História de Portugal
COMO NASCEU PORTUGAL
Os acontecimentos politicos, sociais e religiosos, bem como as princípais personagens históricas, que ao longo da história foram contribuindo para a formação desta nossa nação.
Aqui se vai revelando como tudo se foi passando, facto a facto, para entendermos como nasceu Portugal.
Texto: Português
Fonte: Portugal Glorioso
COMO NASCEU PORTUGAL
1- O Condado Portucalense -1095-1139
A Reconquista (também referenciada como Conquista cristã) é a designação
historiográfica para o movimento ibérico cristão com início no século
VIII que visava à recuperação dos Ibéricos cristãos das terras perdidas
para os invasores árabes durante a invasão muçulmana (no ano 711) da
península Ibérica.
Houve resistência em várias partes da península e os muçulmanos não
conseguiram ocupar o norte, (Covadonga/Astúrias) onde resistiram
bravamente muitos refugiados; aí surgiria Pelágio (ou Pelaio) que se pôs
à frente dos refugiados, iniciando imediatamente um movimento para
reconquistar o território perdido. Houve retrocessos, como em Portugal
que quase terminou sua Reconquista em 1187, mas o sul foi invadido pelo
Califado Almóada do Norte da Africa ou no século X devido as constantes
razias islâmicas e entre outros, a desunião ibérica favoreceu bastante
os muçulmanos.
Os Cristãos consideravam que o seu protector era Santiago (ainda hoje patrono de Espanha), apelidado de Santiago Matamouros.
Os reinos ibéricos eram monarquias feudais, era eficiente para combater
incursões muçulmanas e razias mas dificultava o processo de Reconquista
devido a desunião e as guerras feudais. A ocupação das terras
conquistadas fazia-se com um cerimonial: cum cornu et albende de rege,
isto é, com o toque das trombetas e o estandarte desfraldado.
A ideia de guerra santa, pela cruz cristã, só veio a surgir na época das
Cruzadas (1096) e já em 1085, os reinos ibéricos já haviam
reconquistado mais da metade da península Ibérica.
A reconquista de todo o território peninsular durou cerca de sete
séculos, só ficando concluída em 1492 com a tomada do reino muçulmano de
Granada pelos Reis Católicos. Em Portugal, a reconquista terminou antes
com a conquista definitiva da cidade de Faro pelas forças de D. Afonso
III, em 1249, o extremo sul do país estava completamente despovoado, a
população se encontrava no centro-norte até o sul de Évora e Santiago do
Cacém, o Algarve foi repovoado na segunda metade do século XIII.
2-Invasões dos Vikingos (844, 858, 968)
Em 840, um número indeterminado de embarcações bordearam a costa galega e
asturiana até chegar à actual Torre de Hércules - torre e farol situado
na península da cidade da Corunha em Espanha - (o seu grande tamanho
deve ter-lhes parecido importante) e saquearam a pequena aldeia situada a
seus pés. Ordonho I teve notícias da expedição e convocou o seu
exército para fazer frente à incursão, derrotando os vikings e
recuperando boa parte da pilhagem. Mandou afundar entre sessenta e
setenta dos seus barcos, o que não deve ter sido uma grande vitória como
demonstra o facto de que seguiram a sua campanha de saques.
Em Lisboa os cronistas falam de uma esquadra composta por 53 baixéis.
No ano 844 outra expedição normanda arrasa a cidade de Gijón e segue a
costa atlântica até chegar a Lisboa e atacá-la. Em seguida tomaram Cádiz
e subiram de novo pelo Guadalquivir, saqueando minuciosamente Sevilha
durante 7 dias, a partir da qual lançaram ataques por terra.
No entanto, quando Abderramão II saiu com os seus homens, e após algumas
batalhas, os vikings viram que não podiam vencer a força andalusa e
fugiram, abandonando Sevilha e deixando muitos para trás, que se
renderam às forças do Emir. Destes, os mais afortunados acabaram criando
cavalos ou fazendo queijo, os menos com o velho castigo para a
pirataria: enforcados.
Durante o reinado de Afonso III das Astúrias, os vikings chegaram a
cortar as comunicações navais com o resto de Europa. O historiador e
hispanista Richard Fletcher menciona pelo menos duas incursões
assinaláveis na Galiza em 844 e 858.
Afonso III estava bastante preocupado pela ameaça dos vikings para estabelecer postos fortificados na costa, como faziam outros reis.
Em 858 os normandos sobem pelo Ebro desde Tortosa, sobem-no até ao Reino
de Navarra, deixando atrás as inexpugnáveis cidades de Saragoça e
Tudela, seguem depois pelo seu afluente, o rio Aragão até encontrarem o
rio Arga, o qual também sobem, chegando até Pamplona que saqueiam,
raptando ao rei navarro.
Uma expedição similar ataca Orihuela a partir do rio Segura. Em 859, os
vikings chegam de novo a Pamplona e sequestram o novo rei Garcia I
Iñíguez.
Como consequência destes ataques, em 859 tentou-se detê-los de novo.
Ampliou-se o porto de Sevilha e aumentou-se a frota de vigilância
marítima sob os reinados de Abderramão III e Alhakén II.
Em 968 o Bispo Sisnando de Santiago de Compostela foi assassinado e o
mosteiro de Curtis saqueado, tendo de se tomar medidas para defender a
cidade interior de Lugo (Espanha). O saque de Tui no século XI deixaria o
cargo episcopal da cidade vazio por meio século.
A montante no rio Minho,já na margem esquerda, nas arribas ribeirinhas
de Melgaço, existem no monte do Prado, dezenas de misteriosas e grandes
cabeças de figuras fantásticas,iguais às que os vikings esculpiam,
pensam alguns historiadores terem esta origem.
A captura e sequestro de reféns para pedir um resgate também foi prática
comum: Fletcher menciona o pagamento de Amarelo Mestáliz para garantir a
segurança da sua terra e resgatar as suas filhas, capturadas em 1015.
O bispo Crescónio de Compostela (1036–66) repeliu ainda outro ataque
viking e mandou construir as Torres do Oeste (Catoira) como fortaleza
naval para proteger Compostela.
A Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, foi colonizada pelos vikings; a
cidade de Braga muitas vezes saqueada, bem como todo o vale e
localidades do vale do rio Cávado, com tanta frequência, que motivou a
construção das impressionantes muralhas da cidade de Guimarães. Também a
cidade do Porto e o vale do rio Douro. Lisboa sofreu ataques de grande
importância. Mais contundente foi o conde Gonçalo Sancho que destruiu
toda a frota de Gunrod da Noruega; o conde Sancho capturou e esfaqueou
toda a tripulação e seu rei.
3-O Reino das Astúrias
O primeiro reino cristão foi o das Astúrias, fundado por Pelágio, e mais
tarde o Reino de Leão. Nos princípios do século X, a província de
Navarra tornou-se independente, formando o Reino de Navarra. Os reis
ásturo-leoneses foram alargando os domínios cristãos que atingiram o rio
Mondego (Afonso III de Leão), e, ao mesmo tempo, iam repovoando terras e
reconstruindo igrejas e mosteiros, ficando célebre na parte ocidental o
Mosteiro de Guimarães – com grandes propriedades rústicas e muitos
castelos por todo o norte do país. Porém, já no século X, as discórdias
entre os chefes cristãos enfraqueceram o reino, e Almançor tomou a
ofensiva destruindo Leão, a capital, e reduzindo o reino cristão ao
último extremo.
4-O Reino de Leão
O Reino de Leão foi um dos antigos reinos ibéricos surgidos no período
da reconquista cristã sendo independente durante três períodos: de 910 a
1037 (sob domínio da casa Leonesa), de 1065 a 1072 (sob o domínio da
casa de Navarra) e de 1157 a 1230 (sob o domínio da casa da Borgonha).
A sua primeira constituição deu-se em 910, com a divisão do Reino das
Astúrias pelos filhos do Rei Afonso III, o Grande; Garcia ficou com o
Reino de Leão, Ordonho com a Galiza e Fruela com as Astúrias;
eventualmente a Galiza e as Astúrias acabaram por se tornar partes
integrantes do reino de Leão, dada a morte sem descendentes dos seus
soberanos, tendo o rei Fruela passado a controlar toda a vasta área do
Noroeste Peninsular cristão. O reino acabaria em 1037, quando o rei
Bermudo III foi derrotado e morto por Fernando I de Castela, o qual se
julgava com pretensões legítimas ao trono de Leão, já que era casado com
a irmã de Bermudo, a rainha Sancha. Ficou então integrado na coroa
dúplice de Leão e Castela, cingida por Fernando Magno.
A sua segunda encarnação ocorreu com a divisão das possessões de
Fernando Magno após a sua morte (1065), entre os seus filhos Sancho (que
ficou com Castela), Afonso (que ficou com Leão) e Garcia (que recebeu a
Galiza). Após intensas lutas fratricidas com os seus irmãos, Afonso VI
de Leão acabou por conseguir dominar também Castela e a Galiza, e
proclamou-se imperador de toda a Espanha (Imperator totus Hispaniæ).
Leão ficou então sendo o principal reino de entre as Nações que
compunham o seu «
Estado», e a capital do reino sediada na velha cidade de Leão.
Reino de Léon em 1030
Esta situação manteve-se ao longo dos reinados de sua filha Urraca e seu
neto Afonso VII, o qual viria também a proclamar-se, tal como o avô,
imperador das Hespanhas. Enfim, após a sua morte, Leão ganhou de novo,
por um breve período, a sua independência; em 1157 os extensos
territórios que compunham o seu Estado foram repartidos entre os seus
filhos Sancho (que ficou com Castela) e Fernando (que recebeu as terras
da Galiza e Leão).
No século XI, Sancho de Pamplona, rei de Navarra, anexou o condado de
Castela e, por sua morte, os seus estados foram divididos pelos três
filhos, sendo nessa altura os condados de Aragão e de Castela elevados à
categoria de reinos. O reino de Castela coube a Fernando I, o Magno,
mas este em breve se apoderou também do reino de Leão.
Fernando, rei de Leão e Castela, notabilizou-se na luta contra os
muçulmanos recuperando muitas terras, entre as quais Viseu em 1056 e
Coimbra (1064), alargando assim definitivamente os limites da
reconquista até ao Mondego. Este monarca desenvolveu o território entre o
Douro e Mondego, o qual aparece designado por Portucale, separadamente
dos outros territórios da Galiza, com dois distritos ou condados –
Portugal e Coimbra – gozando de autonomia administrativa, com
magistrados próprios.
Fernando I, ao falecer (1065), repartiu os seus domínios pelos filhos:
Sancho ficou com Castela, Afonso com Leão e Astúrias, e Garcia com a
Galiza (e com ele o condado de Portugal), transformado no independente
Reino da Galiza.
Depois de varias lutas entre os irmãos, morto Sancho e destronado
Garcia, Afonso VI de Castela reúne novamente todos os estados de seu
pai, tornando-se assim rei de Leão, de Castela e de Galiza. Afonso VI,
aproveitando as lutas entre os principados muçulmanos após a
desagregação do califado de Córdova (1031), prosseguiu a guerra contra
os infiéis e conquistou Toledo, onde fixou a capital.
Face às vitórias cristãs, os emires pedem auxilio aos Almorávidas da
Mauritânia, e estes, vindo à península, derrotam os exércitos cristãos
na Batalha de Zalaca (1086). Porém, a oeste, os nobres galegos e do
condado portucalense, tomam Santarém e a seguir Lisboa e Sintra (1093),
estendendo assim a reconquista até ao Tejo. Contudo, em 1110, uma
reacção mais forte dos Sarracenos trouxe-os de novo até junto de
Santarém e após um longo assédio a cidade rendeu-se, diminuindo de
extensão o poder dos leoneses. Santarém permanece então no poder dos
mouros até ser reconquistada definitivamente por D. Afonso Henriques em
1147.
Acudindo aos apelos de Afonso VI, entre os cavaleiros de além-Pirenéus,
vem Raimundo da Borgonha, filho do conde de Borgonha, que casaria com D.
Urraca, filha do rei de Leão e recebe deste (1093) o governo de toda a
Galiza até ao Tejo.
No ano seguinte chega à Península D.Henrique, irmão do Duque de Borgonha
e primo de Raimundo, que recebe a mão de D. Teresa, filha ilegítima de
Afonso VI e recebe, depois, o governo da província portucalense que
fazia parte do Reino da Galiza - terra que seu filho Afonso Henriques
(revoltando-se contra ela e o seu padrasto Fernão Peres de Trava)
alargou e tornou em reino independente. Assim, a formação do reino de
Portugal foi uma frutuosa consequência das cruzadas do Ocidente.
O reino da Galiza passou a ser unicamente aquele ao norte do rio Minho ,
ficando, com o tempo, mais dependente do poder do Reino de Castela —
limitada por Leão a Este e por Portugal a Sul, a Galiza assumia assim a
sua fronteira e Portugal seria o único a constituir um estado
independente do poder castelhano.
Depois de D. Afonso VI de Leão, o último grande reconquistador espanhol
até aos Reis Católicos, a reconquista contra o Califado Almóada foi
prosseguida pelos reis de Portugal, Castela, Aragão e pelos condes de
Barcelona.
5- Portucale
Castelo de Guimarães
Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano
se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização
exacta; o Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo
cónego Pierre David após a sua identificação pelo também cónego Avelino
de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes da diplomática
portuguesa, refere-se, séculos depois, a um povoado que designava como
Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro, o Portucale
Castrum Novum, na direita.
Aquando do domínio dos Suevos, Portucale foi palco de vários
acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário
durante a invasão de Teodorico (457), a revolta do seu governador
Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a última
batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo .
Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já,
desde a segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense,
situada na província da Galécia, e tendo por metropolita o bispo de
Braga. Após a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas
restaurada após a reconquista do Porto, em 868.
Pelo século X o condado de Portugal ( norte do Douro ) foi governado por
Mumadona Dias seu marido
Hermenegildo Gonçalves e os seus descendentes, um dos quais era tutor e sogro do rei Leonês
Alfonso V.
Mas quando a sua dinastia foi destronada pela casa Navarra - Castelhana
de Sancho III o Grande, o condado ocidental perdeu a sua autonomia.
O filho de
Sancho III, Fernando I de Castela, reconquistou
Coimbra em 1064 mas entregou o seu governo a um moçarabe. Quando os Almorávidas Africanos anexaram a Espanha Muçulmana,
Alfonso VI de Leão (1065-1109) e Castela (1072-1109) tomaram providências para a defesa do Oeste, solicitando a ajuda de
Henrique, irmão do Duque de Eudes ( Odo ) de Borgonha, casando-o com a sua filha ilegítima
Teresa, e fizeram-no
conde de Portugal.
6- Condado Portucalense
Não se deve confundir o Condado Portucalense — concessão dos dois
territórios de Coimbra e de Portucale ao conde D. Henrique — com o
condado de Portucale, que começou a existir desde a presúria de Vímara
Peres, prolongada pelos seus descendentes — embora nem sempre segundo
uma linhagem perfeita — até à morte do último conde, na batalha de
Pedroso, em 1071, que tentava conseguir maior autonomia face a Garcia II
da Galiza, que governava o Reino da Galiza e Portugal de seu pai,
Fernando Magno.
Porém, a atrofia do condado de Coimbra, criado em 878, mas suprimido com
a conquista da cidade por Almançor no final do século X, permitiu a
supremacia nortenha, que nem mesmo a reconstituição de uma autoridade
equivalente à do conde — em benefício de Sesnando Davides, em 1064, e
prolongada até à sua morte, em 1092 — pôde impedir.
Entretanto, a ambição de Afonso VI de Leão e Castela reconstituiu
novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por
morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram
para as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca.
A esta altura, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a
distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território:
um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI, outro,
não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a ocidente,
entregue a Raimundo.
Este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo
já perdido Lisboa que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de
Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas
mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns
historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI de reforçar ainda
mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída
inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de
Borgonha.
7- HENRIQUE DE BORGONHA
Henrique de Borgonha
(Borgonha 1066 - Astorga, 24 Abril 1112) foi Conde de Portucale desde 1093 até à sua morte.
Foi o filho de Henrique de Borgonha, herdeiro de Roberto I, Duque de
Borgonha e de Beatriz ou Sibila de Barcelona. Era irmão de Eudes I.
Sendo um filho mais novo, Henrique tinha poucas possibilidades de
alcançar fortuna e títulos por herança, tendo por isso aderido à Guerra
de Reconquista. Ajudou, enquanto cruzado, o Rei Afonso VI de Leão e
Castela a conquistar o Reino da Galiza, que compreendia aproximadamente a
moderna Galiza e o norte de Portugal, recebendo como recompensa a filha
dele, Teresa de Leão com a qual casou.
Deve ter casado em finais de 1095 com a jovem e formosa Teresa, filha de
Afonso VI e de Ximena Moniz. Durante os primeiros anos de matrimónio
viveram em Toledo.
Alguns anos mais tarde, em 1096, Henrique tornou-se também o Conde
Portucalense, condado até à data dependente do reino de Galiza, devido à
pouca habilidade bélica que o seu primo, o Conde Raimundo da Galiza,
conduzia contra os Mouros.
Henrique teve vários filhos de Teresa.
O mais novo, o único que sobreviveu à infância, foi Afonso Henriques,
que se tornou o segundo Conde de Portugal em 1112. No entanto, o jovem
Afonso tinha outros planos; em 1128 rebelou-se contra sua mãe que
pretendia o condado devolvido a ela e a junção de novo com o reino de
Galiza. Por isso, em 1139 reafirmou-se independente de Leão e
proclamou-se Rei de Portugal.
O reconhecimento oficial só ocorreu em 1143, com a assinatura do tratado
de Zamora, após ter vencido sua mãe e Afonso VI de Leão com Raimundo de
Borgonha como aliado, na Batalha de São Mamede em Guimarães.
O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses,
introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder
junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes
ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e
militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a
aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as
condições lhe eram propícias.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique
deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre
elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias
regalias, muitos francos seus compatriotas. Em Guimarães, D. Henrique
fixou a sua habitação, em Paços próprios, dentro do castelo que ali fora
edificado no século anterior.
Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste, D. Teresa, a
governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.
O Conde D. Henrique, como já se disse, foi o quarto filho de Henrique de
Borgonha, neto do Duque Roberto, bisneto de Roberto I de França, irmão
dos Duques Hugo e Eudes de Borgonha, sobrinho-direito da rainha
Constança de Leão, sobrinho-neto de S. Hugo, abade de Cluny, e primo
co-irmão de Henrique IV de Alemanha.
Morre em 24 de Abril de 1112 na cidade de Astorga e está sepultado em Braga.
8- Teresa Portucalensis Regina
D. Teresa - Miniatura medieval
Desde 1095, portanto,
Henrique e Teresa (que usava o título de rainha - "Portucalensis Regina" - governaram Portugal e Coimbra.
Com a morte de Alfonso VI as suas possessões passaram para a sua filha legítima Urraca e para o seu neto Alfonso VII.
Henrique de Borgonha, o bom gaulês, sonhou com o poder, mas tinha muito
pouco quando morreu em 1112, deixando Teresa com o seu filho ainda
criança, Afonso Henriques.
As intrigas de Teresa com o seu favorito Galego, Fernando Peres de
Trava, perderam o favor dos barões portugueses, que em 1128 a derrotaram
na Batalha de S. Mamede, e a exilaram.
D. Teresa começa (1121) a intitular-se «
Rainha», mas os conflitos
com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo
galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra,
trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho,
sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios
públicos.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques arma-se a si
próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim
guerreiro independente.
Em 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os
partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida, D. Afonso
Henriques toma conta do condado e dele vai fazer o reino de Portugal.
9- Batalha de São Mamede
24 de Junho 1128 - Dia Um de Portugal.
Combate travado no lugar de São Mamede, nas vizinhanças de Guimarães.
Assinala a afirmação da independência portuguesa face à Galiza, pela
vitória do jovem D.Afonso Henriques contra as tropas de sua mãe, D.
Teresa, e do conde Fernão Peres de Trava.
Afonso Henriques comandava um exército de nobres do Condado
Portucalense, descontentes com a hegemonia galega sobre os destinos do
território de Entre-Douro-e-Minho, personificada na família dos Travas.
Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso
Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha
de Ourique, em 1139, e declarou a independência.
Nascia, pois, em 1139, o reino de Portugal e a sua primeira dinastia, como rei Afonso I de Borgonha (Afonso Henriques)
Motivos da batalha
Após a morte de D. Henrique, em 1112, fica D. Teresa a governar o
condado, pois achava que este lhe pertencia por direito, mais do que a
outrem, já que lhe tinha sido dado por seu pai na altura do casamento.
Associou ao governo o conde galego Bermudo Peres de Trava e o seu irmão
Fernão Peres de Trava. Terá até talvez casado em segundas núpcias com
Bermudo, do qual terá tido uma filha.
A crescente influência dos condes galegos no governo do condado
Portucalense levou à revolta verificada em 1128, protagonizada pela
grande maioria dos infanções do Entre Douro e Minho.
Estes escolheram para seu caudilho, D. Afonso Henriques, filho de D.
Henrique e de D. Teresa. A Galiza, incluindo debaixo desta denominação a
extensa província portugalense e que naturalmente se devia considerar
como incorporado o território novamente adquirido ao Garb muçulmano,
constituía já um vasto estado remoto do centro da monarquia leonesa.
Os condes que dominavam os distritos em que esse largo tracto de terra
se dividia ficavam assaz poderosos para facilmente se possuírem das
ideias de independência e rebelião comuns naquele tempo, tanto entre os
sarracenos como entre os cristãos. Afonso VI pôde evitar esse risco
convertendo toda a Galiza, na mais extensa significação desta palavra,
em um grande senhorio, cujo governo entregou a um membro da sua família
(...)"
História de Portugal de Alexandre Herculano
Na batalha de São Mamede defrontam-se os exércitos do conde Fernão Peres
de Trava e o dos barões portucalenses. Estes últimos quando venceram
Fernão Peres pretendiam apenas obriga-lo a ceder o governo do condado
portucalense ao príncipe herdeiro.
A intervenção dos barões portucalenses, liderada pelos senhores de Sousa
e de Ribadouro, resultava de um longo percurso, ao longo do qual as
linhagens de Entre Douro e Minho tinham solidificado o poder que
exerciam na região. Pretendiam, como desde o tempo da condessa Mumadona
Dias ocupar um lugar que não estivesse subordinado a ninguém, a não ser
uma autoridade local em serviço dos seus interesses. O jovem herdeiro do
condado servia exactamente a essa pretensão.
Após a vitória Afonso Henriques tomou a autoridade com todo o vigor
Afonso VII de Leão, ocupado com as vicissitudes da política leonesa, não
atribui importância a esta mudança de poder no condado, e limita-se a
aceitar o preito de fidelidade de D. Afonso Henriques em 1137. Porque
isso contribuía para engrandecer o prestígio do imperador Afonso VII, a
chancelaria leonesa não hesita em atribuir o título de rei ao príncipe
português. Podia assim Afonso VII afirmar a sua condição de imperador, o
qual tem reis por vassalos.
Entre os pricipais barões portucalenses que participaram na batalha de
São Mamede ao lado de D. Afonso Henriques, estão Soeiro Mendes de Sousa
«O Grosso» (1121-1137), Gonçalo Mendes de Sousa «Sousão» (1154-1167),
Egas Moniz de Ribadouro «O Aio» (1108-1146), Gonçalo Mendes da Maia «O
Lidador» e outros.
por João M. Tomas dos Anjos
FIM