sábado, 14 de fevereiro de 2015

A TRAGÉDIA DE MADINA DO BOÉ - GUINÉ

Guerra do Ultramar - Documentários
A TRAGÉDIA DE MADINA DO BOÉ - GUINÉ

Foi uma das maiores tragédias sofridas pelo exército Português na guerra do ultramar, nomeadamente na então Província ultramarina Portuguesa da Guiné, onde as nossas tropas então se encontravam aquarteladas em Nova Lamego, hoje chamada Gabu.Custou a vida a 46 militares Portugueses que pereceram naquele dia 6 de Fevereiro de 1969 durante a travessia dum rio e cujos corpos ainda lá permanecem, pois incompreensívelmente nunca foi ordenado pelo Governo Português o seu resgate. Fica aqui a homenagem a esses heróis que tanto tinham sofrido a batalhar heroicamente em difíceis condições e a defender a Nação, numa das piores frentes da guerra do ultramar. Aqui tem revelados os acontecimentos desse episódio de guerra, através dum filme/documentário intitulado "Madina do Boé - A Retirada", complementado com diversa informação escrita e relatos de soldados que lá estiveram na época.

Texto: Português
Áudio: Português
Fontes: SIC - Terraweb - YouTube - Blogue Fora Nada - Luis Graça & Camaradas da Guiné



DOCUMENTÁRIO "MADINA DO BOÉ - A RETIRADA" :








RELATO DO DESASTRE DE CHECHE POR UM DOS SOLDADOS:

Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

1. Este documento, que me chegou às mãos através do Humberto Reis, relata a dramática operação em que participou a CCAÇ 2405, sedeada em Galomaro, e pertencente ao BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), operação essa que tinha em vista retirar as NT da posição insustentável de Madina do Boé, cercada pelo PAIGC (e depois ocupada logo a seguir, no mesmo dia, a 6 de Fevereiro de 1969, após a retirada das NT).

Recorde-se que a companhia que estava em Madina do Boé, há 13 meses, era a CCAÇ 1790, a mesma a que pertencia Gustavo Pimenta, o alferes miliciano que perdeu metade do seu pelotão nessa trágica retirada (ele é o autor do livro sairómeM - Guerra Colonial. Porto: Palimage Editores, 1999) [vd. post de 17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790) ]

Em Cheche, já no regresso de Madina, pelas 9 da manhã do dia 6 de Fevereiro de 1969, as NT sofrem a perda de meia centenas de homens e grandes quantidades de material, quando a jangada que fazia a travessia do Rio Corubal se virou. Aparentemente, sem explicação (Já ouvi várias teorias sobre isso, mas essas especulações ficam para mais tarde...).

O desastre terá sido devido a excesso e desiquíbrio de peso. Iam na jangada mais de cem homens (4 grupos de combate mais a tripulação da embarcação), além de viaturas e outro equipamento. Dos que desapareceram, 17 pertenciam à companhia de Galomaro.

Esta operação foi uma das mais dramáticas que se desenrolaram no TO da Guiné, devido não só à pressão do IN (invisível mas sempre ubíquo como Deus) como a outros factores desfavoráveis para as NT (o calor, a falta de água, as condições do terreno, as terríveis abelhas da Guiné que estavam objectivamente ao serviço do PAIGC, as insónias, o stresse, a exaustão física e emocional...).

A minha experiência de operacional diz-me que mais do que dois dias no mato, naquelas terras, era humanamente impossível para um tuga. Andar a pé, no mato, ao sol, entre as 10 e as 16 horas, era uma loucura suicidária. As elevadas temperaturas, à sombra e ao sol, a par da humidade do ar, obrigavam à ingestão de elevadas quantidades de água. As rações de combate eram intragáveis e inadequadas às condições da guerra da Guiné. Apercebendo-se de que provocavam mais sede, os militares deixavam de as consumir. O risco de desidratação e de subnutrição aumentava. O abastecimento de água era sempre crítico e nunca estava garantido. Além disso, tínhamos mais medo das abelhas do que o diabo da cruz.

Nesse ano, no início da estação seca, iriam realizar-se grandes operações de limpeza, como a da Lança Afiada, já aqui descrita (vd. post de 31 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXI: As grandes operações de limpeza: Op Lança Afiada, Março de 1969) . Dizia-se em Bissau que o então brigadeiro Spínola queria acabar com a guerra em seis meses... O PAIGC percebeu que o homem grande de Bissau não era pera doce, que era um adversário de respeito, mas também não lhe deu tréguas...

O impacto negativo do desastre de Cheche no moral das nossas tropas foi enorme (É curioso que ainda hoje não se fala em Cheche, mas sim em Madina do Boé... Ora o desastre ocorreu justamente em Cheche, na travessia do Rio Corubal, com Madina já para trás...).

Lembro-me, quando ainda periquito, em Contuboel, ouvir os dramáticas relatos de camaradas mais velhos que participaram nesta complexa e vasta operação, a nível de agrupamento. No meu Diário de um Tuga, eu costumava comparar Madina do Boé a Dien Bien Phu, comandada pelo célebre general Giap, onde os franceses perderam a guerra do Vietname.

A comparação era um evidente exagero. Mas é um facto que em Madina do Boé, em 5 de Fevereiro de 1969, começava provavelmente o fim da guerra colonial na Guiné e do nosso império. Esta queda foi também simbólica. Para o PAIGC representou uma vitória retumbante. Não é por acaso que a proclamação unilateral da independência é feita em Madina do Boé, a 24 de Setembro de 1973. Mas deixemos isso para mais tarde e sobretudo para os historiadores...

O texto que se segue tem uma ou outra palavra ilegível. Foi feita a sua recuperação. Impresso a stencil há 35 anos, do documento foi feita uma fotocópia, fornecida ao Humberto Reis por um camarada da CCS do BCAÇ 2852.

Curiosamente, o autor do relatório da Op Mabeco (?), o comandante da CCAÇ 2405, não apresenta quais quer razões, técnicas, militares ou outras, para o afundamento da jangada, limitando-se a descrever, de maneira sucinta e factual, o desastre, como mandava o livro de estilo dos operacionais, nunca deixando que os seus sentimentos ou emoções interferissem com a capacidade de identificar e descrever os acontecimentos mais relevantes ocorridos durante uma operação.

No entatanto, o autor do relatório usa um advérbio de modo (espectacularmente) que me parece deslocado e que até pode chocar o leitor de hoje. O episódio é descrito assim, sucintamente, a seco, sem emoção, sem mais explicações. Por outro lado, neste relatório nada se diz sobre o que ocorreu com os outros destacamentos (já que houve mais baixas, de outras unidades, que iam na jangada):

"Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb, respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente (sic), acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido”.

Era assim a linguagem de pau dos nossos relatórios de operações. No desastre do Corubal, em Cheche, morreram 47 militares portugueses. 47 ou 46, já vi várias versões. A imprensa da Metrópole, na época, deu grande destaque a essa notícia, não obstante a existência de censura (ou, como então se dizia, eufemisticamente, exame prévio).

O Humberto Reis, ao facultar cópia, em suporte digital, deste relatório à nossa tertúlia e ao decidir divulgá-la pela Internet, presta também a sua homenagem aos bravos de Cheche (e aos que resistiram, com coragem e galhardia, ao cerco de Madina do Boé).

Aliás, prestamos aqui, todos nós, a nossa sentida homenagem aos nossos camaradas da CCAÇ 2405 e de outras unidades, como a CCAÇ 1790, que pereceram em Cheche. A sua memória não poderia (nem nunca poderá) ser esquecida. Por razões éticas, omitimos o número mecanográfico dos militares que são referidos no relatório, e abreviamos o seu nome para não serem facilmente identificados. Gostaríamos, no entanto, que eles nos contactassem, se ainda forem vivos, como esperamos. Para o Humberto, por sua vez, vai aquele grande abraço! (L.G.) .


2. Extractos de: Guiné 68-70 . Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38.


Ilustração do cabeçalho do capítulo II, da História do BCAÇ 2852. Documento gentilmente disponibilizado pelo Nova Lamego por volta das 1.30h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. Abre [o autor do relatório] um parêntesis para discordar do pormenor da organização da coluna: os meus condutores e mecânicos tiveram que conduzir e dar assistência técnica a viaturas que não lhe pertenciam e das quais desconheciam as mazelas.

Daqui resultaram perdas de tempo inúteis e uma tremenda confusão resultante do facto de os atiradores terem guardado parte dos seus haveres e utensílios militares em viaturas que supunham pertencer às unidades e que, sem que se saiba porquê, foram trabalhar para unidades diferentes.

A coluna saiu de Nova Lamego para Cajadude [vd mapa local de Cheche] com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema.

A partir de Cajadude a coluna progrediu com guardas de flancos tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente). Imediatamente os Dest D e F fizeram a transposição do [Rio] Corubal e foram ocupar as posições estratégicas previstas.

Já escurecia e o Dest D levava 1 minuto de avanço sobre o Dest F. Subitamente o 1º Pel[otão] revelou achar estranho algo que se passava à nossa direita, parecendo-lhes ter visto elementos estranhos. Por outro lado o guia assegurou tratar-se de turras pelo que a Companhia tomou posições de combate, lançando-se ao solo e imobilizando-se.

Seguiram-se [dois disparos rápidos ? ilegível] de morteiro (os clarões foram facilmente visíveis quando as granadas saíram à boca da arma). Foram tiros curtos na direcção sudoeste, e os rebentamentos deram-se próximo do local que o Dest F iria ocupar daí a momentos.

O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h. Às 20.00h ouviram-se na direcção oeste dois tiros que me pareceram de arma nossa fazendo fogo de reconhecimento.

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu devia levar até Madina. Pelas 6.30h dirigi-me à zona do Dest E onde se organizou a coluna com o Dest F à frente e uma guarda de flanco avançada e o Dest D atrás igualmente com guarda de flanco.

Iniciei o movimento guiado com carta e bússola porque a marcha foi feita a cerca de 200 metros (mínimo) da estrada. O meu objectivo era surpreender o IN pela rectaguarda tanto mais que os aviões me anunciaram haver possibilidade de sermos emboscados. Cerca 1000 [10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo.

Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação. As evacuações fizeram-se para Nova Lamego dos 1ºs cabos (…) Carlos G. Machado, (…) Agostinho R. Sousa, e dos soldados (…) José A. M. S. Ferreira, (…) Manuel N. Parracho, (…) Benjamim D. Lopes, (…) Fernando A. Tavares, (…) Cândido F. S. Abreu, (…) SAntónio S. Moreira e, para Bissau, O 1º CABO (…) Adérito S. Loureiro. O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

Reiniciada a marcha, sofremos segundo ataque de abelhas que inutilizaram mais uma praça para quem teve de ser pedida mova evacuação. Entretanto. Eram 14.30h, e mais 2 soldados, esgotada a sua provisão de água, apresentavam sintomas de insolação. Foram evacuados conjuntamente com 2 praças do Dest D que apresentavam sintomas semelhantes (vómitos, intensa palidez, olhos dilatados, respiração frenética).

O Dest D passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O DEst D foi reabastecido de água. Atingimos Madina por volta das 19.00h desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando [eu tive? ilegível] que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente. No dia 4 (D + 2) o Dest F dirigiu-se para [T … Cumbera ?, ilegível] ocupando a posição 3 que atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.

Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate].

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

Entretanto, o final da coluna pôs-se em movimento acelerado para apanhar as viaturas da frente e deixaram a guarda da rectaguarda isolada no mato, num momento particularmente difícil em que precisávamos evacuar 2 soldados vencidos pelo esgotamento físico e nervoso (2 noites seguidas sem dormir, ataque de abelhas em D +1, intenso calor). O Comandante da coluna ordenou que se fizesse a evacuação e o reabastecimento de água.

Feitos estes, iniciou-se a marcha e abreve trecho tomámos contacto com a coluna e tudo correu normalmente até ao Cheche. A cobertura aérea pareceu-me impecável. Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos.

Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h. O IN continua sem se manifestar (ou sem se poder manifestar).

Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb, respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido.

Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Cajadude [vd. mapa local de Cheche] que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe que se deslocou propositadamente para a fazer.

Permaneci em Nova Lamego para organizar a coluna do dia seguinte. Às primeiras horas de D + 6 [8 de Fevereiro] iniciei o movimento para Galomaro onde cheguei cerca das 10.30h.















Quartel de Nova Lamego - Gabu - Guiné


HISTÓRIAS DE UM SOLDADO EM NOVA LAMEGO

Mal as berliets se imobilizaram, vai de saltar para o chão e descarregar a mobília, estafados e ainda a pensar na mãezinha, eis que deparamos com uma figura que se destacou dos restantes, não só por ser major, mas também pelo seu vozeirão, era 2º cmdt e acumulava com oficial de op. do Bat. Cav. 3854, fez questão de nos receber logo à porta de armas, e de imediato mandou formar, nem nos deixou respirar já de si difícil para um Pira pouco habituado aqueles ares! o seu nome Martins Ferreira, disse-o ele, a alcunha soubemos pela surdina, Hitler, e o cmdt é que tinha nome atirar para o alemão, de seu nome completo, António Malta Leuschner Fernandes, Ten-Cor. de Cavalaria, completamente diferente de feitio, tinha os seus dias mas, na maioria deles era bastante calmo, o Hitler, só não berrou com o Alferes Marcelino da Mata, numa das visitas feitas por este a Nova Lamego, de resto berrava com todos com algumas excepções superiores é claro.


Após a formatura e o blá blá do costume, que era quase sempre igual, lá fomos para um palacete, localizado nas traseiras do quartel com vistas para a mata e campo de minas, de ambos os lados sensivelmante à mesma distancia, poucos metros à esquerda o gerador e a direita o paiol, quase a estrear vazio sem mobiliário todo amplo, situação que se manteve por uns dias, até que finalmente recebemos as camas e o meu "velhinho" ofereceu-me o caixote de tábuas, que fazia as vezes de armário, aí chegados apareceu o bendito do homem do SPM e aquilo é que foi um distribuir de cartas acumuladas desde a nossa chegada que já fazia uma semana, (um século), nunca mais se repetiu tanta fartura de correspondência nos 2 anos seguintes, estava cada um para o seu lado, eu sentado em cima de um dos meus "chouriços", saco com parte da mobília que todos se lembram, de costas para a porta, também para evitar que fosse visto a verter uma ou outra lágrima mais teimosa, a ler com sofreguidão as noticias da família, nem prestava atenção a algumas notas de cem escudos que chegaram misturadas, e eu parvo na resposta escrevia ao pessoal que não era preciso dinheiro que aquilo ali era tudo muito bom, comida era do melhor, grande aldrabão! não é que acreditaram e as notitas começaram a rarear, e que falta faziam! entretanto ouvi uma voz que me pareceu conhecida, esta aqui alguém de Lisboa! olhei para trás, porque de Lisboa naquele pelotão só eu e/ou o Graça, era o Gregório Gil Gaudêncio, um amigo de alguns anos que eu não sabia que estivesse por aqueles lados, pertencia a Ccaç. 3565, companhia de intervenção às ordens do CAOP2, portanto uma comp. de apaga fogos, fogueiras, e até incêndios, e o maior foi em 1973 construir de raiz, do nada um destacamento no Catanhez, e pelo que na altura este amigo me dizia através dos poupa selos, levaram muita porrada.


Acto continuo grande abraço e convite a largar as cartas, pois tinha muito tempo para as ler, experiência de velhinho com cerca de 3 meses daquelas andanças, bem depois de alguma insistência lá fui levado a ver os cantos à cidade, leia-se; cafés e afins, beber umas cervejas, estava no inicio e ainda não era artilheiro com a especialidade de bazukas, mas garanto-vos que ganhei experiência rapidamente, entretanto demos um pulo ao quartel dos paraquedistas onde o Gregório tinha um primo 1º cabo que era o (taberneiro) do bar, a companhia não me recordo a qual ele pertencia.
Nova Lamego, escrevo sempre assim, porque era assim quando lá estive, não tenho nada contra o nome actual Gabu, este nome não é obra do acaso, já na época Gabu Sará era a zona administrativa como se fosse um distrito da qual Nova Lamego era a capital, o administrador era Cabo verdiano de seu nome Salomão, assim para o gordinho a constratar com 99% da população que eram exactamente o contrário, embora a zona Gabu muito mais ampla, inclusive transbordava as fronteiras actuais, já existisse antes dos Portugueses chegarem aquelas paragens, como sabemos Nova Lamego era uma terra pequena embora fosse considerada como a 3ª mais importante da Guiné, depois de Bissau e Bafatá, tinha um Hospital civil pequeno, um cinema de seu nome cine-Gabu, uma cadeia, uma igreja católica uma mesquita que eu conhecia não sei se havia mais e uma central eléctrica com 2 grupos geradores granditos, no entanto em termos militares era o inverso, ao sector L-3 estavam atribuídos na época: CAOP2, Pmc, Bat. Cav. 3854, CCS mais as suas 3 companhias, Ccaç. 3565, uma comp. Paras que se revezavam todos os meses, Ccaç. 5, 1 Pel. Mort., 1 Pel. Art. Obuses, 1 Pel. Rec. Daimel, 1 Pel. AAA, STM, SPM, 8 Pel de Milícias, e a partir de 1973, 3 GE Milícias, estes treinados em NL pelos homens do então Alferes graduado Marcelino da Mata, e mesmo assim os turras escorregavam por entre os dedos do pessoal.


2 comentários:

  1. Sobre os 47 combatentes mortos na Retirada de Madina de Boé. Tenho a a dizer que a APOIAR organizou em conjunto com a Biblioteca Museu República e Resistência uma Exposição e um Ciclo de Colóquios com o tema “Guerra Colonial. Um Diferente Olhar”, de 8 a 18 de Abril de 1996. José Manuel Saraiva no dia 11 de Abril quem apresentou o tema “A Guerra na Guiné”, curiosamente apresentou a Reportagem da SIC “Madina do Boé – A Retirada”, em ante estreia. Vi a Reportagem e comentei aquilo que vi. Fui informado por José Manuel Saraiva, depois de eu ter referido ter cumprido a Comissão em Gadamael Porto e fazer muitas operações em Guileje, e mais concretamente no “corredor da morte”, que estava a terminar a Reportagem “De Guileje a Gadamael – O Corredor da Morte”. Convidou-me e fomos para os copos na Cervejaria “Ferro de Engomar”, perto da Biblioteca Museu República e Resistência, no antigo Bairro do Grandella. Falei-lhe de sinais da ZORBA, gravados a cimento no chão e respondeu ter visto.
    O que vi na Reportagem, resumidamente refere ter sido em Fevereiro de 1969 (parece ser a 6).
    Comandante da Companhia de CAÇ 1790, José Aparício quando da evacuação da sua Companhia de Madina de Boé recebeu do Comandante da Operação, Coronel Hélio Felgas para avançarem. Após começarem a passar tropas para a outra margem em jangadas, e tudo parecia estar a correr bem, ouvem-se rebentamentos de morteiro e foi o Coronel Hélio Felgas que em nome do apoio, provocou o pânico. Os nossos militares desconheciam a proveniência dos rebentamentos e foi aí que se deu a catástrofe. Morreram 47 Portugueses. De quem é a culpa?
    O General Spínola que se julgava “Pai dos Soldados”, quando tratava-nos por “Meus filhos” tem grandes culpas – todas as culpas – em outras asneiras cometidas que originaram muitas mortes nossas.
    Lembre-se o deslumbramento de se implantar o aquartelamento de Gandembel (o Inferno), depois do abandono de Sangonhá e Cameconde (não da sua responsabilidade visto ter sucedido em Junho de 1968), estive em todas as Operações de Evacuação de Militares e Civis. Depois o abandono de Mejo, Ganturé e Gandembel.
    Sabe-se que Guileje fica em pleno “Corredor”, só. E o aquartelamento vizinho Gadamael Porto fica bem à mão de semear. Quando Spínola erra, ele erra sempre, ao trazer “a nós as populações”, transforme aquela terra no “cu do mundo”, uma aldeia numa cidade. Gadamael maior fica com as suas defesas – que são fruto de muitos dias de trabalho – eu estive em Gadamael de JAN 67 a OUT 68, pois as defesas ficam no interior da enorme cidade. A alternativa não é normal num estratega da guerra. Cavam-se valas, recuando-se ao período das Guerras Mundiais. E sucedeu aquilo que era previsível: o abandono heróico de Guileje pelo hoje Coronel Coutinho e Lima. E tão difícil foi para que fosse promovido.
    Não entendo as razões de tantas distinções para Hélio Felgas e o que escrevem a seu respeito: – “… no Comando de Batalhão e de Agrupamento, que as suas qualidades de comando e de combatente o distinguiram, sendo essas qualidades reconhecidas com as medalhas de ouro de Serviços Distintos com Palma, Cruz de Guerra (1ª e 3ª classes) e o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”.

    Mário Vitorino Gaspar

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    1. Muito obrigado pelo comentário e pela aportação preciosa que fez acerca deste tema.

      José Rui Lira
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