O AL ANDALUS E A EXPULSÃO DOS MOURISCOS
Muito deve a cultura , a ciência e até a economia à cultura Muçulmana que habitavam a região do Al Andalus em paz e convivencia com a religião Cristã. Hoje começa-se a admitir já, que a sua expulsão foi um terrível revés para a evolução e civilização da época, fruto da incompreensão, desconhecimento e repressão fanáticó-religiosa. A "expulsão dos mouriscos" da monarquia espanhola foi ordenada pelo rei Felipe III e foi realizado em etapas, entre 1609 e 1613. Os primeiros mouriscos expulsos foram os do Reino de Valência, a que seguiram os de Andaluzia, Extremadura, Castela e da Coroa de Aragão. Os últimos expulsos foram os do Reino de Murcia, primeiro os de origem de Granada e, mais tarde os do vale de Ricote e o resto dos antigos mouriscos. No total, foram expulsos cerca de 300.000 pessoas, a maioria deles dos reinos de Valência e Aragão que foram os mais afetados já que perderam um terço e um sexto de sua população, respectivamente.
Aqui tem revelado como tudo se processou e os principais aspectos deste episódio trágico e triste da história que teve repercussões a nivel cultural, científico e económico, ainda hoje difíceis de quantificar.
Áudio: Castelhano
Fonte: Canal História - YouTube -
DOCUMENTÁRIO
AL ANDALUS - A EXPULSÃO DOS MOURISCOS
DOCUMENTÁRIO
A EXPULSÃO DOS MOURISCOS - DOCUMENTÁRIO E DEBATE
Documentário
A HISTÓRIA NÃO CONTADA DO AL ANDALUS
Expulsão dos Mouriscos
Causas e antecedentes
A decisão de expulsar os mouriscos veio determinada por várias causas:- A maioria da população mourisca, depois de mais de um século da sua conversão forçada ao cristianismo, continuava sendo um grupo social à parte, apesar de a maioria das comunidades terem perdido o uso da língua árabe em favor do castelhano,[1] e de ser muito pobre, em geral, o seu conhecimento do dogma e dos ritos do Islão, religião que praticavam em segredo.
- Após a rebelião das Alpujarras (1568-1571), protagonizada por mouriscos granadinos, os menos aculturados, foi tendo cada vez maior peso a opinião de que esta minoria religiosa constituía um verdadeiro problema de segurança nacional. Esta opinião via-se reforçada pelas numerosas incursões de piratas berberescos, que assolavam continuamente toda a costa levantina, e que ocasionalmente eram facilitadas ou festejadas pela população mourisca. Os Mouriscos começaram a ser considerados uma quinta coluna, e uns potenciais aliados de Turcos e de Franceses.
- O começo de uma etapa de recessão em 1604, derivada de uma diminuição na chegada de recursos da América. A redução do nível de vida levou a população cristã a olhar com ressentimento para a mourisca.
- Uma radicalização no pensamento de muitos governantes após o insucesso por acabar com o protestantismo nos Países Baixos.
- A tentativa de acabar com o pensamento crítico que fazia tempo corria pela Europa em relação à discutível cristandade da Espanha pela permanência de algumas minorias religiosas. Com esta decisão acabava-se com o processo homogeneizador que começara com a expulsão dos judeus e ratificava a cristandade dos reinos da Espanha. Embora esta não fosse a opinião popular, que somente a via com certo ressentimento pela competência de recursos e trabalho.
A população mourisca consistia em cerca de 325 000 pessoas num país de uns 8,5 milhões de habitantes ou seja os mouriscos eram 3% da população. Estavam concentrados nos reinos de Aragão, no que constituíam cerca de 20% da população, e de Valência, onde representavam cerca de 33% do total de habitantes. Adicionalmente, o crescimento da população mourisca era bastante superior ao da cristã. As terras ricas e os centros urbanos desses reinos eram mormente cristãos, enquanto os mouriscos ocupavam a maior parte das terras pobres e se concentravam nos subúrbios das cidades.
Em Castela a situação era muito diferente: de uma população de 6 milhões de habitantes, entre mouriscos e mudéjares representavam apenas cerca de 100 000 pessoas ou menos de 1% da população e todos na Antiga Granada, estado já extinto na Idade Média. Devido a esta muito menor percentagem da população e à positiva experiência com os antigos mudéjares, os quais levavam séculos convivendo com a população cristã, o ressentimento para os mouriscos na coroa de Castela era menor ao da população cristã da coroa de Aragão.
Um grande número de eclesiásticos apoiavam a opção de dar tempo, uma opção em parte apoiada por Roma, pois consideravam que uma total conversão requeria de uma prolongada assimilação nas crenças e na sociedade cristãs. A nobreza aragonesa e valenciana era partidária de manter a situação, pois estes eram os grupos que mais se beneficiavam da mão de obra mourisca nas suas terras. O campesinato, porém, via-os com ressentimento e considerava-os rivais.
Entre os defensores da expulsão encontrava-se Jaime Bleda, inquisidor de Valência (onde a população mourisca era a mais numerosa), que propôs ao rei a expulsão. A princípio, a ideia não foi considerada pelo governo, mas a mesma foi proposta de novo pelo arcebispo de Valência, Juan de Ribera, que apoiava a expulsão, ao considerá-los hereges e traidores, ao que o arcebispo acrescentou uma característica que tornou a proposição atraente: o rei poder-se-ia beneficiar da confiscação dos bens e propriedades da população mourisca e até mesmo escravizá-los.
A política a respeito da população mourisca até 1608 fora a de conversão, embora antes Carlos I (em 1526) e Filipe II (em 1582) pretendessem uma medida mais radical. Contudo, foi a partir de 1608 que o Conselho de Estado começou a considerar a opção da expulsão e em 1609 recomendou ao rei tomar tal medida.
Desenvolvimento da expulsão
A partir de 30 de setembro foram deslocados até os portos, nos quais, como ofensa última, foram obrigados a pagar a passagem. Os primeiros mouriscos foram transportados para o norte da África, onde ocasionalmente foram atacados pela população dos países receptores. Isto causou temores na população mourisca remanescente em Valência, e a 20 de outubro decorreu uma rebelião mourisca contra a expulsão. Os rebeldes foram reduzidos em novembro e terminou-se com a expulsão dos últimos mouriscos valencianos. Em princípios de 1610 foi realizada a expulsão dos mouriscos aragoneses e em setembro a dos mouriscos catalães.
A expulsão dos mouriscos de Castela era uma tarefa mais árdua, pois estavam muito mais dispersos após terem sido repartidos em 1571 pelo reino, depois da rebelião das Alpujarras. Devido a isto, foi oferecida à população mourisca uma opção de saída voluntária do país, pela qual podiam levar as suas posses mais valiosas e tudo aquilo que pudessem vender. Assim, em Castela a expulsão durou três anos (de 1611 a 1614) e até mesmo alguns conseguiram evadir a expulsão e permaneceram na Espanha.
Consequências
O Conselho de Castela avaliou a expulsão em 1619, e concluiu que não tivera efeitos econômicos para o país. Isto era verdade para o reino de Castela, pois alguns estudiosos do fenômeno não encontraram consequências econômicas nos setores onde a população mourisca era mais importante. De fato, o quebranto demográfico não podia ser comparado com o meio milhão de vítimas da grande peste de 1598-1602, cinco vezes mais do que o número de mouriscos expulsos em esse reino. Contudo, no Reino de Valência implicou um abandono dos campos e um vazio em certos setores ao não poder a população cristã ocupar o grande espaço deixado pela numerosa população mourisca. Estima-se que, no momento da expulsão, cerca de 33% dos habitantes do Reino de Valência eram mouriscos; assim, algumas comarcas do norte de Alicante perderam praticamente toda a sua população, que foi necessário repor, tanto nesta quanto em outras zonas, com incentivos à repovoação desde outros pontos da Espanha.A expulsão de cerca de 4% da população pode parecer de pouca importância, mas se tem de considerar que a população mourisca era uma parte importante da massa trabalhadora, pois não constituíam nobres, fidalgos, soldados nem sacerdotes. Portanto, isto implicou uma míngua na arrecadação de impostos, e nas zonas mais afetadas (Valência e Aragão) teve uns efeitos despovoadores que duraram décadas e causaram um vazio importante no artesanato, produção de telas, comércio e trabalhadores do campo. Muitos camponeses cristãos ademais viam como as terras deixadas pela população mourisca passavam às mãos da nobreza, a qual pretendia que o campesinato as explorasse em troca de uns alugueres e condições abusivas para recuperar as suas "perdas" a curto prazo. Pelo outro lado, parte dos expulsos incorporaram-se aos piratas berberescos que assaltaram as costas mediterrâneas espanholas durante perto de um século.
Cronologia
- 1499. Conversão forçosa dos granadinos pelo Cardeal Cisneros
- 1501-02. Pragmática do Cardeal Cisneros dando a escolher aos muçulmanos do reino de Castela entre o exílio e a conversão: os mudéjares do Medievo passaram a ser assim, simplesmente, mouriscos
- 1516. Força a abandonar a sua vestimenta e costumes, embora a medida ficasse em suspenso por dez anos
- 1525-26. Conversão por édito dos mouriscos de Aragão e de Valência
- 1562. Uma junta composta de eclesiásticos, juristas e membros do Santo Ofício proíbe aos granadinos o uso da língua árabe.
- 1569-70. Rebelião das Alpujarras e guerras de Granada.
- 1588. Aparecem em Granada os falsos Chumbos do Sacromonte e os manuscritos da Torre Turpiana, tentativa desesperada de um grupo de mouriscos de legitimarem a sua estadia na Espanha.
- 1609, 9 de abril. O Duque de Lerma assina a expulsão dos mouriscos de todos os reinos da Espanha.
Vindicação posterior dos mouriscos
Cervantes assinalava já na história de Ricote incluída no Quixote as consequências humanas da expulsão dos mouriscos. O humanista judeu-converso e antiescolástico Pedro de Valência, discípulo e testamentar do hebraísta Benito Arias Montano, escreveu com o seu Tratado acerca de los moriscos de España, inédito até 1979, a defesa melhor argumentada da causa dos expulsos. Denúncia "o agravo ao privá-los das suas terras e em não os tratar com igualdade de honra e estima com os demais cidadãos e naturais". Levanta-se contra os estatutos do cardeal Siliceo e propugna uma política de matrimônios mistos de mouriscos e cristãos velhos para "persuadir os cidadãos da república, que todos são irmãos de uma linhagem e de um sangue". No século XVI foi vindicada a sua figura na Historia de la rebelión y castigo de los moriscos (1600) de Luis de Mármol y Carvajal.No século XX os historiadores Américo Castro, Antonio Domínguez Ortiz, Julio Caro Baroja, Mercedes García-Arenal, Bernard Vincent, Louis Cardaillac, Francisco Márquez Villanueva e o escritor Juan Goytisolo reivindicaram o desastre que tanto para a Espanha quanto para os mouriscos implicou a sua expulsão, em termos econômicos, culturais e humanos. Os estatutos de limpeza de sangue anulavam a meritocracia do comércio e do trabalho frente à "negra honra" dos cristãos velhos, fazendo impossível deter a já perceptível decadência espanhola até as Cortes de Cádiz, em que pese às políticas mais sensatas de Olivares e dos ministros iluminados do século XVIII.
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