para a Europa. Dessa vez, em uma turnê exclusiva.
O grande ato de Houdini chamado “Handcuff Act” era ser preso totalmente e livrar-se da caixa de prisão. Esse truque lhe valeu fama e fortuna. Passou em turnê pela Inglaterra, Escócia, Holanda, Alemanha, França e Rússia. Em cada cidade, a policia local gostava de testar Houdini, e prendia-o em suas celas. Houdini sempre conseguia escapar.
Durante os anos de 1907 e 1910, Houdini fez grande sucesso na América. Saía de jaulas, e é claro, sempre fazia seu grande número, o “Handcuff act”, causando enorme empolgação da plateia. Em 1912, Houdini chegou ao seu ápice. Conseguiu superar todos seus concorrentes com um ato chamado “Chinese Water Torture Cell”, na qual ele era suspenso pelas pernas dentro de um “aquário” de vidro cheio de água, preso, amarrado e imobilizado. E em instantes deveria soltar-se, o que fazia com grande êxito. Na verdade, Houdini tinha 3 minutos para sair, se não conseguisse, sua esposa-assistente deveria quebrar o aquário e retirá-lo.


Cartaz de divulgação dos shows em que Houdini desmascarava os "fenômenos paranormais".
Desde então passou a se apresentar como mágico, fazendo números nos quais se libertava não só de algemas, mas também de correntes e cadeados, dentro de caixas, dentro de tanques fechados; dentro e fora d'água, de todo o jeito. Fez um sucesso enorme e ninguém até hoje conseguiu desvendar seus truques por completo, mesmo depois dele ter escrito boa parte dos segredos em livro.
Houdini tinha habilidades impressionantes. Era capaz, por exemplo, de ficar vários minutos dentro de água sem respirar. E foi numa destas demonstrações de suas habilidades - a "incrível resistência torácica" - que ele morreu. Após apresentar o número para uma platéia de estudantes em Montreal, no Canadá, enquanto ele ainda exibia o "super" tórax, um dos estudantes, boxeador amador, invadiu os bastidores e sem dar tempo para que Houdini preparasse os músculos, golpeou-lhe o abdômen com dois socos. Os violentos golpes romperam-lhe o apêndice, e quase uma semana depois ele morreu, num hospital de Detroit. Era o fim de Harry Houdini, considerado até hoje o maior mágico que já existiu.
Houdini também atuou como um desenganador, tentando desmascarar determinadas pessoas que segundo ele eram charlatões disfarçados de paranormais.[1]

Morte

Harry Houdini morreu de peritonite secundária, devido ao apêndice rompido, ocasionado por traumas abdominais múltiplos, provocados por um estudante da Universidade McGill em Montreal.
As testemunhas oculares foram os estudantes Jacques e Sam Smilovitz. De acordo com a descrição dos eventos, Houdini estava reclinando em sua poltrona após um número, tendo um estudante de Artes o confrontado. Quando o estudante Whitehead adentrou e perguntou se era verdade que Houdini suportava pancadas de todo o tipo no estômago, esse respondeu-lhe afirmativamente. O ilusionista foi batido três vezes, antes que pudesse se preparar para tal. Whitehead continuou lhe golpeando diversas vezes mais tarde, segundo rumores. Houdini manifestou dores. Embora com sérias dores, Houdini inobstante continuou a viajar sem procurar ajuda médica. Sofrendo de uma provável apendicite por dias e tendo recusado o tratamento médico, seu apêndice provavelmente estouraria por si, mesmo sem o trauma.
Quando Houdini chegou ao Teatro Garrick em Detroit, Michigan, em 24 de outubro de 1926, para o que seria sua última performance pública, estava com febre de 40º C. E havia suspeita de apendicite. Ele não se importou e foi entrar em cena. Para ele, seu público era sua vida. Durante a apresentação do “Chinese Water Torture”, Houdini não saiu em 3 minutos. Sua esposa-assistente quebrou o vidro e Houdini estava desacordado. Levado até o hospital Detroit’s Grace Hospital, foi atendido por um jovem residente chamado J. Gordon. Houdini faleceu neste dia, de peritonite, devido à ruptura do apêndice.
Após terem sido feitos exames de corpo delito e post mortem, a companhia de seguro de Houdini concluiu que a morte se deu devido ao incidente com o estudante e seu seguro de vida foi pago em dobro.

Funeral

O funeral de Houdini realizou-se em 4 de novembro de 1926 em Nova Iorque, com mais de 2.000 pessoas presentes. Membros da sociedade de mágicos americanos compareceram a seu enterro no Cemitério Judaico de Machpelah no bairro do Queens. Em sua lápide foi afixada a insígnia da sociedade dos mágicos. No dia do aniversário de Houdini, essa sociedade mágica realiza a Cerimônia da Varinha Mágica Quebrada, em sua lembrança. A esposa de Houdini, Bess, morreu em 1943 e não pôde ser enterrada com ele por não ser de origem judaica.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

REIS DE PORTUGAL - 1ª Parte: DAS ORIGENS DO CONDADO A DOM JOÃO I

História de Portugal
REIS DE PORTUGAL - 1ª Parte: DAS ORIGENS DO CONDADO A DOM JOÃO I
Uma excelente série de vídeo-programas apresentada pelo Coronel Fernandes Henriques, que nos revela programa a programa, a história de cada um dos Reis de Portugal, Rei após Rei, e com eles a história de Portugal desde a pré-história.
Junto ao programa sobre cada Rei, poderá complementar o conhecimento com ampla informação escrita acerca de cada monarca.
Esta é a primeira parte que contém 11 vídeos complementados com informação escrita, referentes à origem do condado Portucalense e aos 10 primeiros Reis de Portugal.

Género: História de Portugal
Texto: Português
Áudio:Português
Fonte: Filmes Unimundos II - YouTube - Wikipédia


Programa 00: 
AS ORIGENS DE PORTUGAL - DA PRÉ-HISTÓRIA AO CONDADO :






Condado Portucalense






Condado Portucalense
Condado de Portugal
Banner of arms kingdom of Leon.svg 868 – 1139 PortugueseFlag1143.svg
Flag Brasão
Bandeira Brasão
Localização de Condado Portucalense
Condado Portucalense em 1070
Continente Europa
Capital Portus Cale, depois Guimarães
Língua oficial Língua Portuguesa
Religião Católica
Governo Monarquia
Conde
 • 1095-1112 Henrique de Borgonha
História
 • 868 Fundação
 • 1139 Dissolução
O Condado Portucalense (868 - 1139) foi um condado que surge ao longo do processo de reconquista da península ibérica pelos cristãos. Deste nome provém o atual Portugal, pois durante a Alta Idade Média a atual Região Norte portuguesa foi denominada como Condado Portucalense, para diferenciá-la do condado da Galiza. A denominação histórica para o território coberto por ambos era o de Galiza, herdando o nome da Galécia romana. Houve, no actual território de Portugal, ao longo do processo de reconquista, dois governos denominados de Condado Portucalense ou Condado de Portugal. Em documentos coevos, o território denominava-se Portugalia[1] , sendo o condado fundado por Vímara Peres em 868, após a presúria aos mouros de Portucale (o Porto). A partir de finais do século X e com Gonçalo Mendes, os condes portugueses passaram a usar o título de duques, o que poderia indicar maior importância e maior extensão territorial.
A província portugalense que correspondia sensivelmente ao Entre-Douro-e-Minho, foi destacada da Galécia e tinha inicialmente o Porto como capital,[1] mas dada a revelia e poder dos condes de Portugal, agora duques, que ingeriam na monarquia leonesa, tendo um deles sido regente do reino entre 999 e 1008, o condado acabou por sucumbir após uma batalha entre o conde português e Garcia da Galiza e o território foi reagrupado no Reino da Galiza em 1071, Garcia passou a intitular-se "rei de Portugal e da Galiza". O condado, embora gozando de autonomia significativa, era vassalo do reino de Leão.
O Condado Portucalense reemergiu, em 1096 pela mão de Henrique de Borgonha como oferta do rei Afonso VI de Leão pelo auxílio na Reconquista de terras aos mouros, a quem deveria prestar vassalagem, tendo também recebido a mão de sua filha, a infanta D. Teresa de Leão. A "Terra de Portugal" foi concedida como dote hereditário de D.Teresa. Este último condado era maior em extensão e abarcava também os territórios do antigo condado de Coimbra, suprimido em 1091, partes de Trás-os-Montes e ainda do sul da Galiza, a diocese de Tui. De notar que Condado é um termo genérico para designar o território português, já que os seus chefes eram alternativamente intitulados comite (conde), dux (duque), princeps (príncipe) e até regina (rainha).

Fundação do condado

A reocupação e possível reconstrução ou fortificação de Portugale verificou-se após a presúria de Vímara Peres, em 868, vivendo, a partir de então, um próspero período da sua história: daí partiu toda a acção de reorganização, bem sucedida, e nalguns casos de repovoamento, para além dos limites da antiga diocese nela sediada, quer ao norte do rio Ave, quer ao sul do rio Douro. Por esta altura, o território designava-se de Terra Portugalense ou Portugalia. Desta forma, o antigo burgo de Portucale deu o nome a um novo estado ibérico.[1]
Paulo Merêa refere a existência de documentos comprovadamente encontrados na província de Ourense, na Galiza, nos quais surge a referência expressa a terras situadas em Portugal, ou seja, ao sul do rio Lima, e que então pertenciam, e vieram ainda a pertencer durante algum tempo, no âmbito da organização eclesiástica de Tui, repovoada durante o reinado de Ordonho I.
Apenas dez anos decorridos sobre a reconquista definitiva de Portucale tivesse sido tomada a cidade de Coimbra e erigida em condado independente às mãos de Hermenegildo Guterres em 878; a sua posição de charneira entre os mundos cristão e muçulmano permitiu uma vivência de maior paz no Entre-Douro-e-Minho, se bem que a região era alvo de incursões normandas regulares. As campanhas do Almançor, em finais do século X, porém, fizeram recuar a linha de fronteira de novo até ao Douro e o condado de Coimbra é suprimido. Na segunda metade do século XI, reconstituiu-se ao sul o condado de Coimbra, que incluía ainda as terras de Lamego, Viseu e Feira, sendo entregue ao conde ou alvazil Sesnando Davides, que conquistara definitivamente a cidade em 1064. Este condado viria mais tarde a ser incorporado no Portucalense.
Em 1065, o Condado Portucalense e a Galiza fizeram parte do território atribuído por Fernando I ao seu filho mais novo Garcia II. No entanto, ele lutava por controlar o conde Nuno Mendes. Com a sua vitória em 1071, na Batalha de Pedroso, entre a cidade de Braga e o rio Cávado, onde derrota Nuno Mendes, Garcia passa a intitular-se "Rei de Portugal e Galiza" (GARCIA REX PORTUGALLIAE ET GALLECIAE), o Condado Portucalense é extinto dado que os herdeiros naturais, Loba Nunes e Sesnando Davides, filha e genro do conde, que tinham o direito de herdar o título, vêem boa parte dos bens confiscados por Garcia II.
Pouco depois, em 1071, os seus irmãos Afonso VI e Sancho II tomaram o reino de Portugal e Galiza, expulsando Garcia. Na primavera seguinte, Sancho, por sua vez, expulsou Afonso, voltando a juntar os três reinos, o de Leão, o de Portugal e Galiza e o de Castela. Sancho aparece identificado como rei num documento português de 1072. Com o assassinato de Sancho, mais tarde, no mesmo ano, D. Afonso VI sucedeu na coroa de Leão, que abrangia os três reinos.

Portucale

A povoação que deu origem ao nome do condado, localizava-se junto à foz do rio Douro e tinha o nome de Portus Cale. O rei visigodo Leovigildo e seus sucessores cunharam moeda com a legenda Portucale. Forma que passou a Portugale em documentos do século VII para o século VIII.[1] O topónimo que significa "Porto de Cale", que se julga ser um nome híbrido formado por um termo latino (Portus, "porto") e outro grego (καλός, transl. kalós, "belo"), donde qualquer coisa como "Porto Belo". Outra explicação é de que o nome derivaria dos povos de cultura castreja que habitariam a área de Cale nos tempos pré-romanos - os Callaeci. Uma explicação alternativa é a de que o nome deriva da deusa venerada pela tribo e que poderia historicamente relacionar-se com a palavra Cailleach (definida como "deusa ancestral"), na Irlanda, numa invasão celta proveniente da Galécia e que teria nesses primórdios invadido a actual Irlanda. Uma outra teoria afirma que a palavra cale ou cala, seria celta e significava "porto", uma "enseada" ou "abrigo", e implicava a existência de um porto celta mais antigo.[2] Ainda outra teoria propõe que Cale deriva de Caladunum.[3]
No século I a.C., as "Histórias de Salústio" referem uma "Cales civitas" localizada na Gallaecia; Cale teria também sido conquistada por Perpena; no século IV, no "Itinerário de Antonino", fala-se de uma povoação chamada de Cale ou Calem; no século IV, Idácio de Chaves escreve sobre um "Portucale castrum".[4]
Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização exacta; o Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo cônego Pierre David após a sua identificação pelo também cônego Avelino de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes da diplomática portuguesa,[5] refere-se, séculos depois, a um povoado que designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro, o Portucale Castrum Novum, na direita.
Aquando do domínio dos Suevos, Portucale foi palco de vários acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário durante a invasão dos visigodos comandados por Teodorico II (457), a revolta do seu governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a última batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo.
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense, situada na província da Galécia, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a reconquista do Porto, em 868.

Condes de Portucale

Foram condes da Casa de Vímara Peres (nem sempre em linha recta, mas recorrendo às vezes à sucessão congnática):[6]
# Nome
Início do governo Fim do governo Notas
1 Vímara Peres[6] Vimaraperes.jpg 868 873
2 Lucídio Vimaranes[6]
873 922 Filho de Vímara Peres.
4 Hermenegildo Gonçalves
(esposo da condessa Mumadona Dias)[6]
Guimarães Mumadona Dias.jpg 926 943 Filho de Gonçalo Betotes,[6] depois da sua morte, sua viuva governou o condado até 950.
5 Gonçalo Mendes
950 999 Filho de Hermenegildo Gonçalves e Mumadona Dias.[6] Em 997 intitula-se magnus dux portucalensium.
6 Mendo II Gonçalves
999 1008 Filho de Gonçalo Mendes, sucedeu seu pai no governo do condado.[7]
7 Alvito Nunes
1008 1016 Descendente de Vímara Peres, governou o condado conjuntamente com Tutadona, a viuva do conde Mendo II Gonçalves.[8]
8 Nuno Alvites
1016 1028 Filho de Alvito Nunes, governou conjuntamente com a esposa, Ilduara Mendes, filha do conde Mendo II Gonçalves.[7] Segundo José Mattoso, "...as duas linhas que podiam reivindicar a sucessão no condado unem-se, em virtude do casamento do conde Nuno Alvites (1017-1025) [descendente de Vimara Peres] com a condessa Ilduara Mendes, filha de Mendo II Gonçalves [descendente de Gonçalo Betotes]... Os destinos das duas famílias, uma procedente de Vímara Peres, o presor do Porto, e outra de Afonso Betote, o presor de Tuy, estão, portanto, intimamente vinculados pela sua participação no governo do condado portucalense."[7]
9 Mendo Nunes[7]
1028 1050 Filho de Nuno Alvites governou o condado com sua mãe Ilduara Mendes e por conta propria a partir do ano 1043.
10 Nuno Mendes
1050 1071 Filho de Mendo Nunes, foi o último conde da família de Vímara Peres; derrotado pelo rei Garcia da Galiza na batalha de Pedroso.[7]

Casa de Borgonha

A ambição de Afonso VI de Leão reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca. A esta altura, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território: um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a ocidente, entregue a Raimundo; este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI[9] de reforçar ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de Borgonha.
O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram propícias.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias, muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste, Teresa de Leão, a governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.
Em virtude do reconhecimento pelo Papa Pascoal II, D. Teresa começa a intitular-se rainha em 1116-1117, mas os conflitos com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios públicos.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro — segundo o costume dos reis — tornando-se assim guerreiro independente. Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida, D. Afonso Henriques toma conta do condado e dele vai fazer o reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de Ourique, em 1139, e declarou a independência. Nascia, pois, em 1139, o reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o rei Afonso I (Afonso Henriques).
# Nome
Início do governo Fim do governo Cognome(s) Notas
11 Henrique de Borgonha Henry, Count of Portugal.jpg 1096 1112
Pai de Afonso Henriques.
12 Teresa de Leão Theresa of Portugal (1080-1130) mini.jpg 1112 1128
Regente na menoridade do filho (r. 1112 - 1128), usando o título regina (rainha) a partir de 1116. Mãe de Afonso Henriques.
13 Afonso Henriques AfonsoI-P.jpg 1128 27 de Julho de 1139 O Conquistador
O Fundador
O Grande
Conde de Portugal usando o titulo de Princeps (príncipe) depois Rei de Portugal



Programa 01:
D. AFONSO HENRIQUES - O CONQUISTADOR





Afonso I de Portugal



  1. Afonso I
    PortugueseFlag1143.svg
    Rei de Portugal
    Governo
    Reinado 05 de dezembro de 1143
    6 de dezembro de 1185
    Coroação 1139
    Consorte D. Mafalda de Saboia
    Antecessor Fundação da nacionalidade
    Herdeiro Henrique (filho)
    Sancho I (filho)
    Sucessor D. Sancho I
    Dinastia Borgonha
    Títulos O Conquistador
    Vida
    Nascimento 1109
    Guimarães, Coimbra ou Viseu, Portugal
    Morte 6 de dezembro de 1185 (76 anos)
    Coimbra, Portugal
    Sepultamento Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra
    Filhos D. Henrique, D. Mafalda, D. Urraca, D. Sancha, D. Sancho I, D. João, D. Teresa, D. Urraca, D. Teresa, D. Fernando, D. Pedro
    Pai D. Henrique de Borgonha
    Mãe D. Teresa de Leão

    Afonso I de Portugal, mais conhecido por D. Afonso Henriques (Guimarães, Coimbra ou Viseu, ca. 1109Coimbra, 6 de dezembro de 1185) foi o fundador do Reino de Portugal e o seu primeiro rei, com o cognome O Conquistador, O Fundador ou O Grande pela fundação do reino e pelas muitas conquistas. Era filho de D. Henrique de Borgonha e de D.Teresa de Leão, condes de Portugal, um condado vassalo do reino de Leão.[1] Após a morte de seu pai em 1112, Afonso tomou uma posição política oposta à da mãe, que se aliara ao nobre galego Fernão Peres de Trava. Pretendendo assegurar o domínio do condado armou-se cavaleiro e após vencer a sua mãe na batalha de São Mamede em 1128, assumiu o governo.[1] Concentrou então os esforços em obter o reconhecimento como reino. Em 1140, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se rei de Portugal com o apoio das suas tropas. Ao contrário do que dizem sobre o Tratado de Zamora só tornou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão. A independência portuguesa foi reconhecida, em 1179, pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum e ganhou o título de rex (rei).[1] Com o apoio de cruzados do norte da Europa conquistou Lisboa em 1147. Com a pacificação interna, prosseguiu as conquistas aos mouros, empurrando as fronteiras para sul, desde Leiria ao Alentejo, mais que duplicando o território que herdara. Os muçulmanos, em sinal de respeito, chamaram-lhe Ibn-Arrik [Em árabe: ابن الرَّنك ou ابن الرَنْق] («filho de Henrique», tradução literal do patronímico Henriques) ou El-Bortukali [Em árabe: البرتغال] («o Português»).

    Primeiros anos

    Afonso Henriques era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, infanta de Leão, filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão e Castela, a quem Afonso VI doara o condado de Portucale pelo casamento. Há quem defenda que era filho de Egas Moniz.[2] [nota 1] A data e local do seu nascimento não estão determinados de forma inequívoca. Hoje em dia, a data que reúne maior consenso aponta para o verão de 1109. Almeida Fernandes, autor da hipótese que indica Viseu como local de nascimento de D. Afonso Henriques refere a probabilidade de ter nascido em Agosto[4] [5] enquanto outros autores, baseando-se em documentos que remontam ao século XIII referem a data de 25 de Julho do mesmo ano. No entanto, já foram defendidas outras datas e locais para o nascimento do primeiro rei de Portugal, como o ano de 1106 ou de 1111 (hipótese avançada por Alexandre Herculano após a sua leitura da "Crónica dos Godos").[6] Tradicionalmente, acredita-se que terá nascido e sido criado em Guimarães, onde viveu até 1128[nota 2] . Outros autores, ainda, referem Coimbra como local provável para o seu nascimento[8]

    Subida ao trono



    Em 1120, Afonso, sob a direcção do arcebispo de Braga D. Paio Mendes tomou uma posição política oposta à da mãe (que apoiava o partido dos Travas que pretendiam tomar a soberania do espaço galaico-português). O arcebispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante que em 1122 se armou cavaleiro em Tui ou, segundo outras fontes, em Zamora.[1]
    Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a invasão do Condado Portucalense por Afonso VII de Leão e Castela que, em 1127, cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques, por este se recusar a prestar-lhe homenagem aquando da coroação. Prometida a lealdade do conde pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de conquistar a cidade.
    Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa de Leão e Fernão Peres de Trava defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as tropas do infante saído vitoriosas – o que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o governo do condado. Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder, concentrou os seus esforços em negociações junto da Santa Sé com um duplo objectivo: alcançar a plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
    Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques autoproclamou-se rei de Portugal, com o apoio das suas tropas. Segundo a tradição, a independência foi confirmada mais tarde, nas míticas cortes de Lamego, quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, se bem que estudos recentes questionem a reunião destas cortes. Em 1140 Afonso assina pela primeira vez "Ego Alfonsus portugalensium Rex".[9]

    Reinado

    Reconhecimento do reino


    Retrato de D. Afonso I como rei de Portugal

    Estátua de D. Afonso Henriques no Castelo de São Jorge em Lisboa, réplica da original, feita por Soares dos Reis, que se encontra em Guimarães

    O reconhecimento do Reino de Leão e de Castela chegou em 1143, com o tratado de Zamora, e deve-se ao desejo de Afonso VII de Leão e Castela em tomar o título de imperador de toda a Hispânia e, como tal, necessitar de reis como vassalos. Desde então, Afonso I procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos.
    Procurou também conquistar terreno a sul, povoado então por mouros: Leiria em 1135 (1145, conquista final) usando a técnica de assalto; Santarém em 1146 (1147, conquista final), também utilizando a técnica de assalto; Lisboa (onde utilizou o cerco como táctica de conquista, graças à ajuda dos cruzados), Almada e Palmela em 1147, Alcácer em 1160 e depois quase todo o Alentejo, que posteriormente seria recuperado pelos mouros, pouco antes de D. Afonso falecer (em 1185).
    Em 1179 o Papa Alexandre III reconheceu Portugal como país independente e vassalo da Igreja, através da bula Manifestis Probatum.

    Conquistas

    Cerco de Badajoz

    De 1166 a 1168, D. Afonso Henriques apoderara-se de várias praças pertencentes à coroa leonesa. Fernando II de Leão estava a repovoar Ciudad Rodrigo e o português, suspeitando que o seu genro estava a fortificar a cidade para o atacar, enviou um exército comandado pelo seu filho, o infante D. Sancho, contra aquela praça. O rei leonês foi em auxílio da cidade ameaçada e derrotou as tropas portuguesas, fazendo um grande número de prisioneiros.
    Em resposta, D. Afonso Henriques entrou pela Galiza, tomou Tui e vários outros castelos, e em 1169 atacou primeiro Cáceres. Depois voltou-se contra Badajoz na posse dos sarracenos, mas que pertenceria a Leão, conforme o acordado no tratado de Sahagún assinado entre aquele reino e Castela.
    Não obstante, sem respeitar estas convenções nem os laços de parentesco que o uniam a Fernando, o rei português cercou Badajoz para a conquistar para Portugal. Quando os muçulmanos já estavam cercados na alcáçova, Fernando de Leão apresentou-se com as suas hostes e atacou D. Afonso nas ruas da cidade. Percebendo a impossibilidade de manter a luta, Afonso terá tentado fugir a cavalo, mas ao passar pelas portas ter-se-à ferido na coxa contra um dos ferros que a guarneciam. Fernando tratou o seu sogro prisioneiro com nobreza e generosidade, chamando os seus melhores médicos para o tratar.
    Esta campanha teve como resultado um tratado de paz entre ambos os reinos, assinado em Pontevedra, em virtude do qual Afonso foi libertado, com a única condição de devolver a Fernando cidades estremenhas (da Estremadura espanhola) tais como Cáceres, Badajoz, Trujillo, Santa Cruz , Monfragüe e Montánchez, que havia conquistado a Leão. Estabeleciam-se assim as fronteiras de Portugal com Leão e a Galiza. E mais tarde, quando os muçulmanos sitiaram Santarém, o leonês auxiliou imediatamente o rei português.

    Morte e legado


    Túmulo de Afonso Henriques no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra

    Após o incidente de Badajoz, a carreira militar de D. Afonso Henriques praticamente terminou. A partir daí, dedicou-se à administração dos territórios com a co-regência do seu filho D. Sancho. Procurou fixar a população, promoveu o municipalismo e concedeu forais. Contou com a ajuda da ordem religiosa dos cistercienses para o desenvolvimento da economia, predominantemente agrária.
    O legado do seu reinado foi, entre outros:
    Morreu aos 76 anos, em 1185, provavelmente por problemas do coração, senilidade, aterosclerose ou cirrose.[10] O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, em frente ao túmulo do filho D. Sancho I.
    Foi impressa uma nota de 1.000$00 Chapa 7 de Portugal com a sua imagem.

    Boa relação com judeus

    O reinado de Afonso Henriques ficou marcado pela tolerância para com os judeus. Estes estavam organizados num sistema próprio, representados politicamente pelo grão-rabino nomeado pelo rei.
    O grão-rabino Yahia Ben Yahia foi mesmo escolhido para ministro das Finanças de Afonso Henriques, responsável pela coleta de impostos no reino. Com esta escolha teve início uma tradição de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom entendimento com as comunidades judaicas, que foi seguida pelos seus sucessores.

    Descendência

    Realeza Portuguesa
    Casa de Borgonha
    Descendência
    PortugueseFlag1185.svg

    Notas


  2. A ideia é sustentada por pequenos trechos de crónicas medievais, nomeadamente a partir da de 1419, onde se refere que quando Egas Moniz viu que D. Teresa estava grávida, pediu ao conde D. Henrique para ser ele a criá-lo e que assim foi, apesar de o infante ter nascido "tolheito" (aleijado). A mais conhecida destas, porém, é a Crónica de El-Rei D. Afonso Henriques composta por Duarte Galvão em 1505.[3]

  3. Conforme autores como o medievalista José Mattoso, autor de múltiplos sobre esta época que conhece profundamente, e Diogo Freitas do Amaral, autor de "D. Afonso Henriques - Biografia.



Programa 02:
D. SANCHO I - O POVOADOR










Sancho I de Portugal


Sancho I
Armoiries Portugal 1180.svg
Rei de Portugal
Governo
Reinado 6 de dezembro de 1185
26 de março de 1211
Coroação 9 de dezembro de 1185, Coimbra
Consorte Dulce de Aragão
Antecessor Afonso I
Sucessor Afonso II
Dinastia Borgonha
Títulos O Povoador
Vida
Nascimento 11 de novembro de 1154
Coimbra
Morte 26 de março de 1211 (56 anos)
Coimbra
Sepultamento Mosteiro de Santa Cruz, Coimbra
Filhos Ver descendência
Pai Afonso I
Mãe Mafalda de Saboia
Sancho I de Portugal (Coimbra, 11 de novembro de 1154 — Coimbra, 26 de março de 1211)[1] foi rei de Portugal de 1185 a 1211. Era cognominado o Povoador pelo estímulo com que apadrinhou o povoamento dos territórios do país — destacando-se a fundação da cidade da Guarda, em 1199, e a atribuição de cartas de foral na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187) ou Belmonte (1199),[2] povoando assim áreas remotas do reino, em particular com imigrantes da Flandres e da Borgonha.

Biografia


Maravedi (morabitino) em ouro com a efígie de Sancho I

Quarto filho do monarca Afonso Henriques, foi batizado com o nome de Martinho, por haver nascido no dia do santo com o mesmo nome, e não estaria preparado para reinar; no entanto, a morte do seu irmão mais velho, D. Henrique, quando Martinho contava apenas três anos de idade, levou à alteração da sua onomástica para um nome mais hispânico, ficando desde então Sancho Afonso.
Em 15 de agosto de 1170 Sancho foi armado cavaleiro pelo seu pai[3] logo após o acidente de D. Afonso Henriques em Badajoz e tornou-se seu braço direito, quer do ponto de vista militar, quer do ponto de vista administrativo. Nestes primeiros tempos de Portugal enquanto país independente, muitos eram os inimigos da coroa, a começar pelo Reino de Leão que havia controlado Portugal até então. Para além do mais, a Igreja demorava em consagrar a independência de Portugal com a sua bênção. Para compensar estas falhas, Portugal procurou aliados dentro da Península Ibérica, em particular o reino de Aragão, um inimigo tradicional de Castela, que se tornou no primeiro país a reconhecer Portugal. O acordo foi firmado 1174 pelo casamento de Sancho, então príncipe herdeiro, com a infanta Dulce, irmã mais nova do rei Afonso II de Aragão.[4]
No ano de 1178, D. Sancho faz uma importante expedição contra mouros, confrontando-os perto de Sevilha e do rio Guadalquivir, e ganha-lhes a batalha. Com essa ação, expulsa assim a possibilidade deles entrarem em território português.
Com a morte de Afonso Henriques em 1185, Sancho I torna-se no segundo rei de Portugal. Tendo sido coroado na de Coimbra, manteve essa cidade como o centro do seu reino. D. Sancho deu por finda as guerras fronteiriças pela posse da Galiza e dedicou-se a guerrear os Mouros localizados a Sul. Aproveitou a passagem pelo porto de Lisboa dos cruzados da terceira cruzada, na primavera de 1189, para conquistar Silves (Portugal),[5] um importante centro administrativo e económico do Sul, com população estimada em 20.000 pessoas. Sancho ordenou a fortificação da cidade e construção do castelo que ainda hoje pode ser admirado. A posse de Silves foi efémera já que em 1190 Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur cercou a cidade de Silves (Portugal) com um exército e com outro atacou Torres Novas, que apenas conseguiu resistir durante dez dias, devido ao rei de Leão e Castela ameaçar de novo o Norte.


Estátua de D. Sancho I frente ao Castelo de Torres Novas - trabalho de João Cutileiro

Sancho I dedicou muito do seu esforço governativo à organização política, administrativa e económica do seu reino. Acumulou um tesouro real e incentivou a criação de indústrias, bem como a classe média de comerciantes e mercadores. Sancho I concedeu várias cartas de foral principalmente na Beira e em Trás-os-Montes: Gouveia (1186), Covilhã (1186), Viseu (1187), Bragança (1187), Guarda (1199), etc, criando assim novas cidades, e povoando áreas remotas do reino, em particular com imigrantes da Flandres e Borgonha. O rei é também lembrado pelo seu gosto pelas artes e literatura, tendo deixado ele próprio vários volumes com poemas. Neste reinado sabe-se que alguns portugueses frequentaram universidades estrangeiras e que um grupo de juristas conhecia o Direito que se ministrava na escola de Bolonha. Em 1192 concedeu ao mosteiro de Santa Cruz 400 morabitinos para que se mantivessem em França os monges que lá quisessem estudar.
Outorgou o seu primeiro testamento em 1188/89 no qual doou a sua esposa os rendimentos de Alenquer, terras do Vouga, Santa Maria da Feira e do Porto.[6] Seu último testamento foi feito em outubro de 1209 quase dois anos antes de sua morte.[7] O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, ao lado do túmulo do pai.

Descendência

De sua mulher a infanta Dulce de Aragão, filha da rainha Petronilha de Aragão e Raimundo Berengário IV, conde de Barcelona, com quem casou em 1174:[8]
Realeza Portuguesa
Casa de Borgonha
Descendência
PortugueseFlag1185.svg
Filhos naturais:
O rei teve dois filhos com Maria Aires de Fornelos, primeira mulher de Gil Vasques de Soverosa, filha de Aires Nunes de Fornelos e de Maior Pais de Bravães e neta de Soeiro Mendes da Maia o Bom. Em abril de 1207, D. Sancho fez doação perpétua da Vila Nova dos Infantes e de Golães para os filhos que tive com Maria com a faculdade de os vender a quem quisessem.[19] Em 1175, Maria com seu esposo Gil Vasques de Soverosa, e seus filhos Martim e Urraca, doou umas casas a seus parentes Marina Pais e Vasco Pires.[20]
Havidos de Maria Pais Ribeira, dita a Ribeirinha, filha de Paio Moniz de Ribeira e de Urraca Nunes de Bragança, filha de Vasco Pires de Bragança.
Havido de Maria Moniz de Ribeira, filha de Monio Osórez de Cabrera, conde de Cabrera e Ribera no Reino de Leão, e de Maria Nunes de Grijó, filha de Nuno Soares de Grijó e de Elvira Gomes:[31]











Programa 03:
DOM AFONSO II - O GORDO :










Afonso II de Portugal

Afonso II
Armoiries Portugal 1180.svg
Rei de Portugal
Governo
Reinado 26 de março de 1211
25 de março de 1223
Coroação 1211, Coimbra
Consorte D. Urraca de Castela
Antecessor D. Sancho I
Herdeiro Sancho II (filho)
Sucessor D. Sancho II
Dinastia Borgonha
Títulos O Gordo
Vida
Nascimento 23 de abril de 1185
Coimbra, Portugal
Morte 25 de março de 1223 (37 anos)
Santarém, Portugal
Sepultamento Mosteiro de Alcobaça, Alcobaça
Filhos D. Sancho II, D. Afonso III, D. Leonor, D. Fernando, D. Vicente, D. João Afonso, D. Pedro Afonso
Pai D. Sancho I
Mãe D. Dulce de Aragão

Afonso II de Portugal (cognominado o Gordo, o Crasso ou o Gafo, em virtude da doença que o teria afectado; Coimbra, 23 de Abril de 1185 - Santarém, 25 de Março de 1223), terceiro rei de Portugal, era filho do rei Sancho I de Portugal e da sua mulher, D. Dulce de Aragão, mais conhecida como Dulce de Aragão, infanta de Aragão. Afonso sucedeu ao seu pai em 1211.

Reinado

Os primeiros anos do seu reinado foram marcados por violentos conflitos internos (1211-1216) entre Afonso II e as suas irmãs Mafalda, Teresa e Santa Sancha de Portugal (a quem seu pai legara em testamento, sob o título de rainhas, a posse de alguns castelos no centro do país - Montemor-o-Velho, Seia e Alenquer -, com as respectivas vilas, termos, alcaidarias e rendimentos), numa tentativa de centralizar o poder régio. Este conflito foi resolvido com intervenção do papa Inocêncio III. O rei indemnizou as infantas com muito dinheiro, a guarnição dos castelos foi confiada a cavaleiros templários, mas era o rei que exercia as funções soberanas sobre as terras e não as infantas como julgavam ter e que levou à guerra.
No seu reinado foram criadas as primeiras leis escritas e pela primeira vez reunidas cortes com representantes do clero e nobreza, em 1211 na cidade de Coimbra, na altura capital. Foram realizadas inquirições em 1220, inquéritos feitos por funcionários régios com vista a determinar a situação jurídica das propriedades e em que se baseavam os privilégios e imunidades dos proprietários. As confirmações validavam as doações e privilégios concedidos nos anteriores reinados, após analisados os documentos comprovativos ou por mercê real. Todo o seu reinado foi um combate constante contra as classes privilegiadas, isto porque seu pai e avô deram grandes privilégios ao clero e nobreza e Afonso II entendia que o poder real devia ser fortalecido.
O reinado de Afonso II caracterizou um novo estilo de governação, contrário à tendência belicista dos seus antecessores. Afonso II não contestou as suas fronteiras com Galiza e Leão, nem procurou a expansão para Sul (não obstante no seu reinado ter sido tomada aos Mouros as cidades de Alcácer do Sal, Borba, Vila Viçosa, Veiros, em 1217, e, possivelmente também Monforte e Moura, mas por iniciativa de um grupo de nobres liderados pelo bispo de Lisboa), preferindo sim consolidar a estrutura económica e social do país. O primeiro conjunto de leis portuguesas é de sua autoria e visam principalmente temas como a propriedade privada, direito civil e cunhagem de moeda. Foram ainda enviadas embaixadas a diversos países europeus, com o objectivo de estabelecer tratados comerciais. Apesar de, como já dissemos, não ter tido preocupações militares, enviou tropas portuguesas que, ao lado de castelhanas, aragonesas e francesas, combateram bravamente na célebre batalha de Navas de Tolosa na defesa da Península Ibérica contra os muçulmanos.
Outras reformas de Afonso II tocaram na relação da coroa Portuguesa com o Papa. Com vista à obtenção do reconhecimento da independência de Portugal, Afonso Henriques, seu avô, foi obrigado a legislar vários privilégios para a Igreja. Anos depois, estas medidas começaram a ser um peso para Portugal, que via a Igreja desenvolver-se como um estado dentro do estado. Com a existência de Portugal firmemente estabelecida, Afonso II procurou minar o poder clerical dentro do país e aplicar parte das receitas das igrejas em propósitos de utilidade nacional. Esta atitude deu origem a um conflito diplomático entre o Papado e Portugal. Depois de ter sido excomungado pelo Papa Honório III, Afonso II prometeu rectificar os seus erros contra a Igreja, mas morreu em 1223 excomungado, sem fazer nenhum esforço sério para mudar a sua política.
Só após a resolução do conflito com a Igreja, logo nos primeiros meses de reinado do seu sucessor Sancho II, pôde finalmente Afonso II descansar em paz no Mosteiro de Alcobaça (foi o primeiro monarca a fazer da abadia cisterciense o panteão real).
Diz-se que D. Afonso II possa ter morrido de lepra (isso poderá ter justificado um dos seus cognomes, o Gafo, bem como uma célebre e depreciativa frase dita por alguns elementos do povo: Fora Gaffo!), mas a enorme gordura que o rei possuía teria sido a sua causa de morte.


Programa 04
DOM SANCHO II - O CAPELO :



Sancho II de Portugal

.
Sancho II
Armoiries Portugal 1180.svg
Rei de Portugal
Governo
Reinado 25 de março de 1223
04 de janeiro de 1248
Coroação 1223, Coimbra
Consorte D. Mécia de Haro
Antecessor D. Afonso II
Herdeiro Afonso III (irmão)
Sucessor D. Afonso III
Dinastia Borgonha
Títulos O Capelo
Vida
Nascimento 8 de setembro de 1209
Coimbra, Portugal
Morte 4 de janeiro de 1248 (38 anos)
Toledo, Castela
Sepultamento Catedral de Toledo, Toledo
Pai D. Afonso II
Mãe D. Urraca de Castela

Sancho II de Portugal (cognominado O Capelo por haver usado um enquanto criança; alternativamente conhecido como O Pio ou O Piedoso), quarto rei de Portugal, nasceu em Coimbra em 8 de setembro de 1209, filho do rei D. Afonso II de Portugal e de D. Urraca de Castela, e faleceu, exilado e sem poder, em Toledo, no Reino de Castela, a 4 de janeiro de 1248.

Vida antes do reinado

Sancho II viria a chefiar um reino que atravessava uma profunda crise económica que já se tinha feito sentir nos tempos do seu avô Sancho I, devido a uma série de factores conjunturais e locais, como as más colheitas e consequente subida de preços e fome, ou a escassez dos frutos de pilhagens e saques a potências inimigas nos últimos anos do seu reinado. Daí que em 1210 tenhamos registo de Sancho I, juntamente com Vasco Mendes, terem recorrido à pilhagem da quintã de um dos seus próprios paisanos, Lourenço Fernandes da Cunha, para enriquecer os cofres reais. Esta acção não parece ter sido isolada, e virá a repetir-se, seguindo o exemplo real.[1]
Neste ano conturbado crê-se ter nascido Sancho II, provavelmente entre os dois últimos meses.[2] O jovem Sancho esteve, pelo menos durante esses primeiros anos do reinado de Afonso, debaixo da tutelagem dos seus vassalos Martim Fernandes de Riba de Vizela e Estevainha Soares da Silva, casal nobre ligado por parentesco aos Sousa e aos de Lanhoso. Martim tinha sido alferes do rei em 1203, posição que manterá até à morte deste, para subir, com Afonso II, ao mordomado, no mesmo ano em que este assume a Coroa.[3] Parece contudo morrer em 1212, deixando Sancho, que não podia ter mais de 2 anos, a cargo de sua mulher Estevainha.[4] Em 1213, através de uma doação feita por Estevainha a um mosteiro, sabemos que o jovem Sancho se encontrava doente.[4] Embora não se saiba ao certo, é provável que Sancho tenha sido criado em Coimbra e na região do Entre Douro e Minho,[5] e que sua ama tenha sido Teresa Martins, filha de Estevainha.[6]
No verão de 1222, Afonso II já não confirma os diplomas por sua mão, uma manifestação inequívoca de incapacidade, e Sancho, o infante herdeiro, estava ainda a um ou dois anos da idade da róbora.[7] Numa perspectiva destas, o futuro do reino português era, a um ano da coroação de Sancho II, incerto, pelo menos o da linha de Afonso II. Façamos referência ainda a Martim e Pedro Sanches. Martim era filho bastardo de Sancho I e meio-mão do Pedro e do rei Afonso II. Pedro era irmão mais novo do rei Afonso II. O primeiro tinha feito uma investida militar contra Braga e Guimarães, desbaratando a hoste real[7] em 1220 e assim dando o exemplo para que, em Junho de 1222, Afonso IX de Leão tomasse o castelo de Santo Estêvão de Chaves, o segundo foi promovido ilimitadamente na corte leonesa aquando da morte do seu irmão Afonso II.
Ambos foram revestidos de tenências de terras muito perto das fronteiras portuguesas, e ambos representaram uma ameaça permanente nesta conjuntura para a sobrevivência independente do então ainda jovem reino português.[8]

Coroação

D. Sancho II é coroado na Primavera de 1223, seu pai D. Afonso II tendo morrido excomungado por Honório III.[9] Começava já com o pé esquerdo, visto que era filho de um casamento que ia contra a lei canónica - Afonso II e Urraca de Castela - e que era menor, não tendo ainda atingido os catorze anos[10] e possivelmente os treze.[11] H. Fernandes argumenta que o facto de nenhum tutor ter sido seleccionado para participar, assinando, dos documentos saídos da chancelaria de Sancho II durante a sua menoridade, e de se observar a ausência de um ritual de passagem como a investidura na cavalaria que marca a entrada de Afonso VIII na posse real do reino de Leão, viriam a ajudar o argumento a favor da sua deposição.[12]
Outra linha de argumento, utilizada por exemplo por Honório III em correspondência com o monarca, leva em consideração a idade tenra e primeira adolescência de Sancho II e realça o papel corruptor dos seus conselheiros régios. Tornar-se-á um dispositivo recorrente nos discursos sobre Sancho produzidos, muito para além dos primeiros anos do seu reinado. Tanto um artifício como o outro visam desculpabilizá-lo, ou simplesmente fazê-lo sobressair como fraco e incapaz de reinar.

Conflitos

Infantas, Tias de Sancho II

Filhas e herdeiras de considerável feudo territorial de Sancho I, seu pai, estas tinham em Teresa, antiga rainha de Leão, um líder incontestado, visto que parecia querer assumir, tal como a sua rival Berenguela, papel nuclear na política do Ocidente peninsular.[13] As raízes do conflito remontam ao primeiro testamento de Sancho I, redigido em 1188, que disponibilizava os castelos de Alenquer, Montemor, Viseu, Guimarães e Santa Maria para a sua mulher D. Dulce e para as suas filhas e deixava à sua filha maior D. Teresa o castelo de Montemor e Cabanões, e à mais nova, Sancha, Bouças, Vila do Conde e Fão.[14] Há um detalhe que se revela logo de início capaz de semear a discórdia: a concessão hereditária feita a Teresa, de 12 anos, e Sancha, de 8.
Parece residir aqui um dos pomos fomentadores da discórdia entre o herdeiro Afonso e suas irmãs, na medida em que colocava nas mãos de Teresa e de Sancha um feudo territorial de consideráveis dimensões, correspondendo aos territórios dos Castelos.[14] No seu segundo e último testamento, Sancho reforça estas dotações prévias, Teresa ficando na posse de Montemor e Esqueira, Sancha de Alenquer, Mafalda dos mosteiros de Bouças e de Arouca e da herdade de Seia que havia sido de sua mãe.[15]
Logo nos primeiros meses do seu precoce reinado, em 1223, o jovem Sancho assina acordo com as tias para resolver esta querela, dando-lhes tudo aquilo que Afonso II não lhes quisera reconhecer, sobretudo os castelos, conseguindo também a inclusão de Branca, não contemplada no testamento de Sancho I, com bens imóveis, e agora transformada em herdeira de Teresa na parcela de Montemor e Esgueira.[16] Vão somar ainda à posse dos castelos às infantas Teresa e Sancha a muito elevada quantia de 4000 morabitinos anuais, a pagar sobre os direitos de Torres Vedras que entre si devem dividir.
Ficam assim com a totalidade das rendas de outro dos centros urbanos mais significativos da Estremadura, contribuindo para cimentar a sua influência numa área onde a penetração senhorial era reduzida e que tradicionalmente fazia parte do domínio directo do rei.[14] Crê-se que tanto este acordo como o celebrado pouco tempo depois com o Arcebispo de Braga Estêvão Soares já tivessem sido planeados nos tempos finais de Afonso II, mas que, talvez devido à doença destruidora deste, se tinham posto de parte, aguardando sua morte.
Sancho II terá possivelmente planeado uma ofensiva com o objectivo de retomar estes castelos em 1231.[17]

Com a Igreja

D. Martinho Rodrigues, Bispo do Porto

D. Sancho I teve dissenções com o Bispo do Porto por ter intervindo nas graves fracturas que afectavam a relação do bispo com os seus cónegos e com a elite da cidade.[18] Assim é então que na Primavera de 1210 o Papa Inocêncio III troca correspondência com D. Martinho Rodrigues, tratando as graves opressões e enormes injúrias[19] perpretradas sobre ele e os seus homens bem como alguns cónegos que lhe tinham permanecido fiéis. A razão destes desacordos aparenta ter sido o facto de Rodrigues não ter aceitado a proposta de Sancho de promover a entrada solene e processional na cidade em benefício[20] de seu filho Afonso, porque o casamento deste com Urraca era ilícito face à lei canónica, que nesta altura ainda restringia os casamentos até ao sétimo grau de parentesco.
A reacção de D Sancho I fora uma de violência formal ritualizada, nas palavras de Hermenegildo Fernandes, visto que foram destruídas as casas dos cónegos fiéis ao bispo, forçadas as fechaduras das portas da Igreja, invadido o espaço sagrado por indivíduos excomungados, sepultos os corpos mortos em interdito.[20] Como se isso não bastasse, D. Martinho Rodrigues foi ainda enclausurado com o seu deão no paço episcopal durante cinco meses, de onde sairá, numa fuga nocturna com destino a Roma, evitando assim a composição que D. Sancho II o queria compelir a subscrever, mas pondo em risco os seus bens, confiscados pelo porteiro régio para seu uso pessoal e do rei.[20] Aqui encontramos a génese dos problemas que Sancho II virá a ter com Rodrigues.
Nos anos de 26, 27 e 28 a hostilidade entre rei e bispo agudiza-se, visto que falhara a hipótese de expansão para o interior (Elvas) e o rei voltava-se para os centros urbanos e portuários do litoral. Para além de Braga, o Porto, por concessão de D. Teresa, trisavó de Sancho II, era o único centro ubano com alguma relevância no reino que não tinha o rei por senhor. Enquanto se manteve, esta situação provocou um prolongado conflito entre os cidadãos e o seu bispo.[21]
O que estava em causa era a jurisdição do Porto e algumas das rendas e direitos do bispo na sua diocese. Ao ignorar a doação feita pela sua trisavó, Sancho II procurava apropriar-se de um senhorio e aumentar o domínio real, ampliando a massa colectável.[22] Em jogo estava também o controle dos benefícios eclesiásticos e o incumprimento da doação das dízimas por D. Afonso II às Igrejas do Reino.
Acusações parecidas podem ser verificadas no caso de Lisboa, quando paróquias vagavam por morte do prior o rei entregava-as a laicos inúteis, estranhos e desconhecidos que não querem receber ordens do presbítero e que nesse sentido ficam aquém das imposições canónicas.
Segundo H. Fernandes o sistema clientelar estava em causa, estando o direito de apresentar os clérigos no centro das práticas de distribuição de benesses em que este se apoiava, neste caso vendo-se a pressão do rei não como incidindo directamente sobre os rendimentos das igrejas mas sobre o direito de dispor deles a favor dos seus homens em detrimento do bispo. Em 1233 há novas queixas.[23]

D. Estêvão Soares da Silva (Irmão de Estevainha), Arcebispo de Braga

Estêvão Soares da Silva era um dos mais poderosos metropolitas da Hispânia Ocidental,[9] o mais importante dos bispos portugueses.[13] Os conflitos da Coroa com este clérigo remontam ao ano de 1219, ainda durante o reinado de Afonso II.[24] Em Agosto de 1220 Afonso promove no território do arcebispado a primeira de numerosas inquirições que o século de 1200 verá, atingindo o arcebispo assim no coração da sua área de influência.[25] Este processo visava robustecer os direitos reais, principalmente no Norte arqui-episcopal, segmento do reino que Afonso pior controla e que há quase dois séculos era palco de um processo senhorializador,[25] usufruindo de benefícios como isenções fiscais.
Assiste-se então a uma violenta disputa, que envolve a destruição dos bens do arcebispo perpetrada pels cavaleiros de Coimbra e de Guimarães, vassalos do rei e que forçará Estêvão Soares ao exílio, lançando o rei na excomunhão e o reino em interdito.[25] O Papa Honório III pede ajuda ao rei de Leão, Afonso IX, tendo já enviado uma série de missivas a prelados desse reino e do de Castela, para conseguir apoio em favor de Estêvão Soares. Nota-se, nas palavras de H. Fernandes, que a lisonja utilizada em referência ao monarca Leonês serve evidentes desígnios políticos papais, deixando a pairar a legitimidade ou pelo menos a promessa de um silêncio cúmplice por parte do pontífice, no caso de uma intervenção leonesa em território português.[26] Ameaça ainda Afonso II de invalidar o seu reino, tornando-o assim vulnerável a conquistas por outros reis católicos.[27]
De facto, com o acordo assinado em mês incerto de 1223, Sancho fizera a paz com Estêvão Soares, tanto mais que este não defende o Bispo do Porto na sua contenda com o mesmo, e deixa ainda, em testemunho em 1228, 1000 morabitinos ao rei, que este ainda lhe devia dos 6000 que se obrigara a pagar no acordo de cinco anos anterior.[28]

D. Soeiro Viegas, Bispo de Lisboa

Um dos principais responsáveis pelo cerco de Alcácer, D. Soeiro já tinha contenda com Afonso II. As razões, segundo os diplomas papais, são a apropriação do direito de padroado, o que lhe permitira colocar nos benefícios eclesiásticos indivíduos da sua clientela; proibição do bispo construir mosteiros, igrejas e capelas, provavelmente para impedir a proliferação de instituições que escapassem a esse mesmo direito padroado régio; desprezo pela autoridade da Igreja para ministrar sacramentos, ignorando as excomunhões já lançadas e intervindo junto dos habitantes de Santarém, a outra grande cidade do bispado, para que não se fizessem absolver; violação das imunidades eclesiásticas, obrigando os clérigos a pagar direitos - vacas, porcos, carneiros - ignorando o foro judicial e eclesiástico, coagindo-os ao serviço militar, de hoste, aos encargos de manutenção das torres, muralhas e guarda delas, assaltando-lhes enfim as casas, sob o pretexto de procurar aí mulheres, barregãs, costume interdito pela ordenação régia; por último acusando o rei de ignorar ostensivamente as determinaçãos do IV Concílio de Latrão que segregava social e físicamente os judeus, minoria que o monarca, Afonso II e, na sua esteira, Sancho II, continuava a privilegiar, protegendo-os da prática do uso dos sinais distintivos e do interdito de os cristãos comerciarem com eles, perguindo por isso o bispo a quem negava a dízima e preferindo os judeus aos cristãos nos ofícios régios. Infamante entre todas, a utilização dos serviços de judeus e mouros como autores materiais dos ataques contra a Igreja.[29] Segundo H. Fernandes estas queixas são quase padronizadas: como o próprio papa reconhece, a situação sendo similar à que opusera poucos anos antes o arcebispo de Braga Estêvão Soares a Afonso II.
Dois anos antes, em Março de 1222, Honório II entendera por bem escrever aos priores dos dominicanos, franciscanos e da Ordem de Santiago na diocese de Lisboa, dando-lhes plenos poderes para que usassem da sua discrição e entendimento para pôr cobro aos abusos do bispo olisiponense Soeiro Viegas.[30] As acusações às quais o papa dera inteiro crédito eram referentes ao bispo e os prelados das igrejas incorrerem em práticas de extorsão, recusando ministrar os sacramentos a quem não lhes deixasse em testamento a terça ou uma determinada parte dos seus bens.[31] Talvez houvesse portanto um conflito aberto entre a oligarquia urbana e o bispo que tenha permitido ou pelo menos potenciado os ataques que este tinha vindo a sofrer por parte do rei. O prolongamento deste conflito resultará no lançar do Interdito sobre o reino português no ano de 1231 por um grupo de juízes da Sé apostólica.[32]

Reconquista

Contrariamente ao que durante muito tempo a historiografia tradicional portuguesa se esforçou por indicar, Sancho II não era um capaz chefe militar, e tampouco participou de forma activa das conquistas que se deram ao longo do Guadiana a partir do ano de 1230. O castelo de Elvas aparenta ter sido tomado "pela graça do salvador",[33] portanto sem a intervenção de Sancho, ocupado quase que por sorte, sem confronto militar. Este padrão repetir-se-á, por exemplo, com Beja.
De certa forma, a reconquista é impulsionada pelo Papa Gregório IX, que, em 1232, concede a Sancho que não pode ser excomungado sem mandado especial da Santa Sé, desde que persista na guerra contra os sarracenos, e que portanto nenhum dos seus bispos o possa excluir da comunidade cristã.[34] Estas absolvições continuaram, vendo-se em Junho de 1233 uma por violências cometidas por Sancho sobre clérigos "com a sua mão e com um bastão".[35]
Embora várias cidades no Algarve e no Alentejo tenham sido conquistadas durante o reinado de Sancho II, este trabalho é protagonizado quase exclusivamente pelas Ordens Militares, como a Ordem de Santiago, que recebeu como pagamento dos serviços prestados diversas povoações, tais como Aljustrel, Sesimbra, Aljafar de Pena, Mértola, Aiamonte e Tavira, facto que porá Sancho cada vez mais dependente delas.[36] Concentra-se em utilizá-las também para povoar as regiões desertas, outra missão pontifícia, doando-lhes terras e castelos à medida que vão conquistando. Foram emitidas, em 1234 e 1241, bulas papais de Cruzada para o reino de Portugal. Em 1241, Sancho casa com Mécia Lopes de Haro.

Excomunhão

A 16 de agosto de 1234, D. Sancho II é excomungado pelo mesmo comité de juízes pontifícios que lançara o Interdito em 1231, reunido em Ciudad Rodrigo. Era a consequência natural da Bula Si quam horribile do ano anterior.[37] O eterno e cada vez mais omnipotente chanceler de D Sancho, Mestre Vicente, é enviado em missão à Cúria Pontifícia, conseguindo assim minorar os efeitos da excomunhão sobre a autoridade de D. Sancho II, prolongando assim o seu reinado.

Guerra Civil, Deposição e Morte

O isolamento político de Sancho II começa provavelmente em 1232, estando o reino com conturbações internas; Afonso de Castela entra nesse ano pelo Norte do reino em defesa de Sancho II. Resigna também em Roma o bispo de Coimbra, Pedro, aliado de Sancho.
D. Afonso, irmão mais novo de Sancho, denuncia em 1245 o casamento de Sancho com Mécia. Nesse mesmo ano a Bula Inter alia desiderabilia prepara a deposição de facto do monarca. O papado, através de duas Breves, aconselha Afonso, Conde de Bolonha, a partir para a Terra Santa em Cruzada e também que passe a estar na Hispânia, fazendo aí guerra ao Islão. A 24 de julho, a Bula Grandi non immerito depõe oficialmente Sancho II do governo do reino, e Afonso torna-se regente. Os fidalgos levantam-se contra Sancho, e Afonso cede a todas as pretensões do clero no Juramento de Paris, uma assembleia de prelados e nobres portugueses, jurando que guardaria todos os privilégios, foros e costumes dos municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino[38] . Abdicou imediatamente das suas terras francesas e marchou sobre Portugal, chegando a Lisboa nos últimos dias do ano.


Martim de Freitas, alcaide de Coimbra, faz abrir o túmulo de Sancho II para verificar a sua morte.
Em 1246, Afonso segura Santarém, Alenquer, Torres Novas, Tomar, Alcobaça e Leiria; Sancho II fortifica-se em Coimbra. A Covilhã e a Guarda ficam nas mãos de Afonso. Sancho II procura a intervenção castelhana na guerra civil, depois da conquista de Jaén. Assim, o infante Afonso de Castela entra em Portugal por Riba-Côa a 20 de dezembro, tomando a Covilhã e a Guarda e devastando o termo de Leiria, derrotando a 13 de janeiro de 1247 o exército do Conde de Bolonha. Apesar de não ter perdido nenhuma das batalhas contra o irmão do Rei de Portugal, Afonso de Castela decide abandonar a empresa, levando consigo para Castela El-Rei D. Sancho II, visto que a pressão da Santa Sé aumentava. Embora no Minho continuem partidários de Sancho II e fiquem no terreno as guarnições castelhanas no castelo de Arnoia (seu grande apoiante e anticlerical), o caso encontra-se perdido. D. Sancho II redige o seu segundo e último testamento enquanto exilado em Toledo a 3 de Janeiro de 1248, e morre a 4 desse mesmo mês. Julga-se que os seus restos mortais repousem na catedral de Toledo.
Afonso III declara-se Rei de Portugal em 1248, já após a morte do seu irmão mais velho, Sancho.

Conclusões

Na medida em que os conflitos com o clero ocorriam a uma escala maior que a do reino português, eles demonstram uma linha de oposição entre um modelo de sociedade teocrática, tal como o papado desde Gregório VII o vinha propondo e um outro, menos definido, mas que tem o poder dos príncipes como centro e que a recuperação do legado romano virá contribuir para unificar em torno de bases ideológicas mais sólidas.[39] Conflitos entre o rei e os bispos, destes com os seus cabidos, intervenções papais: tudo parece convergir num ponto onde os interesses casuísticos dos grupos se encontram com processos de longa duração que afectam a própria organização social urbana.[40] Mencione-se ainda que as sequelas destas conturbações prolongar-se-ão durante o tempo em que outros estão nos cargos de Bispo acima mencionados.
Os vestígios escritos da chancelaria de Sancho II oferecem um grande número de lacunas por vezes extensas, por exemplo de 1229 a 1235, o que H. Fernandes julga ser fruto de uma provável destruição desta documentação pelo irmão e futuro rei Afonso III.[41] Até ao ano de 1236, o Mestre Vicente é chanceler do rei, maestro da política régia,[28] detendo assim um cargo importante. De 1236 em diante, Sancho II traz frequentemente os seus físicos na Corte,[42] sinal de que provavelmente já se encontrava doente. As pilhagens a partir de 1236 são protagonizadas por bandos de fidalgos com os seus homens.[43]
José Mattoso, no seu artigo sobre a "Crise de 1245", fala numa crescente agitação social, dando para esta a justificação de um crescimento demográfico desequilibrado em relação à expansão territorial. Fala-se também num desequilíbrio conjuntural que impulsiona também o banditismo generalizado, praticado por marginais e não só, havendo também acesas lutas entre nobres e o clero.
Longe de aparecer como um rei fraco ou rex inutilis, em diversas alturas do seu reinado, Sancho II mostrou ter um braço de ferro para tomar posições difíceis, como retaliações sobre os não-cooperantes, a ofensiva sobre os bens e benefícios eclesiásticos, o teste constante da fidelidade que havia ao monarca, entre outros exemplos, seguindo assim um pouco a veia do seu pai falcão.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Sancho II de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1139-1247).png Brasão de armas do Reino de Portugal (1139-1248)
Estilo real Sua Mercê
Tratamento directo Vossa Mercê
Estilo alternativo Senhor

Títulos e estilos

  • 8 de Setembro de 1209 – 25 de Março de 1223: O Infante Sancho de Portugal
  • 25 de Março de 1223 – 4 de Janeiro de 1248: Sua Mercê, El-Rei de Portugal
O estilo oficial de D. Sancho II enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Sancho II, Rei de Portugal
 

Programa 05
DOM AFONSO III - O BOLONHÊS





Afonso III de Portugal


Afonso III
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Rei de Portugal
Governo
Reinado04 de janeiro de 1248 —
16 de fevereiro de 1279
ConsorteD. Matilde II de Bolonha,
D. Beatriz de Castela
AntecessorD. Sancho II
HerdeiroDinis I (filho)
SucessorD. Dinis I
DinastiaBorgonha
TítulosO Bolonhês
Vida
Nascimento5 de maio de 1210
CoimbraPortugal
Morte16 de fevereiro de 1279 (68 anos)
LisboaPortugal
SepultamentoMosteiro de AlcobaçaAlcobaça
FilhosVer descendência
PaiD. Afonso II
MãeD. Urraca de Castela
Afonso III de Portugal (Coimbra5 de maio de 1210 – id., 16 de fevereiro de 1279), cognominado O Bolonhês por ter sido casado com a condessa Matilde II de Bolonha, foi o quinto Rei de Portugal. Afonso III era o segundo filho do rei Afonso II e da sua mulher Urraca de Castela, e sucedeu ao seu irmão Sancho II em 1248.

Guerra civil e deposição de D. Sancho II

Como segundo filho, Afonso não deveria herdar o trono destinado a Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Matilde II de Bolonha em 1235, tornando-se assim conde jure uxoris de Bolonha, onde servia como um dirigente militar, combatendo em nome do Rei Luís IX, rei de França seu primo.
Todavia, em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV nesse mesmo ano despacha a Bula Inter alia desiderabilia que prepara a deposição de facto do monarca.

D. Afonso III, Rei de Portugal
O papado, através de duas Breves, ainda aconselha Afonso, Conde de Bolonha, a partir para a Terra Santa em Cruzada e também que passe a estar na Hispânia, fazendo aí guerra ao Islão. Mas a 24 de julho, a Bula Grandi non immerito depõe oficialmente Sancho II do governo do reino, e Afonso torna-se regente.
Os fidalgos levantam-se contra Sancho, e Afonso cede a todas as pretensões do clero no "Juramento de Paris", uma assembleia de prelados e nobres portugueses, jurando que guardaria todos os privilégios, foros e costumes dos municípios, cavaleiros, peões, religiosos e clérigos seculares do reino[1] . Abdicou imediatamente das suas terras francesas e marchou sobre Portugal, chegando a Lisboa nos últimos dias do ano, onde se fez coroar rei em 1248 após o exílio e morte de Sancho II em Toledo.
Até à morte de D. Sancho e a sua consequente coroação, D. Afonso apenas usou os títulos de VisitadorCurador e Defensor do Reino.
Para aceder ao trono, Afonso abdicou de Bolonha e repudiou Matilde para casar com Beatriz de Castela. Decidido a não cometer os mesmos erros do irmão, o novo rei prestou especial atenção à classe média de mercadores e pequenos proprietários, ouvindo suas queixas. Por este procedimento, Afonso III ficou conhecido também como o pai do "Estado Português", distribuindo alcaides pelos castelos e juízes pelas diferentes vilas e terras. O objectivo era a implantação de um poder legal com o qual todos os habitantes do Reino português mantivessem uma relação de igualdade.
Em 1254, na cidade de Leiria convocou a primeira reunião das Cortes, a assembleia geral do reino, com representantes de todos os espectros da sociedade. Afonso preparou legislação que restringia a possibilidade das classes altas cometerem abusos sobre a população menos favorecida e concedeu inúmeros privilégios à Igreja. Recordado como excelente administrador, Afonso III organizou a administração pública, fundou várias vilas e concedeu o privilégio de cidade através do édito de várias cartas de foral.
Em 1255, transferiu a capital do Reino de Portugal de Coimbra para Lisboa.
Foram por sua ordem feitas as Inquirições Gerais, iniciadas em 1258, como forma do rei controlar, não só o grande poder da Nobreza, mas também para saber se lhe estavam a ser usurpados bens que, por direito, pertenciam à Coroa.

Reconquista


Moedas cunhadas com a éfige do Rei Afonso III de Portugal.
Com o trono seguro e a situação interna pacificada, Afonso voltou sua atenção para os propósitos da Reconquista do Sul daPenínsula Ibérica às comunidades muçulmanas. Durante o seu reinado, Faro foi tomada com sucesso em 1249 e o Algarveincorporado no reino de Portugal.
Após esta campanha de sucesso, Afonso teve de enfrentar um conflito diplomático com Castela, que considerava que o Algarve lhe pertencia. Seguiu-se um período de guerra entre os dois países, até que, em 1267, foi assinado um tratado emBadajoz que determina a fronteira no Guadiana desde a confluência do Caia até à foz, a fronteira luso-castelhana.

Segundas núpcias

Em 1253, o rei desposou D. Beatriz, popularmente conhecida por D. Brites, filha de D. Afonso X de CastelaO Sábio. Desde logo isto constituiu polémica pois D. Afonso era já casado com Matilde II de Bolonha.
Papa Alexandre IV respondeu a uma queixa de D. Matilde, ordenando ao rei D. Afonso que abandone D. Beatriz em respeito ao seu matrimónio com D. Matilde. O rei não obedeceu, mas procurou ganhar tempo neste assunto delicado, e o problema ficou resolvido com a morte de D. Matilde em 1258. O infanteD. Dinis, nascido durante a situação irregular dos pais, foi então legitimado em 1263.
O casamento funcionou como uma aliança que pôs termo à luta entre Portugal e Castela pelo Reino do Algarve. Também resultou em mais riqueza para Portugal quando D. Beatriz, já após a morte do rei, recebe do seu pai, Afonso X, uma bela região a Este do Rio Guadiana, onde se incluíam as vilas de MouraSerpaNoudarMourão e Niebla. Tamanha dádiva deveu-se ao apoio que D. Brites lhe prestou durante o seu exílio na cidade de Sevilha.

Excomunhão do rei e do reino

No final da sua vida, viu-se envolvido em conflitos com a Igreja, tendo sido excomungado em1268 pelo arcebispo de Braga e pelos bispos de Coimbra e Porto, para além do próprioPapa Clemente IV, à semelhança dos reis que o precederam. O clero havia aprovado um libelo contendo quarenta e três queixas contra o monarca, entre as quais se achavam o impedimento aos bispos de cobrarem os dízimos, utilização dos fundos destinados à construção dos templos, obrigação dos clérigos a trabalhar nas obras das muralhas das vilas, prisão e execução de clérigos sem autorização dos bispos, ameaças de morte ao arcebispo e aos bispos e, ainda, a nomeação de judeus para cargos de grande importância. A agravar ainda mais as coisas, este rei favoreceu monetariamente ordens religiosas mendicantes, como franciscanos e dominicanos, sendo acusado pelo clero de apoiar espiritualidades estrangeiradas. O grande conflito com o clero também se deve ao facto do rei ter legislado no sentido de equilibrar o poder municipal em prejuízo do poder do clero e da nobreza.
O rei, que era muito querido pelos portugueses por decisões como a da abolição da anúduva (imposto do trabalho braçal gratuito, que obrigava as gentes a trabalhar na construção e reparação de castelos e palácios, muros, fossos e outras obras militares), recebeu apoio das cortes de Santarém em Janeiro de 1274, onde foi nomeada uma comissão para fazer um inquérito às acusações que os bispos faziam ao rei. A comissão, composta maioritariamente por adeptos do rei, absolveu-o. O Papa Gregório X, porém, não aceitou a resolução tomada nas cortes de Santarém e mandou que se excomungasse o rei e fosse lançado interdito sobre o reino em 1277.
À sua morte, em 1279, D. Afonso III jurou obediência à Igreja e a restituição de tudo o que lhe tinha tirado. Face a esta atitude do rei, o abade de Alcobaça levantou-lhe a excomunhão e o rei foi sepultado no Mosteiro de Alcobaça.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Afonso III de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1248-1385)
Estilo realSua Mercê
Tratamento directoVossa Mercê
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Afonso III enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal e Conde de Bolonha
Em 1253, por suspeitar da sua esterilidade, D. Afonso repudia a esposa, D. Matilde, e abandona o título de Conde de Bolonha:
Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal
Após a conquista definitiva do Algarve e a disputa quanto ao domínio algarvio com Castela, o Tratado de Badajozreconhece a D. Afonso III o senhorio do Algarve, evoluindo a sua titulatura régia para:
Pela Graça de Deus, Afonso III, Rei de Portugal e do Algarve

Genealogia

Descendência

Realeza Portuguesa
Casa de Borgonha
Descendência
PortugueseFlag1185.svg



Programa 06
DOM DINIS - O LAVRADOR :





Dinis I de Portugal



Dinis I
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Rei de Portugal
D. Dinis - Compendio de crónicas de reyes (Biblioteca Nacional de España).png
D. Dinis no Compendio de crónicas de reyes
(c. 1312-1325)
Governo
Reinado16 de fevereiro de 1279 —
07 de janeiro de 1325
Coroação1279
ConsorteSanta Isabel de Aragão
AntecessorD. Afonso III
HerdeiroAfonso IV (filho)
SucessorD. Afonso IV
DinastiaBorgonha
Títuloso Lavradoro Rei-Agricultoro Rei-Poetao Rei-Trovador
Vida
Nascimento9 de outubro de 1261
LisboaPortugal
Morte7 de janeiro de 1325 (63 anos)
SantarémPortugal
SepultamentoMosteiro de Odivelas,Odivelas
FilhosVer descendência
PaiD. Afonso III
MãeD. Beatriz de Castela
Dinis I de Portugal[1] (Lisboa [?], 9 de outubro 1261 — Santarém7 de janeiro de 1325) foi o sexto rei na Lista de reis de Portugal, com o cognome "O Lavrador" pelo grande impulso que deu à agricultura e ampliação do pinhal de Leiria ouo Rei-Poeta devido à sua obra literária.
Filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela , foi aclamado em Lisboa em 1279, tendo subido ao trono com 17 anos. Em 1282 desposou Isabel de Aragão, que ficaria conhecida como Rainha Santa. Ao longo de 46 anos a governar os Reinos Portugal e dos Algarves foi um dos principais responsáveis pela criação da identidade nacional e o alvor da consciência de Portugal enquanto estado-nação: em 1297, após a conclusão da Reconquista pelo seu pai, definiu asfronteiras de Portugal no Tratado de Alcanizes, prosseguiu relevantes reformas judiciais, instituiu a língua Portuguesacomo língua oficial da corte, criou a primeira Universidade portuguesa, libertou as Ordens Militares no território nacional de influências estrangeiras e prosseguiu um sistemático acréscimo do centralismo régio. A sua política centralizadora foi articulada com importantes acções de fomento económico - como a criação de inúmeros concelhos e feiras. D. Dinis ordenou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro e organizou a exportação da produção excedente para outros países europeus. Em 1308 assinou o primeiro acordo comercial português com a Inglaterra. Em 1312 fundou amarinha Portuguesa, nomeando 1º Almirante de Portugal, o genovês Manuel Pessanha, e ordenando a construção de várias docas.
Foi grande amante das artes e letras. Tendo sido um famoso trovador, cultivou as Cantigas de Amigo, de Amor e a sátira, contribuindo para o desenvolvimento da poesia trovadoresca na península Ibérica. Pensa-se ter sido o primeiro monarca português verdadeiramente alfabetizado, tendo assinado sempre com o nome completo.[2] Culto e curioso das letras e das ciências, terá impulsionado a tradução de muitas obras para português, entre as quais se contam os tratados de seu avô Afonso X, o Sábio. Foi o responsável pela criação da primeira Universidade portuguesa, inicialmente instalada na zona do actual Largo do Carmo, em Lisboa e por si transferida, pela primeira vez, paraCoimbra, em 1308. Esta universidade, que foi transferida várias vezes entre as duas cidades, ficou definitivamente instalada em Coimbra em 1537, por ordem de D. João III.
Entre 1320 e 1324 houve uma guerra civil que opôs o rei ao futuro Afonso IV. Este julgava que o pai pretendia dar o trono a Afonso Sanches. Nesta guerra, o rei contou com pouco apoio popular, pois nos últimos anos de reinado deu grandes privilégios aos nobres. O infante contou com o apoio dos concelhos. Apesar dos motivos da revolta, esta guerra foi no fundo um conflito entre grandes e pequenos. Após a sua morte, em 1325 foi sucedido pelo seu filho legítimo,Afonso IV de Portugal, apesar da oposição do seu favorito, o filho natural Afonso Sanches.

Administração

Como herdeiro da coroa, D. Dinis desde cedo foi envolvido nos aspectos de governação pelo seu pai. À data da sua subida ao trono, o país encontrava-se em conflito com a Igreja Católica. D. Dinis procurou normalizar a situação assinando um tratado com o papa Nicolau IV, onde jurava proteger os interesses de Roma em Portugal. Após a extinção da Ordem dos Templários conseguiu transferir o património dela no país para a Ordem de Cristo, criada para o efeito, e apoiou os cavaleiros portugueses da Ordem de Santiago na sua disputa para se separarem do seu mestre castelhano.

Cruz da Ordem de Cristo, símbolo que adornou, entre outras, as caravelas portuguesas durante os Descobrimentos.
D. Dinis foi essencialmente um rei administrador e não guerreiro: envolvendo-se em guerra com o Reino de Castela em 1295, desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de Alcanizes (1297) firmou a paz com Castela, definindo-se nesse tratado as fronteiras actuais entre os dois países ibéricos. Por este tratado previa-se também uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas.
A sua prioridade governativa foi essencialmente a organização do reino: continuando a vertente legisladora de seu pai D. Afonso III, a profusa acção legislativa está contida, hoje, no Livro da Leis e Posturas e nas Ordenações Afonsinas. Não são "códigos" legislativos tal como os entendemos hoje, mas sim compilações de leis e do direito consuetudinário municipal, alteradas e reformuladas pela Coroa.

O diploma do Tratado de Alcanizes, mantido no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que definiu os limites fronteiriços entre Portugal e Castela.
Com efeito, a incidência de questões de carácter processual com igual peso ao carácter de direito positivo das suas leis, denuncia a crescente preocupação do rei em enquadrar o direito consuetudinário (ou costumeiro) no âmbito da Coroa, e em efectivar o seu poder no terreno. As determinações sobre a actuação de alvazis (oficiais concelhios), juízes, procuratores e advocatidemonstram isto, já que um poder meramente nominal sobre todos os habitantes do Reino, como era típico na Idade Média, não se compatibiliza com este esforço em esmiuçar os trâmites jurídicos, ou em moralizar o exercício da justiça. A criação de corregedores denuncia claramente o início do processo de territorialização da jurisdição da Coroa, extravasando os domínio régios, a par da crescente importância da capitalidade de Lisboa.
O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da corte régia. Não existe uma capital, mas a localização de Lisboa, o seu desenvolvimento urbano, económico e mercantil vão fazendo da cidade o local mais viável para se afirmar como centro administrativo por excelência.
A articulação entre o norte e o sul do país - este sul que se torna alvo da maior atenção e permanência dos reis - fazem de Lisboa centro giratório para tornar Portugal viável. Entre o norte, onde a malha senhorial é mais densa e apertada, e o sul, onde o espaço vasto conquistado aos muçulmanos implanta sobretudo os domínios régios e as ordens militares, assim como vastos espaços de res nullius e torna Portugal um reino onde duas realidades diferentes se complementam.
Preocupado com as infra-estruturas do país, D. Dinis ordenou a exploração de minas de cobreprataestanho e ferro. Fomentou as trocas com outros reinos, assinou o primeiro tratado comercial com o rei de Inglaterra em 1308 e criou o almirantado, atribuído como privilégio ao genovês Manuel Pessanha, fundando uma verdadeira marinha portuguesa ao serviço da Coroa e do Reino.
D. Dinis redistribuiu terras, promoveu a agricultura e fundou várias comunidades rurais, assim como mercados e feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias povoações diversos privilégios e isenções. A razão de um dos seus cognomes ser O Lavrador foi o facto de ter zelado pela conservação do Pinhal de Leiria, criado pelo seu pai, que ainda se mantém, de forma a proteger as terras agrícolas do avanço das areias costeiras.[3]

Cultura

A cultura foi um dos seus interesses pessoais[4] . D. Dinis não só apreciava literatura, como foi ele próprio um poeta notabilíssimo e um dos maiores e mais fecundostrovadores do seu tempo. Aos nossos dias chegaram 137 cantigas da sua autoria, distribuídas por todos os géneros (73 cantigas de amor, 51 cantigas de Amigo e 10cantigas de escárnio e maldizer), bem como a música original de 7 dessas cantigas (descobertas casualmente em 1990 pelo Prof. Harvey L. Sharrer, no Arquivo da Torre do Tombo, num pergaminho que servia de capa a um livro de registos notariais do século XVI, e que ficou conhecido como Pergaminho Sharrer)[5]
Durante o seu reinado, Lisboa foi, pois, um dos centros europeus de cultura. A primeira Universidade em Portugal, então Estudo Geral, foi fundada pelo seu documentoScientiae thesaurus mirabilis, em 1290, em Lisboa. Aí se ensinava as Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina. Esta universidade foi transferida entre Lisboa e Coimbra várias vezes, estando instalada definitivamente em Coimbra desde 1537. Mandou traduzir importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da Península Ibérica.
Diz a lenda de uma aldeia do concelho de SeiaLapa dos Dinheiros, que D. Dinis terá por lá passado e, depois de ter jantado e pernoitado no lugar, deu-lhe o seu nome actual.

Personalidade


D. Dinis e a Rainha Santa Isabel, em retrato na Universidade de Coimbra.
Nunca esquecendo o hiato de largos séculos que nos separa de D. Dinis, é possível traçar um esboço de linhas mestras da personalidade deste rei português. Era determinado, ou mesmo obstinado, nos seus intentos, do que são exemplo a"cadência de inquirições verdadeiramente demolidora" [6] e demais políticas de centralização régia que instituiu de forma sistemática.
Revelou-se desde cedo um grande estratega, sendo precursor de uma política governativa e legislativa não apenas reactiva, mas antes de cunho pro-activo. Beneficiando de uma análise a posteriori, percebe-se que as decisões não iam sendo tomadas ao acaso, antes se articulando na senda de um ideal de país e nação que o Rei almejava. À laia de exemplo, indique-se a concomitante criação de concelhos e feiras, as políticas de fortificação das fronteiras ou a crescente dependência das ordens militares do poder régio.
Por tudo isto, D. Dinis foi reconhecido como um homem sagaz e de elevada capacidade governativa, tanto por contemporâneos como por historiadores posteriores.[7] [8] [9]
Não carecia D. Dinis do que hoje apelidamos de habilidade política. Sendo hábil no trato e entendedor dos Homens, D. Dinis soube ir "atacando e apaziguando, alternadamente, os interesses senhoriais laicos e eclesiásticos: desamortizou os bens do clero, mas aceitou a concordata e restringiu os direitos de comedoria nos mosteiros; inquiriu os bens senhoriais, mas as leis de desamortização travam a erosão dos patrimónios senhoriais.[10] " A administração das propriedades régias tornou-se mais eficiente e D. Dinis ficou conhecido como um Rei rico; disso encontramos eco na Divina Comédia de Dante Alighieri.
Não obstante, D. Dinis é mormente celebrado em todos os registos cronísticos contemporâneos e posteriores como um Rei justo. Sabendo-se que a maior parte do trabalho legislativo do seu reinado se focou em questões de justiça processual, não será de menor relevo o facto de grande parte dessa nova legislação ir no sentido de evitar excessivas delongas e custas judiciais e impedir abusos de advogados e procuradores.[8] [9] [10] [11] [12]
Dele pode-se ainda dizer que a determinação que tantas conquistas políticas lhe granjeou podia, por vezes, degenerar em teimosia e prepotência. Descrito por vezes como cruel, principalmente nas relações familiares: na forma como tratava o filho herdeiro D. Afonso (nunca o seu favorito) e a esposa, D. Isabel, entregando-lhe os frutos dos seus adultérios para que os criasse.[13]
Figura incontornável da Península Ibérica de fim de Duzentos e início de Trezentos, D. Dinis foi cognominado Pai-da-Pátria por Duarte Nunes de Leão.

Compleição física


Imperador Frederico, o Barba Ruiva, antepassado de D. Dinis
Pouco ou nada se sabia do físico do Rei D. Dinis. As fontes da época assim como autores posteriores falham em oferecer qualquer tipo de descrição física do monarca. As informações hoje existentes advêm de uma abertura acidental do túmulo de D. Dinis aquando de um processo de restauro em 1938.
Sabe-se que a figura histórica de D. Dinis tinha de altura cerca de 1,65 m. O monarca faleceu com a provecta idade de 63 anos, feito notável para a época. Aparentemente, gozou de excelente saúde durante toda a sua vida: apenas fez o primeiro testamento completo aos 61 anos, sempre viajou, participou em guerras estando já adiantado de idade e aos 60 ainda caçava. Essa suposição é confirmada pela análise dos seus restos mortais que revela que morreu com a dentadura completa.[14]
Um traço distinto da fisionomia de D. Dinis terão sido os seus cabelos e barba ruivos. Facto curioso na família real portuguesa de então, do qual não se conhecem outros exemplos até à época de D. Dinis. Pode-se especular que a origem genética deste traço poderia vir do lado materno, pois seu tio Fernando de Castela era ruivo (recebendo ademais o epiteto de La Cerda). As hipóteses mais plausíveis serão que estes dois príncipes peninsulares tenham herdado o traço de Henrique II de Inglaterra, pai de Leonor Plantageneta, bisavó de Afonso X; ou então da mãe de Afonso X, Beatriz da Suábia, neta do famoso Imperador Frederico, o Barba Ruiva.[15]

Últimos anos e morte

Os últimos anos do seu reinado foram marcados por conflitos internos. O herdeiro, futuro D. Afonso IV, receoso que o favorecimento de D. Dinis ao seu filho bastardo, D. Afonso Sanches o espoliasse do trono, exigiu o poder e combateu o pai. Nesta luta teve intervenção apaziguadora a Rainha Santa Isabel que, naBatalha de Alvalade, se interpôs entre as hostes inimigas já postas em ordem de combate.
Complicações cardíacas seriam a origem dos seus problemas de saúde. Em 1322 teve um pequeno ataque cardíaco ou vascular-cerebral. Ainda viveu mais três anos debilitado, sendo levado "em andas e em colos de homens". Foi a angina de peito ou uma miocardite a causa da sua morte, em 1325.[16] D. Dinis morreu emSantarém a 7 de janeiro de 1325, e foi sepultado no Mosteiro de São Dinis, em Odivelas.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Dinis I de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1248-1385)
Estilo realSua Mercê
Tratamento directoVossa Mercê
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Dinis enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Dinis I, Rei de Portugal e do Algarve

Genealogia

Ascendência

Descendência

Realeza Portuguesa
Casa de Borgonha
Descendência
PortugueseFlag1185.svg
Filhos naturais:


Programa 07
DOM AFONSO IV - O BRAVO



Afonso IV de Portugal


Afonso IV
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Rei de Portugal
D. Afonso IV de Portugal - The Portuguese Genealogy (Genealogia dos Reis de Portugal).png
Afonso IV na Genealogia dos Reis de Portugal(António de Holanda, 1530–1534)
Governo
Reinado07 de janeiro de 1325 —
28 de maio de 1357
Coroaçãofevereiro de 1325Santarém,
ConsorteD. Beatriz
AntecessorD. Dinis I
HerdeiroPedro I (filho)
SucessorD. Pedro I
DinastiaBorgonha
TítulosO Bravo
Vida
Nascimento8 de fevereiro de 1291
SantarémPortugal
Morte28 de maio de 1357 (66 anos)
LisboaPortugal
SepultamentoSé de Lisboa
FilhosD. Maria, D. Afonso, D. Dinis,D. Pedro I, D. Isabel, D. João,D. Leonor, D. Maria Afonso
PaiD. Dinis I
MãeIsabel de Aragão
Afonso IV de Portugal (Coimbra8 de Fevereiro de 1291 - Lisboa28 de Maio de 1357), cognominado o Bravo, sétimoRei de Portugal, era filho do Rei D. Dinis I de Portugal e de sua esposa, a Rainha Santa Isabel, nascida infanta deAragão. D. Afonso IV sucedeu a seu pai a 7 de fevereiro de 1325.

Vida

Apesar de ser o único filho legítimo de seu pai, D. Afonso não seria, de acordo com algumas fontes, o favorito do Rei D. Dinis, que preferia a companhia de D. Afonso Sanches, um dos seus bastardos (legitimado). Esta preferência deu lugar a uma rivalidade entre os dois irmãos que, algumas vezes, deu lugar a confrontos armados. Em 1325, D. Afonso IV tornou-se rei e, como primeira decisão, exilou Afonso Sanches para Castela, retirando-lhe de caminho todas as terras, títulos e feudos concedidos pelo pai de ambos. O exilado não se conformou e do outro lado da fronteira orquestrou uma série de manobras políticas e militares com o fim de se tornar ele próprio rei. Depois de várias tentativas de invasão falhadas, os irmãos assinaram um tratado de paz, sob o patrocínio da Rainha Santa Isabel.
Em 1309, D. Afonso IV casou com a infanta Beatriz, filha do rei Sancho IV de Castela. A primogénita desta união, a princesa D. Maria de Portugal, casou com D. Afonso XI de Castela em 1328, mas o casamento revelou-se infeliz, dado que o Rei de Castela maltratava abertamente a mulher. D. Afonso IV não ficou contente por ver sua filha menosprezada e atacou as terras fronteiriças de Castela em retaliação. A paz chegou quatro anos mais tarde e, com a intervenção da própria D. Maria de Portugal, um tratado foi assinado em Sevilha em 1339. No ano seguinte, em Outubro de 1340, tropas portuguesas participaram na grande vitória da Batalha do Salado contra os mouros merínidas.
Em 1343 houve no reino grande carestia de cereais e em 1346, a fim de fazer sua aliança com o rei de Aragão, D. Afonso IV enviou a Barcelona um embaixador para a assinatura do acordo entre o rei e D. Pedro IV de Aragão com vista à realização do casamento da infanta D. Leonor. Em 1347 ocorreu um sismo que abalou Coimbra, tendo causado enormes prejuízos, e em 1348 a peste negra, vinda da Europa, assola o país.
De todos os problemas foi a peste o mais grave, vitimando grande parte da população e causando grande desordem no reino. O rei reagiu prontamente, tendo promulgado legislação a reprimir a mendicidade e a ociosidade.
A última parte do reinado de D. Afonso IV foi marcada por intrigas políticas e conflitos internos em grande parte devidos à presença em solo português de refugiados da guerra civil entre D. Pedro I de Castela e o seu meio-irmão D. Henrique da Trastâmara.
Entre os exilados contavam-se vários nobres, habituados ao poder, que cedo criaram a sua própria facção dentro da Corte portuguesa. Quando Inês de Castro se torna amante do príncipe herdeiro D. Pedro, os nobres castelhanos cresceram em poder e favor real.
D. Afonso IV não ficou agradado com o favoritismo concedidos aos castelhanos e procurou várias formas de afastar D. Inês do filho. Sem sucesso, porque D. Pedro assumiu tanto a relação com a castelhana como os filhos ilegítimos que dela teve, acrescentando em 1349 a recusa de tornar a casar com outra mulher que não ela. Com o passar dos anos D. Afonso IV perdeu o controlo da situação, a facção castelhana e D. Inês aumentavam o seu poder, enquanto o único filho legítimo de D. Pedro, o futuro rei D. Fernando, crescia como uma criança doente. Preocupado com a vida do único neto que reconhecia e com o acréscimo de poder estrangeiro dentro de fronteiras, D. Afonso IV ordena a morte de D. Inês de Castro em 1355. Ao contrário do que esperava, o seu filho não se aproximou de si. Perdendo a cabeça, D. Pedro entrou em guerra aberta contra o pai e saqueou a região do Entre-Douro-e-Minho. A reconciliação chegou apenas em 1357, entregando o rei ao príncipe grande parte do poder. D. Afonso IV morreu pouco tempo depois.
Como rei, D. Afonso IV é lembrado como um comandante militar corajoso, daí o cognome de Bravo. A sua maior contribuição a nível económico e administrativo foi a importância dada ao desenvolvimento da marinha portuguesa. D. Afonso IV subsidiou a construção de uma marinha mercante e financiou as primeiras viagens de exploração Atlântica. As Ilhas Canárias foram descobertas no seu reinado.
Jaz na Sé de Lisboa.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Afonso IV de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1248-1385)
Estilo realSua Mercê
Tratamento directoVossa Mercê
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos[editar | editar código-fonte]

O estilo oficial de D. Afonso IV enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Afonso IV, Rei de Portugal e do Algarve

Genealogia

Descendência


Beatriz de Castela e Rainha de Portugal.
Do seu casamento com D. Beatriz de Castela (1293 - Lisboa25 de Outubro de 1359), infanta do Reino de Castela, filha do rei D. Sancho IV de Castela com D. Maria de Molina, nasceram:
  1. D. Maria de Portugal (Coimbra1313 - Évora1357), casada em 1328 na localidade de AlfaiatesSabugal, com o reiAfonso XI de Castela, (13 de agosto de 1311 - 26 de março de 1350) a «Fermosíssima Maria» referida por Luís de Camões n' Os Lusíadas.
  2. D. Afonso de Portugal (CoimbraPenela1315), nado-morto à nascença.
  3. D. Dinis de Portugal (12 de janeiro de 1317-1318), morreu na infância.
  4. D. Pedro I de Portugal (Coimbra, 8 de abril de 1320ÉvoraEstremoz, 18 de janeiro de 1367), sucessor do pai no trono português.
  5. D. Isabel de Portugal (21 de dezembro de 1324 - 11 de julho de 1326), morreu na infância.
  6. D. João de Portugal (23 de setembro de 1326 - 21 de julho de 1327), morreu na infância.
  7. D. Leonor de Portugal (Coimbra, 1328 - Jérica ou TeruelAragão, outubro de 1348), casada em 1347 com o rei Pedro IV de Aragão (Balaguer 1319 - Barcelona 5 de janeiro de 1387).
Teve ainda uma filha natural:
  1. D. Maria Afonso de Portugal (1316 - Lisboa1384), casada em 1330 com D. Fernando de Castela, senhor de Valencia de Campos, mestre da Ordem de Santiago e filho de D. Afonso de Castela, senhor de Valência e de D. Joana de Castro (1280 - 1327).


Precedido por
Dinis I
PortugueseFlag1248.svg
Rei de Portugal e do Algarve

1325 - 1357
Sucedido por
Pedro I



Programa 08
DOM PEDRO I - O JUSTICEIRO



Pedro I de Portugal


Pedro I
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Rei de Portugal
Jacente do túmulo de D. Pedro I de Portugal.png
Estátua jacente do túmulo de D. Pedro I no mosteiro de Alcobaça (c. 1360).
Governo
Reinado8 de março de 1357 —
18 de janeiro de 1367
CoroaçãoLisboa
ConsorteD. Constança Manuel
D. Inês de Castro
AntecessorD. Afonso IV
HerdeiroFernando I (filho)
SucessorD. Fernando I
DinastiaBorgonha
TítulosO Justiceiro
Vida
Nascimento8 de abril de 1320
CoimbraPortugal
Morte18 de janeiro de 1367 (46 anos)
EstremozPortugal
SepultamentoMosteiro de Santa Maria,Alcobaça
FilhosVer descendência
PaiD. Afonso IV
MãeD. Beatriz de Castela
Pedro I de Portugal (Coimbra8 de abril de 1320 — Estremoz18 de janeiro de 1367) foi o oitavo Rei de Portugal. Recebeu os cognomes de O Justiceiro (também O CruelO Cru), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro. Filho do rei Afonso IV e sua mulher D. Beatriz de Castela. Pedro I sucedeu a seu pai em 1357.

Vida

O Infante D. Pedro nasceu na cidade de Coimbra, a 8 de Abril de 1320, sendo os seus pais o Infante D. Afonso (futuro D. Afonso IV de Portugal) e D. Beatriz de Castela. D. Pedro foi o quarto filho de um total de sete, três mulheres e quatro varões: D. Maria, D. Afonso, D. Dinis, ele próprio, D. Isabel, D. João, e D. Leonor. Destes, mais de metade cedo morre (D. Afonso nado-morto à nascença; D. Dinis, D. Isabel, e D. João na sua infância). Por este motivo, D. Pedro, não sendo primogénito, torna-se herdeiro do pai e vem a suceder-lhe no trono.[1]
Dos seus primeiros anos de vida, pouco se sabe. Conhecem-se, todavia, através de fontes escritas, a sua ama, D. Leonor; o aio e mordomo-mor Lopo Fernandes Pacheco; o guarda, Domingos Anes; o reposteiro-mor, Gonçalo Lobato; e os reposteiros, Afonso Domingues e Afonso Esteves. É também sabido que, por volta dos seus quinze anos, em 1335, já tinha casa. Os cronistas fazem menção a um defeito de gaguez e ainda, no foro psíquico, "paixões exaltadas e violentas, cóleras explosivas, perversões várias"; é igualmente caracterizado como um amante da festa e da música, cantando e dançando por Lisboa ao som de "longas" com os populares.[1]
D. Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança Manuel, que influenciou fortemente a política interna de Portugal no reinado de D. Afonso IV. Inês acabou assassinada por ordens do rei em 7 de Janeiro de 1355, mas isto não trouxe Pedro de volta à influência paterna. Contrariamente, durante alguns meses, Pedro revoltou-se contra o pai; apoiado pela nobreza de Entre Douro e Minho e pelos irmãos de Inês. A paz veio por vontade declarada do povo e perdoaram-se mútuas ofensas. Aclamado rei em 1357, Pedro anunciou em Cantanhede, em junho de 1360, o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte, sendo sua intenção a ver lembrada como Rainha de Portugal. A promessa de perdão aos responsáveis pela morte de Inês foi esquecida
Este facto baseia-se apenas na palavra do rei, uma vez que não existem registos de tal união. Dois assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas), que lhe valeram os epítetos supramencionados.
Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-o como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte. Em seguida ordenou a execução de dois túmulos (verdadeiras obras-primas da escultura gótica em Portugal), os quais foram colocados notransepto da igreja do Mosteiro de Alcobaça para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam...
Como rei, Pedro revelou-se bom administrador, corajoso na defesa do país contra a influência papal (foi ele que promulgou o famoso Beneplácito Régio, que impedia a livre circulação de documentos eclesiásticos no país sem a sua autorização expressa), e foi justo na defesa das camadas menos favorecidas da população. Aplicava a justiça com brutalidade, de forma «democrática», punindo exemplarmente sem olhar a quem. Para não atrasar a aplicação das sentenças, puniu com pena de morte a prática da advocacia, isto levou a protestos nas cortes de 1361. Pouco fez para refrear o poder da nobreza, mas esta temia o rei. Gostava muito de estar próximo do povo nos festejos, daí ser adorado. Na política externa, Pedro ajudou seu sobrinho, o rei de Castela na guerra contra o meio-irmão.
A sua relação com o clero foi algo conflituosa, em relação à nobreza foi magnânimo. Deu o título de conde de Barcelos a João Afonso Telo com direito hereditário e deu terras aos filhos de Inês. A Ordem de Avis entregou-a a seu filho, João, futuro rei.
A forma como exerceu a justiça, parece-nos hoje cruel, mas era costume naqueles tempos difíceis. Diz-se que mandou servir um banquete enquanto assistia à execução de Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, típico dum neurótico. Gostava mais de ser algoz de que juiz, como atestam algumas sentenças que proferiu.
D. Pedro reinou durante dez anos, sendo tão popular ao ponto de dizer a população "que taes dez annos nunca houve em Portugal como estes que reinara el Rei Dom Pedro". O seu reinado foi o único no século XIV sem guerra e marcado com prosperidade financeira, daí ficar na memória como um bom reinado. Para Fernão Lopes foi o avô da dinastia de Avis.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Pedro I de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1248-1385)
Estilo realSua Mercê
Tratamento directoVossa Mercê
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Pedro I enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Pedro I, Rei de Portugal e do Algarve

Genealogia

Casamentos e descendência

Em 1329, Branca de Castela, a única filha de Pedro, infante de Castela e de Maria, infanta de Aragão foi prometida em casamento com D. Pedro, mas dada a sua debilidade e sua incapacidade o casamento não se chegou a realizar.[2] [3]
Seu primeiro casamento foi com Constança Manuel, filha de D. João Manuel de Castela, de quem teve a:
De seu segundo casamento com Inês de Castro (1320 - assassinada em 1355) nasceram:
Embora havendo três filhos do seu segundo casamento e tendo vivido uma relação intensa com Inês de Castro, com quem também houve descendência, acerca do temperamento deste soberano, o cronista Fernão Lopes dedicou um capítulo que intitulou "Como El-Rei mandou capar um seu escudeiro porque dormia com uma mulher casada", permitindo entrever que o gesto teria sido motivado por ciúmes do monarca por seu escudeiro, de nome Afonso Madeira. Madeira é descrito como um grande cavalgador, caçador, lutador e ágil acrobata, e regista: "Pelas suas qualidades, El-Rei amava-o muito e fazia-lhe generosas mercês." O escudeiro, entretanto, apaixonou-se por Catarina Tosse, esposa do Corregedor, descrita como "briosa, louçã e muito elegante, de graciosas prendas e boa sociedade". Para se aproximar dela, Madeira fez-se amigo do Corregedor, seduzindo-a e consumando a traição. O soberano, entretanto, tudo descobriu e não perdoou Madeira, castigando-o brutalmente. O cronista insiste no afeto do soberano, referindo enigmaticamente: "Como quer que o Rei muito amasse o escudeiro, mais do que se deve aqui dizer (...)", mas regista que D. Pedro mandou "cortar-lhe aqueles membros que os homens em maior apreço têm". O escudeiro recebeu assistência e sobreviveu, mas "engrossou nas pernas e no corpo e viveu alguns anos com o rosto engelhado e sem barba"


Programa 09
DOM FERNANDO - O FORMOSO



Fernando I de Portugal





Fernando I
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png
Rei de Portugal
Portrait of King Fernando I, Belem Collection.JPG
Governo
Reinado 18 de janeiro de 1367
22 de outubro de 1383
Coroação março de 1367
Consorte D. Leonor Teles
Antecessor D. Pedro I
Herdeiro Beatriz (filha)
Sucessor D. João I
Dinastia Borgonha
Títulos O Formoso
Vida
Nascimento 31 de outubro de 1345
Coimbra, Portugal
Morte 22 de outubro de 1383 (37 anos)
Lisboa, Portugal
Sepultamento Convento do Carmo, Lisboa
Filhos D. Isabel, D. Beatriz, D. Pedro, D. Afonso
Pai D. Pedro I
Mãe D. Constança Manuel
Fernando I de Portugal, nono rei de Portugal, (Coimbra, 31 de outubro de 1345Lisboa, 22 de outubro de 1383). Era filho do rei D. Pedro I de Portugal e sua esposa, a princesa D. Constança de Castela. D. Fernando sucedeu a seu pai em 1367. Foi cognominado O Formoso ou O Belo (pela beleza física que inúmeras fontes atestam) e, alternativamente, como O Inconsciente ou O Inconstante (devido à sua desastrosa política externa que ditou três guerras com a vizinha Castela, e até o perigo, após a sua morte, de o trono recair em mãos estrangeiras).
Com apoio da nobreza local, descontente com a coroa castelhana, Dom Fernando chegou a ser aclamado Rei em diversas cidades importantes de Norte a Sul da Galiza.[1]

Reinado


Episódio das guerras fernandinas: o exército luso-inglês (do lado direito) derrota uma vanguarda francesa às ordens do Rei de Castela. D. Fernando é a figura a cavalo, à direita.
O início do reinado de D. Fernando foi marcado pela política externa. Quando D. Pedro I de Castela (1350-1369) morreu sem deixar herdeiros masculinos, D. Fernando, como bisneto de D. Sancho IV de Castela, por via feminina, declara-se herdeiro do trono. Outros interessados eram os reis de Aragão e Navarra, bem como o duque de Lencastre casado com D. Constança, a filha mais velha de D. Pedro de Castela. Entretanto D. Henrique da Trastâmara, irmão bastardo de Pedro, havia-se declarado rei. Depois de duas campanhas militares sem sucesso, as partes aceitam a intervenção do Papa Gregório XI. Entre os pontos assentes no tratado de 1371, D. Fernando é prometido a D. Leonor de Castela, mas antes que o casamento pudesse ser concretizado, o rei apaixona-se por D. Leonor Teles de Menezes, mulher de um dos seus cortesãos. Após a rápida anulação do primeiro casamento de D. Leonor, D. Fernando casa com ela, publicamente, a 15 de maio de 1372 no Mosteiro de Leça do Balio. Este acto valeu-lhe forte contestação interna, mas não provocou reacção em D. Henrique de Castela, que prontamente promete a filha a Carlos III de Navarra.
Após a paz com Castela, dedicou-se D. Fernando à administração do reino, mandou reparar muitos castelos e construir outros, e ordenou a construção de novas muralhas em redor de Lisboa e do Porto. Com vista ao desenvolvimento da agricultura promulgou a Lei das Sesmarias. Por esta lei impedia-se o pousio nas terras susceptíveis de aproveitamento e procurava-se aumentar o número de braços dedicados à agricultura.
Durante o reinado de D. Fernando alargaram-se, também, as relações mercantis com o estrangeiro, relatando Fernão Lopes a presença em Lisboa de numerosos mercadores de diversas nacionalidades. O desenvolvimento da marinha foi, por tudo isto, muito apoiado, tendo o rei tomado várias medidas dignas de nota, tais como: autorização do corte de madeiras nas matas reais para a construção de navios a partir de certa tonelagem; isenção total de direitos sobre a importação de ferragens e apetrechos para navios; isenção total de direitos sobre a aquisição de navios já feitos; etc. Muito importante, sem qualquer dúvida, foi a criação da Companhia das Naus, na qual todos os navios tinham que ser registados, pagando uma percentagem dos lucros de cada viagem para a caixa comum. Serviam depois estes fundos para pagar os prejuízos dos navios que se afundassem ou sofressem avarias.


Túmulo gótico de D. Fernando I, actualmente no Convento do Carmo, em Lisboa.
A partir do casamento, D. Leonor Teles tornara-se cada vez mais influente junto do rei, manobrando a sua intervenção política nas relações exteriores, e ao mesmo tempo cada vez mais impopular. Aparentemente, D. Fernando mostra-se incapaz de manter uma governação forte e o ambiente político interno ressente-se disso, com intrigas constantes na corte. Em 1382, no fim da guerra com Castela, estipula-se que a única filha legítima de D. Fernando, D. Beatriz de Portugal, case com o rei D. João I de Castela. Esta opção significava uma anexação de Portugal e não foi bem recebida pela classe média e parte da nobreza portuguesa.
Quando D. Fernando morre em 1383, a linha da dinastia de Borgonha chega ao fim. D. Leonor Teles é nomeada regente em nome da filha e de D. João de Castela, mas a transição não será pacífica. Respondendo aos apelos de grande parte dos Portugueses para manter o país independente, D. João, mestre de Aviz e irmão bastardo de D. Fernando, declara-se rei de Portugal. O resultado foi a crise de 1383-1385, um período de interregno, onde o caos político e social dominou. D. João tornou-se no primeiro rei da Dinastia de Aviz em 1385.
Os restos mortais de D. Fernando foram depositados no Convento de São Francisco, em Santarém, conforme o deixado em testamento pelo monarca. No século XIX, o túmulo foi alvo de sérios actos de vandalismo e degradação, primeiro como resultado das Invasões Francesas, quando se partiu uma porção significativa das paredes do sarcófago ao se ter tornado dificil remover a tampa; e da desamortização das ordens religiosas em 1834, quando o convento foi deixado ao abandono. Certo é que os restos mortais do rei se perderam para sempre, não tendo chegado nenhum registo dessa profanação aos dias de hoje.[2]
Joaquim Possidónio da Silva, Presidente e fundador da Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portugueses, toma a iniciativa de transportar o monumento funerário de D. Fernando para o Museu Arqueológico do Carmo (onde ainda hoje se encontra), em 1875, de modo a salvaguardar a sua integridade e dignidade de mais vandalismo.[2]

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
Fernando I de Portugal
Shield of the Kingdom of Portugal (1248-1385).png Brasão de armas do Reino de Portugal (1248-1385)
Estilo real Sua Mercê
Tratamento directo Vossa Mercê
Estilo alternativo Senhor

Títulos e estilos

O estilo oficial de D. Fernando I enquanto Rei de Portugal:
Pela Graça de Deus, Fernando I, Rei de Portugal e do Algarve
Em 1369, como afirmação da pretensão de D. Fernando à Coroa de Castela, a titulatura evolui para:
Pela Graça de Deus, Fernando I, Rei de Castela, de Leão, de Portugal, de Toledo, da Galiza, de Sevilha, de Córdova, de Múrcia, de Jáen, do Algarve, de Algeciras e Senhor de Molina
A titulatura regressa à utilizada no início do seu reinado com a sua renúncia aos títulos castelhanos após a Paz de Alcoutim, em 1371.

Genealogia

Descendência

D. Fernando teve uma filha natural antes do seu casamento:
Do casamento com D. Leonor Teles de Menezes nasceram:
 

Programa 10
DOM JOÃO I - O DE BOA MEMÓRIA




João I de Portugal

João I
Brasao de Aviz.PNG
Rei de Portugal
Governo
Reinado06 de abril de 1385
14 de agosto de 1433
Coroação6 de Abril de 1385Coimbra
ConsorteD. Filipa de Lencastre
AntecessorD. Fernando I
HerdeiroDuarte I (filho)
SucessorD. Duarte I
DinastiaAvis
TítulosO de Boa Memória
Vida
Nascimento11 de abril de 1357
LisboaPortugal
Morte14 de agosto de 1433 (76 anos)
LisboaPortugal
SepultamentoMosteiro da BatalhaBatalha
FilhosD. Branca, D. AfonsoD. Duarte ID. PedroD. HenriqueD. Isabel, D. Branca, D. JoãoD. FernandoD. Afonso ID. Beatriz
PaiD. Pedro I
MãeD. Teresa
AssinaturaAssinatura de João I
João I de Portugal (Lisboa11 de abril de 1357 – Lisboa, 14 de agosto de 1433), foi o décimo Rei de Portugal e o primeiro da dinastia de Avis, cognominado O de Boa Memória pelo legado que deixou.
Filho ilegítimo (bastardo) do rei D. Pedro I e 3.º Mestre da Ordem de Avis (com sede em Avis), foi aclamado rei na sequência da Crise de 1383-1385 que ameaçava a independência de Portugal.
Com o apoio do condestável do reino, Nuno Álvares Pereira, e aliados ingleses travou a Batalha de Aljubarrota contra oReino de Castela, que invadira o país. A vitória foi decisiva: Castela retirou-se, acabando bastantes anos mais tarde por o reconhecer oficialmente como rei.
Para selar a aliança Luso-Britânica casou com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, dedicando-se desde então ao desenvolvimento do reino.
Em 1415, conquistou Ceuta, praça estratégica para a navegação no norte de África, o que iniciaria a expansão portuguesa. Aí foram armados cavaleiros os seus filhos D. DuarteD. Pedro e o Infante D. Henrique, irmãos da chamada ínclita geração.
Escrito entre esse mesmo ano de 1415 e 1433, terá escrito um "notável" livro versado em montaria[1] , uma das artes de caçar[2] .

Juventude

D. João era filho ilegítimo (bastardo) do rei D. Pedro I e de D. Teresa, uma dama galega (ms. 352 do Arquivo Nacional da Torre do Tombo da Crónica de el-rei D. Pedro I, de Fernão Lopes) ou de Vasco Lourenço da Praça, um mercador de Lisboa, segundo Caetano de Sousa e que fez eco em outros conceituados historiadores contemporâneos como Maria Helena Cruz Coelho e o olisipógrafo José Sarmento de de Matos. Em 1364, foi consagrado Grão Mestre da Ordem de Avis.

Crise de 1383–85

À data da morte do rei D. Fernando I, Portugal parecia em risco de perder a independência. A rainha D. Leonor Teles de Menezes era impopular e olhada com desconfiança. O facto de se ter tornado pública a sua ligação amorosa com o nobre galego João Fernandes Andeiro, personagem influente no paço, atraiu todas as críticas contra a sua pessoa e a do seu amante. Para além do mais, a sucessão do trono recaía sobre a princesa D. Beatriz, única filha de Fernando I e de Leonor Teles de Menezes, casada aos onze anos de idade com o rei João I de Castela.
No entanto, a burguesia e parte da nobreza juntaram-se à voz popular que clamava contra a perda da independência, tão duramente mantida por D. Fernando I. Dois pretendentes apareceram para competir com João I de Castela e D. Beatriz pela coroa portuguesa:
Morte do Conde Andeiro
Museu Nacional Soares dos Reis, Porto)
Acicatado por um grupo de burgueses e nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem D. Nuno Álvares Pereira, e tomando em linha de conta o descontentamento geral, o Mestre de Avis assassina o conde de Andeiro no paço a 6 de dezembro de 1383. Com a posterior fuga de Leonor Teles de Lisboa para Alenquer inicia-se a sucessão de acontecimentos que lhe entregará a regência, a qual de início planeia exercer em nome de seu meio-irmão, o Infante D. João. Mas como este último já fora aprisionado por D. João I de Castela, abria-se então a possibilidade política de o Mestre de Aviz vir a ser rei. este rei foi uma ma escolha
O assassinato do conde Andeiro explica-se, bem mais do que pela vontade de vingar a honra do falecido rei Fernando I, ainda que este tenha sido um dos motivos, pela razão de que João I de Castela havia começado a violar o pacto antenupcial de Salvaterra de Magos logo no primeiro dia em que se fez aclamar, em Toledo, «Rei de Castela e Portugal». Aquele tratado antenupcial apenas conferia a si e à sua mulher Beatriz, sendo esta herdeira de Fernando I, o título nominal de reis e senhores de Portugal, mas sem deterem poderes de efectiva governação. Além disso, os reinos de Castela e Portugal deviam manter-se separados. Para além de logo ter mesclado as armas dos dois reinos, João I de Castela, continuando a desrespeitar o tratado, entra em Portugal pela Guarda nos finais de Dezembro de 1383. Queria ser soberano pleno, e não de dois reinos separados mas dum único, considerando que não tinha que atender em nada ao tratado de Salvaterra porque a sua mulher Beatriz era a herdeira do trono português. Quem o diz de forma mais clara não é Fernão Lopes, mas sim o cronista castelhano Pero Lopez Ayala, contemporâneo dos acontecimentos, na sua Crónica do Rei Dom João o primeiro de Castela e Leão. Consultem-se, para o constatar, os capítulos IX e XI do ano quinto e os capítulos I e II do ano décimo segundo desta Crónica. Seguiu-se a crise de 1383–1385, ou Interregno, um período de anarquia e instabilidade política onde as diferentes cidades e vilas de Portugal se declaravam umas por D. Leonor Teles (a maioria destas até ela abdicar da regência em benefício de João I de Castela e da filha), outras por D. Beatriz e o seu marido, outras ainda pelo Mestre de Aviz, além das que se mantiveram neutras, na expectativa do desenlace.
A guerra civil arrastou-se por mais de um ano. D. Nuno Álvares Pereira, posteriormente Condestável de Portugal, revelou-se um general de grande valor, ao contrário, ao início, do próprio pretendente ao trono. Fernão Lopes é um crítico feroz das acções militares do Mestre durante o primeiro ano de guerra, dado que tinha tendência a preferir os cercos e a assistência dos grandes fidalgos, sem outros resultados que não fossem traições, ao contrário da luta militarmente inovadora e terrivelmente eficaz de Nuno Álvares, que arrancou muitas vitórias no Alentejo e deu boa ajuda a Lisboa, onde o Mestre ficou sitiado sem se ter podido abastecer das provisões necessárias para aguentar durante muito tempo o cerco. No entanto, depois das Cortes de Coimbra em 6 de Abril de 1385, o rei D. João I mostrou-se um bom seguidor das tácticas militares de D. Nuno Álvares, e do conselho de guerra deste constituído por escudeiros.
O génio militar de Nuno Álvares Pereira foi decisivo na Batalha de Aljubarrota.
Finalmente a 6 de abril de 1385, as Cortes portuguesas reunidas em Coimbra elevam o Grão-Mestre de Aviz, como D. João I, a rei de Portugal[3] . Esta tomada de posição significava na prática que a guerra com Castela prosseguiria sem quartel, visto que declarava nulo o estatuto de D. Beatriz de Portugal, rainha consorte de Castela, como herdeira de D. Fernando, e isto devido em especial à violação do tratado de Salvaterra tanto pelo seu marido como por ela (com 11 anos de idade tivera de jurar o tratado em Badajoz, aquando do casamento). «Venhamos a outra maior contradição», disse João das Regras, ao começar a falar da «quebra dos trautos» no seu discurso perante as Cortes de Coimbra (Crónica de el-rei D. João I, cap. CLXXXV). E como os quebrara, não podia suceder ao pai, o «postumeiro (último) possuidor» destes reinos. É por isso que na História de Portugal Beatriz não figura como Rainha, pois foram as próprias Cortes de 1385 a proclamar que ao rei D. Fernando I, postumeiro possuidor do reino de Portugal, quem sucedeu foi o rei D. João I.
Pouco depois, em Junho de 1385, João I de Castela invade pela 2.ª vez Portugal com o objectivo de tomar Lisboa e ver-se livre do «Mestre d’Avis que se chamava rei» (era o modo como os castelhanos o designavam). Com os castelhanos vinha então um grande contingente de cavalaria francesa. A França era aliada de Castela enquanto os ingleses haviam tomado o partido de D. João I (Guerra dos Cem Anos). Como resposta D. João I prepara-se com Nuno Álvares para a batalha decisiva. O Condestável de Portugal, que o rei nomeara aquando das Cortes de Coimbra, e o seu conselho de escudeiros montaram então uma tremenda armadilha ao exército castelhano.
A invasão castelhana transformou-se em debandada durante o Verão, depois da decisiva Batalha de Aljubarrota travada a 14 de agosto, perto de Alcobaça, onde o exército castelhano foi quase totalmente aniquilado, apesar de se encontrarem em vantagem numérica de 4 para 1. Castela teve de retirar-se do combate e a estabilidade da coroa de D. João I ficou solidamente garantida. Em 1400 termina a guerra com Castela e em 1411 é assinado um tratado de aliança e de paz com aquele país definitivamente confirmado, reconhecendo Castela sem quaisquer reservas D. João I como rei de Portugal.
Casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre.
Em 1387, D. João I casa com D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, Duque de Lencastre, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje. Depois da morte em 1390 de João de Castela, sem herdeiros de D. Beatriz, a ameaça castelhana ao trono de Portugal estava definitivamente posta de parte. A partir de então, D. João I dedicou-se ao desenvolvimento económico e social do país, sem se envolver em mais disputas com a vizinha Castela ou a nível internacional. Teve como chanceler João das Regras que defendia a centralização do poder real. A partir de certa altura associou ao governo o filho D. Duarte.
Quando o rei quis armar os seus filhos cavaleiros, estes propuseram a conquista de Ceuta, no Norte de África, em 1415, uma praça de importância estratégica no controle da navegação na costa de África que é conquistada a 21 de agosto. Após a sua conquista são armados cavaleiros, na anterior mesquita daquela cidade, os príncipes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. Entretanto, na véspera da partida de Lisboa, falecera a rainha D. Filipa de Lencastre.

Legado

Bandeira pessoal de D. João I com a sua divisa: «Pour bien».
Cronistas contemporâneos descrevem D. João I como um homem arguto, cioso em conservar o poder junto de si, mas ao mesmo tempo benevolente e de personalidade agradável. Na juventude, a educação que recebeu como Grão Mestre da Ordem de Aviz transformou-o num rei invulgarmente culto para a época.
O seu amor ao conhecimento passou também para os filhos, designados por Luís Vaz de Camões, nos Lusíadas, por «Ínclita geração»: o rei D. Duarte I de Portugal foi poeta e escritor, D. Pedro, Duque de Coimbra o «Príncipe das Sete Partidas», foi um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo e muito viajado, e o Henrique, Duque de Viseu, «o navegador», investiu toda a sua fortuna em investigação relacionada com navegação, náutica e cartografia, dando início à epopeia dosDescobrimentos.
A sua única filha, D. Isabel de Portugal, casou com o Duque da Borgonha e entreteve uma corte refinada e erudita nas suas terras.
No reinado de D. João I foram descobertas as ilhas de Porto Santo (1418), da Ilha da Madeira (1419) e dos Açores (1427), além de se fazerem expedições às Canárias. Teve início, igualmente, o povoamento dos arquipélagos dos Açores e da Madeira.
D. João faleceu a 14 de agosto de 1433. Jaz na Capela do Fundador, no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha.
Foi cognominado O de Boa Memória, pela lembrança positiva do seu reinado na memória dos portugueses, também podendo ser chamado de O Bom ou O Grande.
Foi impressa uma nota de 1.000$00 Chapa 6 de Portugal com a sua imagem.

Títulos, estilos, e honrarias

Estilo real de tratamento de
João I de Portugal
Brasao de Aviz2.png
Brasão de armas do Reino de Portugal (1385-1580)
Estilo realSua Mercê
Tratamento directoVossa Mercê
Estilo alternativoSenhor

Títulos e estilos

  • 11 de abril de 1357 – 1364: Dom João
  • 1364 – 16 de Dezembro de 1383: Dom João, Mestre de Avis
  • 16 de dezembro de 1383 – 6 de abril de 1385: Dom João, Mestre de AvisRegedor e Defensor do Reino
  • 6 de abril de 1385 – 14 de agosto de 1433: Sua Mercê, O Rei de Portugal e dos Algarves
O estilo oficial de D. João I enquanto Rei de Portugal, até 1415:
Pela Graça de Deus, João I, Rei de Portugal e do Algarve
Em 1415, após a conquista de Ceuta, a titulatura evolui para:
Pela Graça de Deus, João I, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta

Descendência

Do seu casamento com Filipa de Lencastre (1359–1415) nasceram nove filhos. Destes, os seis que chegaram à idade adulta seriam lembrados como a ínclita geração:
Realeza Portuguesa
Casa de Avis
Descendência
Ordem Avis.svg
D. João teve ainda dois filhos naturais de Inês Pires: